Adaptação: Until Dawn: Noite de Terror ou The Dark Pictures Anthology: Glore Valley

Until Dawn - O Filme


Fizeram um filme baseado no jogo "Until Dawn", porém ele na verdade é baseado na franquia que surgiu depois de "Until Dawn" (e tecnicamente graças a ele), chamada "The Dark Pictures Anthology", e no fim deveria ser um tipo de conto extra exclusivo pro cinema, mas englobando a tal franquia... só que alguém na produção disse "Ninguém vai entender" e optaram por destruir tudo.

O nome desse filme é "Until Dawn", fato! Mas na verdade ele foi roteirizado pra se chamar  "The Dark Pictures Anthology: Glore Valley". Isso fica nítido sem que precisem sequer explicar, mas algo deu errado nisso tudo.

Como pode alguém ter uma ideia excelente e deixar ela ser trucidada por pessoas que não a entendem? O que vemos nesse filme é um potencial único de expandir o mundo dos games e até atrair pra eles, sem necessariamente ser uma "adaptação". Só que na onda atual de adaptações, acharam que era uma ideia complexa de mais pra apoiar e fizeram tantas modificações em cima da hora com o material original, que apenas fez algo que tinha potencial, virar um lixo total.

Bem, bora falar tudo sobre este filme e, prepare-se pra spoilers.

Boa leitura.

"Until Dawn: Noite de Terror"


Este filme é um terror repleto de tudo um pouco, com sobrenatural, horror, suspense, mistério, serial killer, enfim, ele aposta em vários tipos de terror juntos e misturados. Inclusive ele lembra muito um filme chamado "O Segredo da Cabana", seguindo praticamente a mesma premissa.

Um grupo de jovens entra numa casa que não deviam, e passam a vivenciar pesadelos contínuos com criaturas sobrenaturais diversas. O que muda aqui, é que eles morrem no final de cada encontro e acordam no início da mesma noite, tendo de descobrir como sobreviver, e sem saber qual será o próximo terror.

Essa questão do looping temporal também lembra outro filme de terror (que amo) chamado "Triângulo do Medo" e a base do mistério é praticamente a mesma: Descobrir como quebrar o looping.


E aí chega a parte em que o título escolhido se encaixaria, pois a única forma de quebrar essa maldição, seria sobrevivendo a noite inteira ao pesadelo, Até o Amanhecer (Until Dawn).

Parece genial isso né? Só que o problema é que todo o evento não é causado pela noite em si, mas pelo local onde tudo ocorre, chamado Glore Valley. A maldição em si parte dele, e o mais lógico seria colorar o nome do local, assim como outras obras de "The Dark Pictures Anthology" fizeram.

E, a confusão começa no tipo de adaptação que quiseram fazer. Este "Until Dawn" em nada se assemelha ao jogo homônimo, mas o jogo inspirou a franquia de jogos que parece ter sido sua inspiração, apesar dela não ser tão famosa quanto ele que foi o primeiro, e com certeza alguém da produção ficou tão confuso que preferiu fazer uma grande mistura.


Until Dawn, o Jogo


O jogo é pra mim uma das coisas mais memoráveis pois foi literalmente o primeiro título de PS4 que terminei, e também foi um dos artigos que fiz baseado apenas na experiência de uma noite de jogatina. O negócio me prendeu de tal forma, que eu simplesmente não relaxei até escrever sobre.

Ele é um jogo de Terror e Suspense, com toques de Sobrevivência e principalmente Escolha e Consequência. A ideia é jogar tomando decisões simples, fazendo de tudo pra manter os personagens vivos até o fim, enquanto descobre o que está rolando. Nele nós controlamos todo o elenco como protagonistas, mudando entre eles dependendo da história, e as escolhas influenciam uns aos outros.


Ele é rico em suspense e sobrenatural, mas tudo tem uma explicação no fim, e ainda por cima ele usa atores reais para captura de movimento, dando rostos conhecidos pros personagens, o que na época era uma tremenda novidade (hoje em dia virou moda).

O problema de Until Dawn é que ele era exclusivo pra PS4. Quebraram a exclusividade recentemente, junto com mais um monte de títulos da Sony, mas ainda assim ele ficou famosíssimo por suas investidas. 

