CríticaMorte: Tico e Teco - Os Defensores da Lei (Filme 2022)

    Eu estava ansioso pra assistir este e não me arrependi do que vi.

É um filme repleto de referências, easter eggs, fan service, cameos, crossovers e tudo que pode-se imaginar no mundo da animação.

Diria até mais, ele é uma continuação de um clássico do cinema que, mesmo não se assumindo assim, representa perfeitamente o que aquele filme fez em sua época, retornando sua proposta pros tempos modernos.

Falarei mais a seguir. Boa leitura e não terão spoilers... tantos.

Estranhamente, o filme em questão (Sim, eu falo de "Uma Cilada para Roger Rabbit" de 1988) era uma adaptação de um livro de mistério que falava de um mundo em que desenhos e pessoas conviviam. Aqui, essa pseudo-continuação não se inspira em uma obra literária, mas em uma animação que quase nada tem a ver com o tom da obra.

Ele conta a história de Teco (Dale), da dupla Tico e Teco (Chip and Dale), e sua vida após a fama. É que, essa também é uma obra ambientada num universo em que desenhos e humanos convivem, e segue o exato modelo de Roger Rabbit, só que... atualizado.

Eu gostei da abordagem desse filme. ele consegue ser bem engraçado, moderno, e sabe trabalhar muito bem com suas referências.

O forte dele está na exploração da arte animada como um todo. Ele brinca com os diferentes estilos de animações cinematográficas, e vai longe em todo tipo de referência, sem medo de ser feliz.

Talvez o que mais curti foi a transição entre o 2D para o 3D moderno, ao mesmo tempo em que o enredo avançava. Na verdade, tudo que está relacionado com essa releitura dos tipos de animações, surge perfeitamente entrosado com a história do longa.

Fizeram de uma forma que, nada soa forçado, e tudo parece surgir na hora exata para que faça sentido. Um detalhe do cenário não está ali apenas por fanservice, ele tem um certo impacto na narrativa, e ao mesmo tempo, serve de agrado, um agrado bem engraçado.

Há dezenas de personagens de animações e filmes diferentes pulando na tela o tempo inteiro, mas isso não é maçante, nem exagerado, muito menos gratuito. Tudo tem uma razão pra aparecer, algo a comunicar, e tem um grau de importância em diferentes camadas.

Um bom exemplo disso é o início de tudo. Ele é um flashback de um período na infância dos protagonistas, contando algo que vai até antes mesmo da obra na qual o filme se inspira (o filme sustenta a ideia de contar os bastidores do Show de Televisão "Tico e Teco - Os Defensores da Lei" este já cancelado, porém no mundo do filme, os desenhos são reais e agem como atores nesses filmes.). 

Ele mostra os personagens se conhecendo, mas muito mais que isso, ele introduz em segundo plano todo o universo ao qual estranhamos no começo, mas logo nos acostumamos: Um mundo de pessoas reais vivendo lado a lado com animações.

Mas isso não é a única coisa, em uma nova camada narrativa ele explica como o mundo se modernizou, ao apresentar o crescimento dos personagens, ao lado de um mundo com as animações antes majoritariamente em 2D (pois na época só haviam filmes com desenhos assim), compartilhando espaço com uma variedade gigantesca de estilos. 

O mundo mudou, a tecnologia evoluiu, e agora o 2D por mais que ainda exista, compete por espaço por Cel Shading, 3D, Realismo, Pré-Renderizado, Stop Motion, Bonecos Animatrônicos, Captura de Movimentos e até mesmo Pés de Meia! Todo tipo de técnica que foi aplicada em obras animadas simplesmente foi replicada aqui, numa festa de estilos. (É até engraçado falar deste filme agora pois acabei de publicar um texto sobre "Amor, Morte e Robôs" que tecnicamente, é uma antologia de animações diferentes, o que acaba servindo de exemplo dessa modernização variada).

