CríticaMorte: Imaginário - O Ursinho Maligno

Lançado em 2024, "Imaginário - Brinquedo Diabólico" (Imaginary) é aquele típico filme de terror com brinquedos assassinos, mas sem assassinatos, apenas ameaças, suspense, e falsos sustos. Ainda assim, ele é interessante por causa de sua narrativa, fazendo parecer um filme de terror de "A Mansão Foster Para Amigos Imaginários".


Mesmo que, tecnicamente ele quase não mostre criaturas malignas, focando-se mais no aterrorizante ursinho genérico, a premissa de "amigos imaginários do mal" é medonha, e prende a atenção, nos deixando pensativos com as possibilidades, e surpreendendo em alguns momentos chave.

Não é um filme que aterroriza, mas é legal de assistir pois, o pouco de terror que tem nele, adianta pra dar um medinho, ainda mais com as surpresas e reviravoltas que quase nos fazem querer rever cenas anteriores, pra ter certeza do que vimos.

Enfim, falarei mais a respeito a seguir, e só tem alguns poucos spoilers, mas apenas no final quando eu resumir a história (ainda deixarei um ar de mistério).


Boa leitura.



Falsos Sustos Falsos



A primeira coisa que me manteve interessado no filme é sua forma um pouco diferente de contar o terror. Assim como muitos filmes do gênero, principalmente com brinquedos misteriosos como o clássico Chucky, Megan (M3GAN), Anabelle, etc, o que costuma iniciar tudo é aquele brinquedo que não sabemos se vai se mover de fato, se vai sair andando, ou se só vai ficar fingindo que não é possuído por uma entidade maligna.


Então, ficamos sempre de olho no ursinho, que não tem absolutamente nada de assustador, nem de especial, e esperamos por algo que torne a presença dele digna de um filme de terror. E enquanto observamos ele, o terror verdadeiro fica em outra parte da trama, sem que percebamos até ser tarde de mais.


Afinal, o filme não é sobre brinquedos mortais, é sobre Amigos Imaginários mortais, o que ao longo dele levanta dúvidas sobre toda a ênfase dada ao ursinho, quase como se fosse só um desvio trapaceiro de atenção para nos enganar... mas no fim tudo é interligado, e explicado, simplesmente surpreendendo horrores.

Até isso acontecer, os muitos sustos que rolam são falsos, com brincadeiras entre as pessoas, suspense forçado, encontros no escuro, alardes exagerados. Apenas são situações que normalmente, em filmes de terror, já despontariam em uma figura bizarra dando jumpscary, mas que aqui alivia a tensão com pessoas normais dando jumpscary, como uma menina aparecendo de supetão com seu ursinho no colo, com direito ao acorde clássico de susto, mas sem aflição alguma.


É estranho eu diria, pois não assusta, e pra quem é acostumado ainda por cima, acaba sendo um alívio ver um clichê "subvertido" propositalmente, como se soubessem o que esperávamos, e apenas aproveitaram pra fazer uma pegadinha.

Mas não significa que não tenham cenas tensas, com inclusive aparições estranhas em cantos que ninguém nota, e situações bizarras com ocorrências de terror duplicadas. Explicando melhor: As vezes, tomamos um susto pra um personagem que realmente assusta, mas não é sobrenatural, não é maligno, só é inoportuno e independente do gênero do filme, assustaria pela aparição brusca.


E enquanto isso acontece, do lado dele tem uma figura observando, mostrada em 2 ou 3 frames, que nunca é explicada ou percebida pelos demais personagens. Na hora que o filme joga um alívio pra gente, ele também joga a dúvida com a figura bizarra ao lado, plantando justamente o suspense.



O Suspense Fica no Suspense



O triste é que isso fica repetitivo, e como não há progressão, nem acessos mais palpáveis ou violentos, a impressão que temos é que tudo que aparece é só uma grande alucinação, que nunca fará mal a ninguém.

E de fato, tirando o susto, ninguém sofre no filme (até o terceiro ato ao menos). Não há mortes, ferimentos, nem mesmo ameaças válidas, e o que acontece é só estranho e bizarro, incômodo também, mas não assustador de verdade.


Talvez pelo elenco ser formado principalmente por uma criança, quiseram pegar mais leve e evitar cenas mais "ousadas", o que mina o interesse de quem espera algo mais pavoroso. É aquela típica maldição de filme com terror e crianças: Sem violência perto de crianças.

Torna-se previsível, mas igualmente incômodo, pois também há situações onde a garotinha brilha muito, e causa um terror ao nível de Exorcista (o clássico).