O gráfico realista por conta da captura de movimentos era tão incrível, e a história com múltiplos desfechos baseados apenas nas decisões do jogador, foram coisas muito inovadoras na época, e isso influenciou jogos pra caramba, tanto visualmente quanto narrativamente.

Mas a principal influência foi na criação de uma franquia a parte, intitulada "The Dark Pictures Anthology".


The Dark Pictures Anthology


Feita pelos mesmos desenvolvedores de Until Dawn, essa franquia nasceu da mesma ideia, tanto das capturas quanto das escolhas, e mantendo o terror. Só que agora seriam contos antológicos diferentes, com cada jogo tendo seu próprio tipo de terror, seu evento paranormal, suas criaturas.

"Until Dawn" faria parte da franquia, de forma não oficial, com sua história sobre "A Pegadinha e o Wendigo". Mas o que o difere dos outros jogos de "Dark Pictures", além do título, é o fato deles não serem exclusivos pra plataforma da Sony.

Mesmo assim eles não ficaram tão famosos quanto, e foram comercializados de um jeito um pouco confuso. Eles saíram como "pacotes", e pra algumas pessoas isso parecia só um monte de DLCs ou um tipo de jogo episódico, sendo que na verdade cada subtítulo era um jogo único, completo, e com terror próprio.

Eu mesmo joguei apenas 2 deles, e fiquei no aguardo de outros lançamentos previstos no tal pacote, mas com o passar do tempo apenas esqueci.

Talvez por isso o pessoal que pensou na adaptação achou melhor investir no título mais famoso, ao invés de fazer direito... e forçaram modificações que prejudicaram muito o resultado final.


As Histórias dos Jogos
(Caso queira mais detalhes, clique na imagem pra ir pro artigo do jogo)



A história de Until Dawn (jogo) é sobre um grupo de jovens que vai pra um chalé para uma festa individual deles, no meio da neve, apesar de duas amigas deles terem morrido no ano anterior naquele mesmo local. Durante a estadia eles começam a sofrer com serial killers, assombrações, e coisas que colocam suas vidas em risco, contudo no meio do jogo, descobrem que era tudo uma pegadinha feita pelo amigo deles, Josh, o maluco.


Porém, a reviravolta ocorre quando um monstro chamado Wendigo, aparece e passa a matar todos de verdade. E aí a história passa a ser sobreviver até o amanhecer, fazendo valer o título.

Mas sobreviver não vai fazer o monstro evaporar como magia, isso é só pra terem a chance de pedirem ajuda. A ideia do Wendigo é completamente crível e segue a mitologia da tal criatura: Pessoas que cometem canibalismo e transformam seus corpos, virando entidades canibais da noite.


E isso é respeitadíssimo durante a história, tanto na parte do mistério sobre quem este Wendigo era e qual a relação dele enquanto humano com os jovens da cabana, quanto a natureza dele e como ele se transformou.

Isso fica bem articulado, adicionando camadas profundas ao enredo, e dando muito mais importância pra criatura, sendo praticamente um terror sobre Wendigos (o que raramente se vê).

A parte da "pegadinha", onde um dos jovens tinha marcado de zombar dos colegas matando eles de mentirinha, serve tanto pra ensinar o peso das ações e consequências, quanto pra chocar com algumas cenas bem pesadas (mas falsas e explicadas posteriormente). Isso também adianta muito pra reforçar o mistério, e quando a criatura passa a matar de verdade (ou acidentes não planejados ocorrem), tudo fica muito mais assustador pro jogador.




O primeiro título da franquia "Dark Pictures" fala de um navio assombrado chamado "SS Ourang Medan", onde um grupo de jovens perdidos no mar depois de atacados por piratas, acaba atracando, e eles precisam sobreviver a fantasmas e bizarrices que rolam por lá, além dos piratas.

A reviravolta da história é quando descobrem que na verdade, há um gás alucinógeno que faz todos verem coisas sobrenaturais, e vivenciarem pesadelos, levando eles à morte por acidentes horríveis, ou tornando eles vulneráveis aos assassinos malucos no navio. 


O objetivo é sobreviver a tudo isso, escapando do navio com o máximo de amigos possível, mas uma coisa sempre leva a outra.

O que marca a série de "Dark Pictures" é a presença de um "Curador". Tem sempre um cara narrando a história pra gente, dividindo ela em episódios e se apresentando em uma sala, na qual ele conversa conosco e relata nossas conquistas, como se tudo o que vivíamos fizesse parte de uma história que ele está contando.