Mas essas coisas não estão apenas em planos secundários e terciários. O enredo em si fala disso, mostrando por exemplo um dos esquilos da dupla se atualizando, mudando seu estilo visual através de uma "Cirurgia Gráfica". 

Outra coisa que rola muito aqui, é a conversão de coisas que conhecemos para este novo mundo. Tudo é explicado de uma forma mais orgânica, e distante do que é real no mundo real. Exemplo é essa tal atualização gráfica... ela é feita por cirurgia em personagens, e não é apenas um novo modelo sendo criado. Isso serve bem à construção do mundo do filme, e à narrativa propriamente dita, pois também é algo aproveitado pra história.

Coisas como Pirataria, Remakes, Reworks, Refilmagens, Remasterizações, ou apenas a simples Atualização, são aqui explicadas diretamente no mundo dos desenhos (de  formas mais "realistas" pra eles), tratando os desenhos de forma bastante individual, afinal aqui eles são basicamente pessoas, desenhadas é claro, mas são pessoas.

E cara, é algo muito engraçado de assistir. Como tudo se desenrola, como surgem certas reviravoltas e até algumas subversões de subversões (a conclusão consegue ser óbvia e surpreendente ao mesmo tempo, e sempre hilária), faz deste um dos filmes mais bacanas pra se assistir seja sozinho ou em grupo.

E pros caçadores de referências, este consegue ser um prato cheio pra diferentes épocas. Cara, eu vi coisas dos anos 80  e coisas muito atuais como por exemplo, "O Estranho Mundo de Gumball", "Rick e Morty", "Phineas e Ferb" e... cara tem tudo, de toda parte. 

Foram longe pra caramba, e apesar deste ser um filme Disney, oferecido apenas na plataforma por assinatura da empresa, ele engloba todo tipo de animação, de todos os estúdios, grandes e pequenos. Tem Warner Bros, Paramount, Nickelodeon, Cartoon Network, Pixar, Sony, DreamWorks, e por ai vai. É um filme que tu vê tudo de algum jeito, como Peppa Pig, Shrek e até mesmo o Batman mano, ou o famigerado "Sonic Feio".

Aproveitando as possibilidades com perfeição, o longa faz piadas com tudo que remete as animações, inclusive substituições. Este é o caso do "Sonic Feio", algo que foi bastante criticado nos trailers do filme do Sonic em "Live Action", onde a arte dele tava uma tragédia (eu curti!) de tão real.

Daí por pedido dos fans, o estúdio "Moving Picture Company" (que havia trabalhado em filmes de realismo gráfico como "Detetive Pikachu" e o "Live Action" de "O Rei Leão"), reanimaram o personagem (que eu achei esquisito pois não combinou, mas o filme ficou mó bom), e a versão dos trailers virou meme, não caindo no esquecimento por conta da peculiaridade da situação.

Irônico, pois graças a isso, essa versão bizarra do personagem (que repito, eu curti) foi ressuscitada aqui, com muito mais do que apenas Participação Especial ou Referência. Agora ele é um Personagem Real, a versão esquecida do Sonic que nunca fez sucesso, o "Sonic Feio" com voz e personalidade própria. Os caras foram geniais ao incluí-lo e aproveitar suas características pra criar um enredo a parte só pra ele: O Sonic é rápido, o Sonic Feio vai na maciota!

E não é só disso que o filme brilha também não hein. A relação entre Tico e Teco e o jeito como cada um foi desenvolvido é primorosa! Tico seria o esquilo (caracterizado por um chapéu nas animações) mais sério e pé no chão, técnico e que superou seu passado apesar dos pesares. Ele cresceu, evoluiu, mas ele é aquele que fisicamente parece não ter mudado.

Teco (Dale) é aquele que cometeu erros no passado, e é o mais infantil, aparentemente nunca tendo superado suas falhas mas, lutando pra compensa-las. Fisicamente ele é quem mudou, se atualizando, mas ironicamente, ele é quem mais está atrelado ao passado.