Aliás, quando mencionei que é quase um "live action" de Mansão Foster (aquele clássico desenho animado), é só pelo conceito, e isso na parte final do filme. 


A ideia de que os amigos imaginários seriam entidades que afetam as crianças fica muito por alto, e de todas, aparece apenas uma (concentrando tudo apenas na mesma entidade). Porém, eles chegam a ilustrar o "mundo da imaginação" como um corredor de uma mansão, em claríssima referência ao desenho.


Pena que não aparecem outras "criaturas", tirando o monstro principal e algumas configurações dele. Faltou criatividade pros caras pelo que parece, e podia ser um baita momento de terror.



Os Atores



A atriz mirim que faz o papel de Alice (Pyper Braun), apesar de não ser a protagonista de verdade, é a personagem mais interessante. Sua atuação é exagerada, ela fica caricata de mais em muitos momentos, mas nota-se o esforço da mocinha, e igual brilhantismo. 


A cena dela como "ventríloqua" é medonha, e a voz que ela faz, para dar voz a criatura de sua imaginação, é muito bem feita, áspera, mas ainda infantil. Fica na mente da gente... ainda mais pelo fato dela falar como se fosse seu amigo imaginário (com personalidade, vícios de linguagem e até dicção diferente e ainda mais infantil).


Por outro lado, o restante do elenco é aceitável. A protagonista Jessica (DeWanda Wise) mesmo, é esforçada mas não convence muito. Ela não soa como uma madrasta tentando conquistar o amor das filhas, não tendo expressões que carreguem as emoções que deveria no momento. Parece até ter o mesmo olhar pra qualquer situação, e isso é chato. 


O pai das garotas, Max (Tom Payne, o Jesus de TWD), ele simplesmente não parece um pai! Tipo, ele tem duas filhas, uma já quase adulta, e ele tem cara de um jovem descolado que toca em uma banda de rock, inclusive ele sai do filme pra viajar a trabalho, soando totalmente irresponsável ainda mais na situação em que se encontra.


Isso pois, ele é separado da mãe biológica das meninas, chamada Samantha (Alix Angelis), a qual ainda está viva, mas é insanamente instável e problemática, tendo causado ferimentos de queimadura na menor no passado, o que a faz ser proibida de se aproximar delas. Mas ela se aproxima assim mesmo (em uma cena de susto), sendo internada depois disso.


E o pai não parece ligar muito pra isso, fazendo questão de viajar depois de uma ocorrência pavorosa com a mãe das garotas.

Por outro lado, o pai catatônico de Jessica, chamado Ben (Samuel Salary) é espetacular. Parece mesmo um pai velhinho, e parece mesmo estar mal pra caramba e acamado num hospital, o que salva um pouco a performance paterna do longa, e enriquece o vínculo dele com Jessica.


Tem a adolescente Taylor (Taegen Burns), que é superficial de mais. Ela é uma ótima atriz, mas o roteiro não ajuda, fazendo ela soar boba em alguns momentos, em outros madura o bastante pra agir de forma crível e até questionando com sensatez as situações absurdas que testemunhamos, pra no fim virar só uma heroína sem nexo, que age sem pensar. 


É uma personagem inconsistente, que varia conforme o roteiro pede, e isso não é muito legal de ver. 

Por fim ainda tem a velha chata chamada Gloria (Betty Buckley), ex baba da protagonista, que tá no roteiro só pra explicar e desenhar a história pra gente.


Pensa numa personagem que só aparece pra narrar o que tá rolando, ela surge, explica absolutamente tudo, e depois some. Ela tá presente apenas pra fazer o que o filme acha que não consegue, que é esclarecer a trama. Porém é desnecessário de mais, já que o filme faz isso direito.




O Imaginário Seria o Foco




Sem precisar usar flashbacks (constantemente ao menos) e sem precisar de discursos expositivos o tempo inteiro, o filme consegue mostrar claramente o que quer contar. Ele brinca com os enquadramentos, joga com as cenas e cortes, e aquele terror duplo que ele usa é muito bom pra construir uma narrativa.

Algo que ele faz bem, tanto que quando ele revela que estivemos olhando diretamente pro amigo imaginário o tempo todo, isso é muito impactante, surpreende, e pra piorar isso é o que torna o filme de terror.


