O Filme Achado de Hoje: Host/Cuidado com Quem Chama

Cara, quanto tempo passa desde meu último found footage. Com essa pandemia parece que tudo simplesmente parou, e tipo, até os filmes de baixo orçamento que poderiam inclusive tirar proveito dessa condição mundial, apenas, sumiram.

Claro que isso não duraria muito, e finalmente, nos trouxeram algo que é ambientado nos tempos atuais, com os problemas atuais, e carrega pesado naquele terror que tanto amamos!

Host

Eu até recomendo que veja, mas sinceramente, esse filme é risório.

Spoilers a seguir... não teria como não fazê-lo.

"Host" é um filme lançado em 2020, que se passa justamente no nosso atual cenário pandêmico. Ele também recorre as tecnologias de comunicação atuais para enfeitar seu terror, e dar corda pra que a trama prossiga.

O enredo é simples: Várias pessoas estão numa vídeo-conferência, se preparando pra fazer uma tremenda de uma estupidez (contratam uma medium pra invocar espíritos via web) e ai, a estupidez rola, com todos eles sendo massacrados um a um na frente de suas WebCams. 

Se ao ouvir isso você percebeu alguma semelhança com outra obra, não é por menos, Host bebe da mesma fonte de "Cybernatural/Unfriended/Amizade Desfeita", tanto o primeiro quanto o segundo, e não paro por ai não, tem "E-Demon", "Buscando...", e até canais no youtube, que usam a mesma fórmula. Aliás, até o Tik Tok vem fazendo isso.

Afinal, por que não? Ela funciona bem, e se identifica bem com o publico. Pessoas procurando se assustar na frente das câmeras, temem mais do que tudo, virarem parte daquilo que assistem. Então, essa ideia de por jovens (imbecis) gravando a si mesmos, e conversando com suas testemunhas, enquanto passam por eventos perturbadores, é algo interessante sim.

O problema é que "Host" avacalha a ideia, que deveria ser realista, ou buscar um contato mais verossímil e aterrorizante para o espectador, e transforma em algo escrachado e até engraçado de se assistir.

"Amizade Desfeita" e "E-Demon" cometeram erros também, erros próprios que citei em seus respectivos artigos, mas nada como "Host".

Primeiro, o abuso de efeitos visuais e até sonoros já entrega ao que o filme feio: Sustos fáceis.

Você nota através de uma pequena e leve interferência no áudio, que algo vai acontecer, e no meio da balbúrdia, é fácil perceber os sons editados e "Bams" aplicados pra intensificar o susto. Algo que já ridiculariza a obra no sentido de terror... mas... tem coisa pior.

Apesar do enredo se sair bem ao se consolidar e justificar, ele desperdiça esse acerto e simplesmente debocha, involuntariamente, de uma situação que por si só é bem assustadora.

Explicando: O filme se passa em meio a essa pandemia, e se justifica pelo fato das pessoas não poderem sair e contarem com seus notebocks, PCs e celulares para ter um contato uns com os outros, visto que o contato físico é perigoso.

Só ai, o filme já tem até uma baita vantagem em relação aos outros que citei, pois ele consegue atualmente, se identificar com um público muito maior. Na época dos outros filmes de "webcam", a ideia de conversar por vídeo-conferências e não pessoalmente, não era tão comum, e até meio boba. Tem gente que faz isso? Claro! Muitas pessoas, e existem vários aplicativos que permitem esse tipo de comunicação, mas ainda assim, não parecia tão real, ainda mais com a coincidência de capturarem eventos paranormais quando, nem buscavam por isso!

Mas em Host, faz sentido. Eles estão buscando, e eles estão abusando de um recurso pra lá de comum. Logo, além de ser uma ideia bem pensada, e proveitosa, eles iriam atingir um público enorme, só precisavam ter uma boa execução.

Algo que não ocorre, lamentavelmente.

