SérieMorte: O Gabinete de Curiosidades - NÃO É de Guillermo del Toro

Com Guillermo del Toro assinando o projeto, e 8 diretores diferentes pra cada história, "O Gabinete de Curiosidades" é uma série antológica estilo "Além da Imaginação" que surpreende e aterroriza.

Falarei a respeito dela, sem grandes spoilers.

Boa leitura!

O que aconteceria se misturassem "Silent Hill" com "Além da Imaginação"? Nasceria "O Gabinete de Curiosidades", pelo menos foi isso que pensei no primeiro episódio... até me frustrar no segundo... e ir afundando nas sensações até o final, onde terminei com a sensação de "Ah, bacana". Cada episódio vai escalando com o anterior, dando um passo pro terror e horror, seja pra frente ou pra trás.

Quem diria que Guillermo del Toro um dia poderia ter produzido um dos SHs mais promissores na história dos vídeo games (afinal ele estava no projeto Silent Hill S), eis que finalmente veríamos algo parecido resultante de sua perturbadora criatividade, em um âmbito levemente diferente dos seus famigerados filmes... se bem que nem tudo está apenas nas mãos dele né.

A impressão que tive aqui é que a Netflix se sustentou no nome de peso do diretor, pra alavancar a nova série, sendo que na prática, ela pouco tem a ver com ele. Ela segue um formato muito semelhante ao de "ABC da Morte" (na minha opinião um dos piores filmes antológicos já existentes) com uma mistura de diretores e roteiristas com ideias bem distintas, mas todos guiados pelo Del Toro no corte final de suas obras.

Tanto que, muitas vezes parece que as "criaturas de Guillermo" estão presentes como exigência dele (ou da plataforma de streaming), para ter alguma semelhança entre os contos, nem que seja só por 1 segundo.

Nesse formato antológico, ele oferece seus talentos como curador de 8 histórias de terror, com média de 1 hora ou 30 minutos cada, e situadas em condições bem diferentes. E, apesar dele não ser um bom ator (a forma como ele apresenta é um pouco esquisita), sua ideia é bem mostrada e consegue alcançar seu objetivo.

Antes de tudo devo dizer que, a ideia de terror antológico, ainda mais com alguém narrando, não é nem de longe uma novidade, pois assim como citei, é uma fórmula já usada em "Além da Imaginação", incluindo o remake de Jordan Peele (que também assume a posição de apresentador), dentre várias e várias outras séries como "Goosebumps", "Contos da Cripta", "Channel Zero" e até as mais modernas como "Black Mirror" ou "Dimension 404".

No entanto notei uma semelhança ainda maior com o modelo usado na franquia recente de jogos chamada "The Dark Pictures Anthology" (do qual fiz artigo recente por isso está fresco em minha mente), que vem lançando episodicamente justamente isso, histórias narradas por um cara em comum, e ambientadas em pontos bem distintos, com terrores diferentes.

Inclusive, mesmo a Netflix tendo como padrão o lançamento de séries já com todos seus episódios disponíveis, aqui ela optou pelo estilo semanal, e até oferece um trailer ao término do primeiro episódio, nos mostrando um pouquinho do terror que nos aguarda.

Vi exatamente o mesmo na proposta de "The Dark Pictures Anthology - Man of Medan" ao apresentar "Little Hope" no final (que seria a continuação, em uma nova história), assim como sua ideia de criar uma franquia de antologias de Escolhas e consequências.

Mas, o ponto não é esse... Na verdade estou apenas divagando pois, a série é boa, apesar de simples.

Mesmo sabendo que se trata de terror desde o início, as peças chave dadas no começo com a apresentação de suas histórias pelo próprio curador, não são nada indicativas do que nos espera.

Claro que, nem tudo é perfeito, e há algumas enrolações aqui e ali, e algumas falhas dos diretores, mas no geral, esta série entrega um bom terror, com sustos, agonia, efeitos, e tormentos no mínimo decentes, todos coordenados por Guillermo del Toro.

