SérieMorte: Doctor Who - 10° e 11° Temporada (Peter Capaldi e Jodie Whittaker) - Início da Terceira Era

Doctor Who entrou em uma "terceira era", a partir do final da décima temporada e do fim da personificação de Peter Capaldi, mas essa mudança vai muito além do Doutor ou de seu Companion. 


A transição de geração foi dada pela troca do Showrunner, o roteirista que ditava o tom da série. E assim, uma nova fase se iniciou, a fase que eu chamo de "Inclusiva". 

Nesse artigo falarei um pouco da 10° temporada, e da 11° temporada. Sem dar spoilers nem nada, e apenas dizendo o que achei, e focando principalmente na transição para a "Terceira Era Who".

Boa leitura.

A Décima Temporada

A princípio ela não começou nada bem. A transição já deu início na décima temporada inteira, com cada episódio tentando abordar de forma não muito orgânica, temas de cunho social. Não que estes já não tenham sido adaptados antes, mas a temporada em si foi bem chata.


Até porque ela foi acelerada, com Capaldi interpretando pela última vez o Doctor, e tendo de se despedir, ao lado de uma companion inédita e pouco interessante, mas que servia à proposta dessa etapa final.

A nova personagem era negra, gay, pobre, órfã, e tinha toda a narrativa em torno de si, o que até seria interessante, se infelizmente seus episódios não fossem tão convenientes e pouco criativos, com essa personagem se tornando o centro do universo, mesmo que nada explique isso.


A temporada parecia até ter esquecido eventos anteriores (como a trágica saída da companion Clara Osvald e suas consequências), mas no fim, ela consegue se redimir, mesmo que pra isso apele pra respostas aparentemente ignoradas no futuro.


A 10° temporada também contou com uma mudança em seu esquema de episódios, onde deixaram de ser totalmente antológicos, pra se converterem em algo contínuo, com eventos se ligando diretamente de um ao outro, como se tudo fosse um grande episódio só.


Por mais que os eventos de cada um fossem de aspecto antológico, a obrigatoriedade neles em contarem partes de uma longa história, amarrada pelo inicio e fim de cada um (com direito a retrospectiva do episódio anterior em cada novo capítulo), acabou tornando a experiência diferente da costumeira na franquia.

Pois não temos tempo pra nos acostumar com os personagens novos, como o humano/robô careca chamado Nardole (Matt Lucas), ou a própria Bill Potts (Pearl Mackie), que simplesmente tem uma aventura ininterrupta ao lado de Doctor, sem tempo para se conhecerem (naqueles eventos não contados entre um episódio e outro).


Porém, tudo isso era só uma transição, pro que seria a nova fase de Doctor, que foi além da mudança de Peter para a primeira Doctor feminina, Jodie Whittaker. Tudo partiu da troca de administração da obra, por assim dizer.


Como sempre, cada episódio da série tem um roteirista diferente, mas sempre que Jason Moffat aparecia creditado, eu pensava "Esse vai ser um episódio dos bons". Pois ele era quem guiava a obra, quem construía a temporada inteira, mesclando os muitos elementos dispersos dos roteiros, em um só (isso desde o início da Segunda Fase, em 2005, com o retorno de Doctor na geração moderna).


Na décima temporada porém, foi justamente a presença dele que tornou a série diferente do que conhecíamos. E até mesmo os episódios escritos por ele soaram fracos. Inclusive, essa foi a temporada que através da nova companion, tentou reapresentar Doctor Who pro público, recontando tudo sobre ele, como se fosse uma temporada de estreia igual a do Christopher Eccleston e a segunda era.

A Transição de Doctor

Algo que não pareceu funcionar, com Peter se recusando a regenerar no fim e, dando início a um episódio especial de natal que traria sua regeneração.


Esse episódio é um marco simbólico da transição real pra terceira fase da série. Pois nele, temos o Primeiro Doctor (lá da Primeira Era), William Hartnell (que já faleceu, mas foi interpretado pelo ator David Bradley), ao lado do último Doctor (da Segunda Era), Peter Capaldi (observação: A Regeneração do primeiro Doctor não foi mostrada na época).


Temos até o encontro das duas versões da TARDIS, e a despedida dos personagens que, levam à regeneração pra Jodie Whittaker.


Neste ponto, inicia-se a terceira fase onde, Moffat saiu, e Chris Chibnall começou como showrunner, sendo ele o novo guia das temporadas.


A Decima Primeira Temporada

E ele não fez um papel ruim. A 11° temporada começa com um baita fôlego, mostrando que Jodie não tá de brincadeira e é uma doutora de muita personalidade (e uma das melhores versões dele, pau a pau com David Tennant), mas ele tenta com força introduzir muita coisa inédita.


