CríticaMorte: A Queda (Fall - 2022) - Claustrofobia no Alto

Filmes de terror claustrofóbico e de solidão não são uma novidade, e parecem sempre impressionar com a enorme quantidade de medo que podem arrancar com histórias relativamente simples, mas extremas.


Assim como todos os demais, "A Queda" se ambienta em uma condição de isolamento total e sobrevivência, e nos deixa apreensivos quanto aos personagens, torcendo por eles, e buscando alternativas para que escapem. Todo Thriller tem disso, e todo terror nos coloca a frente dos personagens mas sem qualquer controle sobre suas decisões, ainda assim, faz parte nos sentirmos inquietos e ansiosos ao assistir, e é exatamente isso que esse estilo deve extrair da gente.

Não tem Spoiler, pode confiar.

Boa leitura

E devo dizer que a muito tempo não me sentia tão envolvido com um longa. Desde a sensação de vertigem que ele causa, até momentos de aflição puríssima, eu me vi fechando os olhos (sério) e até me remexendo na cadeira de tanto receio.

Cara, é difícil me sentir assim, e mesmo não tendo nenhuma experiência que se assemelhe ao mostrado aqui, eu com certeza me identifiquei com os personagens.


Muito pelas ótimas atuações, mas também pelo enredo, e pela trama, e pelas cenas. Tudo funciona, tudo impressiona.

O filme conta a história de moças que gostam de escalar, e acabam decidindo subir uma torre de rádio antiga, e alta pra caramba, pra curar o trauma da perda de um de seus parceiros e espalhar suas cinzas lá do topo (é o jeito que encontram pra superar, e o filme consegue explicar bem isso).


E é isso, partindo dessa simples premissa, elas escalam até se verem presas no mais alto, sem contato com ninguém, sem qualquer solução aparente pra escapar, e pior, sem suprimentos.

Pra não dizer que nunca vivi isso, teve uma vez em que eu fiquei preso no teto da escola, por ter me metido ao escalador pra buscar uma bola, e isso já foi bem tenso... mas claro que isso nem se compara a uma torre de 2000 pés de altura, sem nem mesmo um paraquedinhas! 


Falando nisso, nem duvido que os caras devem ter visto aquela cena da Lara Croft em Tomb Raider 2013 e pensaram "Gente, da pra fazer um filme só disso!" e deu mesmo, afinal o longa inteiro (ou pelo menos 80% dele) é só na Torre de Rádio, mas acredite, ele tem muita coisa acontecendo apenas nesse singelo cenário.


Eu sempre fico curioso com o quanto um filme "parado" pode contar. Pela sinopse da pra imaginar que seriam 2 horas com personagens tentando escapar e falhando, mas sempre tem reviravoltas, surpresas, e eventualidades que prendem nossa atenção cada vez mais. 


Aqui, muitas ameaças além da própria altura surgem, algumas independentes das ações das personagens, outras atreladas ao que fazem mas igualmente independentes de estarem certas ou erradas, de serem bem sucedidas ou não. 

O desfecho sempre parece óbvio a princípio, mas tudo toma proporções cada vez mais alarmantes, ao ponto de nos fazer simplesmente aceitar a derrota, esta vindo ou não de fato.


Mesmo quando tem uma vitória, ela é meio que amarga. Mesmo se os personagens escapam, ainda há uma enorme cicatriz que simplesmente nos marca junto deles. Igualmente, se ninguém consegue, ficamos com um vazio e pensativos sobre se haveria alguma alternativa para um final diferente.

Um filme que se enquadra muito bem nesse estilo é "Jogos Mortais (Saw - 2004)", o primeiro. Isso pois ele também é focado em puro isolamento, mesmo tendo enigmas, mesmo tendo todo uma estrutura narrativa complexa e misteriosa, a nata dele é aquele banheiro com um corpo no meio e dois caras algemados. Claro que a franquia acabou puxando a sardinha pro lado do gore, mas o primeirão era puro terror claustrofóbico.

Claustrofobia no banheiro

Já vi vários outros exemplares dos quais me lembro com carinho (mesmo nunca tendo escrito afinal, é uma nova fase), como meu favorito "Pânico na Neve (Frozen - 2010)", e a história de 3 jovens esquiadores que ficam presos numa torre de esqui gelada, por um longo fim de semana prolongado, sem ninguém para busca-los ou salva-los, mas com lobos famintos a espreita.

Claustrofobia no teleférico

Ou outros como:

"O Buraco (The Hole - 2001)", e a história investigativa sobre jovens que ficaram presos num bunker por um tempo, e só restou uma moça.

Claustrofobia no buraco

"127 Horas (2010)" e a história baseada em fatos reais de um cara que ficou preso por dias em uma região desértica, sozinho, sem ninguém pra salva-lo, e chegando ao extremo pra poder se salvar.

Claustrofobia nas montanhas

"Gravidade (2013)" e a história da astronauta que se vê a deriva no espaço, buscando um jeito de voltar pra segurança de sua Estação Espacial e posteriormente, ao planeta. 

Claustrofobia no espaço

E "Águas Rasas (2016)", e a história de uma jovem surfista que vai pra uma ilha isolada e acaba ficando ilhada em corais, quando a maré sobe, cercada por um tubarão bem do carniceiro, sem ter com quem contar pra voltar pra praia em segurança. 

Claustrofobia no mar

"A Queda (2022)" é mais um título nesse estilo que não faz nada tão diferente, mas consegue ser tão bom quanto todos estes.

Talvez o melhor nele seja a parte da vertigem. Ele realmente consegue imprimir isso na gente, com ótimas filmagens do alto, e tão detalhistas que cumprem perfeitamente o papel de nos deixar lado a lado com as protagonistas, com um baita nó no estômago.


