Série: Stranger Things 5 - Os 4 Primeiros Episódios - Vol.1

Stranger Things 5
Vol.1


Nunca escondi que na minha singela opinião, a série deveria ter parado na primeira temporada. Eu achava tudo impecável lá e depois da segunda e terceira temporada (essa todos ignoram), independente de qualidade, nada justificava a insistência em continuar tudo. Então, veio a quarta temporada e o Tocha-Humana e tudo ficou bem interessante...

Mas ainda ficou sem motivo pra existir, repito, na minha singela opinião. Eis que, prometeram uma temporada de encerramento que levou anos pra sair, e ainda por cima com o planejamento Netflix atual de dividir pra conquistar, o que acredito ser um erro tremendo... porém... num é que ficou perfeito?

A série volta com potencial, e não desperdiça, em 4 episódios de estreia ela vai com tudo, apenas mostrando o que tem de melhor. Resgatando elementos das 4 temporadas mas sem precisar repeti-los, ela faz o incrível trabalho de amarrar pontas soltas, e impressionar com novidades, tudo enquanto avança pro desfecho inevitável.

E ela tem de tudo, suspense, violência, drama, romance, efeitos especiais DECENTES (cara eu sentia falta de ver isso, jurava que o mundo havia sucumbido aos efeitos ruins), e uma história comedida e nada covarde. 

Criaram um baita elenco, nos envolveram com ele, e agora tá na hora de dizer tchau. Eles sabem disso, e estão só preparando tudo para o choque bombástico de um desfecho a muito aguardado.

Fazendo uso CORRETO de suspense, encaixando bem os diálogos, mesmo com uma duração total de pouco mais de 4 horas, esse super filme fragmentado não pode ser visto ou lido dessa forma. Cada episódio é único, e rico em experiência, e mesmo tudo fazendo parte de um todo contínuo, a série resgata aqueles elementos que faltavam desde a primeira temporada.

Inspirado estou, pois a muito não me deleitava com algo digno de ser admirado. Fico feliz pela Netflix ter feito o que fez e, bora lá explicar tudo, evitando spoilers.

Boa leitura, mas assistir pode ser melhor.



1° Episódio - Começou bem


A função do primeiro episódio é reapresentar a série como um todo e não apenas uma sequência. Ele tem o difícil dever de nos reintroduzir ao universo Stranger Things, tanto pelo tempo que demorou a retornar (e nada nos obriga a assistir tudo que veio antes pra refrescar a memória), e pelos conflitos pendentes da temporada anterior.

A dificuldade nisso está em fazê-lo sem ser só uma recapitulação, sem desperdiçar um bom tempo de tela com flashbacks  e sem ficar retornando aos eventos anteriores sem avançar. E o incrível é que o episódio consegue fazer isso, ele retoma o passado, enquanto avança (a passos largos) no presente.


A história não para, ela corre pra nos ambientar mas também pra nos atualizar pois em todo esse tempo, ela nunca parou. Os personagens continuaram lutando, a cidade inteira teve de lidar com as consequências, e o mundo continuou.

Usam a solução do isolamento para impedir que tudo se torne grandioso demais e difícil de conter no próprio roteiro (seria difícil explicarem como que os males do Mundo Invertido não vazaram pro mundo todo), e isso foi uma escolha sábia pois ainda conteve justamente a história, justificando perfeitamente a demora pra contá-la.


E com essa sensação de tempo passado, ela nos mostra que todos os personagens continuam lutando, tentando reaver o que perderam ou apenas se vingar, eles não esqueceram e sabem muito bem que nada foi resolvido ainda, mesmo que por muito tempo nada tenha acontecido ainda.

Algo acontecerá, e algo acontece. Mas dessa vez todos estão preparados, ou acham que estão.


Elenco Jovial Amadurecido


Fica nítido o envelhecimento dos atores mirins, ainda mais os mais jovens, mas a equipe de arte soube contornar bem isso com figurino, maquiagem e creio eu que efeitos especiais de correção bem leves e imperceptíveis.

Todos sabemos que as crianças de Stranger Things já não são mais crianças agora, muito menos durante a produção, mas esquecendo os bastidores um pouco nós nem percebemos isso assistindo. Foi uma baita melhoria com relação aos equívocos da quarta temporada.


