CríticaMorte: Homem-Aranha - Através do Aranhaverso - Tudo junto em um só filme!

A alguns dias atrás eu disse que o melhor filme a abordar o multiverso foi Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo... pois bem, eu estava parcialmente errado. O melhor filme a abordar o multiverso é ele mesmo, mas ele não é o único. Digamos que há dois filmes, ou três, talvez quatro... bem, tudo depende de qual universo estamos.

Estou feliz em ter tido a chance de assistir isso. "Homem Aranha: Através do Aranhaverso" é um dos melhores filmes, e uma das melhores animações que já pude assistir, não só pela qualidade impecável de sua composição geral, mas também por conta do tamanho do alcance que ele tem e seu impacto no cinema.

Este filme é forte, eu repeti essa frase várias vezes enquanto assistia e chorava, mesmo nos momentos felizes. Falarei o que achei, sem dar spoilers, e de um jeito mais intimo e pessoal. Peço desculpas antecipadamente por isso.

Boa leitura.

Cresci assistindo filmes do Homem-Aranha, meu primeiro contato com o aranha foi numa série, ou filme, não sei ao certo pois eu era jovem de mais, mas o que lembro é que era um live-action, com o aranha usando atiradores de teia, e eu de alguma forma achava aquilo muito estranho. Afinal, Peter Parker usava algo criado em laboratório pra gerar seu grande poder principal, enquanto sua habilidade real era subir paredes?! "O que isso tinha a ver com aranhas? Como que um cientista assim podia ser um 'super herói'?"

The Amazing Spider-Man - Série 1977 (foi ela que eu assisti ao acaso quando criança, Nicholas Hammond era Peter Parker)

Depois de um tempo vi a animação que passava na televisão, e era uma época rica em desenhos, e minha atenção sempre era mais voltada pra Dragon Ball ou Cavaleiros do Zodíaco. Eu só prestei mesmo atenção no aranha quando vi ele apertando a mão do Wolverine, ou algo assim. "Como assim o cara de poder maluco conhece os X-Men?!" 

Spider-Man - The Animated Series - Temporada 2, Episodio 2 - Mutant's Revenge (Esse é o episódio que eu vi na época)

Vagamente me recordo de ter visto ele e mais dezenas de Homens-Aranhas em um tipo de especial dessa mesma animação, e era na televisão, eu não podia voltar o vídeo pra assistir mais e entender o contexto, tudo que lembro era que um Homem-Aranha cheio de braços, e um vestido de prata, me fizeram amar o personagem. Foi ali, que eu pensei: "Isso é muito maior do que eu posso compreender". Tá, não foram nessas palavras, eu era muito jovem (uns 6 ou 7 anos?) e devo ter pensado apenas "Legaaaal" mas na minha imaginação foi algo muito maior que isso.

Spider-Man - The Animated Series - Temporada 5 - Episodio 12 e 13 - Spider War (Foi um episódio em duas partes, vi na Fox Kids na época, antes de virar Jetix).

O primeiro filme no cinema apareceu, Tobey Maguire... eu nem sabia o nome do ator, pra mim era apenas Peter Parker, um cara que SOLTAVA TEIA DO PULSO! Ai sim, estava certo. Eu me senti ouvido, mesmo sem ter dito uma palavra... aquilo realmente era o aranha, um dos aranhas, dentre milhares... melhor... infinitos aranhas. Eu já sabia disso, eu vi no desenho... e tudo que sonhei desde então foi: "Um dia todos vão se encontrar" (mentira eu pensei algo como "Vai Homem Aranha!!!").

Homem-Aranha - 2002 - Peter lança teia do pulso! Isso que é o certo!

Lembro que, na mesma época haviam revistas que vendiam colecionáveis do estúdio, eu queria tanto aquilo... eu ficava vidrado nos cenários mostrados nelas, inclusive, isso me lembra que tocavam clipes do Nickelback na televisão, mostrando cenas do filme com aqueles mesmos cenários, e eu ao ver aquilo só experimentava alegria. Eu passei a gostar da banda, só por isso! E meu, até hoje me arrepio só de ouvir "Hero" deles (Cafona? Me julgue). 

