Pecadores
O Ataque dos Vampiros Cantores
Demorei pra assistir... e agora entendo por quê. O filme que prometia ser um terror social inovador acabou sendo um musical confuso com vampiros que parecem figurantes de clipe.
Infelizmente apesar de ser aclamado pela crítica aparentemente, este não é nem de longe um bom filme, quem dirá um bom filme de terror.
E aqui vou explicar as razões que tornaram este um dos piores filmes do ano, pra mim é claro.
Tem Spoiler!
Boa leitura.
Longo e Cansativo
O primeiro ponto a comentar é o tamanho do filme, que tem quase 3 horas de duração que juro, foram como semanas.
Ele toma um tempo absurdo pra desenvolver os personagens, que basicamente são dois caras gêmeos, interpretados pelo mesmo ator, e um jovem músico. Aliás talvez a única coisa que tenha prestado foi o Michael B. Jordan como irmãos Faísca e Fumaça, que eram muito diferentes pela personalidade, e eu só notei que eram irmãos pelo tanto de vezes que eles repetem isso pro público notar também.
Estranho que todo o esforço pra desenvolver eles dois como diferentes vai por água abaixo no final, pois apenas ignoram que eles tinham personalidades únicas e ambos passam a ser praticamente o mesmo personagem.
O resto são coadjuvantes sem o mínimo de importância, carisma, e quem dirá um bom desenvolvimento que seja. Toma-se mais tempo botando personagens pra fazer sacanagem uns com os outros (sem nudez felizmente), do que pra criar vínculo com o espectador.
Em todo caso, o filme leva quase 1 hora só pra explicar os personagens que são basicamente pessoas se preparando pra uma festa de inauguração de um bar para negros.
É muito diálogo, muito papinho pra no final nada importar, pois o ápice do filme não são os personagens e seus relacionamentos, mas sim a matança gerada por vampiros!
O Tema
Afinal, o filme é sobre vampiros, que apesar de não ter sido divulgado abertamente na época dos trailers, é o grande trunfo e aposta dele como "terror".
Só que até chegar neste ponto, o filme soa mais como um longo drama onde um grupo de pessoas negras enfrenta o racismo da época, pra tentar lucrar e crescer na vida.
E ai mora um dos maiores problemas do filme: Inconsistência temática. Sei lá se é assim que chama mas, é o que me vem a cabeça quando um diretor pega um tema muito interessante, desenvolve ele bem, mas então bota outro tema por cima como se quisesse alcançar um público extra.
Não que Vampiros e tema Raciais não combinem, ou não poderiam combinar, mas a questão é que o filme larga qualquer identidade pra apostar nos dois lados, e não acerta nenhum deles.
Foi um erro que notei na série Lovecraft Country, onde também retratam o racismo em época, mas desviam a trama constantemente pra criaturas místicas encaixadas ao acaso.
Só que, enquanto lá tudo nos atraia pois tava no título da obra, aqui somos só pegos de surpresa por um desvio bruto pra algo sem sentido.
Os Vampiros
Quando as criaturas da noite aparecem são esquisitas, pois não tem qualquer introdução coerente. Eles surgem do nada e pro nada caminham, como se tivessem sido encaixados de última hora no roteiro.
Tanto que, não há uma representação pensada pra eles. São só pessoas que dançam e cantam o tempo todo, e parecem compartilhar de uma mente coletiva (quando convém pro roteiro), e com resistência física elevada.
Mas nada mais foge daquele clichê de vampiros, com direito a estacas pra matar, alho pra afastar, necessidade de convite pra poder entrar em algum lugar e o Sol sendo a fraqueza mortal que os pulveriza.
Só que de resto são só pessoas, e até das bem simpáticas, que querem mordiscar uns pescoços pra aumentar o grupo, só isso. Eles nem mesmo comem as vítimas, ou tomam sangue, ou "matam". Eles só mordem, infectam, e transformam em um deles, mantendo forma física, personalidade, consciência da vítima e cara, sério que era pra temer isso?
Sem Identidade
As soluções que encontram pra derrotar essas criaturas tão medonhas são tão superficiais, que abandonam a premissa criativa de incluir a cultura africana num cenário vampiresco.
E olha que há a promessa, o filme mostra uma suposta "caçadora do mal" pra lidar com esses seres diabólicos. Introduzem a esposa dos gêmeos como uma mulher ativa na magia, que inclusive deu um amuleto de proteção pra ele e tudo mais, dando a entender que a presença dela ajudaria a descobrir como lutar contra o mal.
Só que as soluções que ela traz são tiradas de filmes b vindo diretamente do cinema norte americano. Eu juro que esperava algum recurso próprio, quem sabe uma imersão maior que desse uma nova roupagem aos vampiros, criando assim uma identidade própria pras criaturas, mas não...
A moça do nada fala "Metam estacas no peito deles e tá resolvido" e pronto, não há explicação. Até tentam dizer que viver como vampiro era uma tortura e que as almas sofriam eternamente, mas o que o filme mostra no final é o total oposto disso.