Então quando ele vem e traz essa personagem idosa com um livro que ela escreveu, de pesquisas que fez pelo mundo, pra explicar o que são os amigos imaginários, explicar como eles atuam, o que eles querem das crianças, como as crianças podem sumir e qual o significado e a conexão do amigo imaginário que vemos da pequena Alice, e o da infância da Jessica, cara, quando isso é feito é apenas um balde de água fria.


É como se o filme nos chamasse de burros, de incapazes de entender o mínimo do que ele quer contar, como se nunca tivéssemos ouvido falar de crianças que criam amigos invisíveis. O pior é que isso vem de uma personagem que nem serve como interlocutora pra gente, e ainda surge depois de uma explicação  sobre os amigos imaginários já ter sido bem mostrada e aplicada à trama.


Afinal, quando uma psicóloga trata de Alice, e traz a verdade a tona, basta a reação de Jessica pra entendermos a situação, basta percebermos o enquadro da câmera pra suspeitarmos de tudo. Não é mais necessário amarrar as pontas, e tudo apenas se conecta.


Igualmente, o filme não precisa, por exemplo, retornar cenas e nos mostrar "a visão verdadeira" das cenas que passaram. É algo que nós, como espectadores, faremos quando voltarmos ao cinema pra assistir, ou rebobinaremos o filme só pra checar. É algo que também pode ficar apenas em nosso imaginário, como se estivéssemos tão íntimos das personagens que compartilharíamos de suas maldições.

Mas no instante em que ele vai lá e desenha pra gente, expondo a verdade, ele mata essa mesma verdade. Bastava o que eles fizeram, com o filme chegando na protagonista e dizendo "Ele não existe" e nós pensando junto com ela "Como assim? Eu vi também". Caramba mano, isso já é o suficiente.


Mas tudo bem, ele se estende, ainda faz uso de efeitos especiais e práticos pra algumas cenas de terror e transformação completamente vazias, o que é puro desperdício, pois sabemos que nada irá pra lugar algum.

Ninguém vai ser massacrado na frente da tela pois, não é esse tipo de filme. Ele se esforça muito pra nos preparar pra sua reviravolta, e todo seu clímax também serve pra ele, o que nunca dá sinais de que as criaturas imaginárias seriam realmente hostis, ou teriam tal capacidade real. O máximo que fazem é assustar, exceto em uma cena.


A revelação final, depois do falso final, é algo que fica na mente do espectador, mas o longa mais uma vez nos chama de incapazes e desenha pra que entendamos. 



Qual a história de Imaginário?


Bem, sem enrolar, a história é sobre uma mulher, que teve uma infância ruim na antiga casa em que morava, com seu pai ficando catatônico, e esqueceu disso. Então, quando ela cresce e se junta com um cara com duas filhas, ela decide levar eles pra morarem na antiga casa dela.

Chegando lá, a filha menor encontra um ursinho no porão, chamado Chaunsey, que ela acolhe e passa a conversar com ele, como seu amigo imaginário. Então, a mulher acha ela uma fofa, tira fotos, registra tudo, enquanto a criança participa de uma brincadeira de "Tesouro".


Ela precisa fazer tarefas pro amigo dela, pegando objetos ou fazendo coisas, inicialmente inocentes e inofensivas, mas se tornando hostis e perigosas até chegar no ápice, em que ela se machuca. Quando isso ocorre, a mãe intervém, chama uma psicóloga infantil, e descobre a verdade sobre o ursinho, inclusive que ele havia sido dela na infância, e ele havia causado o problema dela com o pai, pois ela desapareceu no passado e ele se sacrificou pra resgata-la.

No fim, a menina também desaparece por causa do ursinho, com a mãe e a irmã mais velha da garota buscando por ela, ao lado de uma velha chata, entrando na mansão dos amigos imaginários (que se abria no fim do ritual da Caça ao Tesouro), e salvando a menininha da família da Coraline do Outro Mundo.


Daí elas vão embora, fechando a porta com fogo, e fim, tudo resolvido, mas eles agora não tem casa, pois tudo é consumido num incêndio também.


Pra variar, outras crianças ainda tinham seus amigos imaginários, e elas agora também podiam vê-los sem conseguir diferenciar o que é real, e o que é imaginação.



Mesmo Assim, é Agradável



Não é um bom sinal quando um filme de terror pode ser chamado de "agradável", mas aqui, é aquele tipo de filme que parece infantil (faz até alusão a Coraline viu, com criaturas com "olhos especiais") mas deixa um ar inquietante. Faz pensar, faz conversar, e imaginar.

Poderia ser melhor, mas justamente o ponto que eu achei que seria o fraco dele, acabou sendo seu lado mais forte: O Ursinho.


