AdaptaçãoMorte: Onimusha - O Anime da Netflix

Na onda das adaptações, a Netflix trouxe mais uma obra reinterpretando algum jogo, dessa vez é um famoso título da Capcom, mas não necessariamente um jogo específico dele.

"Onimusha" é uma franquia principalmente formada por jogos de ação e hack&slash com samurais, e a escolha da animação foi contar uma nova história, que se passaria entre seus jogos. Essa história é uma jornada ao bom e velho estilo samurai, com uma arte única, e uma ótima história original.

Perdoe a ignorância caso fale algo errado, mas citarem a seguir minhas impressões sobre a animação.

Boa leitura.

O Tipo de Arte

A primeira coisa que chamou e prendeu minha atenção foi o estilo artístico adotado nessa obra. Ele é um tipo de arte 3D, misturada com Rotoscopia. Rotoscopia é quando os desenhistas usam fotos ou vídeos de pessoas reais para elaborar os movimentos de seus desenhos, redesenhando por cima. Já aqui, é como se tivessem feito isso usando modelos em 3D convencionais, com a arte de anime por cima.

Sei que pode ser estranho falar assim, afinal arte 3D é arte 3D independente de como desenharam ou modelaram. Mas o resultado aqui ficou extremamente fluído, algo que costuma faltar em artes do tipo, pois na hora de desenhar eles aplicaram técnicas de desenho convencionais, mesclando com a profundidade proporcionada pelo estilo de "modelos prontos".

Lembra um pouco a arte usada em Arcane (adaptação de League of Legends), só que aqui é mais realista, com traços mais humanos e detalhes mais condizentes com a morfologia humana.

Junta-se isso com sombras em hachura (riscos paralelos) e o efeito é muito agradável, tanto em cenas simples de diálogo, quanto nos mais movimentados combates.

Somando isso à violência samurai, com lâminas cortando e sangue jorrando, surge um efeito sombrio e gráfico, fazendo valer a classificação para maiores, mas não chega a ser tão "terrível" ou explícito.

E detalhe, a escolha da arte foi algo opcional mas não era uma necessidade, tanto que em algumas partes da história (em flashbacks de um determinado personagem) a arte usada é o convencional 2D animado, e mesmo assim tudo é muito bonito de assistir. Só que foi uma ótima escolha manterem assim, já que é muito agradável de ver.

Referente à História

A trama mais lembra um RPG do que um Hack and Slash, pois o que acompanhamos é um grupo de samurais em uma missão, cada episódio revelando uma ameaça distinta, e desencadeando um combate com altas e baixas.

Mas, os jogos originais estavam longe do estilo RPG. Apesar de terem aumento de experiência e boa história, o foco era o combate e a coleta de almas e energia com a Manopla Oni. Eu particularmente joguei muito "Onimusha 3", título que fala até de viagem no tempo pra se ter noção. Mas, sei que todos os títulos seguem uma mesma linha, unida pela tal Manopla.

O anime traz a manopla, e o protagonista original (por assim dizer) Musashi Miyamoto, que não é um personagem que protagoniza os títulos principais da franquia. Aliás, ele só aparece em um mangá, e como personagem extra em um jogo de Luta de Onimusha (que tecnicamente é um spin-off). De certa forma, o anime adaptaria justamente esse "Onimusha: Blade Warriors" em conceito, pois é algo mais voltado pros combates na íntegra. 

Ainda assim, a obra carrega a essência da franquia, mostrando o peso da manopla e apresentando o universo dos Oni e dos Genma.

Tudo é contado como se houvesse um grande passado por trás do personagem, o que explora nossa própria curiosidade acerca dele, sejamos fãs da franquia ou não, e o interessante é que independente de sabermos quem ele foi, esse mistério é irrelevante pra nossa imersão.

Até mesmo sendo importante para que experimentemos as qualidades do protagonista como algo inédito, que se desenvolve conosco e se apresenta pra gente, pouco a pouco.

Levando em consideração que toda a história é original, e até se distancia dos protagonistas da franquia, é possível deduzir que o que assistimos não tem valor como adaptação, mas, uma vez que esse anime se aprofunda tão bem na mitologia de Onimusha, e ainda nos atrai para os jogos, eu diria que é mais uma ótima abordagem adaptativa, assim como foi por exemplo Cyberpunk: Mercenários para com o jogo Cyberpunk 2077.

Como é a História

Com apenas 8 episódios, com uma média de 30 minutos cada (alguns tem mais, outros menos), é uma obra fácil de assistir, e que se reserva a contar histórias próprias em cada episódio.

Mostrando um grupo formado por Samurais, um Monge e uma garotinha, a história os faz atravessar ambientes perigosos, e enfrentar diferentes tipos de Genma (são monstros zumbis), enquanto o protagonista, Miyamoto, empunha suas lâminas habilmente, pouco dependendo da manopla Oni.

A Manopla libera o potencial do guerreiro que a veste, em troca de almas daqueles que ela elimina (preferivelmente Genmas). Porém, quanto mais o usuário a usa, mais possesso ele se torna, até se converter em um "Onimusha".

Miyamoto é um exímio samurai, que apesar de cansado pela idade, é lendário e famoso por suas capacidades, então ele só passa a depender do uso da Manopla quando as ameaças se tornam mais perigosas do que um humano pode lidar.

Mesmo assim, o constante conflito dele com o uso da manopla, e seu passado lendário o espreitando com seus inimigos e antigos rivais ressuscitados, tornam tudo bem interessante de assistir.

O desfecho então, em que ele encontra um velho "amigo", e se coloca num duelo que mais parece um grande divertimento, e até um mero acerto de contas amistoso, faz a história caminhar pra algo não muito comum em tramas do tipo.

Afinal, espera-se um ápice com um confronto contra um grande inimigo e o herói tendo desvantagens, mas a jornada do herói não vale muito aqui pois o próprio protagonista nem se considera um "herói".

É um puro conto samurai, onde não há vilões ou heróis de verdade, apenas pessoas empunhando lâminas e lutando pelo que acreditam.

Compensa Assistir?

Ao meu ver sim, não só pela ótima arte, ou por atiçar a curiosidade quanto a franquia da Capcom, mas pela ótima história, pelos excelentes combates, e pela experiência agradável (e trágica) como um todo.

Lamentavelmente ele não impacta muito, não sendo daquele tipo de história que choramos a cada perda, talvez pelo pouco tempo que ele permite que absorvemos os personagens e nos apeguemos a eles. Mas, mesmo com esse ritmo mais acelerado, ele ainda funciona na questão dramática, e com certeza sabe contar sua história.

Talvez tenha muitos termos técnicos e feudais, citações da cultura samurai, que não são acompanhadas de grandes explicações (nós que precisamos entender na marra), mas isso não é novidade pra obras em universos samurais. Mesmo quem não esteja familiarizado com os termos, dá pra entender apenas pelas reações e respostas dos personagens. 

Enfim, eu gostei do que vi... e estou feliz pelos ótimos resultados das últimas adaptações.

Me faz ter esperança com Tomb Raider e Devil May Cry que estão por vir, além de outros títulos a serem anunciados.

É uma boa época pras adaptações!

Espero que o texto tenha ficado bom, e que eu não tenha dado muitos spoilers.

Mas, uma explicação sobre o final:

O Mistério é tudo que importa.

Obrigado pela leitura!!!

See yah!