Crítica: Rua do Medo: Rainha do Baile - Destruindo R.L. Stine

Vou nem enrolar, filme ruim pra caramba, com dois roteiristas que pegaram um livro de R.L. Stine e distorceram a história, transformando ela de um terror ideal pra um público infantil, como todos os demais sucessos que escreveu, para uma história jovial brega, sem graça, e tão ridícula que faz ter vergonha por assistir.


Direto ao ponto né?! Estou de saco cheio da Netflix destruindo boas obras pra adaptá-las a algo que julgam "melhor".

Rua do Medo é uma série de livros de terror infantil, com algo simples de ler, divertido mas igualmente assustador, para o público alvo: Crianças. 


Colocar um bando de adultos fingindo ser adolescentes, falando palavrões, falando sobre sexo, flertando uns com os outros, usando drogas, não é o mesmo que tornar uma história essencialmente infantil, em algo mais maduro.

Incluir também cenas de gore barato e mortes doentias não faz o conteúdo se tornar mais sério, na verdade isso só torna o que já seria tratado como ridículo aos olhos adultos, como algo bobo e absurdo.

Mas, bora destrinchar esta porcaria. 

Boa leitura.



Adaptações que pensam ser melhores que o original


Já reclamei horrores dos outros 3 Ruas do Medo que a Netflix produziu, divididos em 3 filmes em épocas diferentes mas tão dependentes uns dos outros que apenas enfraqueceram a história principal, e inclusive mencionei que seria melhor se tivessem lançado tudo junto de uma vez, como uma série talvez.

Porém, Rua do Medo por si só já é uma série, composta por mais de 80 livros, sempre lançados em pacotes, desde 1989. Inclusive, o primeiro livro que li se chamava "Pesadelo em 3D", sobre uma caixa de cereais mágica e um Louva-a-Deus invisível, e pertencia a uma das séries de Rua do Medo.

Essa é a capa do livro que li, ela me chamou a atenção só por ser cromada e com um efeito 3D... um dia comprarei o livro.

Os livros sempre foram marcados por abordar o terror de uma forma mais infantil, sem ser muito bizarro ou assustar, apenas perturbador o bastante para fazer as crianças pensarem. É como o conto do Bicho Papão entende? Mas claro, numa literatura bem feita ao ponto de despertar curiosidade e nos fazer teorizar posteriormente.

Era bom de mais sabe? E isso foi adaptado muitas vezes para a televisão. Séries como "Clube do Terror", "Goosebumps" (que é outra franquia do R.L.Stine exatamente na mesma pegada), e muitas outras influências já surgiram, chegando ao mesmo patamar do Stephen King em questão de influência, mas em obras mais "infantis".

Ouso dizer que Gravity Falls por exemplo, se inspirou muito nesse tipo de literatura, e creio que esse tipo de obra deveria perpetuar cada vez mais, pois mesmo se destinando à um público alvo bem definido, muitos gostam desse terror mais leve.


Só que isso não funciona pra Netflix ao que parece, ou pra Disney também, que conseguiram pegar boas obras e torná-las intragáveis, apenas pelo ato de "modernizar". Disney estragou Goosebumps com uma nova versão da série clássica (que era excelente) lançando algo jovem e todo alterado por seus roteiristas, e agora a Netflix estraga a outra franquia de livros, com filmes cada vez mais ridículos seguindo a mesma fórmula.


O que é Rua do Medo


A série de livros é sobre antologias, histórias próprias com começo, meio e fim, escritas com tipos de terrores e horrores bem distintos. Vai do paranormal ao paranoico em poucas páginas, e dificilmente as histórias se remetem ao mesmo tema.

O fato de todas serem intituladas como "Rua do Medo" é por todas as histórias se passarem na mesma cidade chamada Shadyside, quase como uma Silent Hill onde coisas estranhas rolam, mas nem sempre estão conectadas. 

Diferente por exemplo da outra série chamada "Gossebumps", que conta histórias antológicas com o mesmo estilo, porém em outros lugares, tempos e situações.


Só que, para a Netflix isso é pouco, e é preciso inovar, botar sangue, botar situações modernas para que o público entenda o que é bom de verdade.

Então pra isso, contrataram outros roteiristas pra readaptar o que já tava pronto, e na desculpa de "encurtar o texto pra que fique melhor em tela", mudaram tanto que é quase irreconhecível.


A Rainha do Baile


O filme conta a história de uma garota chamada Granger, que quer ser rainha do baile de formatura, e está concorrendo com outras moças populares que formam uma panelinha, tendo a mais popular da escolar como líder da chamada "Alcateia".


Pra variar, ela é a mais impopular de todas, sofrendo bullying pois aparentemente sua mãe matou o próprio marido, mesmo ela sendo policial e isso nunca ser provado.


Então na noite do baile, as colegas dela e seus respectivos namorados começam a morrer assassinados da forma mais cruel e violenta possível, e risível com cenas como machados na cabeça, lixadeiras na cara, decapitações e desmembramentos, e claro, pessoas se jogando em caixas de energia propositalmente, para morrerem eletrocutadas.