Detalhe: A solução é convencional e famosa mas há uma explicação original pra ela. Os Vampiros precisavam ser confinados em seus caixões através das estacas... nunca foi só meter a estaca. E em algumas obras buscam dar mais soluções usando essa característica, como em Supernatural (a série do Dean e Sam) em que também precisa ter sangue de mortos na dita estaca pra funcionar... e olha que é uma variação bem boba essa.
Mas é disso que eu to falando, se os caras queriam mesmo incluir vampiros caçadores de negros festeiros, podiam ter dado ferramentas de combate mais coerentes. A música podia ser uma arma por exemplo, mas não é.
Poderia Melhorar
O longa tinha a oportunidade de contar a mesmíssima história, mas sem precisar apelar pra fantasia, místico, ou pra conceitos sobrenaturais como ele tenta fazer (e falha muito). Dava pra simplesmente colocar um grupo de brancos racistas atacando a festa, e os negros se defendendo.
Inclusive, se tornaria um filme de terror bem mais assertivo dessa forma, indo um pouco mais pro lado da ação talvez, mas se bem conduzido podia assustar horrores. Ele faz referência a isso inclusive, com o vampiro chefe mencionando que não é racista, que come qualquer cor, e que os primeiros que ele matou eram da Klan. Logo, ele já pega ainda mais simpatia da gente!
Geral na festa e do nada alguns brancos infiltrados começam a trair a confiança, tentam se aproveitar e massacrar usando capuzes, e tomam uma surra.
Convenceria muito mais do que ver do nada alguns vampiros infiltrados, traindo e matando, pra depois tomarem uma surra do mesmo jeito.
Musical Não Ajuda
Só que isso tudo é só uma pequena parte do problema, afinal se em 1 hora de filme um monte de personagem é tacado em tela, imagina se o resto for preenchido com longos musicais coreografados?
Queria eu entender onde um filme de terror consegue se tornar interessante com musicais. Inclusive o único que vem a mente é o "Armadilha" da filha do M. Night Shyamalan, onde de fato o tema principal era um musical (por isso até funciona). Lá, era um show onde um psicopata leva a filha e tenta fugir da polícia, enquanto as músicas do próprio show parecem acompanhar a trama.
Só que aqui, só tem muita gente que adora cantar e tocar, sem motivos claros ou necessidade. As letras das músicas por exemplo sequer tem algo a acrescentar na trama, são só cantigas bobas de época, nada famoso, nada com mensagens ou algo do tipo. Algo que também acontece nas músicas tocadas nas festas, todas com letras falando de obviedades nada importantes. Ou seja, muito tempo gasto vendo performances que não avançam com a história, só atrasam.
Mesmo antes da tal festança, já tem musicais, o que já entrega que o filme perderá tempo com isso, ou indica que a música tem importância... porém não tem.
Se os vampiros fossem prejudicados pela música de alguma forma, faria um baita sentido a ênfase, mas parece até que eles amam isso, foram atraídos pela música e eles próprios fazem 50% das performances.
Chega num ponto em que em plena década de 40, surge um rockstar dos anos 2000 tocando ao lado de uma enxurrada de pessoas de várias épocas diferentes, tudo pra ilustrar a magia da música atravessando as eras. Poxa, poético pacas, mas num era pra ser terror?!
Fotografia Ruim
Nem da pra falar de efeitos especiais ou práticos pois apenas não há. Gastam tempo mais com alegorias, e na hora dos poucos momentos de violência ou combate, só espirram sangue falso ou desviam a câmera pra fingir que aconteceu algo.
E mesmo se tivesse algo, é quase impossível de enxergar, pois boa parte do filme se passar na escuridão, com pouca iluminação, e apenas não conseguem mostrar nada.
E, nos momentos em que há luz natural por exemplo, fazem questão de ajustar a câmera pro lado mais escuro do ambiente. Tem uma parte que um dos protagonistas tá num cemitério, de dia, velando por um filho perdido, e parece que tá de noite, só pela posição da câmera.
Na mesma cena mostram outro ângulo e caramba, era em um plano aberto e muito bem iluminado! Fica tão estranho perceber que tinha como mostrar a mesma cena, de forma que pudéssemos assisti-la e entendê-la, ao invés de só filmar de qualquer jeito.
Combates em si são os que mais se prejudicam por esse péssimo jogo de câmeras. Não dá pra entender, se é que tinha algo pra entender né...
Como é a Ação
O filme é tão esticado pra começar algo interessante que quando começa, é apressado. O terceiro ato em si, que é quando os poucos sobreviventes tentam enfrentar os monstros, tudo é apressado e sem sentido.
Pior que a lógica some completamente nessa parte. Três vampiros tentam entrar na festa pra aumentar o grupo deles, mas ninguém deixa eles entrarem, então estaria tudo resolvido certo?
Só que ai uma personagem decide sair pra conversar com eles, e vira um deles, voltando pra festa ao ser convidada pra entrar, e ai ela transforma o namorado lá dentro.
