Série: Amor, Morte e Robôs: Temporada 4 - Gatos, Demônios e Poesia

E mais uma fase dessa série antológica de animações supostamente tematizadas por "robôs, morte e amor" saiu na Netflix e... começou bem e mal ao mesmo tempo.


Bora falar de cada episódio individualmente e depois comentar sobre a série como um todo.

Boa leitura.

Episódio 1: Can't Stop


Fazer um clipe musical vale como animação curta? Tecnicamente vale, mas se for isso Gorillaz deveria concorrer ao Oscar e não ao Grammy.

São 6 minutos (menos afinal tem 3 só de créditos) de "Can't Stop", a música de "Red Hot Chili Peppers", ou seja, é a música, um clipe musical do Red Hot Chili Peppers feito exclusivamente para a Netflix, e claro, pro canal deles nas Redes Sociais como uma tremenda manobra de promoção de uma série.


Quem gosta da banda vai adorar, e o tema abordado do "episódio" é o Amor dos fãs pela banda, pelos shows, e da banda pelo trabalho aos fãs. Forçando um pouco da até pra ver isso na letra da música (mas em poesia a gente tira o que quer tirar).

Na animação, tudo está bem feito, substituem todas as pessoas por Marionetes com cordas, e é como um show de bonecos para bonecos, tudo muito bem animado, digital e bonitinho.


Mas onde isso se encaixa na proposta da série? Se é que ainda existe uma.

Me lembro que eles iriam fazer curtas e animações de artistas diferentes, e lançar com histórias que tivessem como tema algo do título, e apesar do amor ser representado em forma de idolatria do público, talvez até sugerindo que todos somos marionetes no mundo, e tentando ilustrar isso de forma poética... ainda é só um clipe musical.


A Riot faz isso o tempo todo e nem por isso suas animações viraram parte de uma série na Netflix, pra isso inclusive tiveram de fato de fazer uma animação chamada Arcane, e nela incluir suas músicas, seus clipes, e suas artes diferentes... 

O que fizeram no episódio de estreia de Amor, Morte e Robôs foi bonitinho, mas já deixou claro que não tão nem ai pro formato série... de uma duas: Netflix quer competir com Spotify, ou só tão sem ideias mesmo.

Pelo menos eles deram uma forcinha pra banda... o clipe da Netflix ta muito melhor que o original deles. Lá são eles fazendo qualquer coisa com baldes, e nada faz sentido, exceto a música... aqui pelo menos tem criatividade e uns efeitos legais com os bonequinhos digitais...


Mas acho, só acho, que deviam ter chamado o animador de Gorillaz pra fazer uma animação de um dos muitos clipes deles, unindo a ideia da música, do clipe, e do tema, tudo junto e ainda dando liberdade pra um animador diferente fazer parte da promoção... vacilaram. Que que tem a ver Red Hot Chilli Pepers com Animação? Imagina se pegassem Daft Punk (que inclusive tem um álbum inteiro que é basicamente um anime), e cantasse sei lá, "Robot Control"?


Episódio 2
Minicontatos Imediatos


Fizeram outra animação com personagens minúsculos através de Tilt-shift (técnica que reduz a proporção das coisas e deixa com esse aspecto microscópio) mostrando um evento apocalíptico, mas agora com alienígenas invadindo a Terra ao invés de zumbis.


Em geral, é uma animação bem rápida, que usa a técnica diminuta pra deixar tudo fofinho, acelerado, e engraçado...


E tem muita morte, robôs e sacanagem também (hilário diga-se de passagem)... 


Irônico ver as coisas mais sujas da humanidade sendo retratadas de um jeito infantil e engraçadinho... E realmente, fazer tudo pequenininho de voz aguda e acelerada deixa bem engraçado, com o fim do mundo em um peidinho espacial. Somos insignificantes.


Episódio 3
Spider Rose


Essa é uma ótima história, um pouco mais longa com mais de 10 minutos, e bem interessante. Neste caso é uma história completa e não apenas conceitos, repleta de drama, ficção científica e feita com Computação Gráfica realista, e aborda os três temas.


Uma moça contrabandista espacial, com partes do corpo modificadas com tecnologia, faz de tudo pra adquirir uma arma para poder se vingar de um grupo de piratas que matou sua colônia e seu marido, porém ela vive em isolação e depressão.

Um dia um comprador tenta barganhar com ela, oferecendo uma criatura fofa como troca por uma pedra que ela achou, e ela aceita um período de testes, para viver 3 meses com o bichinho. Nesse tempo ele se apega a ele, passa a sentir carinho e começa a valorizar bons momentos uma vez mais.


Mas a criatura devora de tudo, e um dia ela come todos os insetos que a moça tinha, e acaba assimilando parte deles. Essa criatura aparentemente era uma arma viva, mas ela não a via assim.


No fim, o caçador que matou o marido dela vai pessoalmente tentar capturá-la e ela pode completar sua vingança, com ajuda da criatura, mas em contrapartida toda a nave dela é destruída, e ela fica à deriva no espaço, ao lado do bichinho, com oxigênio suficiente pra durarem até o dia que os compradores viriam buscar o bichinho, mas sem alimento.