Um problema nele, talvez, seja apenas os efeitos especiais que as vezes ficam um pouco simplórios de mais. A altura por si só se basta pra causar tudo o que precisa pra que tenhamos medo... mas as vezes alguns detalhes ficam falsos de mais, nos distraindo bem de leve, e o pior é que geralmente são as coisas que caem (que apenas parecem ter sido postas em cena por um fundo verde), que soam mais falsas.


Mas considerando o baixíssimo orçamento de 3 milhões de dólares, da pra passar um pano nisso (ainda mais com a recente queda de qualidade dos CGIs de Hollywood). Até porque o filme faz muito bem o que promete, e nos aterroriza com uma claustrofóbica trama nas alturas.

E aliás, o Negan ta no filme (Jeffrey Dean Morgan), e mesmo tendo pouca participação, que baita atuação. Acredito que todos os personagens fizeram extremamente bem seus papeis, mas confesso que nas vezes em que ele apareceu, senti um breve desvio da trama (mesmo que tudo faça sentido e esteja condizente com a narrativa).


De certa forma é bom sair um pouco da situação isolada com algumas artimanhas, mas quando o centro são as escaladoras, o terror funciona melhor.

O excesso de explicações também se faz bem desnecessário. Algumas reviravoltas são desenhadas para que entendamos, e até entendo que pra um certo público é bom pra que tudo seja esclarecido, mas isso acaba reduzindo o processo de "interpretação e aceitação", o que ofusca um pouco as maravilhas psicológicas que o longa consegue causar. 


Meio que corta a possibilidade de conversar após o filme. Sabe, sair do cinema pensando se entendeu tudo, e conversando com os amigos a respeito até notar que todas as pistas dos mistérios estavam plantadas nos lugares certos, e tudo estava sim bem na cara, só bastando raciocinar. Então, isso se perde, pois o filme faz o trabalho pela gente.

E isso é um segundo ponto negativo, afinal um dos méritos desse gênero é nos fazer pensar.


Enfim, ainda compensa muito assistir.

Não é o melhor filme de todos, mas não é o pior, é apenas um ótimo filme pra se ver e assustar.

Obrigado pela leitura.

See yah!!!

Postar um comentário

8 Comentários

  1. Bom, me interessei pelo filme e as demais sugestões/comparações... não sou um grande adepto de assistir as coisas, mas tem algumas obras que me chamam a atenção... e como um aventureiro que busca lidar com alturas, esse tipo de conteúdo me atrai bastante kkk vou buscar assistir.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Todos eles compensam muito. Evitei dar spoilers pra não comprometer de forma alguma a experiência. Espero que goste sr Sieg! E obrigado pela confiança.

      Excluir
    2. E olha eu chegando pra falar depois de meses sem comentar em nada... finalmente assisti o filme e posso falar um pouquinho sobre...

      Sabe, gostei, é um filme bacana... passei raiva com os momentos idiotas dos personagens, assim como sempre eu fico tentando adivinhar o que vai acontecer em sequencia e comecei a rir quando falei pra minha esposa o que ia acontecer ao drone e aconteceu mesmo... eu não tenho medo de altura mas ela sim... então ela ficava o tempo todo ansiosa... como tenho uns conhecimentos de escalada e rapel eu ficava comentando "não podiam levar isso e aquilo... deviam ter se preparado levando isso também..." mas no fim, saiu uma solução que eu nem esperava mesmo, foi legal.

      Me surpreendi quando vi a amiguinha dela antes de utilizar o segundo sapato... porque com o ocorrido de antes eu disse "como pode isso ter acontecido? isso é mentira!", mas o filme seguiu e aceitei o que tava passando...

      de toda maneira, me diverti, obrigado pela sugestão aí mano.

      Excluir
    3. Quando se conhece do assunto fica ainda mais pessoal assistir né não! Eu fico feliz por ter gostado do filme, é bom que não errei rs.

      Sr Sieg, é sempre legal te ver por aqui, e aliás, que bom que o texto não comprometeu sua experiência...

      Meu, bem vindo sempre.

      Excluir
    4. Com certeza bro, na verdade o texto não comprometeu porque foi a tanto tempo que nem lembrava nada kkk só o título mesmo, mas ainda assim, reli e não vi nada que fosse prejudicar a experiência.

      Conteúdo de filmes e séries aqui eu não costumo consumir porque não acompanho muito, mas um ou outro me chama a atenção, e esse em especifico bastante. muito top a recomendação bro!

      Excluir
    5. Heh, obrigado sr Sieg! Bem, permanecerei dinamizando o conteúdo pra sempre ter alguma coisa diferente.

      Excluir
  2. Tenho mais medo de filme assim, porque tenho acrofobia, do que medo de filmes que tenham demônios ou seres sobrenaturais.

    Assisti esse filme hoje, e minha mãe do céu, quase o coração sai pela boca.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. De certa forma fico feliz por você ter ficado com medo também. Sei que não sou o único kkk.

      Eis um sub-gênero percebi gostar só agora... de fato filmes assim me fazem ficar pensativo por muito, muito tempo. Ainda hoje tento compreender o Frozen.

      Enfim, fico feliz por ter gostado, e temido rs. Obrigado srta Sammy, sempre muito bom tê-la por aqui.

      Excluir
Emoji
(y)
:)
:(
hihi
:-)
:D
=D
:-d
;(
;-(
@-)
:P
:o
:>)
(o)
:p
(p)
:-s
(m)
8-)
:-t
:-b
b-(
:-#
=p~
x-)
(k)