Até ai, caos instaurado certo? Pois é, não. Ela foge da casa da festa, deixando o namorado que se transforma e depois de criar confusão, também foge.
E como uma das piores decisões já tomadas na história do cinema, o grupo que planejou a festança decide mandar todos os outros embora, afinal né, tem gente morrendo e ninguém entendeu a razão, manda todo mundo pra casa que é melhor.
E todo mundo que sai vira vampiro imediatamente, mostrando que os 3 do lado de fora fizeram um baita banquete, mas eles ainda queriam entrar na festa que nem tava rolando mais, acampando do lado de fora e tocando muita música.
No fim, sobra meia dúzia de pessoas lá dentro, que conseguem a proeza de deixar os vampiros entrarem gerando um massacre... do lado dos vampiros claro. Os protagonistas viram guerreiros superfortes com estacas de madeira e alho, e matam todos os vampiros na luta corporal.
Tem gente que morre, mas são coadjuvantes que aparecem do absolutamente nada, pra morrer pros vampiros que por serem tão ridículos, não convencem como ameaça.
No fim, todo mundo morre sobrando só o cara cantor protagonista.
Um Final Tosco
Desculpa mas já que entrei na história não consigo explicar o quão ridícula ela é sem contar tudo minuciosamente, então aqui vai um resumo da melhor parte: O final, pois é quando acaba.
Aliás que final mal pensado hein? Primeiro que os vampiros morrem coletivamente queimados pelo Sol, pois todos são burros do nada e esquecem que podem morrer queimados.
Bizarro é o Sol nascendo em 3 segundos pra fritar todo mundo.
Mas então, o protagonista volta pra igreja do pai, que aliás é a primeira cena do filme tá, só que fica no suspense do que teria acontecido até chegar ali.
E diz que não vai parar de tocar, algo que demora, acredite, leva 10 minutos pra ele falar isso.
E pronto, o que teria começado tudo foi a música dele e ele não desiste disso, virando um músico famoso de Blues quando fica bem mais velho.
Enquanto isso, um dos gêmeos que também tinha sobrevivido, tinha descoberto que os vampiros sem querer tinham matado uns membros da Klan, que planejava atacar a festa durante o dia (não faz sentido!), e fica lá pra matar eles na base da bala.
Só que ele morre no tiroteio depois da vingança apoteótica (só na cabeça dele), e vê a própria esposa morta, o filho também, e no meio da alucinação morre. Detalhe: Ele teria lutado com o irmão vampiro antes desse fim.
E aí tem um salto temporal, mostrando o garoto do blues agora todo famoso em um bar, tocando e fazendo show, quando recebe a visita do tio dele, o gêmeo que era vampiro. Ele tinha sobrevivido ao massacre, poupado pelo irmão.
E eles conversam de boa! Ele diz que ta orgulhoso do sucesso, prometeu não matar ele e acompanhou ele, mas no fim das coisas, que baita bobagem hein.
Ele manteve a juventude, ainda teve a namorada transformada (aquela primeira vítima dos três vampiros foi ela) e no fim, tá livre pra viver como morto vivo. Pra mim pareceu foi um vencedor isso sim.
Enquanto o outro protagonista seguiu carreira no Blues.
E esse é o filme de terror... sério?
Conclusão
Musical de terror num vira, ainda por mais um filme de terror social defasado por vampiros genéricos.
Tinha potencial, e pra mim deveria ter seguido a linha de filmes como "Infiltrado na Klan".
Se a ideia era mesmo seguir a linha de "Um Drink no Inferno", filme do Tarantino que tem exatamente o mesmo conceito de plottwist (vampiros no final botando fim numa festa num bar), convenhamos que precisariam ter investido melhor em pesquisas.
Poxa, até aquela animação ruim da Netflix sobre Castlevania conseguiu mesclar umbanda com vampiros de forma plausível (eu curti), aqui nem tentaram isso.
Nem pesquisaram se há um similar aos vampiros ou algo assim, mesmo mentindo na cara dura que fizeram isso. No começo falam sobre os tipos de músicos que podem atrair demônios, mas nunca desenvolvem a ideia.
Tinha potencial, e isso é o que mais me deixou chocado, pois o público parece ter adorado esse filme, a nota geral lá do metacritics tá mais alta que filmes realmente bons do gênero, tipo Exorcista cara! O filme tem mais nota que o Exorcista!
Mas é isso né, o povo curte de tudo um pouco, só não consigo acreditar que realmente gostaram deste filme. Parece até nota comprada sabe?!
Vampiros, racismo e música... três temas fortes, desperdiçados num roteiro que chupa a paciência do público até a última gota. Eis o maior pecado de todos!
Enfim, é isso.
See yah!
2 Comentários
Eu jurava que era um filme católico esquisito fazendo crítica aos protestantes em forma de ficção.
ResponderExcluirAcho que até dá pra achar alguma referência a algo assim, pois tem uma parte em que o vampiro faz um baita discurso de como os colonizadores afetaram sua religião e tals, mas na realidade até isso se perde em meio ao caos.
ExcluirObrigado demais por comentar, isso me estimula a continuar.
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