Guillermo em Hellboy

Pior que esse diretor/roteirista/produtor/"maquiador" não trabalha exclusivamente na área do terror, tendo adaptações de quadrinho no cinema como "Blade 2", "Hellboy" e "Hellboy 2", ou o romance fantástico "A Forma da Água", ou então o filme de kaijus (monstros gigantes) "Círculo de Fogo". 

Mas, na minha opinião as obras que chamaram bem mais a atenção (ainda mais por suas maquiagens) foram o famosíssimo "Labirinto do Fauno", "Mama" e "Historias Assustadoras para Contar no Escuro". Apesar de variar sua participação como Roteirista, Diretor e Produtor, sua maior assinatura está na direção de Maquiagem, e sua criativa tendência nefasta.

Vemos muito disso aqui, pois é impossível não notar o toque dele nas figuras assombrosas que surgem, mesclando efeitos práticos com especiais, e movimentos contorcionados de seus atores. É um verdadeiro espetáculo do horror... temporário.

Cada história tem seu próprio diretor, e roteiros variados também de pessoas diferentes, mas tudo acaba seguindo um padrão do Guillermo (que aqui mais funciona como produtor pelo que vi). Cada uma das horas investidas nessa série, são um razoável investimento, e caso você não se assuste, pelo menos conhecerá ótimos contos de terror.

Aliás, revelarei aqui sinopses críticas do que observei nos episódios. Não terão muitos spoilers, mas caso não queria perder nenhum pouco da surpresa, pule essa parte e corra pra assistir!

Lote 36 - de Guillermo Navarro

O primeiro conto fala de um homem com ideologias perturbadas, que vive de Compra e Revenda de Lotes Leiloados (Tipo aquela série "Quem Dá Mais" do History Channel). Preso em uma dívida, ele acha que encontrou a solução de seus problemas em um lote novo e misterioso, que no fim revela um segredo diabólico.

Este conto é puro suspense, e é improvável que antecipemos o desfecho ainda mais com a introdução levemente disfarçada. 

Ele nos induz a acreditar que tudo está relacionado a conflitos de guerra, ainda mais reforçando o enredo com um protagonista ex-militar e com traumas físicos e mentais. Nem sentimos o final chegar e quando chega, é direto, cruel, e preciso.

Sua narrativa é repleta de suspense, e nos conduz por uma atmosfera misteriosa e perturbadora, flertando com conceitos do terror social mas, entregando a boa e velha reviravolta macabra e horror satânico.

Ratos de Cemitério - de Vincenzo Natali

Um coveiro tagarela, metido a historiador e ambicioso, tem o hábito de exumar corpos para reaver os pertences dos mortos, e assim lucrar um pouco vendendo suas preciosidades no mercado negro. Porém, ele passa a enfrentar Ratos que surripiavam suas mercadorias erronias, até se deparar com a origem de todo o mal, e pagar caro por sua ganância.

Apesar de inicialmente a obra contar com uma pseudo-metáfora, apontando outros trombadinhas como possíveis "ratos" concorrentes ao "rato" principal, tudo se perde quando a trama passa a apostar em alucinações, criaturas monstruosas gigantes e até zumbis (completamente aleatórios à história em si). Tudo isso é enfeitado com humor negro e uma câmera nervosa incapaz de se estabilizar, o que torna a experiência arrastada e confusa de se acompanhar.

Este conto tem uma direção puxada pra humor, mas um humor sórdido. Parte deste se deve ao protagonista ser falastrão, o que desvia nossa atenção do terror. Sem contar que, os efeitos especiais são mais identificáveis aqui, e os ratos que muito aparecem são evidentemente digitais. Isso também retira um pouco da imersão na obra. Sem contar que, há os monstros também, criaturas que surgem no terceiro ato e, não foram das mais inspiradas até então, mesmo usando mescla de efeitos práticos, maquetes, maquiagem e digitalização.

