Adaptação: Bet - Kakegurui Simulator

 A série é péssima, racista e completamente xenofóbica... e queria eu estar exagerando.
 

Só há um acerto, mas ele só escancara o principal erro, e expõe o quanto essa "Adaptação" não é de fato uma adaptação. "Bet" é o nome real, usado pra surfar nas polêmicas envolvendo cassinos digitais, e "Kakegurui" ou qualquer referência ao anime de apostas é só pra vender o produto pro público que conhece.

Se chamassem apenas de Bet, tirassem os nomes dos personagens, e as cenas plagiadas do anime (que são enfiadas em momentos totalmente irresponsáveis moralmente), seria uma série de mal gosto que a Netflix ousou lançar.

Boa leitura, vai ser melhor que assistir.


Racismo


A série é sobre apostas e a primeira coisa que mostram é um garoto sofrendo racismo na escola, escancaradamente, sendo chamado de bichinho e usado como banco enquanto chora em desespero.


"Coloca uma negra fazendo racismo contra ele que ninguém vai ligar"... sério isso Netflix? Uma moça negra chamando um cara negro de escravo (entrelinhas) na frente e aos olhos de um público completamente branco? Sei não hein, tá me lembrando Jango Livre, de mal gosto.

É pra rir com algo assim? Pois uma cena depois fazem piada com isso, chamam ele de zelador de banheiro e criam romance usando um medidor de paixão digital... é pra rir de racismo?


Desculpe mas não tem como assistir algo assim com bons olhos, pois fica nítida a irresponsabilidade dos desenvolvedores ao produzir essa série.

No anime tem a mesma cena, um jovem é usado como "cão" após perder uma aposta importante, e isso é explicado como o mecanismo de mérito e demérito da escola estranha na qual rolam apostas enlouquecidamente entre os estudantes viciados. Só que, lá não tem cunho racista algum.


Não é a questão de trocarem a etnia do personagem, e ao mesmo tempo tem tudo a ver com isso. Mudaram a raça de um personagem que em sua primeira aparição, é um escravo. Qual a mensagem disso pro espectador? Aliás, qual a mensagem disso pra alguém que entra nessa história sem conhecê-la previamente?


Kakegurui seria racista? E dos piores tipos, aqueles que zombam de um passado marcante, que inclusive foi e ainda é um grande problema social gravíssimo.

A parte que mais dói é ver que essa escolha foi feita pensando exatamente em realocar a trama original de Kakegurui, tirando ela da Ásia, e tacando na América. 

Mesmo tendo personagens de etnias diversificadas pra fingir uma miscigenação natural, no instante em que os disponibilizam em situações culturalmente marcantes, já expõe as reais intenções da nova roupagem.



Xenofobia


Mudaram a estrutura da trama do anime para caber em uma história de Hollywood, mudando o elenco pra ser mais americano, e menos asiático. Pode pensar que é uma interpretação exagerada da regionalização da série, mas na verdade isso é um modo moderno de "black face".

Pegar uma obra pronta, e refilmar ela com atores americanos, já é um hábito comum de Hollywood para mostrar que "faz melhor" que os criadores originais, só que em "Bet" as coisas dão um passo muito além.


Pior é quando notamos que já existe um live action de Kakegurui, só que asiática, e eles apenas decidiram fazer a versão deles. Algo que não é totalmente novidade, pois a Netflix já fez por exemplo Death Note em live action, mesmo já tendo adaptações dele bem melhores no mercado. Só que isso veio numa hora estranha, justo quando a plataforma parecia querer promover o cinema mundial, cheio de trabalhos derivados de vários cinemas diferentes, ela embarca em mais uma obra questionável que imita coisas já prontas, e piorando. 

Parece até que não tinham direitos pra promover a adaptação original, e quiseram fazer a própria... tipo o que fizeram com "O Problema dos 3 Corpos".

O estilo lembra Dorama, cheio de gritos, cenas lentas, exageros de expressão e trejeitos super comuns nas novelas coreanas, e normalmente presente na atuação asiática... só que isso não rola em obras americanas. O estilo de drama costuma ser mais sério, mais contido, e menos expressivo, pois o cinema americano é assim.


Mostrar americanos fingindo ser asiáticos, copiando seus jeitos de atuação, gritando, mexendo os braços como se fosse teatro, não é tão diferente de pintar o rosto de preto e os lábios de vermelho e se chamar de negro. Não é tão diferente de pintar o rosto de amarelo, botar um bigode fino e um chapéu de palha e se chamar de chinês. 

Isso é mais que preocupante, é alarmante, e um sinal de que os streamings estão perdendo a noção do que é uma adaptação, estão se deixando levar por pautas complexas de apropriação cultural pra produção de novos conteúdos.