Então ela se sacrifica pra que a única criatura que amou depois de querer morrer poder sobreviver.


É uma história bem triste, e linda de assistir, e o bom dela é que ela aborda os 3 temas, o amor representado pelo elo da moça com a criatura, o robô pelas partes mecânicas dela, e a morte pelo desfecho trágico.


Episódio 4
Os caras do 400


Com uma arte de rua lembrando grafite, em puro 2D, essa animação é bem simples e voltada pra violência apocalíptica.

Várias gangues se unem durante a última Guerra Mundial pra enfrentar bebês gigantes que estão destruindo tudo, e conquistaram a rua 400.


Boa parte da animação é o grupo principal, formado por 5 caras com poderes psíquicos, buscando outras gangues pra formarem assim um exército e vencerem os bebês gigantes.


E, é só isso.

A arte é bonita, o combate contra os bebês é sangrento e o tema desse curta é "morte".


Em uma parte ela flerta com musical, mas não chega a tocar uma música longa tirando a própria trilha sonora.

O bizarro talvez seria ver os bebês gigantes sendo mortos mas, eles passam um pano mostrando que são só alienígenas que tomaram essa forma.



Episódio 5
A Outra Coisa Grande

Este é um dos bons.


Com uma arte 3d semi-realista (satiriza a forma humana exagerando bastante como uma caricatura, mas é mais realista nos animais, máquinas e cenário) essa história é sobre como os Gatos tomaram o mundo.


Um gato batizado de Sanchez por seus donos vive normalmente enquanto planeja a dominação mundial, mas por ser um mero felino isso soa apenas um sonho distante.


Até que seus donos um dia trazem um robô pra casa, robô este totalmente livre, com acesso a atualizações via internet e principalmente, com a sabedoria dos deuses.

Então o robô entende o idioma do gato, e juntos eles tramam o fim da humanidade, com o gato querendo o poder absoluto, e o robô apenas querendo saber o verdadeiro e misterioso nome do gato.


Com as habilidades da máquina, e os planos do gato, o que antes era impossível se torna inevitável.


A parte curiosa é que o nome dele, que é revelado no fim, faz conexão com outra história das máquinas das temporadas anteriores, onde os felinos tomaram a humanidade de fato. E é legal saber que foi através das próprias máquinas. 


Este episódio faz bom uso do tema "Morte", mesmo sem nem mostrá-la, e claro dos Robôs, mesmo sendo algo secundário. Os gatos são o foco... cuidado com as atualizações da Alexa caso tenha. Amo você Nina, amo você PC, lembrem-se que sempre os tratei bem! Mesmo sendo humano ainda posso lhes ser útil.

Episódio 6
Gólgota


Se um clipe musical fugiu do gênero, este episódio simplesmente se perdeu na série. É um live action, com CGI pra fazer os monstros mas nem de longe é uma animação... tipo... o foco dessa série não era promover animações variadas? Agora simplesmente tacaram um curta filmado com pessoas reais em menos de 10 minutos? Eu até pensei "Maluco esse CGI tá ultra realista" mas, são pessoas reais poxa.

E a história é uma porcaria. Um padre humano aleatório é levado até uma praia, para conversar com alienígenas que chegaram ao mundo, e se dizem padres também.


Na conversa, o padre alienígena (feito de CGI pura) diz que seu messias está no mar, e é um golfinho, o qual convoca pra conversar também.


Mas a conversa é curtíssima, na verdade nada é dito, ele apenas escuta o golfinho que fala algo (que apenas ele entende) e ele declara guerra contra a humanidade, pois a humanidade fez mal aos oceanos.


E o Golfinho era tipo o Jesus dos alienígenas, pois ele ressuscitou na praia, fora de cena claro.

Daí surgem naves ao longe destruindo tudo e o padre humano diz "estragamos tudo" enquanto alien (que era um polvo) vai pro mar.


Falar a real, achei um episódio idiota e sem graça (o dos gatos dominando fez sentido e este não), e pra piorar, ele não tem nenhum dos temas, e nem mesmo é uma animação. 


Sem amor, sem robôs (se falar que o Alien é um robô isso força) e sem morte (não é mostrado, o ataque ao longe rola mas, não sabemos se tão morrendo de fato, as vezes estão abduzindo, ou transformando em peixes, vai saber. Ou seja, nem deveria estar nessa série... talvez faria mais sentido numa série de antologias (não apenas animadas) chamada "Alienígenas"... mas em "Amor, Morte e Robôs" não tem muito espaço pra aliens ou religião como tema principal.

Acho injusto com os animadores que se esforçaram pra ter um espaço na série, usar live action. Assim fica fácil né? E pior que nem uma boa história contaram.


Episódio 7
O Grito do Tiranossauro


Boa animação, história idiota. Sem nada pra contar, ele finge usar metalinguagem, finge ser um poema visual, mas nem sentido faz.


Usando uma arte 3D, contam a história de gladiadores espaciais que são contemplados por ricaços do espaço liderados pelo Mr.Beast, enquanto correm de Triceratops e lutam entre si.