Um ponto bastante negativo é o jogo de câmera, que muitas vezes fica caótico e torna a composição da cena desajeitada e difícil de entender. O encerramento por exemplo, da pra entender, mas sofreu cortes que o fizeram soar como inserido de última hora, só para chocar. Chega a funcionar, mas foi fraco. Aliás, este é o único episódio com 30 minutos apenas.

A Autópsia - de David Prior

Talvez um dos melhores episódios da série, este mescla horror visceral com horror cósmico, lembrando muito obras do H.P. Lovecraft. A princípio Guillermo faz questão de esclarecer que é uma história que gira em torno de um gravador, uma autópsia e principalmente, seres do espaço. Mas tudo que vemos ao começar é uma história de atentado numa mineradora, e uma posterior investigação policial.

É difícil adivinhar as respostas, mesmo já tendo dicas da trama em preliminar, e o que surpreende é que ao terminar, o episódio consegue expor e explicar com maestria todos seus pontos mais bizarros e antes incompreensíveis.

A etapa final, onde a ameaça dialoga com a vítima, enquanto bota a mão na massa pra que seus planos sejam bem sucedidos, é sem sombra de dúvidas o ponto alto da obra. Tudo isso seguido por cenas lentas e horripilantes de autópsias sendo feitas sem o menor pudor, é notavelmente perturbador.

Seu ritmo lento, e repleto de diálogos, pode até soar desanimador de início, mas conforme a trama vai se estabelecendo e encaminhando para o encerramento, mesmo com todas as respostas e já sem quaisquer dúvidas, ainda nos vemos paralisados diante da tela, aguardando pela solução. E... é de dar medo como tudo se resolve, sem ser bom ou ruim, apenas resoluto. 

E como sempre, maquiagens se destacam bem, sendo este mais voltado pros corpos dos mortos e a criatura cósmica que, assustam de tão bem feitos. Talvez um ponto falho sejam os efeitos digitais na etapa final, que não são ruins, mas poderiam ser trocados por efeitos práticos (dando ainda mais agonia e imersão... como a cena dos olhos). Mas só o conceito já é o bastante pra impactar, o que faz dessas cenas boas, mesmo perceptivamente "falsas" pela artificialidade plástica, característica dos efeitos digitais.

Por Fora - de Ana Lily Amirpour

Esquisito, mas funcional. O que aconteceria se os produtos da Jequiti fossem do mal? Pelo menos foi isso que vi aqui, e gostei.

Uma mulher, casada, que ama praticar Taxidermia (empalhando bichinhos que ela mesma mata!), e é bem empregada em um Banco, acaba sentindo inveja das colegas e simplesmente decide mudar, fisicamente. Mas não, não é nada tão previsível quanto ela usando suas técnicas em taxidermista em si mesma... não... as coisas vão muito além.

Repleto de pistas falsas do que nos aguarda, inclusive o equivocado prelúdio feito por Guillermo del Toro no início, que quase parece não ter compreendido a mensagem deste "curta" em particular, este episódio é totalmente alucinado, e focado em percepções.

Confesso que foi o que mais me causou desconforto, não só pelo tipo de filmagem que usa (câmeras distorcidas, muitas vezes tão próximas dos rostos dos atores que quase entram em seus corpos), mas pela grotesca construção das cenas, onde alguns momentos apelam forte pra nossas sensações físicas (quem já teve crise alérgica vai morrer de agonia).

A moça, mergulha (literalmente) numa jornada completamente alucinada, por substâncias que corrompem sua mente, assim como seu corpo. Nada tem a ver com "televisão" e "controle" como é dito no início, apesar de que, de certa forma, ela perde sim o controle de si mesma.

Ele perturba, espanta, e ainda termina nos fazendo questionar se tudo foi real, ou se ela ainda está presa em sua alucinação. E nessas horas percebemos como é importante ler a bula dos remédios que tomamos, antes de usar. Tadinha da protagonista...

