CríticaMorte: Rua do Medo - 1666 - Parte 3 - Acabaram mesmo com a Maldição!

Como pode o terceiro filme ser o melhor? Tipo, não existe uma maldição cinematográfica lendária? Fiquei surpreso.

O terceiro título dessa trilogia semanal consegue juntar todas as peças soltas dos outros filmes, e responder todas as perguntas, mas todas mesmo, sem deixar nada passar (de forma convincente inclusive). Além disso, ele consegue ser um bom filme de terror jovial, e caramba, eu nem acredito que é um Rua do Medo.

Bem, boa leitura e tentarei explicar a controversa opinião resultante de uma jornada de desapontamentos.

Mas, antes de começar, vale dizer: Assista... compensa. Ainda mais se você assistiu os anteriores, você merece assistir o terceiro, é como a recompensa pela tortura anterior!

Tem spoiler

Esse filme, sequência direta, planejada e anunciada previamente, dos Rua do Medo - 1994 e Rua do Medo - 1978, (clique nos nomes pra ler as outras críticas) é peculiarmente diferente dos outros dois, em alguns pontos.

De início, como já esperado pelo título, ele começa contando sua história ambientada em 1666, pra mostrar a tão misteriosa bruxa que aterrorizou os Shadysiders nos outros filmes, e quem sabe responder como as histórias deles iriam se concluir satisfatoriamente.

E num é que ele conseguiu isso? Não apenas fez o que eu achava improvável (feliz engano), como fez isso de um jeito bem agradável.

A primeira parte do filme, é inteiramente em 1666, algo justificado como uma "visão prolongada da bruxa". Quando a mão dela é enterrada junto ao corpo, a protagonista la do primeiro filme (que faz o enterro baseando-se nas informações do segundo filme), ela assiste em primeira mão (ha-ha) todos os eventos que levaram a Bruxa até aquela situação.

Inclusive, usaram aquela técnica de teatro de reciclagem de atores, onde os personagens, apesar de diferentes, são interpretados pelos mesmos atores vistos até então. Tem nada de reencarnação ou coisa parecida, apenas usaram os mesmos atores (como parte da visão da protagonista), lembrando muito o que American Horror Story costuma fazer.

E bem, os eventos são interessantes, algo que eu achava difícil de ocorrer. É exatamente o mesmo modelo dos outros filmes, com os personagens sendo apresentados e, a trama se construindo com um singelo mistério por trás.

Mas por ser a origem de tudo, é de fato mais difícil de prever o que ocorrerá, já que não haviam os assassinos, nem a maldição estabelecida naquele tempo, e por mais que saibamos que a bruxa morreria, e amaldiçoaria geral, não sabemos as circunstâncias pra isso acontecer, e nem a história real.

E é ai que tá, uma vez que conhecemos a bruxa, é lógico que pensamos na possibilidade dela ser inocente, mas isso cria várias dúvidas que, vão de encontro as muitas informações avulsas dos outros filmes, e a conclusão que chegamos é "Não vão conseguir justificar".

Mas, com paciência, eles justificam tudo. Confesso que ao ver todo o desenvolvimento da Sarah Fier, acompanhando seu romance proibido e pecaminoso com outra garota, e também vendo que, pela cultura da época, ela própria passava a se julgar errada e até culpada (sim, ela passa a supor até mesmo que, seu romance podia ser o foco de todo o mal), as coisas realmente instigam curiosidade. Isso ocorre pois antes mesmo dela começar a ser chamada de Bruxa, o vilarejo (onde Shadyside seria fundado) já tava passando por maldições, que afetavam até mesmo ela (a mina perdeu muito também).

Esse mistério sobre ela ser culpada ou não, é alimentado por cenas soltas, como o momento em que ela inadvertidamente abre um Livro de Pactos Satânico, na casa de uma mulher isolada no meio do mato, e lê um trecho satânico, com até um pouco de seu sangue sendo tirado acidentalmente. Daí, você pensa "Isso, será que ela fez o pacto e não sabe?" ou então "Cara, ela virou bruxa sem saber?" ou até mesmo "Será que ela amar é realmente um pecado?".