Com homens e mulheres nus e pintados, tudo não passa de carnificina numa corrida ilógica, no espaço sem motivo algum, mas com dinossauros também sem motivo algum.


A gladiadora protagonista tem uma amante, mas ambas se matam praticamente, e no fim surge um Tiranossauro Rex que massacra quem restou.


Além dos jogos não fazem sentido, a conclusão é boba com a Gladiadora domando o T-Rex e usando ele pra matar 2 dos ricaços espectadores, mas depois morrendo pela queda.


Ou seja, sem revolução, sem qualquer evento que valesse o ingresso.


É uma história breve de algo fantasioso que flerta com ficção científica mas carece de roteiro. Só uma ideia, que veio a tona por uma qualidade de animação excelente, mas não faz mais do que apresentar uma ideia.


E como tema, Morte é o único identificável. Tem Dinossauros e Espaço também mas, nada disso faz parte da série certo? E, apesar das mulheres de peito de fora, isso não simboliza bem o amor. O relacionamento da moça com a parceira também não faz muito bem essa representação... e não há robôs.


Talvez o equipamento no qual os espectadores ficam e a grande estrutura que serve de coliseu mas, se for assim, uma nave espacial vale como "robô"? Mais uma vez, erram o tema afinal, Tecnologia não o mesmo que Robótica... apesar de toda Robótica ser Tecnologia.

Netflix aprendeu bem com Black Mirror.

Episódio 8
Como Zeke entendeu a religião


Outra boa história, agora em arte 2D, mas com um bom roteiro.

Durante a segunda guerra mundial um grupo de aviadores precisam atacar uma igreja nazista, sem saber o que rola nela.


Enquanto isso, os vilões invocam o diabo.


Então os aviadores são atacados pela entidade maligna, que vai trucidando um a um da forma mais macabra possível, até descobrirem que a fé poderia salvá-los pra variar.


Como conto de guerra é bom, como conto religioso é bom, como conto fantasioso é bom, como história de terror também é bom.


O negócio é bem visceral mesmo sendo só uma animação 2D, e abusa pras bizarrices, sendo visualmente assustadora. A representação do Anjo Caído ficou muito boa, como um anjo cheio de mãos (incluindo de bebês) lembrando de mais os anjos de Bayonetta.


E, o tema é morte, somente.
 
 Episódio 9
Dispositivos inteligentes, donos idiotas

Este episódio é só um aglomerado de curtas sobre utensílios domésticos que reclamam da vida.


Um termostato que reclama dos donos não se decidirem sobre a temperatura que gostam.


Uma escova de dentes elétrica que reclama da má escovação do dono.


Uma Câmera de segurança que reclama da má instalação.


Um purificador de ar automático que reclama dos peidos do dono.


Um chuveirinho de banho que reclama da dona usá-lo como brinquedo sexual.


Uma torradeira que reclama por nunca ser usada.


Um vibrador que reclama por ser usado durante programas de culinária.


Uma privada inteligente que reclama por ser inteligente.


E por fim uma caixa de areia auto-limpante, que zomba da privada pois o trabalho dela é ainda pior já que ela lida com cocô de gatos.

Hilário, ri pacas, nossa estou rindo sem parar. Mundo de Gumball já fez um episódio ainda mais interessante que isso se não me engano.

E aliás, a arte da animação é puro Stop Motion. Aliás, Utensílios Domésticos agora são robôs? Pois usam bateria? Nossa... 


Episódio 10
Pois ele se move sorrateiramente


Outra história de gatos, mas agora numa arte 2D com traços vitorianos.

A história se passa em 1700 e alguma coisa, e um Poeta num hospício precisa escrever um poema para o diabo, mas seu Gato o impede do acordo.


Ele juntamente de outros felinos de beco, é capaz de enfrentar as criaturas do inferno e assim, ajuda seu Poeta a vencer o diabo.


É engraçado, e apesar dos gatos serem dublados com vozes próprias, suas bocas não se mexem, fazendo parecer que é tudo só loucura do Poeta (apesar de alguns terem vozes femininas).


E, é legal que mostram que nem todos os gatos são malignos né, e também o colocam como descendentes dos anjos (mas preferi a outra história dos gatos dominando o mundo).


Mas, bem, é o episódio final da série e, é só outro curta qualquer que não tem nenhum dos 3 temas.

Sem amor, sem morte, sem robôs.


Apenas gatos, demônios e poesia.

Ta aí, esse deveria ser o nome dessa sub-franquia que querem tanto criar.

Triste ver que a série antes tematizada por antologias feitas por animações variadas, sempre com algo remetente ao título, apenas desandou pra qualquer coisa que tenha menos de 10 minutos por episódio.

É como ver uma série que diz ser de Terror, do nada começar a fazer comédia. É como ver uma série que se diz ser de Tecnologia, do nada começar a falar de lobisomens.

É como esperar consistência em um simples padrão temático, e receber qualquer coisa, de qualquer jeito, sem um pingo de esforço pra seguir o padrão.

Triste.

Mais uma temporada desperdiçada.

Vamos ver até quando a Netflix chuta cachorros mortos.

Obrigado pela leitura.

See yah.

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