A reunião deles depois do cancelamento do programa, consegue ser bem verdadeira, com altas e baixas, e convence, os fazendo retomar uma amizade complicada e aceitar as falhas um do outro, numa construção digna do Oscar!

Enfim... eu prefiro não falar mais a respeito caso contrário caminharei pelo precipício dos spoilers. Acho que do que falei até então já matei algumas surpresas, mas garanto que você vai se empolgar com muito mais.

Assista, compensa cada segundo... mesmo que em certa parte o filme fique um pouco arrastado... afinal ele trata de uma investigação policial (bem parecido com seu "antecessor espiritual"), ele tem uma dose generosa de humor, drama e ação.

Ta no Disney Plus, mas tu acha piratão por ai.

Ps.: Se eu errei ao falar de quem é o Tico e quem é o Teco, foi mal. Eles são diferentes fisicamente, mesmo se parecendo muito (os dentes e o nariz mudam), mas tipo, eu não consigo diferencia-los mesmo com o filme abordando isso. É uma falha minha, e eu sofro com isso desde a aparição deles em Kingdom Hearts. Pra mim é sempre a mesma coisa!

See yah!

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10 Comentários

  1. Que isso, não chega nem aos pés do recente space jam (bleeerrgh).

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    1. Space Jam? A versão do Jordan parece mais uma propaganda do que um filme... Lembro dele com muito carinho, e gostei das animações, mas o enredo é bem besta ainda mais no começo. É tipo uma propaganda da carreira do cara.

      Agora, essa nova versão... eu nem assisti. O trailer já entrega que é ruim... e tem cara de ser uma cópia do original, com exageros sem criatividade, tanto que o trailer mostra as partes boas somente.

      Tico e Teco já me chamou a atenção ainda no trailer por causa da construção dele. Eles já anunciam como um "Bastidores" e o próprio trailer explica sem dar detalhes do enredo geral, que é um filme num universo animado e miscigenado em estilos. E o mais legal, no filme, o "documentário" que o trailer faz parecer, nem existe. Foi algo exclusivamente desenvolvido pro trailer... é simplesmente genial

      Tico e Teco é muito bom.

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  2. Parece legal, deu vontade de assistir

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    1. Assista, e aliás fico feliz por sua reação, eu espero que goste do filme!

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  3. Senti uma leve crítica à própria Disney que precisa fazer remakes de seus próprios filmes para que eles não caíam no esquecimento. Assim como Teco, que para não se sentir esquecido, modificou-se em 3D.

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    1. De certa forma uma lâmina de dois gumes, pois a necessidade da atualização é grandíssima conforme o mundo evolui, mas a repetição de fórmulas maquiadas é algo costumeiro principalmente na Disney.

      Engraçado observar que poucos são os personagens Disney satirizados na obra, um deles sendo retratado como vilão (com uma piada baseada no fato dele antes ser herói, e apenas "envelheceu mal") e os demais como personagens esquecidos de fato. Até aqueles que tiveram algum sucesso posterior a era da modernização, surgem fora da mídia por assim dizer.

      Soa mesmo como uma crítica escancarada a eles e o modelo já marcado pela indiferença de suas "novidades".

      See yah Sammy.

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    2. Gostei de como você analisou os dois personagens.
      Tico não mudou "fisicamente", mas mudou psicologicamente, seguiu em frente em uma carreira que nada tinha a ver com o seu passado, enquanto Teco mudou fisicamente para se adequar ao novo mundo, mas por dentro, ainda era o mesmo ingênuo e abobado do passado.

      Gostei do filme, mas não quero que haja sequências. Está bom como está.

      Ah, e sobre o Sonic Feio (ou Crackudo como ficou conhecido por aqui), foi uma boa jogada. No fim, meio que senti pena dele, pq o Sonic Feio não conseguia emplacar nenhum sucesso e foi substituído por um ator mais jovem e mais bonito. Quando eu vi uma pilha de CD's dele encalhada no canto da mesa, eu meio que fiquei triste por ele.