E isso é tudo o que se repete em todos os jogos. Os personagens envolvidos sempre são diferentes, também baseados em atores reais, mas como personagens únicos de cada história.




O segundo título da franquia "Dark Pictures" fala de uma cidadezinha chamada "Little Hope", onde no passado houveram incidentes com bruxas, e ele se separa em 3 linhas do tempo, onde os personagens tem visões de versões similares a eles no passado.

Ele tem uma atmosfera bastante similar à de "Silent Hill", onde um grupo de pessoas acabam parando na cidade, e se veem presas, buscando uma saída enquanto vivenciam memórias de possíveis antepassados, e ainda são perseguidos por monstros bizarros.


Apesar dos protagonistas alternarem, há apenas 1 principal nessa história, mas o desafio é descobrir quem. Entender o mistério que tá rolando e a razão dos personagens reviverem histórias antigas enquanto caçados, vai tomando espaço na trama, até tudo se revelar apenas fruto da imaginação desse personagem.

Com uma reviravolta mostrando que na verdade apenas um deles está de fato vivo, e todos os outros são pura alucinação, o jogo encerra revelando quem e sendo muito cruel com o jogador que nunca nem teve chance de salvar os demais, pois o trauma era outro muito diferente.

E o "Curador" está ali pra nos lembrar disso.


Como deu pra notar, os jogos tem seus diferenciais mas todos seguem aquele padrão das escolhas, e de protagonistas diferentes controlados simultaneamente. Ainda há outros títulos mas não tenho como falar deles agora (salvo dos spoilers!) pois não os concluí, mas cada título mantém a ideia de se passar num tempo próprio, com um terror original, e sem repetir as ideias.

É o conceito de "Antologia", que fazem questão de botar no título. O propósito é mostrar histórias próprias, e aqui entra o filme nessa lambança.


Agora Falando do Filme


O filme conta a história de 5 jovens que estão refazendo os últimos passos de uma amiga que morreu no ano anterior, e acabam chegando até "Glore Valley", um hotel escondido no mato, onde descobrem que não podem mais sair pois estão presos durante a noite toda.

Uma Ampulheta com uma Caveira gira e eles ficam presos, não ao Hotel, mas à própria noite, e todos os terrores que ela reserva pra eles. 

A cada morte, eles acordam no início da noite, e precisam descobrir como sobreviver.


O foco é mostrar situações sobrenaturais assustadoras e randômicas, e neste ponto já se diferencia completamente do jogo no qual diz se basear, mas se aproxima da proposta da série de jogos antológicos.

Não da pra imaginar que pessoas morrendo e voltando com sequelas e memórias das mortes, teria sequer uma explicação científica ou plausível, quiçá fosse uma "pegadinha", então logo de começo já vemos que não é a história do Wendigo e da pegadinha.

Ela inclusive melhora no suspense quando revelam que o hotel faz parte de uma cidade inteira, que afundou naquela região, e tudo o que vivenciavam parecia derivar de uma mina que desabou, e provavelmente teria despertado um tipo de maldição ali, capturando vítimas que passavam por lá, e as transformando em monstros.


Todos que entravam no Hotel sumiam pro mundo, mas ao mesmo tempo se transformavam em uma atração a mais no grande amalgama de pesadelos dali. Por isso que tudo era tão variado, cada terror nascia da mente de uma vítima que já sucumbiu e não sobreviveu após a 13° morte.

Acontece que a cada noite um terror diferente rola, começando com um serial killer cruel, depois com uma bruxa, fantasmas e maldições, depois com uma água explosiva (bem grotesco e bizarro) e por ai vai. 


O terror era eles presos num hotel tendo de viver e reviver seus momentos finais e mais trágicos, como num limbo mortal, assombrados por entidades cada vez mais bizarras. Chega até a aparecer um gigante na floresta, pra ter noção do quão variados são os pesadelos.

Promissor né? Mas do nada, surge Wendigos na trama. 


Tudo Muda pra Parecer Until Dawn


Nos é revelado em situações pontuais e discursos mal encaixados, que os personagens estavam virando Wendigos, assim do nada, algo que não combina com a história nem de longe.