O filme começa já mostrando eventos paranormais, antes de tudo iniciar de fato. E a cada novo evento, tudo se torna cada vez mais e mais escancarado e não assusta, nem um pouco.

São tantas coisas socadas na tela, sem uma progressão, sem uma sutileza, que quando a parte "tensa" começa a rolar, parece apenas mais do mesmo. Você já não se surpreende com objetos voando pelo cenário, se na terceira cena sobrenatural que ocorre, você já vê uma pessoa sendo arrastada junto com a cadeira!

Não demora nada pra coisas bizarras rolarem, e rolarem em peso! E isso até poderia ser algo bom, se fizesse sentido.

Os personagens estragam tudo, com reações estupidas e nada verdadeiras. Essa é a parte em que eu senti que o filme tinha se perdido totalmente.

Primeiro, com tudo o que começa a acontecer, eles simplesmente continuam a fazer bobagens, e quando tudo começa a ficar irreversivelmente trágico, com gente sendo ferida, eles continuam fazendo bobagens!

Tipo, imagine a seguinte situação:

Você ta conversando com seus amigos no celular, via chat com vídeo mesmo, e ai, percebe que atrás de um deles, tem um cara com uma faca. Esse cara vai la e mata ele, na frente de todos vocês, e logo em seguida, aparece um cara com uma faca atrás de outro amigo. Ele faz o mesmo! Daí, aparece um atrás de mais um... sério, o que você faria? Esperaria sua vez na fila, ou desligaria o celular, e sairia de casa pra procurar ajuda?

Pois é, qualquer um reagiria de um jeito que preservasse ou tentasse preservar a própria vida. Em Host, os personagens assistem a morte de um amigo e simplesmente, gritam de medo mas não saem da frente do computador, e permanecem se gravando.

Tem uma hora que uma delas testemunha alguém assustador dentro da própria casa, e ela simplesmente PERMANECE LA E FICA CHORAMINGANDO DE MEDO!

E o pior, todos também fazem o mesmo! Chega a ser irritante.

Mas o que deixa tudo ainda mais ridículo, é o fato de usarem a pandemia como motivo pros personagens preferirem ficar em suas casas, com DEMÔNIOS ASSASSINOS, do que saírem pra rua gritando por socorro.

Uma delas até faz isso (sair de casa ta, não pedir por socorro) mas só depois, e sim, isso acontece mesmo, de procurar sua máscara.

Cara, 3 pessoas já estavam mortas, ela não tinha dúvidas que eles tavam em total perigo, e ainda assim, priorizou as normas de segurança para o Covid-19, do que qualquer outra coisa.

Uma pessoa normal, não procuraria máscara, por mais que isso fosse praticamente obrigação! Uma pessoa normal nem procuraria roupas! Se tem um capeta matando seus amigos, e você é o próximo, só corre. Qualquer um só correria!

Mas o filme tenta passar a ideia de que isso seria uma reação natural, assim como cumprimentar um de seus amigos, que você achou que tinha morrido mas ta la, vivaço, com um toque de cotovelos.

Eu ri, e ri alto, quando as personagens se olham e cumprimentam com os cotovelos, com todos os demais do grupo MORTOS e um monstro INVISÍVEL perseguindo-as.

Ai param pra tirar fotos do vazio, ao invés de correr por suas vidas, em busca de mais registros e provas de que tem algo acontecendo, sendo que elas já sabem que tem algo acontecendo.

O final é triste. Essas duas sobreviventes simplesmente caminham na direção da morte, tirando suas fotos (com uma câmera antiga pelo que parece, nem sei pra que pois, elas tinham celulares) ao mesmo tempo que o código de ativação do programa que usam pra gravar, ta em contagem regressiva pra expirar.

O capeta aparece no mesmo instante que o programa se desliga, e fim, terminamos com um jumpscary de um bicho feio e a incerteza se elas morreram... mas quer saber de uma coisa? Morreram, geral morreu.