Porém, aos 45 minutos do filme, quando ela própria decide abandonar o manto de mocinha e abraça as falsas acusações, decidindo fazer mesmo um pacto, eu pensei "Ah pronto, estragaram a obra". Até então, eu tava convencido que iriam torna-la inocente, e iriam de alguma forma revelar que havia outro vilão por trás de tudo, o que ao meu ver, seria genial (por mais clichê que fosse, eu ia achar bem surpreendente).

E foi exatamente isso que fizeram, o que sim, me surpreendeu! Não sei quando fui simplesmente enganado pelo filme, talvez fosse pela expectativa baixíssima que ele criou com seus dois antecessores, ou simplesmente com minha falta de fé na Netflix, ou até por minha presunção em achar que posso antecipar tudo o que acontecerá numa história "previsível", mas eu simplesmente me vi de olhos arregalados e, curtindo, muito, o que assistia.

Sabe o que é mais curioso? Até a grande surpresa de quem era o vilão de 1666, o primeiro "Assassino em Série", o Pastor que Arrancou os próprios Olhos e matou todas as crianças da cidade, arrancando os olhos delas também, que por sua vez já tinha sido citado nos outros filmes e não era tão surpresa assim, foi sim uma surpresa... ou ao menos, foi aterrorizante.

O filme te faz esquecer que ele apareceria, pois ele te faz ficar mais concentrado nas pragas que caiam pelo pequeno povoado, e revoltado pela população acusando por pura falácia, uma jovem apaixonada, de bruxa.

Aí, quando ele aparece, não há cenas de mutilação, nem de assassinato ou, nada assim. Ele só surge numa igreja, com todas as crianças já mortas, e ele lá no púlpito, balbuciando frases bizarras. É medonho, é inesperado, é assustador.

Nem parecia um filme da mesma série anterior que não sabia construir seus momentos impactantes e apelava pro exagero gráfico... Eu quase bati palmas, mas ai pensei "Cara, se concentra, é um Rua do Medo pelo amor!"

Daí busquei falhas pra criticar (eis que eu me vejo tentando entender a razão de gostar de algo que eu realmente não queria gostar!) e, num é que até a coisa que normalmente eu mais odiava nessa série de filmes, acabou por estar corretinha? Trilha Sonora! Ela consegue evitar os exageros e novamente usando de música de época (1666? sim, tem umas trilhas clássicas tocando, mas são nas horas certas) faz de um jeito bem mixado, e coeso. Outra vez, depois de tanto insistir num erro tosco, os caras simplesmente acertaram... soa até como se fosse... proposital.

Vale dizer que ironicamente, na cena final de 1666 (que na verdade, dos 50 minutos pra frente até troca de nome, se chamando de "Rua do Medo - 1994 - Parte 2"), rola um atropelamento musical, que até faz sentido! eles escolheram as músicas certas na mixagem desse filme, e no finalzinho, trocam as músicas de forma inusitada, sobrepondo umas nas outras, e diferente do que fizeram antes, aqui até que combina com as cenas.

Cara, é muito estranho isso. O que nos outros era um desastre aqui, parece funcionar. 

Ao meu ver, acredito de fato que eles fizeram os 2 filmes anteriores ruins, de propósito, pra que esse último se destacasse. Só isso explicaria o quão bem feito ele ficou.

Nem tudo são flores também, é claro que tem seus erros, algumas falhas, mas perto dos anteriores, você nem percebe, é difícil até notar... e olha ai... num parece proposital? Achei a explicação da mão decepada da Sarah forçadíssima por exemplo (um corte e um puxão?) mas... o que é isso perto do resto?!

Voltando às respostas que o filme traz, bem, ele releva que o policial do primeiro filme, que foi mocinho no segundo, é o vilão no terceiro, parte de uma árvore genealógica do vilão principal, também do terceiro, não o Pastor sem Olhos (que por sua vez foi só a primeira vítima mesmo), mas o verdadeiro responsável pela maldição de Shadyside.

