E se o apocalipse estivesse próximo e apenas um demônio chamado Crowley e um anjo chamado Aziraphale pudessem impedi-lo, será que isso seria o certo? Com direito ao surgimento do anticristo e todo uma reviravolta hilariante, somos apresentados ao Supernatural da Amazon!
E sabe o que é mais curioso? Essa série de apenas 6 episódios, que literalmente reconta todos os eventos das 9 temporadas finais da série "Supernatural" (mas com um novo olhar), consegue ser bem melhor que ela, e olha que nem é só por causa do "Doctor Who" mais incrível de todos os tempos, mas por causa do jeito leve, bem carismático, e adorável com qual conta sua história.
Estranho né? Nem comecei a falar da série e já citei outras duas... mas confesso que não consegui deixar de pensar nelas enquanto assistia, pois as referências e semelhanças estão todas ali. Mesmo assim, o show é impecável e contraditoriamente único, e vale a pena assistir.
Se não conhece "Good Omens", saiba que é uma série de humor com elementos sobrenaturais, e é bem divertida de se acompanhar.
Traduzida como "Belas Maldições", essa série britânica é original da Amazon (Prime Video) em parceria com a BBC, mas só me chamou a atenção por conta de David Tennant. Ele é espetacular, e só de estar nessa série conseguiu me fazer parar pra assistir, algo que eu dificilmente faria.
Primeiro que a temática dela não me parece atrativa, nem mesmo seria "original". Duas entidades divinas lutando para evitar uma profecia de Deus?! Já vi isso antes e não gostei absolutamente nada. Foi exatamente essa premissa que destruiu "Supernatural", a série do Dean e Sam Winchester (e o curioso é que, tecnicamente, "Good Omens" veio antes, pois o livro no qual a série se inspira é de 1990).
Mas não bastou nem 10 segundos de série e já me vi entretido... "Deus" é interpretado por Frances McDormand, uma mulher. Apesar de não aparecer fisicamente, sua voz dá vida ao personagem narrando os acontecimentos de seu confuso porém genial plano, e assim permanece ao longo dos episódios.
Sem nem dar as caras, ela acompanha tudo de perto e nos explica o que precisa, pra nos posicionar narrativamente, quando necessário. E disso eu curti, muito, pois lembrou a narração da Morte em "A Menina que Roubava Livros", e sei lá, eu só adorei isso.
Não é algo original eu sei, Morgan Freeman já fez "Deus" tanto em voz quanto em personificação nos filmes do "O Todo Poderoso", mas tipo, não é nem por quem escolheram pro papel, mas por ser algo que está em toda parte, a todo momento, e simplesmente torna sua existência muito mais imponente do que seria, caso botassem a atriz ali pessoalmente.
Não que não pudessem fazê-lo, óbvio que poderiam (e talvez em futuras temporadas isso ocorra) mas, do jeito que realizaram aqui, foi o que me prendeu. A narração da divindade suprema apenas citando o que faria e fez, enquanto assistíamos seduzidos pela segurança e propriedade de suas palavras, é o bastante.
Então, sem termos noção de qual o tema da história, já somos bombardeados por criaturas fantásticas, isso ainda na abertura! Vemos os dois anjos andando lado a lado enquanto guiam a humanidade pro caos do fim dos tempos, com criaturas ao fundo de todos os tipos, até mesmo OVNI's, e a curiosidade apenas toma conta da gente.
O melhor de tudo é que tudo o que tem naquela abertura (cuidado, spoilers) ocorre.
Mas independente do que, ou da razão das coisas acontecerem, o curioso é conhecer o como e onde! E assistir isso tudo se formando desde os princípios dos tempos, em um vai e vem repleto de informações e explicações, regadas com eventos divertidos de acompanhar, é muito bom.
Tudo sempre acontecendo onde os anjos estão, tanto o caído (que é um demônio) quanto o certinho, em uma amizade questionável, mas inquestionavelmente firme!
A amizade deles inclusive me fez temer pela série, pois eles são tão próximos, mas tão próximos, que da pra entender a razão de confiarem tanto um no outro, mesmo sendo a personificação do conceito "Romeu e Julieta".
O Anjo
E é bem difícil não pensar na ideia romântica nesse caso, mesmo que a química dos dois seja puramente fraternal, de uma amizade para uma paixão só basta uma canetada de algum roteirista querendo lacrar, o que felizmente não ocorre. Mas não por não poder, pois há indícios sim de que ambos podem ter um relacionamento, mas por não ser pertinente à narrativa.
Além de um relacionamento homo afetivo deturpar totalmente a premissa, afinal envolveriam atração sexual, e mudariam a ideia da obra, isso ainda mancharia a pureza do relacionamento dos personagens.
Mas, cito isto, pois me veio à mente, inclusive nas muitas vezes em que o Anjo Aziraphale (Michael Sheen) teve sua sexualidade debochada.