Pensa numa coisa que não da medo em ninguém, mas que por causa do contexto em que aparece, do enredo e do jeito como é explicado, se torna absurdamente bizarro.

O triste é que param por ai. Podiam ir além, deviam ir, mas preferiram parar pra dar justamente foco somente no ursinho, quando o mundo imaginário pode ser fruto de muito mais que isso.

Enfim, isso foi o que achei do filme.

E, comparado com "Stopmotion", até que ele valeu a pena.

Mas, não chega nem perto da expectativa que eu tinha...

Agora, há mais uma leva de longas pra consumir, então, bora pro próximo.

E aliás, não... esse filme não merece continuação (bobo de mais pra tal), apesar dele dar a entender que pode continuar.

É isso.

See yah.

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4 Comentários

  1. Resumindo, um filme que não fede nem cheira e se não é ruim também não é bom então pra quê gastar o tempo com filmes assim, ne? Rsrs

    Bom, não esperava muita coisa mas julgar pelo decorrer do texto pensei que ia ter uma super revelação mas... Nada! Pfff podiam fazer tanta coisa mas foi só isso? Bom, provavelmente ainda é melhor que "Vende-se esta casa" que TODO MUNDO fala que é uma porcaria (e suspeito que seja, nunca vi) o que já não é muita coisa. Devo dizer que nunca curti muito filmes de terror, sabe? Não gosto de ver gente sofrendo e morria de medo quando criança. Hoje em dia realmente prefiro ver só os que realmente e interessaram, que não seja só um monte de gente sendo torturada e morrendo e etc, sabe?

    Falando ainda em filmes sigo no aguardo de sua análise de Pearl, viu? Certeza que você vai gostar mais dele do que X. E sim, já ouviu falar em Stay Alive, Jogo Mortal? Um grupo de amigos consegue jogar um jogo de terror baseado nos mitos da condessa Elizabeth Bathory (a suposta condessa sangrenta que na verdade foi condenada sem provas e todos os testemunhos contra ela foram arrancados sob tortura) e se você morre no game você morre de verdade! A cena inicial é ótima mas para por aí, o filme é bem raso e com personagens e atuações bem meeh. Mais um caso de ótima ideia mas mal executada.

    Sim, e falando em jogo eu agora tô jogando Downfall e Downfall Remake! O Downfall é um jogo de 2009, point and click, bem simples e o remake foi lançado em 2016. Os games, apesar da violência e do sangue, tem uma carga psicológica muito forte.... Basicamente você é o Joe e sua mulher, Ivy, sumiu neste hotel que você acabou de chegar. Sua missão agora é encontrar Ivy vagando por este hotel, onde pessoas muito estranhas (um doutor quer ressuscitar um cadáver, uma gerente bela e sedutora, um homem do machado doido pra te pegar, e uma mulher canibal muito gorda que vive nos espelhos é a grande vilã) te abordam a todo momento. E vocÊ ainda conta com uma companheira que vai ser vital pra você. Jogando os dois ao mesmo tempo,quase, me faz pensar e realmente curtir muito a experiência. Inclusive você, ao fim do game, entende bem porquê se chama "Downfall".

    Enfim, bola pra frente e vamos lá!!

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    1. Pior que é...

      Tipo, eu gosto de terror, mas tenho uma tendência pro realismo e found footage. Inclusive não gosto de gore ou violência... sempre impressiona mas também enoja e tipo, dependendo da história, as vezes não vejo sentido em mostrar carnificina.

      Dawnfall, algo me diz que ouvi falar dele, inclusive a premissa me soou familiar.

      Botei Stay Alive na lista também! Verei ele mas já verei preparado pra não ficar tão empolgado, enquanto a Pearl, fica tranquilo que já vai sair.

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  2. Parece cansativo de assitir. Eu entendi a questao de nao ser bom ou ruim demais, mas nao parece mesmo valer a pena perder tempo com ele. Eu adorsria se vc fizesse uma losta com bons filmes de terror fora da midia. Vc deve conhecer alguns . É so uma sugestão

    Mas agradevo o artigo, tô em um lugar meio chato e adorei ter coisas interessantes pra ler aqui no seu blpg

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    1. Vou preparar uma lista. Atualmente a única que eu tenho é aquela onde boto todos os filmes de terror que já analisei, mas tipo, seria uma boa listar só os melhores. Algum gênero que prefira? Tipo um tema?

      Fico feliz por ter gostado do conteúdo e boas vindas!

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