A maldição? Simples até: De tempos em tempos um membro daquele povo seria sacrificado, em troca de prosperidade pra cidade vizinha, fundada pelo vilão. O bacana disso é que ele podia escolher o sacrifício sem a necessidade da vítima se voluntariar. Só bastava dizer o nome.

E esse sacrifício? Era ter seu nome posto numa pedra, o fazendo ser possuído por uma vontade insaciável e incontrolável de matar outros membros da comunidade Shadyside.

Isso realmente explica a forma de seleção dos assassinos da cidade e como cada nome foi posto na pedra, foram... escolhas bem egoístas, feitas por pessoas ao longo de gerações. Nem é preciso mostrar exatamente quais as motivações de cada seleção de nome, mas só na parte em que é mostrado, rapidamente cada membro da família que fazia o pacto, gravando suas vítimas nas pedras, já da pra deduzir. Tipo, um cara nerd, que botou o nome da cantora (Ruby!). Teria ele tomado um fora? Aí por puro egoísmo, escolheu ela? Todos os alvos seriam assim.

O cara do machado mesmo, foi um alvo pois era um monitor do acampamento, e o policial (ainda jovem) era seu colega, provavelmente descontente por seu relacionamento com a irmã, daquela que ele acabaria se apaixonando (a ruivinha). 

Falando nisso, sim, a Faca no Bucho que foi curada por massagem cardíaca. A resposta existe: Magia. Parece piada eu sei, mas de fato foi magia pura, pois o cara que invocou os monstros que teriam matado a moça, era também aquele que a encontrou. Mesmo que isso não tenha sido dito, é insinuado, e faz sentido. Ele podia salva-la independente de seus ferimentos. Afinal, convenhamos, ele invoca zumbis, o que é uma barriga aberta?

E o mais legal, é que isso acaba sendo convincente. Depois de dois filmes esculachando com o bom senso, esse terceiro se aproveita disso, e mostra coisas mais realistas e comportamentos mais verídicos, com pequenas liberdades fantasiosas, o que por si só abusa pouco daquela gigantesca Suspensão da Descrença criada pelos anteriores, e da uma sensação realmente agradável de estar acompanhando algo mais relevante do que o normal.

Não vou mentir e dizer que nada incomoda, pois, tem momentos que é muito difícil de engolir, por exemplo, perto do final onde, depois de ficar dias amarrada, grunhindo de ódio e espumando pela boca, só pra matar a namorada (por que seu nome foi posto na pedra), eis que a moça loira se solta, quase mata a protagonista, e só não o faz por causa do poder do amor! A namorada chama por ela e, por um momento ela recobra a consciência, só tempo bastante pra falhar na missão. Me poupe vai... 

Mas, por outro lado, até isso é irrelevante pois, tanto faz! O filme não se baseia nisso pra resolução, e esse conflito é totalmente gratuito. Então, realmente tanto faz.

Referente aos demais mistérios, bem, tudo é revelado! Tudo, até chegar num ponto cômico, porém sutil. É que, as respostas vem de forma natural, todas as vezes. Sem diálogos expositivos nem exageros, as coisas só vão fazendo sentido, com no máximo um rápido flashback de 2 segundos aqui, ou uma pausa reflexiva bem ligeira ali. Algumas montagens bem feitas, nada tão extravagante, e ai surgem as conexões.

Só que tem um momento, que eu ri, porque foi divertido mesmo, e não por deboche. E olha, que a cena é de certa forma séria! Numa parte, aquele cara negro que tinha sido preso pelo policial por pichar o Shopping (onde a Árvore em que a Bruxa foi enforcada fica, bem no centro, detalhe esse que, foi bem pensado pra conectar tudo, e não é algo exposto em diálogos) entre outros pontos da cidade, acaba encontrando na viatura do policial, sprays de tinta. Basta um flashback de uma fala do policial, que na cena em questão, parecia um deboche (no primeiro filme) mas era uma confissão "São meus sprays!", pra que tudo fique hilário.