Mas, de fato esses pensamentos vieram mais pela forma como ele se comporta do que tudo. Por ser um anjo, ele acaba sendo meigo, ingênuo e bastante inocente, e transparece amor em tudo que faz e diz. É tão carinhoso que é impossível não confundir com as nuances do romance, e isso é sempre refletido no jeito como os demais personagens lidam com ele. Contudo, isso tudo é apenas sua forma celestial de ser (ironicamente diferindo justamente de todos os outros anjos).
Michael Sheen é espetacular no papel, e da vida a um anjo terno e gentil sem tamanho. De todos, ele é o único que parece mesmo um ser celestial.
O Demônio
O que é perfeitamente contrastado com Crowley, ou Crawley, o demônio da serpente, interpretado por David Tennant.
No universo de "Good Omens", anjos e demônios são marcados por algo que os caracteriza independente de estarem no mundo terreno ou no astral. Com relação aos anjos, geralmente são partes douradas e cobertas com ouro no rosto e corpo, ou os olhos brilhantes em cores incomuns.
No caso de demônios, são traços grotescos de criaturas peçonhentas, repulsivas ou infecciosas, como sapos, insetos ou cobras. Então eles sempre tem manchas e feridas pelos corpos, ou a cabeça coberta por uma figura animal que os representam, além de terem (ou poderem ter) os olhos de tais criaturas.
A mancha de Crowley são seus olhos, que nunca podem ser alterados e sempre mostram seu verdadeiro ser: Uma Serpente. Porém isso não significa que ele não se envergonhe deles, e na verdade, o tempo inteiro ele questiona sua natureza e se rebela contra o fato de ser um demônio (mesmo não aceitando ser chamado do contrário).
Ele foi o demônio que ofereceu a maçã pra Eva, mas ele também é o único demônio que questiona os métodos divinos, por isso sua índole, apesar de ser opositora à ordem sagrada, acaba não sendo tão ruim quanto dos seus demais colegas caídos.
Daí, sempre escondendo os olhos com óculos escuros, ele acaba nutrindo uma amizade sem igual com o anjo Aziraphale. Fica clara as intenções de "Deus" nessa cartada, afinal não é por acaso que ambos foram sempre postos em situações de conflito, mas próximos.
Demais Personagens
Curioso não? Tanto o anjo quanto o demônio que protagonizam essa obra são extremamente diferentes de todo resto, e sempre estiveram juntos, como se algo profético os guiasse. Os anjos aqui são formados por grupos de seres aparentemente bem sucedidos em um conglomerado limpo e reluzente, porém vazio e no céu, que pra variar almejam a guerra contra os anjos caídos pra uma revanche.
Os Demônios então são antigos anjos, que após uma guerra no céu foram jogados para o inferno, e se tornaram trabalhadores sujos e nojentos que vivem aglomerados em locais fechados e insalubres, como escritórios mofados de baixo da terra, e causam conflitos pra humanidade. Acho sempre idiota quando tentam representar céu e inferno como escritórios, mas fazer o que né?!
Porém, nem é só disso que a série fala. Na verdade anjos e demônios roubam a cena (inclusive a dupla de amigos), mas há muitos outros personagens de igual peso na trama. O casal formado por um Caçador de Bruxas amaldiçoado e uma Bruxa herdeira de uma profetiza, que previu o fim dos tempos, são bastante importantes e ganham muito tempo de tela.
Falando rapidamente deles, a bruxa é ricaça (o bom uso das profecias a fez lucrar com o futuro!), mas tem como tarefa deter o fim do mundo, por isso ela investiga (de forma bem desastrada) o que seria o anticristo.
O caçador de bruxas então, ele é um herdeiro que nem seguiu os passos do parente, e magicamente entra no caminho da caçada, sendo levado direto pra bruxa de sua vida.
Tem também o quarteto de crianças, liderado pelo anticristo, que também tem uma relevância circunstancial no todo, mas que, nesse caso acaba sendo um pouquinho forçado.
E tem o núcleo dos demônios e anjos que, separadamente, orquestram seus planos para seguirem com a profecia principal do Grande Plano de "Deus", em trazer o Apocalipse e acabar com o mundo em uma guerra entre os dois.
Inclusive, os 4 cavaleiros do apocalipse tem grande participação, com suas introduções épicas um a um, e revelações sobre suas características bem curiosas.
A Guerra é uma moça ruiva que leva guerra e gera conflito só de passar pelos lugares.
O Fome é um empresário fanático por comidas nada nutricionais e gourmet.
A Peste se aposentou, por isso entrou a Poluição no lugar dela (nesse caso, apesar de soar uma boa pegada, achei esquisito e não teria problema na Peste ser responsável pela poluição...)
E o Morte, que é apenas a personificação da morte mesmo, lidera o grupo, chegando primeiro e por último.
Os 4 tem uma aparição promissora, mas acabam sendo derrotados tão facilmente que chega a ser risível. Mas, era esperado, pois o tom da série é o deboche mesmo.