Quando os Wendigos aparecem, poderiam ser apenas mais um dos terrores daquele lugar, mas resolvem adicionar importância extra a isso, falando que os protagonistas estavam se transformando nesses monstros por causa do medo causado a eles.

O objetivo do Hotel era causar medo pra eles virarem Wendigos... consegue notar o quanto isso não soa coeso? É como se tivessem incluído esse tema para fazer parecer mais com o jogo que dizem se basear, quando na verdade a história era muito melhor e superior a dele, por ser inovadora.

Essa cena é pra imitar o jogo, mas nem combina com o momento, nem é encaixado direito.

Mas com esse desvio, começam à partir da metade do longa a incluir referências gratuitas ao jogo, com coisas mal pensadas, quase como se um produtor estivesse obrigando a inclusão delas, tipo situações em que todos ficam em silêncio pra evitarem ser pegos por um Wendigo, algo que no jogo faz sentido (é um dos momentos mais memoráveis pois tínhamos de manter o controle parado pro sensor de movimento não nos matar) enquanto aqui, apenas não faz sentido (eles nem sabiam o que era um Wendigo).

Outro exemplo é a irmã de uma das protagonistas. Ela havia chegado em Glore Valley e caiu no pesadelo, então ela é encontrada, mas já zumbificada como um Wendigo. Isso é pra fazer alusão as gêmeas do jogo que tinham sido dadas como mortas no começo, mas uma delas pra sobreviver praticou canibalismo e virou o monstro.

Só que esquecem o que é um Wendigo, e qual a mitologia por trás dele. Eles são figuras da mitologia das tribos algonquinas, e nascem do ato do canibalismo, e não de medo provocado por bizarrices sobrenaturais.


Quiseram validar a adaptação mas ignoraram que tinham um bom roteiro pronto em mãos, e apenas saíram enfiando referências que nem casam com o material, nem fazem sentido ou respeitam o próprio material original. 

Os jovens por exemplo tendo presas aparecendo na boca, ou perdendo o cabelo como se estivessem se transformando no monstro a cada morte, é algo tão banal e mal aproveitado, que nem parece fazer parte da mesma história.

Tanto que nada disso tem importância no fim. Eles escapam na 13° noite por um milagre do roteiro, e simplesmente esquecem que estão marcados pela maldição no próprio corpo (os dentes nasceram já, o cabelo já tava caindo, um deles tinha as costas tortas com a espinha saindo, isso tudo foi ignorado).


Ainda nem tem uma explicação coerente pra repentina ascensão de canibais na trama, sendo que ninguém come carne, ninguém nem come a história toda! Se tivessem trocado Wendigos por Zumbis faria até mais sentido, como um tipo de monstro gerado pelos temores das pessoas ali, e como só mais um dos pesadelos personificados.

E tem as lanternas... mano os caras passam a tirar lanternas do nada, esquecem que tem celulares e simplesmente usam aquelas mesmas lanternas que vemos em jogos... sem explicação. Tem tanta coisinha assim adicionada só por pura referência...


Toda essa mudança acontece apenas na metade do filme. Antes disso, a história era sobre o looping de mortes, os pesadelos diferentes, a maldição misteriosa e como vencê-la. O título "Until Dawn" inclusive funciona melhor nesse caso, pois o objetivo do grupo era sobreviver ao que quer que rolasse, até o amanhecer, até a Ampulheta de Caveira terminar de derrubar areia... aliás tem isso também..


A Ampulheta e o Simbolismo


Não tem isso no Until Dawn original. É só a capa do jogo mas não tem isso nele, serve apenas pra ilustrar o tempo passando.

Na real, a Caveira é um símbolo da franquia, o que conecta a série antológica de jogos com o primeiro da Sony, por isso que fica muito óbvia a intenção original do longa.

Até mesmo o "Curador" parece estar presente, pois o vilão principal é um misterioso homem, de múltiplas identidades, que parece estar por trás da maldição no Hotel.

E ele discursa com a protagonista, fala que tudo foi provocado por ela, e onde poderiam encaixar um ótimo plottwit, parecem ignorar isso e criam uma solução abrupta e ilógica, só pra dar um final qualquer.


Nunca é explicado o que ele fazia, quais suas intenções, como ele tinha tanto poder pra gerar terrores, qual a pira dele com Wendigos... na verdade o filme ignora tudo isso pra terminar do jeito mais bobinho e amador que pode-se imaginar.