Só que isso não se aplica apenas à aparência do elenco, suas ações, decisões e pensamentos estão amadurecidos, condizentes com o que viveram e passaram até então. Os personagens evoluíram o suficiente pra não parar pra repetir os mesmos erros dramáticos toda santa hora. As vezes até flertam com a ideia de agir inconsequentemente, só que eles aprenderam com os erros.


A Tríplice


Adultos, Adolescentes, Crianças, ainda é a mesma divisão em três partes de sempre. Adultos lidando com o lado mais cruel, adolescentes pegando a parte mais sensível, e as crianças levando tudo como uma brincadeira, até tudo se misturar e virar uma história única de terror.

Só que dessa vez, tá tudo já misturado. Os três núcleos mesmo que ainda trabalhem isolados, estão imersos na exata mesma atmosfera. Os riscos são iguais pra todos, o medo é o mesmo pra todos.


Por mais que ainda seja uma grande referência ao Dungeon and Dragons das crianças, agora os adultos se tornaram peças reconhecidas do jogo, com direito a personagens próprios pra eles, e agora a cidade inteira é o tabuleiro.




Trilha Sonora e Sabedoria


Há muitos acertos na série agora, mas o maior deles está na trilha sonora, assim como o maior erro está na sonoplastia. 

Souberam nos direcionar pra nostalgia mas também tiveram consciência de que não dá pra surfar nessa onda novamente... então arrancam isso como um curativo recém aplicado... só pra lembrar da dor.

Todas as músicas que tocam, são imersivas, mas não duram pois isso não é um conserto, é uma série de terror. Então usam elas pra dar esperança, pra mostrar que não se esqueceram, ao mesmo tempo que não precisam mais delas.


O uso de músicas ideias foi essencial pra criar identidade, e agora Stranger Things não depende disso. Ele avança além, e sabe muito bem disso.

O único problema que notei foi o constante uso de sons fortes pra enfatizar algumas ações, como batidas, transições, enfim, sempre há um som grave alto demais pra chamar atenção... e isso enjoa. Chega a um ponto que fica cansativo e previsível e, mesmo sem isso, tudo continuaria do mesmo jeito.


Geralmente usam sons assim pra puxar nossa atenção pro momento, depois de um longo diálogo por exemplo, ai numa transição eles despertam nossa atenção com barulhos altos... só que aqui não era preciso, pois a série já prende nossa atenção até mesmo depois de conversas.

As vezes menos é mais, e eles pecaram por excesso, ainda que isso não prejudique em absolutamente nada a experiência (comento por ser chato mesmo).


2° Episódio - Informações Importam


O segundo episódio permanece em excelência (todos o fazem) mas ele quase tropeça num erro gravíssimo: Comunicação.

Se tornou um padrão previsível no universo de Stranger Things os personagens errarem muito por não conversarem. Como há 3 histórias paralelas dos adultos, adolescentes e criançada, muito do que dá errado parte deles não compartilharem o que sabem. E isso é pincelado uma vez mais.


Com diálogos que parecem encaminhar pra um desentendimento futuro, justamente por não contarem tudo logo de cara, nós achamos que estamos prevendo o desfecho, mas a ironia é que eles sabiam bem disso quando fizeram assim. É como um jogo de xadrez, em que achamos que estamos ganhando por conhecer os movimentos, mas o oponente está 5 passos à frente e nos manipula para que ele vença.

A série manipula o espectador, com falsas informações de que conflitos nascerão, pois na verdade ela quer que voltemos a sentir aquela emoção passada de assistir uma novela. Ver os personagens discutindo atoa quando nós sabemos a verdade é o jeito das obras em geral nos conectar a eles, mas aqui como já estamos conectados, a série só brinca com a gente.


Quando nos damos conta, fazemos parte da confusão, e apesar de acharmos que sabemos mais que o elenco em tela, nós estamos mais perdidos do que eles. Este episódio constrói isso tão bem, que me senti um tolo só em pensar em pautar "Informações" como falha.


Não precisa de Mortes pra ser Horror


Quem acredita que precisa ter violência, sanguinolência, mortes e baixas pra causar terror, acredite, por mais anestesiado que eu esteja, eu chorei de medo aqui.

Não há cenas terríveis ou memoráveis, mas há tensão, e a tensão escalona pra terror quando vemos que não há escapatória.


É tudo imprevisível, e a série sabe muito bem que não há razão pra se conter. Todos os personagens estão ali para sofrer pro nosso entretenimento, e apesar das risadas aqui e ali, no fim sabemos o que estamos assistindo desde o início.