Eu tinha brinquedos e os disfarçava de aranhas só pra fingir que eram Homens-Aranhas de outros mundos! Eu acho que fazia isso irracionalmente, pegava o Tarzan de brinquedo e botava num barbante pra balançar (sei que o Tarzan já balançava nas coisas mas pra mim era o aranha!). Eu tinha brinquedos falsificados que pra mim, eram e sempre seriam outras versões dele. Eu tinha um Homem Aranha que vestia roupa de Robô, um Mecha mesmo, e pra mim era só mais uma variação.

Era parecido com esse, mas não tenho certeza.

Minha percepção do multiverso era clara, mas eu não fazia ideia disso. Eu nunca parei pra pensar nisso... o que tinha de tão especial num herói que escalava paredes e soltava teia artificial? Com o tempo saíram novos filmes, Andrew Garfield, Tom Holland... saíam novas animações... Amazing Spider Man, aquele homem aranha em CGI/Cell-shading também... e eu com o tempo fui apenas me afastando, mesmo ainda gostando muito do pouco que acabava ocasionalmente vendo.

Spider-Man - The New Animated Series - A animação em CGI, foi quando eu comecei a torcer pela Gwen+Peter

Eu não parava tudo pra assistir e consumir o que tinha do cabeça de teia, mas sempre que algo dele surgia, minha cabeça virava automaticamente pra televisão só pra olhar, com uma alegria instantânea.

O Verdadeiro Aranhaverso

Quando "Homem Aranha no Aranhaverso" surgiu, eu gostei muito daquilo. Mas um lado meu ainda dizia "Isso é muito maior". A animação era boa, a liberdade criativa, a forma como contaram a história, os poucos homens e mulheres aranhas mostrados eram legais mas, não eram o bastante, não era o suficiente... não era o certo... não pra carregar "Aranhaverso" no título.

Em pleno período em que Marvel (Loki), DC (Flash), Disney (Tico e Teco), e mais uma pá de estúdios brincam com o conceito de Multiverso, até mesmo tentando se aproveitar de nossa nostalgia (e conseguindo) como foi feito no terceiro filme do Tom Holland como Peter (Homem-Aranha: Sem Volta para Casa), eis que vem a Sony quietinha e sem pretensão alguma, e constrói algo sublime que alcança exatamente aquilo que é o Aranhaverso, o impossível aranhaverso.

Este é o filme que une tudo, desde animações até live-actions. Considere spoiler se quiser mas pra mim, este é o derradeiro filme que aborda o multiverso, se concentrando é claro no Homem-Aranha, algo feito nos quadrinhos também, sendo justamente de onde aquela animação que mencionei se baseava.

Só que aqui, ignoraram conflitos de bastidores, brigas de estúdios, orçamentos caros, e só consideraram o enredo. Tivemos algo que, não foi planejado pra roubar nosso dinheiro com filmes e mais filmes, séries e mais séries, que apenas repetiam suas fórmulas pra nos fazer comprar como se fossem novidades. Aqui mostraram tudo o que podiam pra provar que, o Homem Aranha é o melhor herói.

Esse filme é apenas a primeira parte, e isso foi anunciado no trailer, e mesmo assim, o que ele entrega é uma trama completa, que introduz corretamente a magnitude e importância de Miles Morales no meio dessa grande teia de eventos.

"Peter Parker" pra mim sempre foi o Homem-Aranha "principal", pois era o que eu conhecia do personagem. O que aprendi sobre Ben Parker, Gwen Stacy, Miguel O'hara, e mais uma penca de variações da pessoa por baixo da máscara do herói, foram com vídeos de curiosidade, ou matérias a respeito. Mas eu sempre pensei "Peter é o original".

Mas... e se não tiver um original? O que "Através do Aranhaverso" questiona e também responde é que, tudo depende do ponto de vista. A série de filmes vem se concentrando em Miles Morales, mas o nome não é "Miles Morales" e sim "Homem Aranha". Contudo, eles querem mostrar quem é exatamente o Homem Aranha, e entenda que esse é só o nome do herói (Mulher Aranha, Spider Gwen, Punk Spider, e por ai vai também fazem parte deste nome, independente de gênero, independente da história). 

Por isso que, não vejo um personagem melhor para servir de "Totem" pro conceito do multiverso. Uma teia de eventos, repleta de aranhas, representa exatamente o que é o multiverso, e claro, o aranhaverso, sem ter um ponto de partida, nem uma linha de chegada.

Sobre o filme...

Ele é triste, mostra Miles crescendo, mas também mostra todos os demais personagens que conhecemos crescendo. O novo vilão é terrível, pois ele tem sua construção gradual e, nos faz sentir empatia por ele, ao mesmo tempo que nos faz temer.