Explodem o cara usando água explosiva, e correm por suas vidas dos Wendigos, se salvando no último segundo quando o Sol nasce.


E, nossa, que desfecho brilhante hein! Todos se salvam, final perfeito, mas sem sentido algum.

Ficamos sem entender o que é a cidade, o que é a maldição, de onde ela saiu, o que são os Wendigos, o que é o Gigante, quem é o serial killer, como a ampulheta funcionava, vish, o filme falha em tudo.

Pois sabe o que parece? Ele apenas foi mudado da metade pro final. São dois filmes, um sendo corte original baseado em um conto exclusivo de "The Dark Pictures Anthology" e outro sendo um corte forçado pra fazer parecer com o jogo "Until Dawn", e os dois cortes se matam.

Até "O Segredo da Cabana" se sai melhor com aquele desfecho explicando o sistema dos medos como parte de um ritual, e olha que pra mim aquilo é muito bobinho. Aqui, nem tentam explicar.

Enfim...


Esse é o mal de uma produção repleta de executivos que não entendem o que estão fazendo.

Talvez de fato um filme chamado "The Dark Pictures Anthology: Glore Valley" seria difícil de promover, tanto pelo nome longo (falha da franquia de jogos inclusive) quanto pela popularidade do jogo que se basearia. Mas talvez isso teria ajudado no reconhecimento da franquia, se o filme mantivesse a qualidade da primeira metade até o fim.

Ele é bom nesse começo, eu me vi assistindo um filme de terror raiz sem piadinhas, sem exageros, apenas suspense e um gore visceral bem utilizado. Caramba tem uma hora em que uma moça toma uma água explosiva e gente, ela praticamente pede pra morrer depois da tortura que uma única gota fez com ela.

E tipo, isso é o que se espera de terror. Sustos, pânico, aquela sensação bizarra.

Mas depois tudo vira um filme de zumbis genéricos e sem explicações, com um encerramento bonitinho e igualmente ilógico.

E sabe o pior? Ainda metem uma imagem de um dos protagonistas de Until Dawn (Josh) numa ficha psiquiátrica pra dizer que o filme e o jogo estão conectados, sendo que pelo amor de deus, a história do jogo não precisa de correções ou complementos... ela por si só já se basta independente do final que você pegue.


Queria eu assistir o corte verdadeiro de "Until Dawn: Noite de Terror", mas duvido que isso verá a luz do dia.

Personagens

Querendo ou não, acho legal falar brevemente dos personagens do Filme, que não são os mesmos de nenhum dos jogos.


Clover (Ella Rubin)


A protagonista principal (é redundante chamar assim?) é a irmã da moça que sumiu, e alguém traumatizada ao ponto de ter tentado se matar. 

Os amigos levam ela pro passeio seguindo o caminho da irmã dela, até que ela conhece um cara numa loja de conveniência, e ele aponta Glore Valley pra ela, que ela deduz ser o último lugar em que sua irmã esteve antes de sumir.

Depois disso ela só vira mais uma das vítimas do hotel, e morre pela última vez nas 4 primeiras noites, depois ela começa a pedir pro namorado matá-la e as demais noites nem são mostradas direito. Eles passam a se esquecer dos eventos depois da 5° noite, e só se lembram de checar o celular de um deles (que tinha gravações de tudo) na 13° noite, a final (baita atalho pra acelerar o fim).


Aliás, ela é chamada de protagonista mas nada justifica isso. No fim ela tem um encontro com o vilão, que demonstra muito interesse nela, mas o roteiro poda isso tão rápido que fica impossível compreender. 

Ela mata o vilão e salva todo mundo, mas apenas por pressa do roteiro, e muita conveniência.

Enfim, ela marca seu ponto de retorno pós morte diante uma "Parede de Chuva". Todos voltam pro local que estavam no instante em que a noite começou, isso depois de morrem, mas cada um tem seu lugar. O hotel fica numa clareira em meio a uma tempestade, e a chuva não cai lá. Isso cria um evento fantástico, que impressiona mais a Clover pois ela diz ter visto sua irmã na chuva. Posteriormente ela mostra mais fixação pela floresta e corre nessa direção em algumas noites.