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    3. A internet toda ta sofrendo pelo crackudo kkk.

      Primeira vez que testemunhei um personagem rejeitado tendo uma redenção sem a necessidade do apelo do público. Sinto que a justiça foi feita mas...

      Algo nunca me cheirou bem na polêmica do Sonic. O trailer tava perfeitinho de mais e evidentemente escroto, parecia proposital, pra provocar e ganhar mídia gratuita através justamente de memes. Era a publicidade grátis perfeita! Tanto que o novo modelo do Sonic (o ator mais novo, isso foi uma sacada muito épica no filme do Tico e Teco) não demorou pra ser incluído e substituir o anterior. Quase como se já tivessem preparado ele pra isso...

      Claro que considerando que a empresa Fechou depois dos esforços pra corrigir tudo, dá pra entender que foi tudo real mesmo.

      Aí vem os caras e, fazem a gente sofrer pela escolha que fizemos! Sonic ganhou um segundo filme, bom pra variar, enquanto o Sonic Feio ta falido e sem sucesso... pelo menos estava. Agora ele voltou!

      Mas espero também que não haja continuação. O brilhantismo desse filme já está à sombra de outro mais antigo, uma sequência além de estar fora de época (se seguir o modelo, deveria vir daqui a 20 anos, quando estivessem inspirados com as novas tecnologias). Se algo for lançado agora duvido que terá inspiração o bastante, ou que não cairá no clichê de explorar coisas da moda pra atingir o público jovem, e esbanjar coisas antigas pra ser nostalgico, mas sem ter de fato algo a contar.

      Este fez algo difícil nos tempos atuais: Foi criativo.

      E srta Sammy, valeu! Não escrevi tanto pra não dar spoiler, mas tem tanto nesse filme, tantas camadas e sub-camadas, que não da pra sair dele sem admirar alguma coisinha.

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  4. Eu estava gostando do filme... até chegar na parte que eles fizeram aquela infâmia com o personagem do Peter Pan, pois a história de fundo é exatamente igual ao de Bobby Driscoll.

    Para quem não sabe, o ator que serviu para a rotoscopia e dublador original do Peter Pan, Bobby Driscoll, foi praticamente chutado pela Disney quando teve um ataque severo de acne quando tinha apenas 16 anos (e tem até uma fala similar a essa no filme).

    Antes, quando ainda era criança, ele já havia trabalhado para a empresa, nos filmes Canção do Sul (este a Disney quer fingir que nunca existiu), e a Ilha do Tesouro. Praticamente, ele era explorado sem saber.

    Depois disso, Bobby não conseguiu emprego em mais lugar nenhum por causa de sua aparência, e sua carreira acabou e ele se afundou nas drogas e no álcool. Morreu sozinho e doente em um apartamento abandonado. Foi enterrado como indigente, pois não tinha documentos na ocasião que pudesse o identificar.

    Seja como for, sendo uma referência feita pelo filme ou não, a forma como abordaram isso (colocando você-sabe-quem como vilão, sendo que ele era apenas uma vítima do sistema), foi muito desconfortante e até mesmo suja.

    É um bom filme. Mas não deveriam ter feito isso.

    E o pior, é que poucos conhecem essa trágica história, causada pela própria Disney.

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    1. Isso foi cruel. Mas, se considerar as semelhanças da história, apesar de terem transformado Peter em vilão, ver que o estúdio reconhece essa história e observar essa auto-patada que eles deram (ou no mínimo permitiram, talvez sem notar), consigo ver ainda mais mérito na obra.

      É que, ela deu um ataque direto ao próprio estúdio. Se parar pra pensar foi algo bem arriscado, e por não ter citações de nomes e referências... eu não vejo como uma crítica ou ofensa, nem indireta, ao Bobby... mas sim à Hollywood.

      To falando, o filme é bem mais polêmico do que se deixou parecer.

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