O mais irônico é que o filme tem 3 vilões... todos eles com sua natureza estabelecida desde o início, e também com sua trama e significado, além de periculosidade previamente anunciados. Todos eles são uma ameaça grande de mais pra apenas um herói deter, e todos eles existem apenas por causa desse herói, ou seja... é a responsabilidade dele lidar com isso... é aquela frase do tio Ben.

Pensando nisso aliás, já parou pra reparar que o poder do Homem-Aranha não é nada equivalente ao tamanho de sua responsabilidade? Pois é, o cara só sobe nas paredes! Como que isso pode fazer ele se tornar o núcleo da existência? Porque ele que faz parte da "Teia da Realidade"? Então, é exatamente isso que o filme quer nos fazer refletir.

A história não é só sobre a jornada do herói, deter vilões, salvar o mundo... não... o filme mostra algo muito maior que isso, ele mostra como tudo pode gerar consequências, ele mostra como todo detalhe é importante, ele mostra como cada pequeno personagem, seja protagonista, coadjuvante ou vilão tem significado, e uma enorme relevância num todo. Mostra como uma simples aranha pode mudar tudo (se fosse Homem Borboleta seria bem mais explícita a mensagem do "Efeito Borboleta").

Sim, Venon está incluso no Aranhaverso

O longa credita em sua narrativa tudo, e todos, pois ele não foca apenas em um, ele foca no Aranhaverso, e inclui todos os universos existentes, e todos seus personagens, independente da mídia.

É um filme que não da pra assistir só uma vez, pois ele é repleto de informações. Você vai amar, independente de quantas vezes o veja. Todos os detalhes, todo o carinho com o qual trabalharam na animação, na arte, na música, nas intepretações, nos cenários. É assim como o primeiro filme, mas ainda melhor, pois tudo ganha mais amplitude, tudo se torna mais poderoso, tudo é mais rico.

Vale muito a pena ir no cinema ver, vale a pena alugar pra ver, vale a pena comprar pra ver, chamar a família pra ver na sala, parar pra ver quando tiver na televisão. Este é O FILME, pois ele diverte, entretém, faz rir, faz chorar, surpreende, impacta, e ainda deixa a gente querendo mais.

Até porque, ele é só a primeira parte. 

O filme acaba exatamente no clímax de sua macro-história. Ele encerra na virada de eventos que vai jogar todos os personagens que conhecemos em uma verdadeira Jornada do Herói. Mas ele não se limita a ser uma introdução, ele se basta, mesmo sendo inconclusivo, pois tudo que ele tem pra contar ele consegue contar.

O que me fez demorar tanto pra assistir foi o medo de acabar com uma história pela metade, sem ter respostas, e numa expectativa fabricada pela divisão de uma história, sendo a primeira parte um possível "filme podado", como já experimentei antes em filmes como aquele da Netflix (a trilogia Rua do Medo) Mas fico feliz em dizer que ele é completo, e perfeito, mesmo sendo incompleto, e com falhas.

Suas falhas são propositais, seus fragmentos também. O que fica em aberto é apenas para servir ao enredo, e mesmo o que se tornou vago, tem seu significado por ser vago. Nada é esquecido do filme anterior por exemplo, e tudo que ocorreu nele, no Homem Aranha no Aranhaverso de 2018, tem impacto aqui, mesmo sem precisar mostrar 1 cena se quer do filme anterior, mesmo sem ter de repetir o filme em flashbacks, e mesmo sem assumir que conhecemos sua história.

Mas, é óbvio que, por estarmos num filme intitulado "Aranhaverso", ele espera que reconheçamos ao menos 1 personagem ali. E pra garantir que isso ocorrerá, o filme bota logo TODOS. Sem exceção. E se teve alguma, ainda há espaço pra incluir em nossa imaginação, só pegar nosso Tarzan.

Meu, chegaram a mesclar com perfeição TODOS OS MUNDOS! Incluindo os live-action, animações e quadrinhos. O filme mesmo salta entre estilos de filmagem o tempo todo. Isso foi genial, e o melhor de tudo, FEZ SENTIDO.

Amei esse filme.

E quero assistir logo a Parte 2.

Obrigado pela leitura, e desculpe se o texto ficou muito vago ou pessoal. Eu não achei palavras melhores pra me expressar.

See yah.