Cada episódio tem seu próprio inimigo novo, com nomes novos, criaturas que Doctor nunca viu ou enfrentou, e apesar de ser uma ótima tentativa de renovar a série, tudo acaba tropeçando na questão da conveniência forçada.


Ainda assim, a série retomou o formato antológico, e com distanciamento entre episódios. Nós voltamos a ter aquela noção de tempo passado entre um episódio e outro, pois os personagens sempre são pegos já no fim de uma aventura não contada, pra iniciar a nova.

Esse é um modelo bom pois, o que não é contado deixa subentendido que o grupo teve tempo pra se conhecer, e assim somos poupados de longos períodos de envolvimento e reapresentação (como a 10° temporada fez).


E olha que isso não compromete as 3 tramas secundárias da temporada, onde ao invés de termos apenas 1 companion, temos 3 parceiros com Doctor, simultaneamente.

Cada um com seus problemas, mas formando uma grande família na TARDIS, somos levados numa jornada interessante para resolver cada uma das situações, sem que isso ofusque a história de Doctor, ou qualquer uma das três, sempre com espaço para todas elas.


Temos Graham O'Brien (Bradley Walsh), um senhor de idade branco recém viúvo que venceu o câncer, e atualmente luta pra superar a morte de sua esposa, e conquistar a aprovação (e talvez amor) de seu neto. O velhinho é incrível, sempre sendo contido e sábio, tomando boas decisões e tentando lidar de forma madura com tudo, e com um sorriso no rosto (mesmo guardando muita mágoa dentro de si).


Temos Ryan Sinclair (Tosin Cole), um rapaz negro que perdeu sua avó recentemente, e se tornou tecnicamente órfão, pois seu pai o abandonou, e sua mãe faleceu também. Ele acaba se tornando rebelde referente a paternidade, e rejeita Graham como avô, mas é o personagem mais proativo do grupo.


Temos Yasmin Khan (Mandip Gill), uma mulher de descendência paquistanesa, policial, que luta pra alcançar um cargo de chefia, mesmo sendo menosprezada pelos superiores. Ela traz segurança pro grupo, agindo conforme seus treinamentos policiais.


Esses três acabam se unindo numa jornada ao lado de Doctor, para não deixa-la sozinha em sua nova fase, e para superarem, cada um, seus próprios obstáculos.

E dessa forma temos uma temporada riquíssima, com muitas histórias se passando em eventos reais e marcantes da nossa história (ainda que tenham ficção científica misturada é claro), e outros com mensagens sociais e políticas que nos fazem refletir bastante (e chorar), mas sem jamais fugir dos objetivos da série.


Ela tem um bom ritmo, é bem humorada, mas também é séria, e algo que adorei é que ela é cruel com suas baixas.

Todo episódio tem mortes, e elas são irreversíveis. A nova Doctor nem parece se importar com isso, fazendo pouco caso de quem se foi (apesar de ainda respeitar é claro), mas seguindo adiante, sem se deixar envolver ou emocionar.


E há muita gente morta mesmo. Tem situações que ela nem tenta salvar as pessoas (mesmo havendo a mínima possibilidade de fazê-lo), mas isso não ocorre por ela ser má, apenas por ser desapegada.

Em todo caso, A Doctor Jodie é prestativa e nunca foge de um pedido de socorro, honrando sua TARDIS (que tomou uma forma mais esverdeada agora), e viajando pros confins do espaço e tempo, salvando quem precisar (se der).


Bem, a nova era de Doctor pra mim soou bem agradável, e adorei Jodie Whittaker no papel de Doutor. Mas, é aquilo... estou no meio do processo ainda.

Detalhe: Apesar de na língua original o nome da personagem ser "The Doctor" o que não define gênero, na dublagem tivemos uma adaptação esquisita onde, a cada episódio mudam a forma de chama-la. As vezes chamam de "A Doutura", as vezes de "A Doutor" e as vezes de "O Doutor". Isso é estranho, pois infelizmente na língua portuguesa não temos uma versão neutra pra palavra "Doutor", que nessa série é usada como pseudo-nome próprio. 


O ideal seria abolir o uso total de artigos, e apenas chamar de Doutor mesmo, como um nome próprio, ou adotar o uso de Doutora em definitivo, pois também se encaixa na lógica da série, já que é um título, mas sem o artigo.

Enfim, é isso. Eu queria falar um pouco só, pra conservar as memórias do que assisti até então. Infelizmente eu não fiz isso com as temporadas finais de David Tennant, ou toda a jornada do Doutor Depressivo (Matt Smith). 

Sinto que perdi a chance de falar de uma das melhores companions que os Doctors já tiveram, a inversão temporal chamada River Song... mas... quem sabe um dia eu fale, apesar de toda sua trama já pertencer a um passado esquecido.


 Bem, em todo caso, verei o restante e, se sentir necessidade, contarei o que achei.

See yah!
 

Postar um comentário

0 Comentários