Protagonista essa que foi uma perfeita escolha de elenco. Ela realmente da cara à obra... outra vez dando destaque pra maquiagem. Qualquer sensação desconcertante que sinta, é proposital e mérito do perfeito casamento dessa história, com essa atriz. E... eu fiquei tentando lembrar onde já havia visto ela antes, e mano, é a Kate Micucci, que interpretou Lucy em Big Bang Theory (a namorada do Raj que vivia fugindo e tinha medo de multidões, e foi quem o curou do medo de conversar com mulheres), só que com um monte de maquiagem pra parecer bem diferente de como realmente é.

Aliás, este episódio tem bastante violência gráfica, apesar de também ser bem psicológico.

Observação com SPOILER: O final... que final. Meio que... não importa se você olhe como se tudo fosse real, ou pura loucura da mente dela... os dois finais possíveis acabam sendo assustadores, pois partem daquele momento em que ela já não tem mais volta. As ações dela pela alucinação são irreversíveis, tanto o que ela causa aos outros, quanto a si mesma. Mas, fica subentendido que ela simplesmente nunca saiu da banheira, a mente apenas surtou de vez.

Modelo de Pickman - de Keith Thomas

Forte... mas de péssimo gosto. Tô com tanto medo que vou até falar mal pra aliviar a tensão.

Creditado como inspirado em uma obra de H.P. Lovecraft, essa é uma história bastante voltada pro surrealismo. Sustentando-se no choque, ela se auto sabota com o abandono do suspense, e a consciente abordagem nua e crua do literal, sem abertura pra imaginação ou interpretação.

Um retratista, ainda no período de escola (durante o século 19), conhece um novo colega chamado Pickman, que ao invés de retratar a beleza do mundo, faz o oposto, pintando o que há de mais horripilante de forma surrealista. As coisas pioram quando suas obras passam a afetar a percepção dos demais, trazendo a tona o feio, e expondo o medo.

Em tese, este é um baita episódio, mas ele não usa metáforas nem nada semelhante (o que acho que combinaria bem), muito menos aborda as artes macabras de forma insinuante ou alegórica. Ele apenas entrega aquilo que as obras mostram, sejam por alucinações, sejam por pesadelos, ou indução àqueles que as viram. O que Pickman pinta, realmente ocorreu, ou vai ocorrer (fazendo as pessoas imitarem) e a parte medonha tá nisso: Ver o que aparece de mais bizarro nos quadros, virando realidade por ações forçadas e injustificadas.

Só que, o mistério morre ainda na metade, e o tempo do episódio parece muito mais longo do que deveria. Quando as obras começam a se tornar reais, queremos que tudo acabe e mal nos impactamos com as terríveis revelações... pelo menos não tanto quanto seria caso não nos tivessem enrolado tanto.

O final, onde uma das obras mais duvidosas apenas vira verdade, é sem qualquer dúvida algo muito sombrio e macabro, mas não tem um bom encaixe. Senti que ele foi posto desnecessariamente sob um suspense intenso, que me deixou perplexo, apreensivo e ansioso, mas também me fez sentir traído em minha expectativa por surpresas, não correspondida. De fato ele foge ao clichê de entregar o oposto do que esperamos, fazendo exatamente aquilo que imaginamos, mas é exatamente por isso que ele deixa aquela sensação de que o protagonista demorou muito, pra descobrir o que ele já sabia, assim como nós.

E nela tem de tudo um pouco, bruxaria, canibalismo, monstros, tortura física, esquartejamento... vish a coisa vai longe. Fazem questão de entregar o mais absurdo numa bandeja e, me senti enojado. O problema desse episódio não ta no horror, que funciona muito bem, mas na razão do horror ocorrer.

Um erro de narrativa, que não aproveitou bem o que o enredo, roteiro, efeitos sonoros, visuais (esforçados vai) práticos e principalmente, a excelente atuação (com destaque maior pro Pickman e o protagonista) tinham a oferecer, e se arrasta tanto que nos perde, deixando somente o amargor do espanto. 