Por mais que ela tenha violência (não explícita, mas bastante), ela humoriza tudo isso e tenta reduzir o impacto ao menor possível, pra nunca desviar do tom cômico.
Além disso, a própria atmosfera é construída com uma trilha sonora compatível pra ditar esse tom, sempre se preocupando mais em como nos fazer rir.
Referências e Semelhanças
Desculpe mas, uma história onde o anticristo é disputado pelo céu e pelo inferno para que ambos apenas consigam o aval para se matarem, enquanto a terra é coberta por caos e destruição, bem... é exatamente isso que quiseram fazer em Supernatural.
Claro que lá, essa foi uma ideia esdruxula e nada benéfica pro que já havia de bom até então, e a série antes de mistério e terror, virou uma bobagem com religião e um monte de patacoadas que no fim, só levaram ela ao "fracasso".
Aqui no entanto foi diferente. Além dos efeitos especiais serem audaciosos (essa é a melhor palavra pra descreve-los, pois nunca foram bons, mas também não deixaram de tentar e entregaram o que puderam dentro do que podiam, satisfatoriamente, então: "Audaciosa"), o compromisso com o contexto religioso foi maior, melhor, e menos inventivo.
Além de deixarem a entidade majoritária de fora, mas sempre presente (através da narração), eles usaram os elementos cristãos e históricos com mais fidelidade e criatividade, explicando as situações sem precisar enfeitar muito.
O nascimento do anticristo foi muito bem trabalhado aqui, muito bem explicado, e significativo (muito da história gira em torno exatamente disso) e no fim, seu crescimento o jeito como acabou sendo induzido a ser quem se tornou, foi muito mais crível do que as voltas e mais voltas que a outra série fez.
Pra quem não sabe, em Supernatural depois da 4° temporada passaram a incluir anjos em meio ao que antes era focado em monstros e demônios, e botaram até "Deus" na trama diretamente como um vilão, que acaba sendo substituído por outra entidade, o anticristo, que aprende a ser benevolente. Mas até isso ocorrer só ficam criando ameaças atrás de ameaças, inclusive o apocalipse com os 4 cavaleiros também, mas no fim ficam sem ter pra onde correr, apelam pro Multiverso e encerram com um combate e troca de cargos sagrados.
Já aqui em "Good Omens" é tudo mais sutil e contido, mesmo sendo algo em patamar global e até cósmico. Tudo acaba sendo focado na irmandade do anjo e do demônio, e como eles por acreditarem e confiarem um no outro, lutam pelo que julgam certo. Bacana que considerando que o livro que originou a série é de 1990, sabemos de onde os roteiristas que estragaram Supernatural tiraram suas ideias.
E, sobre Doctor Who... sei lá, eu não consigo olhar pro Tennant e não enxergar o meu Doctor favorito. Caramba, teve uma parte na série em que ele foi chamado de Doctor e eu tenho certeza que foi referência!
Mesmo sendo algo que condiz com a cena, e destaca a personalidade do Crowley como manipulador e tal, isso também serve bem de alusão ao seu papel na outra série. (O envolvimento da BBC nem sugere isso também né, afinal eles que tão no comando de Doctor Who.)
Pra quem não sabe, David Tennant se orgulha muito do papel que fez como um dos rostos de Doctor Who. Na série em questão, o protagonista muda de ator a cada temporada, e as vezes esse ator dura 2 ou 3 temporadas. Tennant foi um dos poucos que durou 4 temporadas e ainda fez várias participações especiais, sem contar que ele ganhou a chance rara de voltar ao papel, em 4 episódios especiais que sairão muito em breve.
O cara é uma lenda, e sua atuação é sem igual. Apesar de eu ter curtido muito a doutora feita por Jodie Whittaker (ela é minha segunda favorita), o 10° Doctor é o melhor na minha opinião, e David permanece legal em sua atuação como Crowley.
Essa é uma boa série, já tem segunda temporada divulgada e sairá em breve.
Mas, eu não sei bem se tem algo pra continuar... é que o que ela mostrou já foi o suficiente e ela entrega um bom final aqui, e algo que a estenda pode ser comprometedor. Sei que ela adaptou o livro de Terry Pratchett e Neil Gaiman (pera... ele fez Coraline né?), mas não sei o quanto dele foi adaptado nessa temporada.
Veremos o que farão e bem... é isso.
Obrigado pela leitura...
See yah!
2 Comentários
Comecei a ver essa série a um tempão atrás, achei ótima mas nunca terminei, fico feliz que tenha me relembrado dela, tentarei ver em breve, tanto que nem terminei de ler sua análise com medo de spoilers kkkk (pelo menos me atraiu até o artigo de supernatural) mas já vi que você gostou então vou tentar novamente.
ResponderExcluirEu nem sabia dela, mas quando vi o doctor pensei "porque não?" rs. E ela é boa, é leve e tranquila de ver, sem contar que é curta em comparação a outras séries né. Me diz depois o que achou hein sr Ed.
ExcluirPs.: Os links serviram pra algo!!!
Obrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.
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