E, vamos às mortes:

Ela morre pela primeira vez após testemunhar a morte de todos os amigos pro Serial Killer, depois de correr ao tentar esfaqueá-lo e fracassar, e fugir pra floresta, vendo a irmã ao longe, e sendo esfaqueada pelas costas pelo serial killer.

Ela morre pela segunda vez possuída por uma velha bruxa, que invade o corpo dela, a força a matar o quase namorado, e depois é atropelada pelo serial killer (ele volta sempre), depois dele matar os demais.


Ela morre pela terceira vez ao beber a água explosiva, sendo a última a beber. Ela conhece o vilão pouco antes de explodir, estranhando ele, quem alerta que "Esconder não é o mesmo que sobreviver".


Ela morre pela quarta vez depois de correr pra floresta pra se encontrar com o vilão, depois de uma chamada via rádio (não faz sentido). Ela então é pega por uma armadilha de urso, e levada pra uma toca onde sua irmã está, mas nada acontece com ela. Ela só morre depois quando o quase namorado a tira da armadilha, e foge com ela, com na sequência ela pedindo pra ele matá-la pra tentarem de novo, pois agora ela sabe que não da pra salvar a irmã. Assim ele corta o pescoço dela.

Depois disso ela já acorda de um pesadelo com a irmã, na 13° vida dela, e não se lembra como morreu nas outras vezes. Ela e os demais assistem vídeos que um deles gravou, mostrando ela com um bicho no rosto (aparentemente a matando), wendigos devorando eles, uma sirene com aparentemente algo tóxico matando todos, e vários outros eventos aleatórios sem profundidade alguma.



Megan (Ji-young Yoo)


Pra mim essa personagem tem mais protagonismo em potencial que a Clover. Ela é uma garota mediúnica que diz sentir a presença de espíritos e é um tipo de alívio espiritual pra amiga.

Quando todos ficam presos em Glore Valley, o poder dela se amplia e ela começa a de fato falar pelos espíritos, revelando que havia mesmo mortos ali, e ela tinha mesmo o dom.


Ela é a única que não tem um namorado mas pelo que falam, ela poderia ficar com qualquer um caso quisesse, não que isso importe mas, eles citam, eu cito.

E bem, ela é a única que tenta tomar uma atitude real antes da última noite, mas isso também é cortado bruscamente do roteiro. Mostram apenas que ela sobreviveu à 12° noite, usando o celular de um dos amigos pra gravar o vilão, e depois ela sumiu ao ir atrás dele.

Nunca é explicado como, mas ele passou a prendê-la no looping dentro do consultório/asilo/seilá dele, torturando a tadinha com um Wendigo.


E ela é salva no fim, pela amiga protagonista, mas tudo é rápido de mais.

O ponto de retorno dela após morrer é no banheiro, tentando lavar o rosto mas sem acesso a água. A água só surge depois quando a maldição começa com a Ampulheta.


As mortes dela:

A primeira morte dela é com a cabeça esmagada várias vezes pelo serial killer, na frente da Clover, enquanto pede ajuda.


A segunda morte dela é possuída pelos fantasmas das pessoas que já morreram ali, falando em nome deles e tentando dar uma dica de como sobreviver à noite. Mas o pescoço dela quebra.

A terceira morte dela é uma das mais bizarras, onde ela toma a água explosiva, mas apenas um pouco, e tem partes do corpo explodindo, mantendo ela viva e sofrendo, até a cabeça explodir. Ela sofre muito.


A quarta morte dela é caindo em um teto de vidro e rompendo ele, depois sendo arrastada por um Wendigo que cai com ela e a devora.

E depois disso ela some, reaparecendo presa pelo vilão em sua clínica. Ela sobreviveu à 12° noite mas, de algum jeito o cara conseguiu manter ela presa em um novo looping lá (nada é explicado).


Abel (Belmont Cameli)


Algo me diz que tinha mais história pro Abel. Ele é namorado de uma das moças, e é o mais recente integrante no grupo de amigos, não tendo vínculo real com eles. Além disso ele sempre está gravando com seu celular (as vezes parece ser o único que tem um celular) e ainda é um Psicólogo formado.

Sendo mais maduro, quando as coisas dão errado ele é o mais sensato, contudo ele também tinha potencial pra se tornar vilão. No momento em que todos começam a perceber que a morte é inevitável, ele é o primeiro a mostrar que não se importa com eles, exceto talvez sua namorada.