Mas, apesar de muitas coisas sem nexo (tem criaturas postas em cena que saltam aos olhos, claro, mas ao mesmo tempo sobram, servindo apenas pra justificar as bizarras imagens dos quadros, mas não para justificar elas próprias ali), é um episódio curioso, que no mínimo termina do jeito que não gostaríamos (e isso é bom, tratando-se de horror).

Sonho na Casa da Bruxa - de Catherine Hardwicke

E se o Rabicho se vingasse do Rony Weasley? Foi algo assim que vi nessa inusitada história de terror, que ironicamente usou Rupert Grint como protagonista, num conto sobre Bruxas e Fantasmas, e claro, Ratos Falantes!

Um jovem que perdeu sua irmã gêmea ainda na infância, e teve um vislumbre ligeiro do outro mundo (ao vê-la passar pelo plano astral como fantasma) cresce dedicado a provar que o outro mundo existe. Então, um dia, ele encontra em uma droga a oportunidade de ver sua irmã novamente, e sem qualquer razão correlata, ele descobre a existência de uma Bruxa antiga que, supostamente sabia como atravessar pro outro mundo.

Então... essa história não é das melhores. Tanto que ela já começa de um jeito esquisito, com um narrador, depois do Guillermo del Toro fazer a introdução. Senti que a presença desse segundo narrador (que é revelado no fim é claro) não caiu muito bem, ainda mais considerando a proposta dessa série de antologia.

Mas, além disso, a própria história é meio perdida em si. Tudo gira em torno claro do protagonista e sua obsessão pela irmã falecida, mas ele já encontra ela no outro mundo, e ainda por cima descobre que pode "trazer ela de volta" antes mesmo da Bruxa (que dá título ao episódio e ainda por cima é a antagonista) surgir.

Sem contar que quando ela é introduzida, é sob uma suposta profecia de uma médium que pouco é citada, e pouco significado possui, mas após ser apresentada vira co-protagonista, já no final do episódio. Tudo fica acelerado, com essa médium e a bruxa sendo elementos sortidos e repentinos, mas de significado grande na trama.

Sem ela na obra, ficava até mais interessante, pois tudo seria sobre os irmãos quebrando as leis da natureza para se reencontrarem. Mas não, parece que precisavam enfiar uma criatura estranha e por isso, simplesmente botaram a bruxa que pratica necromancia póstuma, com direito a um MASCOTE ESTILO DISNEY. Sim, a bruxa vem junto com um mascote, um Rato com cabeça de gente, que nem estava morto (até a série decidir que estava, afinal ele age no mundo físico quando bem entende, enquanto a bruxa precisa se projetar através de sonhos).

Ele pouco ou nada faz, até que no fim toda a narrativa se volta pra ele e pronto, ele é a conclusão (eis a razão da minha referência ao Rabicho, ou Pedro Pettigrew de Harry Potter!). Achei esquisito, pois a história já estava concluída, com um embate decepcionante contra o fantasma da bruxa, e por fim, um monte de cortes duvidosos, com um elenco secundário surgindo, e até teletransporte rolando.

Decididamente esse episódio é fraco, e quase não tem elementos de terror (tirando o design da bruxa, que se destaca pela maquiagem claro, mas perde força por conta do rato digital que a segue), com o pouco que surge sendo forçado e decepcionante. Mas, graças a atuação de Rupert, da pra assistir e se divertir, sem contar que é engraçado assistir pensando em um Rony Weasley grisalho!

Acho que, o papel de Rupert na série do M. Night Shyamalan (Servant) tava até mais interessante, mas, valeu bem aqui. O ator se sai bem em séries, mas fiquei chateado por justo o episódio em que ele é a estra, ser o segundo mais fraco (o dos ratos é pior). E detalhe, esse é outro inspirado em obra do H.P. Lovecraft viu.