Os efeitos especiais só ajudam a montar o terror, mas o melhor está nos eventos e em como são mostrados. O compasso perfeito, o tempo ideal, a montagem, a música. Tudo ali encaixado na forma certa pra entrega ser apavorante. E independente de ter mortes, o que importa é o medo.


Minúsculo Erro de Dublagem: 
Capacitor de Fluxo


Fiquei incomodado com a dublagem quando traduziram mal uma cena, encaixando "Capacitor" e ignorando a palavra "Fluxo", sendo que isso serviria pra fazer uma referência geek sobre "De Volta para o Futuro", mas também era uma peça essencial pra um conflito posterior.

Uma piada que seja, isso servia como chave pra que uma personagem notasse uma verdade, e tirar essa palavra prejudica a cena. Em todo caso isso foi uma pequena falha que não prejudica de verdade a série, pode gerar a dúvida "ué de onde ela tirou 'Fluxo'?", mas isso é até ignorável.


Assim como a tradução estranha para "Whatsit". Esse é o nome usado pra se referir ao amigo imaginário da irmã de um dos protagonistas, que na tradução dublada ficou "Fulano", enquanto na tradução legendada ficou "Quequeé". Nenhum dos nomes realmente importa pois é tudo passageiro, mas achei meio estranho tantas traduções simultâneas pra algo que, pra variar, ainda terá muitos outros nomes depois.



3° Episódio - Terror Amigo


Primeira vez que vi uma série reproduzir terror pelo lado dos mocinhos, e funcionar.

Um plano absurdo, uma boa construção, peças sendo encaixadas e progresso narrativo. É outro episódio excelente que ainda por cima introduz todo um novo elenco.


Agora, há um quarto núcleo por assim dizer: Os novos Mirins.

Novas crianças aparecem, mas sem ofuscar o protagonismo das atuais. Elas são novas peças no jogo que por mais que sejam importantes, ainda são coadjuvantes.


Mesmo assim, tudo é tratado com delicadeza e engana fácil. Se tirarmos certas cenas de contexto, vira uma série de horror e true crime facinho.


Dá pra se assustar, rindo, e isso é bem difícil de fazer. Muitas obras tentam forçar isso usando regras como "faça rir antes de chorar" mas aqui, a trilha sonora convoca uma sensação, enquanto nossos olhos dizem "tá errado sentir isso". 

O terceiro episódio é um ode ao terror.

4° Episódio - Eis a Excelência


E terminamos a primeira leva aqui, com um dos finais apoteóticos mais incríveis da série, e que curiosamente nem é final.

É encerramento de meio de temporada, se bem que tecnicamente é 1/3 da temporada.


A Netflix dividiu tudo em 3 partes, com datas (Vol 2 sairá em 25/12 e o Episódio Final de 2 horas sairá dia 31/12) para serem lançadas e antes eu achava que isso ia dar muito errado, muito por conta de clifhangers forçados ou desfechos em aberto pra fazer a gente teorizar atoa por semanas.

Mas olha que interessante: Tudo acaba, de fato.


Eles encerram arcos inteiros aqui, completam tramas e explicam tudo enquanto a história simplesmente termina.

Trazem de volta personagens que esquecemos, e até personagens que escolhermos esquecer, e no final ainda complementam com uma carnificina que... meu deus viu.


Não é agradável de assistir, e é, simultaneamente.

Prefiro não falar muito pra não dar spoilers, mas se tem algo que me agradou foi esse fim de 1/3 da temporada.

Apesar de que, transferiram o protagonismo da Onze pra outros 2 personagens agora, o que torna-se um problema no futuro talvez, mas é isso que atrai nossa atenção.


Eu quero saber como tudo acaba, mesmo sem me sentir obrigado a esperar pra assistir o resto. Não foi um desfecho provisório cru, pois ele deu todas as respostas do que foi construído desde o primeiro episódio até aqui.


Mas ele fica em aberto pra responder o que as outras 4 temporadas deixaram em aberto, respondendo algumas coisas, e deixando claríssimo que o fará com as demais.

Por isso, vale a espera.


É isso.

Era o que eu tinha a falar, espero não ter dito muito, nem muito pouco. Como haverão outras levas, dessa vez não atualizarei este post como costumo fazer. Farei outro quando saírem os próximos.

See yah!

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2 Comentários

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