Mas ela é responsável direta por uma das mortes dele, então isso quebraria o vínculo dele com o grupo... poderia ser um dos assassinos, quem sabe atrapalhando mais do que ajudando posteriormente, mas no fim apenas descartam tudo pra tornar ele um personagem unidimensional com um celular.

Ele é o motorista do grupo, dono do carro, e também o cara que descobre os Cartazes de Desaparecidos do Hotel, ajudando a entender a maldição do local. Esse é o ponto de retorno dele quando voltam no tempo após morrerem.


Ele grava tudo, fazendo um momento "found footage" e revelando vídeos curtos das noites que não se lembram mais, sem muita relevância no fim das contas.

Mortes dele:

A primeira morte dele é dividido ao meio pelo serial killer, e encontrado pela namorada. É o primeiro a morrer na trama.


Na segunda morte dele, ele é perfurado outra vez pelo serial killer, mas agora no carro dele quando tenta fugir com a namorada. Detalhe: Nessa parte eles veem o gigante na floresta, mas ambos morrem pro serial killer, e novamente ele é o primeiro a morrer.

    
A terceira morte dele é como o primeiro a tomar a água que explode. Eles se trancam no banheiro do Hotel e quase sobrevivem à noite toda, mas ele fica com sede, toma água da torneira, oferece pros amigos (todos tomam) e então ele começa a vomitar, até explodir.

A quarta morte dele também é como o primeiro, sendo perfurado pela namorada com uma picareta, por se recusar a ajudar seus amigos, mas depois ele ainda faz as pazes com ela (agonizando), e morre pro serial killer (ela pede pra matar ele primeiro).

Detalhe: Jurava que no fim iria ser revelado que ele era o serial killer, afinal ele morreu quase todas as vezes pra ele e tinha cara de se tornar o vilão.


Depois disso ele passa a gravar tudo com o celular mas eles não lembram das mortes, e no fim, eles matam o serial killer (apenas batendo nele, sem nada de especial).


Nina (Odessa A'zion)


Namorada do Abel, Nina é uma jovem sem nada de importante, mas que ganha um destaque significativo por ser aquela que assina o nome do Livro de Hóspedes do Hotel Glore Valley.

Fazendo isso, ela marca seu ponto de retorno (baita chek-in), e também descobre que todos iriam voltar várias vezes ali. Sempre que ela ressuscita, ela assina seu nome novamente, e ao vasculhar o livro, além de encontrar o nome da irmã da Clover, ainda descobre que todos pararam de assinar após a 13° vez.


Ou seja, aquele era o limite do pesadelo. 

Nina depois disso não tem relevância alguma, tirando o momento em que ela mata o namorado por notar que ele estava contra seus amigos. Só que, isso é ignorado pelo roteiro.


Mortes:

A primeira morte dela é depois de achar o namorado dividido ao meio, recebendo uma picaretada do serial killer, fora de cena.

A segunda morte dela é no carro, depois do namorado morrer atrás dela. O serial killer a mata fora de cena também.

A terceira morte dela é pela água explosiva, sem nada de mais, apenas explode de uma vez, logo depois do namorado, também fora de enquadro.


A quarta morte dela também é logo depois do namorado, quando ela quase o mata e pede pro serial killer matar ele primeiro, ironicamente ela morre outra vez fora de cena.


E como os demais, as outras mortes foram cortadas do filme, mostradas de relance nos vídeos do celular do namorado.


Max (Michael Cimino)


Esse cara tem interesse romântico na Clover, e só isso.

Seu ponto de retorno após morrer é ele puxando ela da chuva, ou seja, ele forçando ela à maldição (talvez se ele não a tivesse puxado de volta pra clareira, ela não teria caído no looping).

Ele é um baba ovo dela, fica na cola dela o tempo todo mas é irrelevante pra toda a história. Não faz nada, não ajuda em nada, apenas é um cara que morre atoa.


Falando em morte:

A primeira morte dele é com uma faca no olho, pelo serial killer, quanto tenta enfrentá-lo. Curioso que o serial killer era imune a danos nessa parte, mas no fim do filme ele morre pra mão do Max usando exatamente a mesma tática.