A Inspeção

Quanta enrolação pra nada. Isso mal se qualifica como terror, no máximo tem elementos de gore no final, gore gratuito e sem o menor significado ou comunicado ao espectador, se não o simples "A criatura mata".

4 especialistas em áreas diferentes (uma Astrônoma, um Produtor Musical, um Escritor e um Médium) são convidados por um figurão desconhecido que coleciona coisas, para irem até sua mansão personalizada com música por toda parte. Na mansão tem além do anfitrião, uma médica e um tipo de motorista (ambos sem a menor importância mesmo que o episódio se estenda em cima deles). 

Após 50 minutos da 1 hora do episódio, onde o grupo fica somente sentado conversando, bebendo e usando drogas (de todos os tipos), eles decidem questionar a razão de estarem ali, sendo apresentados pra decepcionante parte de terror barato.

O episódio é uma viagem drogada pelos anos 80, entupida de música binaural ou psicodélica, e com filmografia inspiradíssima no estilo de época. Toda a narrativa se concentra em apresentar os personagens de forma lenta e contemplativa, sendo que nada disso é utilizado no final.

Na verdade, é uma história genérica de pessoas mexendo com o que desconhecem e liberando algo ruim... e nem pra isso ela serviu bem, pois nos minutos finais, quando a ameaça nada criativa surge (vou dar spoilers, é um alien saindo de um meteorito que o colecionador adquiriu), tudo é repentino, e não comunica nada além do óbvio: Um parasita espacial ta solto no mundo, agora é caos.

Mas esse caos não é mostrado, pois não tem mais tempo de tela, e fica tudo sugerido com o monstro aparentemente imortal, e com poderes psíquicos, andando pela cidade (em tempo recorde, visto que a mansão era isolada). Do grupo alguns sobrevivem pra espalhar a história, mas parecem mais preocupados em dar drift na estrada do que lutar por suas vidas (e o pior, eles ainda ficam felizes! O que a droga não faz né?).

Apesar de ser bem ruim, ele é pelo menos inspirado, me lembrando até aquele filme "Ex Machina: Instinto Artificial". Se parar pra pensar, é exatamente o mesmo conceito, mas no filme o enredo é bem estruturado e o desfecho é satisfatório e filosófico. Aqui, é só tudo genérico mesmo. Até parece que o diretor e roteirista esqueceu que era pra ser uma história de terror, que quando lembrou já era tarde de mais e preferiu enfiar qualquer coisa.

Tanto que a própria ameaça é liberada por um equívoco previsível e ao mesmo tempo, imbecil e forçado pelo roteiro. A qualé, o cara depois de fumar e cheirar de tudo, desobedece ordens DIRETAS de um anfitrião pra fumar do lado da peça (e pior, ele faz isso 3 vezes, sem ser expulso por desobedecer), o que é justamente o que ela precisava pra despertar? Como o anfitrião sabia que não podia fumar ali, mas não sabia que afetava a pedra? Foi estúpido, uma eventualidade empurrada pelo poder da canetada que nem se encaixa na trama, e nos faz perceber que perdemos 1 hora pra ver absolutamente nada!

Tenso que, a expectativa por algo surpreendente aumenta exponencialmente a cada minuto de conversa jogada fora. E o papo? Nem ao menos está relacionado ao que irão analisar. Toda a conversa é sobre suas vidas e carreiras, mas sempre muito vaga, muito vaga mesmo, tanto que cortam o motorista quando ele vai se abrir sobre a AK Dourada e seu passado militar (ele até chora!). A gente fica esperando por uma reviravolta de explodir cabeças e... certo que ela surge, mas no modo literal, e não da forma que desejávamos, afinal o aliem pode explodir cabeças, que bacana né?!

E dessa vez a maquiagem ficou péssima e genérica (igual a todo o resto). É um monte de massa gosmenta com dois tentáculos que anda em câmera lenta e não da o menor medo! A única parte interessante foram os rostos derretendo no fim, mas isso decepciona tanto, mas tanto, que ficou como ponto negativo pra mim.

