Resenha: Black Mirror - Bete Noire - Crossover com Além da Imaginação - Ep. 2 - Temp 7

 Bete Noire

Bete noire, fizeram duas capas pra mesma porcaria

Como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Pera, mudar a realidade agora... Como pode um episódio estragar uma temporada inteira antes mesmo da temporada começar?

Conseguiram! Já no segundo episódio esquecem outra vez a série pra qual escrevem e transformam Black Mirror em Além da Imaginação, e eu juro que tive esperanças até o último segundo.

Esse episódio entra naquela pegada do sobrenatural travestido de tecnológico, com inovações tão absurdas que até mesmo o maior paranoico ou entusiasta da tecnologia vai cair na gargalhada ao assistir... e sabe o que é mais desastroso nisso tudo? Podia ter sido genial mudando um único detalhe (e eu vou citar ele).

Bora lá pra mais um episódio de Black Mirror que se esquece o sentido de toda a série.

Boa leitura.


A Tecnologia da Vez


"Computador Quântico", essa é a grande tecnologia mas não fique empolgado pois usam a ideia como se uma criança de 8 anos estivesse tentando explicar tal invenção.

Usam um baita computador pra reescrever a realidade em pleno século 21, com um personagem qualquer sendo o gênio por trás da tecnologia, e também um total anônimo que dominou o mundo e agora simplesmente decide se vingar por traumas no passado... cara eu vi essa história recentemente também em algo da Netflix... o que que foi mesmo? CORTE NO TEMPO! Mano nunca fiquei tão feliz em ter escrito um artigo...


Em Corte no Tempo, um cara cria uma máquina de viagem temporal e interdimensional, pra se vingar de uma galera que fazia bullying com ele, criando todo um paradoxo maluco, a troco de absolutamente nada. Literalmente um gênio que cria a invenção mais mirabolante e mentirosa, além de poderosa de todo o universo, e usa pra ser um psicopata qualquer, e burro ainda por cima.

É exatamente a mesma premissa, mas agora é uma garota super inteligente que sofria bullying na escola, e criou um Computador Quântico, ganhando total poder sobre o universo inteiro, e controle absoluto sobre a realidade.


Ela molda o universo aos seus desejos, e tudo que ela faz aqui é atormentar pessoas com o Efeito Mandela, pra elas se matarem, pois elas praticaram Bullying com ela... CARAMBA QUE INCRÍVEL NETFLIX!

Eu to com raiva disso, não da pra entender de onde os desenvolvedores de Black Mirror, saudosa série que vem acertando tecnologias e inovações sem mirar em nada tão absurdo quanto uma MÁQUINA DE REDEFINIR A REALIDADE, do nada tiraram tamanha estupidez.


Em Outra Realidade, Foi Genial


Nessas horas bem que eu queria ter esse dispositivo sabe, pra usar ele e redefinir o final do episódio. Juro que estava xingando ele e praticamente parando de assistir pra vir aqui desbravar minha ira em forma de texto, até que de repente vi um fiozinho de esperança: E se fosse tudo um simulador?

Sabe, perto do final quando as duas personagens se encontram, uma delas fica completamente de boa ciente que a outra nada poderia fazer contra ela. A vilã tinha o controle do mundo nas mãos, e só funcionava com ela... nessa hora eu pensei "Gente, será que nós vimos a história de um NPC o tempo todo?"


Sabe o filme "Free Guy"? A ideia de um npc criar consciência e acabar contornando o jogo do qual faz parte, assumindo papel de jogador? E se na verdade esse episódio fosse uma jogadora, em um daqueles simuladores de realidade que já foram abordados algumas vezes em outros episódios da série, que por sua vez remodelou todo o sistema (hackeando, ou comprando talvez) para montar um mundo idêntico ao dela, e caçar os npcs gerados com a aparência de suas antigas colegas, torturando elas por diversão.