A segunda morte dele é pra própria Clover, possuída pela bruxa. Ela é levada por um espírito até uma casa que se projeta do lado de fora do hotel, e lá ela é possuída vestindo uma máscara. O Max vai atrás dela pra ajudar e morre com facadas nas mãos dela, com ela sendo atropelada em seguida.


A terceira morte é pela água explosiva do banheiro, igual aos demais, porém na frente da Clover. Ela suplica pra ele matá-la pra que ela não sofra igual a Megan, mas ele se recusa, e explode primeiro na frente dela.


A quarta morte é pela irmã da Clover, como Wendigo, depois de degolá-la por misericórdia. Ele é devorado pela Melanie. Curiosamente é a primeira vez que ele é o último a morrer.

E como os demais, sem mortes mostradas depois disso. 


Melanie (Maia Mitchell)


Irmã da Clover, ela morre no começo da história, perseguida por um monstro misterioso, e depois executada pelo mesmo serial killer de sempre.


Isso é uma alusão mal feita às gêmeas do jogo, onde de fato há um monstro misterioso atrás delas, e elas morrem aparentemente pra uma queda acidental em um morro. 

Só que no jogo, as gêmeas se chamam Beth e Hannah, e Hannah vira uma Wendigo por comer carne humana, tendo sobrevivido à queda. 

Aqui, Melanie chega ao Hotel, e cai no looping de mortes, implorando pra pararem de matá-la no começo do filme. É outra situação totalmente diferente... mas o filme resolve que ela de fato é a similar à Hannah, e a transforma numa Wendigo.

Única Wendigo na história que tem cabelo (era pra ser uma referência ao demônio, mas virou o único Wendigo de aplique), e assombra a irmã na chuva, e também em umas cenas completamente soltas.


Uma hora ela puxa a irmã com uma armadilha de ursos e o filme ignora isso.

E no fim ela morre pra Clover, que a empurra num espeto no chão pra se salvar, em uma cena sem emoção alguma. Ela nem tenta se lembrar que é humana.

No jogo, a Hannah da indícios de que se recorda dos amigos.


Hill (Peter Stormare)


Ai ai viu, Hill ou "Dr. Hill" é o Curador de Until Dawn. 

Tem um psicólogo no jogo, que conversa conosco entre os episódios, e esse cara é apenas uma ilusão. Ele surge na cabeça do Josh como uma válvula de escape pra ele não se sentir culpado pelas atrocidades que comete.


Josh é louco, ele faz a "pegadinha" e isso é só a ponta do iceberg. No fim ele quase mata todo mundo de verdade, e "Dr. Hill" é um pingo de sanidade que ele tem.


No filme tentam inverter os papeis... Hill seria real e Josh um interno, mas isso ficou terrível quando não souberam nem explicar os "poderes" dele. Curioso que ele aparece primeiro como um vendedor da loja de conveniências, que guia as vítimas pra Glore Valley, e ele também é o narrador do trailer (que conta todo o plot do filme). Mas depois ele aparece em Glore Valley, bem trajado e por trás de tudo.


Parece que a ideia original era fazer com que Clover fosse uma interna em seu hospital, o mesmo onde Josh tinha se internado, e tentando explicar que tudo ali era fruto da imaginação dela, e que ela estava doente após a perda da irmã... mas abandonaram tudo isso e mantiveram apenas os mistérios sem respostas, ricos em easter eggs insignificantes.

Pior é que ele ainda morre, tomando seu chá com duas gotas de água explosiva que caem de um cano, e é algo muito estúpido de assistir. É tudo tão brusco que parece ter sido improvisado de última hora.

Toda a água do local explode a pessoa que beber, mas ninguém explode na chuva... queria entender isso.


Enfim, o filme é essa lambança e mistureba de bom roteiro com má adaptação, uma coisa destruindo a outra.

No fim, resta sonhar com o que poderia ter sido, e aceitar o que foi. 

Daria um baita filme de Antologia da Dark Pictures, mas se mostrou só um genérico de terror mal terminado.

Se pensar bem, até como uma continuação de Until Dawn ele valeria, mas não com essas mudanças estranhas que fizeram. Antes fosse uma história sobre o tempo, sobre o looping, sobre as mortes, sobre as atrocidades, como o trailer sugeria. Mas Wendigos e falsas referências? Passo.


É isso.

See yah.


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