Murmúrios - de Jennifer Kent

E com o último conto, temos algo bem morno, voltado para drama e suspense, que até carrega um pouco de terror mas, é bem leve, e quase não assustando.

Um casal de Ornitólogos (observadores de pássaros) viaja pra uma ilha isolada pra observar um espécime e tentar descobrir a razão por voarem em bandos e se agruparem em formas diferentes. Mas, ao chegar lá, são hospedados em uma antiga casa, com fantasmas.

Por um lado, é legal ver que o episódio nos induz a esperar por algum terror derivado dos pássaros, e simplesmente mira em outra coisa totalmente inesperada, mas clichê. Os fantasmas na casa assombram apenas a moça do casal, por um trauma recente e em comum que ela carrega.

Seu ritmo é lento claro, e nos aproxima do casal, pouco a pouco, sem a menor pressa, mostrando que apesar de felizes juntos, eles não estavam bem. Com o tempo, o grande segredo deles, o trauma que ambos passaram, é revelado: A perda de uma filha recém nascida.

Isso afetou ambos, mas a mulher, Nancy, acabou se fechando inclusive pra seu marido, Edgar, e ela custa a superar, até que a convivência com os fantasmas a ajuda. De inicio se assustando, e no fim ao entender, os auxiliando a partir pro outro mundo.

É uma história bonita apesar de triste, que se diferencia muito das demais apresentadas nesta série. Tem um final feliz, de reconciliação, purificação, sem sustos atoa, sem reviravoltas medonhas, apenas uma resolução positiva em que todos, até os fantasmas, saem ganhando.

Acho que, no máximo, o que mais valeu nesse episódio foi ver Rick Grimes dançando. (Andrew Lincoln interpretou Edgar).

E... num paralelo com os pássaros, uma leve rima é feita apontando as semelhanças entre os espíritos na casa e o trauma de Nancy, assim como os pássaros que ela observava voavam em sincronia.

Esperava eu algo mais pro lado de "Os Outros" mas, no fim, não há nada de mais, sem surpresas, apenas fantasmas sendo mandados pro além e pessoas voltando a se amar.

Quase não há maquiagens neste, apenas no garoto fantasma que, também não combina muito com a história. Ela é leve e não precisa de sustos pra funcionar, a tensão no ar pelas visões de Nancy já bastam, e a cena da criança inflada por água sobra, ainda mais no fim quando a história do passado dos fantasmas é revelada por diálogos expositivos.

O que fizeram com o bebê de Nancy me pareceu mais ideal pro tipo de conto, do que o que fizeram com a mãe e a criança morta, ao revelar a história com todos os pingos nos is. É que já dava pra entender o caso do afogamento e suicídio póstumo só pelas visões, expor isso me pareceu uma facilitação desnecessária, que inclusive não chegam a fazer com o caso da Nancy. No caso dela e do marido, há diálogo, mas não entram em detalhes de nada, apenas nos fazem entender que, foi traumático, foi ruim, e estão tentando superar.

Tanto que o episódio termina com eles querendo conversar a respeito.

Bem, fim.

Apesar de ter gostado da série, e notado pontos fortes de antologias interessantes, no geral, ela acaba variando muito em seus gêneros, o que não é ruim, mas também não é perfeito.

A conexão feita por Del Toro, seja por suas analogias prévias, seja pelo Gabinete que se deforma, não é nada precisa, e nem soma muito ao material mostrado. Tanto que, caso assista pulando a introdução dele, fica até melhor.

Os contos tem boa qualidade, mas ficam apenas no bom mesmo.

Não me arrependo de ter assistido, mas espero que caso haja mais temporadas, ou mais episódios, eles sejam mais curtos, pois mesmo acreditando que depositei bem meu tempo, foram sete horas e meia né... e não vejo muito com o que aprender aqui.

São só contos, sua maioria assustadora, e uma minora triste.

É isso.

Obrigado pela leitura, e see yah.

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