É engraçado, pois isso é uma revelação de quem pichou a cidade (o policial, pra espalhar as mentiras sobre a Bruxa, ou melhor, manter as mentiras), mas ao mesmo tempo, vai na onda de mistérios solucionados em massa, o que é inesperado de mais, daí a parte cômica.

Falando da farsa da bruxa, a parte que também incomodava era a seleção dos Assassinos, e a busca cega por quem tinha o sangue de seus alvos. Era forçado de mais pensar que eles caçavam quem tinha tido contato com o corpo da bruxa, pois isso poderia quebrar a maldição. Não fazia sentido, ela dar visões pra pessoa e em seguida mandar assassinos... e não fazia sentido justamente pois não era pra fazer.

A bruxa, não era culpada, e só tentava contar a verdade pra quem entrasse em contato com seu corpo. O culpado ainda estava vivo, sendo parte de uma geração de ritualistas que continuavam o pacto original, na caverninha do tinhoso. Por isso os zumbis assassinos do passado iam atrás de quem via a verdade, por isso eles ignoravam o resto.

Esse ponto de ignorarem também é bem utilizado agora. Rola até uma luta de zumbis, onde um ataca o outro por terem o sangue da vítima. Bem pensado! Muito bem pensado. Além dos personagens dessa vez raciocinarem e optarem por prender os assassinos, ao invés de perder tempo lutando contra.

Foi preciso um filme inteiro de ideias estúpidas e ações ridículas pra que isso ocorresse? Sim. Mas agora que isso acontece, é satisfatório de acompanhar.

Eu gostei de muito mais coisa, do que o contrário. O que por si só fez valer, e muito, a experiência. Foi como, assistir 2 filmes péssimos em sequência e aí, assistir o terceiro e ver uma obra prima. Este não é uma obra prima, mas parece, perto dos outros dois. Eis a fórmula do sucesso.

Foi arriscado? Pra caramba! Mas funcionou, ainda mais pelos três filmes saírem de forma episódica tão próxima (semanal). Foi um jeito surpreendente de apresentar a obra, e surtiu efeito. Só torço pra não repetirem isso.

É que, no final do filme dão um espaço pra continuidade, com alguém pegando o Livro dos Pactos Diabólicos durante os créditos. Da a entender que a maldição vai continuar de alguma forma, apesar deles terem conseguido (matando o responsável pelo pacto) libertar Shadyside da maldição de 1666. Mas sinceramente, se usarem esse método, eu prefiro passar batido, pois não é tão legal assim perder 2 filmes pra ganhar 1. Agora deu certo, mas se isso vira moda, imagina o caos!

Só pra constar, apesar das coisas fazerem sentido agora, não significa que os filmes anteriores foram "mal compreendidos", ou que precisam de um novo olhar. Os erros deles realmente existem, e como eu disse, parece que foram postos de propósito.

Bem, é isso.

Vale citar que é legal a Bruxa em si ser só um tipo de "Fantasma", e a vontade dela ser forte o bastante pra amaldiçoar, um cara que faz maldições! Taí algo que eu não esperava, Fantasmas, num filme de zumbis assassinos e pactos com o tinhoso. Melhor ainda é não terem apelado praquelas cenas bobas como o espírito da bruxa aparecendo e agradecendo pela justiça!

Enfim, espero que tenha curtido. Caso queira ver mais artigos e críticas assim, visite a Lista da Morte 2.0 (é só de filmes e séries). Só clicar aqui.

See yah!

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2 Comentários

  1. "A maldição foi quebrada...mas isso só é válido para trilogias que começam ruins e vão piorando..."



    ~É uma pena que esse filme não tenha lançado antes de Star Wars despertar da força...~
    Por que ai, talvez a gente não tivesse se decepcionado, ou teria? Eu nem sei mais...

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    1. Sim, teria kk. Ele só funcionou pra si próprio, duvido que daqui em diante os 3° serão decentes. Como eu disse, parece que foi uma trapaça dos desenvolvedores.

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