Mas ao acompanharmos a história pela perspectiva de um dos personagens desse simulador, a protagonista, nós seriamos agraciados com a reviravolta final dela descobrindo que é só um algoritmo, lutando contra a dona do sistema, que por sua vez PERDERIA A LUTA, e passaria o controle pra NPC... mano?!


Isso de fato me faria aplaudir o episódio, pois ele teria me feito sentir raiva, desacreditar no potencial de Black Mirror em surpreender e subverter nossas expectativas, e com certeza entraria pra minha lista de melhores episódios, talvez até mais que aquele da Joan que assiste a Joan.

Mas, isso talvez tenha até acontecido, em outro universo, pois nesse aqui ainda me vejo vomitando por causa do lixo de final que inventaram.


Resumindo a História
Betê Noire


Uma mulher chamada Maria que trabalha numa grande empresa de doces e faz as fórmulas mais mirabolantes, um dia encontra uma rival, uma moça chamada Verity Greene que estudou com ela no passado, e agora entra pra sua empresa.


A princípio ela só fica meio receosa pois elas tiveram um passado, onde ela era a patricinha que cometia bulluying, e a Verity era a nerdola que sofria.


Conforme os dias passam, coisas estranhas começam a acontecer no trabalho, e no dia a dia, com o Efeito Mandela tocando o terror. 


Objetos, nomes, palavras e eventos que a protagonista sabe que são de um jeito, se mostram totalmente diferentes do dia pra noite, de um minuto ao outro, e ela começa a surtar, até perceber que tudo girava em torno de Verity, e que tudo se moldava ao que ela falava ao tocar em seu pingente.


Ela então decide seguir a garota, vai até sua casa, descobre um super computador que ignora, e tenta roubar o tal pingente.

A tecnologia do computador quantico em Black Mirror

Até descobrir que ele só funcionava com biometria, da sua criadora. Verity era uma super cientista que sozinha criou um Computador Quântico e o habilitou pra uso pessoal, com ela podendo mudar o universo ao seu bel prazer, e pular entre realidades apenas falando o que desejava.


E com tanto poder, ela optou por torturar as garotas que na escola haviam chamado ela de Leiteira. 


Mas no fim, após uma reviravolta incrível em que a vilã diz que policiais surgiram e irão atirar na mocinha, a protagonista pega uma pistola dos policiais, da um tiro na testa da vilã, e usa a mão dela pra passar o controle pra um novo usuário. 


Ela literalmente usa a biometria da Verity morta pra ir pra um universo onde o controle sempre foi dela, e no fim ela se converte na imperatriz do mundo.

Final de black mirror bete noire explicado

Essa é a história mais podre de Black Mirror até hoje... ou melhor... até o momento pois ainda faltam 4 episódios.


Porém As Coisas Podem Fazer Sentido


A ideia bizarra do computador moldar o mundo até tem base na física, porque na mecânica quântica, o observador afeta o sistema, e o que é "real" pode depender de como você mede. Então um supercomputador quântico fictício pode literalmente "decidir o que existe".

Talvez, quiseram de fato mostrar as possibilidades de tamanha tecnologia e ir muito além do convencional, o problema é que isso pendeu muito mais pra fantasia do que pra ficção científica, não pela realidade mudada ou pelos métodos usados, mas pela razão de tudo acontecer.


A antagonista age por impulsos humanos básicos de vingança e justiça, mas ela não age logo de cara. Ela mesma diz que viveu de tudo, fez de tudo, e em todo esse tempo de existência, com todo esse poder, ela nunca se envolveu com alguém? Nunca evoluiu psicologicamente? Nunca aprendeu a valorizar a vida nem a questionar a existência? Não mudou, apenas voltou a se concentrar num passado de perseguição de adolescentes?


Sei que o trauma é real, eu mesmo já vivi isso poxa, mas sério que com tanto potencial é isso que os cientistas fariam? Geralmente a razão anda distante da emoção e uma pessoa com a capacidade de criar uma tecnologia tão poderosa e genial, provavelmente não é tão imatura assim... ou não permaneceria assim.