Algo que já consumiu o cinema no passado, tanto que antigamente, a algumas poucas décadas atrás, era comum que nem conhecêssemos o cinema exterior. 

Por isso inclusive que no Oscar há até uma categoria exclusiva para premiar o cinema de outros países, pois virou algo cultural, na américa se consome apenas produto americano, o de fora é algo raro.


"Power Rangers" era refilmagem de um seriado japonês famoso chamado "Super Sentai", pois achavam que era melhor refilmar com americanos do que mostrar asiáticos pro público americano em posição de protagonismo.


"O Grito" e "O Chamado" são filmes que reencenam histórias de filmes bem sucedidos na Ásia, chamados "Ju-On" e "Ringu", que eram inclusive melhores que as refilmagens americanas, feitas apenas para lucrar em cima das obras, sem necessariamente promovê-las no exterior.


E isso não fica só na relação intercontinental não tá. "Quarentena" reencena "REC", pra falar que Hollywood faz melhor que a Espanha, sendo que "REC" por si só já foi um sucesso mundial... filmaram só pra mostrar que podiam.


Ver que a fórmula começou a se repetir, agora usando falsas adaptações de animes ou jogos, começa a me deixar triste com os streamings em geral.

Não se trata mais de contar histórias boas com personagens em forma física, agora a ideia é reaproveitar boas histórias e difundi-las na cultura atual, com pautas sociais e ensinando principalmente os novos jovens, as antigas malícias da humanidade, mas agora disfarçadas por nostalgia.

Talvez a Disney tenha começado com isso, mas a Netflix não tá atrás já mostrando que é capaz de produzir algo que cutuca cicatrizes, e ainda ri com isso.


Apostas


O acerto da série são os jogos inéditos que ela mostra ao longo dos dez cansativos episódios.

Entre muito drama, falsas referências ao anime e cópias americanizadas do elenco, há os jogos e apostas com trapaças, o que é o principal atrativo da história, e eles são originais, não repetem o que foi mostrado no anime e buscam resoluções próprias.

E não da pra reclamar disso, são jogos inéditos então quem gosta vai querer acompanhar, conhecer o desfecho, ver como que se trapaceia e buscando aquela satisfação em assistir algo competitivo. Mas, isso só ajuda a mostrar o quão distante está "Bet" de "Kakegurui", e sozinho não é o suficiente pra nos prender pelas 10 horas necessárias, sendo fã ou conhecedor do original ou não.


Adaptação


Apesar de terem cenas soltas do anime, a série não pensa em como usar isso, e se sustenta muito mais pela história própria que inventaram.

A chamada Yumeko não é a mesma da história original, mesmo que a série finja que ela seja. Ela só tem o mesmo nome, a mesma aparência, e os mesmos hábitos, mas sua razão de ser é outra.


Sendo analítica, ela faz de tudo pra ganhar nos jogos, mas ela é um tipo de espiã, que quer vencer o mal e trazer justiça. É bem diferente daquilo que se diz basear, então logo percebemos que não é a mesma personagem, apenas uma reciclagem da ideia.


Os jogos são novos, mas a história é a mesma. Yumeko entra numa escola esquisita onde geral aposta, conhece seus amigos perdedores, e começa a destrinchar o "Conselho Estudantil" que domina os jogos, enfrentando eles e buscando mostrar cada vez mais sua soberania como jogadora compulsiva.

Só que mudam todo o resto, pra uma história bem genérica de uma garota buscando vingança contra os assassinos dos pais (tá no trailer poxa).

O elenco são cosplays ruins, a protagonista parece uma sátira da personagem, e a progressão soa como uma grande paródia do que Kakegurui é.

A ideia que passa é aquela de toda má adaptação: Tinham uma história pronta, viram semelhanças dela com algo popular, e chamaram de "adaptação" mudando nomes e caracterizações, só pra fingir fazer parte da mesma ideia... mas os detalhes sempre entregam.

No fim, Bet não é uma adaptação. É um reflexo claro de como grandes plataformas ainda tratam obras estrangeiras: como matéria-prima descartável para seus próprios moldes culturais. E isso não tem nada de divertido.

Assista por conta e risco.

É isso.

See yah,


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2 Comentários

  1. A cultura woke, aplicada pela mídia estadunidense (Que existiu realmente, não é invenção de nerdola), é basicamente fachada pra tacar preconceito e caos na cultura mundial, estragando tudo por dentro. E Bet é, possívelmente, a maior prova disso.

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    1. Disse tudo Windrose. E eu achando que essa fase zoada do cinema tinha sido superada já depois das críticas do público, mas sempre arranjam um jeito de nos mostrar que está tudo ali ainda, só buscando novas formas de se mostrar.

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Obrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.

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