É com esse banho de sangue, que tentam disfarçar a história ridícula que criaram, em cima do livro "The Prom Queen".


Aqui, o vilão, ou melhor, os vilões, são a principal concorrente à coroa do baile, e toda sua família (papai e mamãe), que se unem como seriais killers pra assassinar todas as amigas dela (que faziam parte da "Alcateia", logo eram subalternas dela mas, decidem matar mesmo), e no fim mirar na protagonista, só pra ela ter a coroa do baile (genial né?).


E claro, pra deixar tudo mais incrível, colocam a mãe dessa aspirante a rainha do baile pra ser a verdadeira assassina do pai da protagonista, revelando toda a verdade antes de falhar miseravelmente em matá-la, e morrer em seu lugar.


O Livro


"The Prom Queen" conta a história de uma moça chamada Lizzie que é uma das candidatas à rainha do baile, mas começa a ficar apavorada pois todas as outras candidatas começam a desaparecer, posteriormente sendo encontradas mortas.

Então na noite do baile, ela descobre que o próprio namorado chamado Kevin saiu matando geral, pra facilitar a vitória pra ela.


A Adaptação Genial


Foi preciso dois roteiristas: Matt Palmer e Donald McLeary, para tornar uma história tão complexa como essa mais simples, para caber em 1 hora e 30 minutos que mais parecem 2 horas de tão chato que é assistir.

Sério isso?


Pra emendar a obra com os outros 3 filmes que deveriam ser antológicos, no pós crédito o sangue da mãe da vilã escorre formando um círculo de maldição, insinuando que na verdade tudo faz parte de um mal maior, um tipo de pacto sombrio ou ritual que assombra Shadyside.

Pra que?

Exatamente pra que tão fazendo essa lambança com os livros? É o mesmo que pegar "O Iluminado", "It a Coisa", "Carry a Estranha" e "A Névoa" e falar que todos se passam numa Tartaruga Gigante.

E eu sei, esses livros do Stephen King (logo, os filmes) se passam... tecnicamente, mas a lógica da Netflix seria botar tudo nas costas do Donatello e falar que na verdade, tudo são tatuagens que ele fez no casco para competir com o Maui de Moana para ver quem tem mais histórias.


Sinto que meus neurônios estão se desfazendo... 


Se o filme ao menos fosse bom...


O filme não entrega nem um roteiro decente, quem dirá atuações ou um terror que preste. Em certos momentos ri alto vendo sequências tão ridículas que mesmo num filme de paródia, seria vexaminoso assistir, aliás chega a ser ofensivo.


Numa parte séria por exemplo, em que um cara acaba de dizer que sua namorada sumiu a 2 dias, ele sai de moto num corte rápido onde seu capacete surge magicamente, e é impossível não estranhar.


Mas não só de falhas técnicas em cortes e elipses que o filme tropeça, tem umas cenas bizarras de tão bobas, como o assassino passando do lado de uma das vítimas futuras, andando do jeito mais tosco possível, com os braços estendidos, chamando atenção com sua roupa vermelha e máscara preta, mas que ninguém nota.

E, ainda tem as mortes, todas elas bobas e focadas em gore puro, mas gratuito, sem o mínimo de esforço pra criar suspense, sem o menor prior técnico pra causar um pouquinho de medo que seja.


Uma cena o cara tem as duas mãos cortadas, sai se arrastando pelo chão usando os braços recém cortados, e depois tenta abrir uma porta puxando a maçaneta sem nem ter com o que fazer isso... e tudo isso deveria assustar ou soar um pouco crível que fosse, mas obviamente não soa. Mesmo no slasher mais cômico do mundo, isso é absurdo.


O próprio vilão parece não acreditar no que vê, e no quão estúpidas são suas vítimas. Caramba, tem uma hora que uma moça literalmente olha pra trás pra certificar que existe um painel elétrico pra ela se jogar e morrer. Geral praticamente se mata no filme, nem tentam lutar, é tudo fácil e previsível até o final.


O cara sai fatiando geral no meio da festa e ninguém tenta detê-lo, é preciso que a amiga lésbica da protagonista pule nele pra que alguém faça algo e mesmo assim, o cara quase sai impune.


E tem isso também, apesar de não haver romance diretamente, todo o tempo o filme flerta com isso, as vezes em situações esquisitíssimas como uma conversa onde a vilã fala com a protagonista, por uns 5 minutos, ambas se encarando e quase se beijando, tudo só pra expor a história da mãe dela (pra quem não entendeu nas outras 4 vezes que isso foi citado no filme até este ponto), mas dando a impressão de que elas tem alguma atração uma pela outra.


O mesmo ocorre na dança do baile onde elas praticamente seduzem uma a outra, até o diretor lembrar que é um filme de terror e botar a vilã pra esquecer que sabe dançar, e quebrar esse momento esquisito pra voltar à tensão artificial que só a trilha sonora sabe fazer.


É triste ver que tão fazendo isso com o trabalho do R.L. Stine... sério moço, processa a Netflix.

É isso.

Brigado ai pela leitura.

Não assiste não, mas se assistir espero que goste, ou pelo menos se entretenha... mas eu evitaria hein.

See yah.

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