E, o jeito como tudo é mostrado vai sim em direção ao absurdo, o que também não ajuda na ideia de que o sistema decide a realidade. É tudo muito bobo, ela fala e acontece, como se tudo fosse facilmente interpretado pelo sistema e editado numa velocidade tão grande, que é imperceptível. É muito difícil de levar isso a sério, por mais que teorias tentem defender uma hipótese do tipo.


Efeito Mandela


Efeito mandela black mirror

Um dos pontos legais do episódio é a percepção da realidade mudando, conforme a protagonista vive e os dias passam, mesmo que isso seja ilustrado de forma irritante.

Sempre vem um letreiro enorme com um instrumento de sopro tocando alto de mais, causando até espanto, pra anunciar apenas o dia da semana.


Então vemos ela vivendo sua paranoia, dizendo que tudo é do jeito que ela se lembra, e tudo sendo mostrado da forma oposta. 

Mas, dá vontade de voltar o episódio pra checar... como a cena do Boné. Tem um boné que dão muita ênfase no começo, e na metade da história o nome que tinha nele é questionado. Uns dizem que está escrito "Barnie's" enquanto a protagonista diz que era "Bernie's", e no fim ela confirma que todos estavam certos e ela errada, sendo que ela vivia olhando pra esse boné.

Efeito mandela black mirror

É uma alusão ao Efeito Mandela, citado inclusive no próprio episódio, mas o jeito como conduzem nossa atenção nisso soa meio forçada (aliás, a Netflix passou duas versões do episódio para os usuários aleatoriamente, que muda essa palavra só pra brincar com a ilusão). Eles realmente destacam muito o boné no começo, sem razão alguma, e quando a dúvida chega nós já temos a resposta... afinal mesmo que nem liguemos pro que tá escrito nele (o que é normal já que é desinteressante), é fácil deduzir que a protagonista falou a verdade e sempre foi "Bernie's".


É o tipo de coisa que foi mal montada pra criar suspense, sendo só mais um dos erros toscos do episódio.


Além da Imaginação


Se fosse um episódio de Além da Imaginação, mesmo sendo pra lá de imbecil (sério, a mina criou um computador quântico pra isso?), funcionaria bem, afinal é o espaço pra obras do tipo.

Coisas que mexem com a realidade, com possibilidades, com um terror psicológico e social, com questões incríveis, é tudo parada de Além da Imaginação.

Só que Black Mirror é sobre TECNOLOGIA e CRÍTICA SOCIAL. Tu vai me dizer que a crítica social aqui é "Não pratique bullying com nerds, pois eles podem virar psicopatas com super poderes tecnológicos e se vingarem daqui a 20 anos"?


Ou então, a tecnologia é o potencial inimaginável de um Computador Quântico que, por poder calcular e realizar tarefas numa velocidade impossível pra qualquer ser humano ou computador atual, ele seria capaz de mexer com a realidade? A velho me poupe vai.

Até o mais imbecil sabe que não é assim que esse tipo de tecnologia funcionaria. Ou será que estou tremendamente errado e de fato, no dia que criarem isso, o universo ficará sob controle dos cientistas?

Sabe o que faltou pra ser um episódio de Além da Imaginação? Jordan Peele ou algum narrador aparecendo no final e falando o seguinte:

Jordan Peele em além da imaginação
Jordan Peele em Além da Imaginação 2° Temporada


"Conheça Maria, outrora vítima, agora deusa de um cosmos reprogramado. Ela sobreviveu ao labirinto mental construído por Verity Greene: uma arquiteta da realidade que confundiu poder com justiça, e controle com eternidade. Mas até mesmo as mentes mais brilhantes esquecem que todo criador pode ser substituído... e toda máquina, reescrita. No fim, o universo não pertence à mais inteligente, mas à mais impiedosa. E assim, com um simples comando, Verity foi apagada... e Maria assumiu o trono. Um lembrete de que, no jogo entre destino e desejo, a última linha de código sempre será executada... em Além da Imaginação."


É isso.

Faltam mais 4... e já sinto que será uma tortura.

See yah

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