O bicho, invisível, tinha força pra levantar pessoas, podia levitar, podia enforcar gente com a mente, podia arremessar objetos, e ainda era bem cruel, tacando fogo em gente ainda viva. Agora, imagina o que ele faria visível!?

Nem faz sentido também ele ficar visível e invisível, apesar do filme vender a ideia de que nem era só um monstro, mas sim vários.

Tecnicamente, os jovens estariam tentando invocar espíritos por curiosidade, mas uma delas zoa e brinca, inventando um amigo que se matou na escola, enforcado. Isso abre as portas do Reino Espiritual, enviando um convite pra qualquer ser astral, incluindo demônios.

Então, como tinham cerca de 7 pessoas invocando, cada uma em sua casa, cada uma delas invocou um demônio diferente pra si. Por isso, geral já tava lascado desde o início.

Engraçado que em uma parte um cara, ou melhor, o cara, pois só tem ele de homem no filme (o que por si só também ferra com o realismo, visto que 5 mulheres jovens dificilmente fariam uma vídeo-conferencia com uma cara, casado, com a esposa por perto, e algumas delas com ciúmes, por mais que isso fosse aquela amizade de longa data, visto que, é desconfortante e incômodo pra caramba!), enfim, ele sai da chamada, por causa de sua esposa é claro, e volta quando a merda caiu num ventilador industrial, e simplesmente ta de boa!

Nada ocorre com ele até aquele momento, mas só de conectar, TUDO OCORRE COM ELE. Do nada, 2 capetas diferentes surgem, sua esposa é enforcada psiquicamente e jogada numa piscina, tudo em sua casa começa a voar, e pra variar, ele entra em combustão espontânea. 

Tipo, vai acumulado pra ele saca? Ele não participou da progressão do terror, e chega já sofrendo o ápice... e legal que ainda assim a pessoa que assiste isso tudo fica debaixo do cobertor chorando e sem acreditar... ai quando rola algo na casa dela, ELA VAI VERIFICAR! Pessoas normais pulariam a janela na hora... se bem que ela pula depois, mas o bicho da um empurrãozinho.

A ideia de invocações e atividades paranormais é a de que, os espíritos malignos precisam fragilizar as mentes das pessoas, para terem mais energia com a qual trabalhar, e assim, causar cada vez mais danos físicos. Ou seja, pra eles terem energia pra conseguir mover um objeto, ou quem sabe até ferir uma pessoa, eles precisam ir fazendo seus sustinhos, perturbando, se alimentando do medo.

Em Host os bichos já vem no nível máximo, jogando tudo e causando alvoroço, se bobear até explodindo tudo (Um deles tenta! Ele liga o forno da mulher e tenta explodir a casa dela, meu!).

Bem, deu pra ver que não é um filme bom, na verdade ta longe de ser realista, ou de dar medo. Porém, existiram alguns momentos que se tivessem trabalhado mais, poderiam render um sucesso avassalador.

São várias pessoas conversando, então cada uma delas mostra algo. Da pra perceber as vezes, que coisas aparecem em uma câmera e eles não percebem. Tipo, a moça com o marido pendurado no teto. Ela passa do lado dele, e não nota, mas da pra perceber pela câmera.

Ninguém mais nota isso, só o espectador, então ninguém comenta, ou se assusta. Essa falta de noção e percepção dos personagens ao que os cerca, deixa um ar mais tenso. Quem ta assistindo se torna meio que parte da história também, caçando aparições nas imagens, coisas que nem mesmo quem ta vivendo notou.

Isso ocorre muito em vídeos das redes sociais, onde as vezes uma pessoa ta fazendo algo nada a ver com terror, mas no fundo surge algo assustador que ela só nota, quando alguém comenta "Ei, aquilo ali, o que é aquilo ali?".

Tipo a cena que o aplicativo de filtro captura algo que não estava ali e identifica como uma pessoa. Mano, tem casos reais disso na internet, e não deixam de ser menos assustadores por não terminarem de forma "mortal". Aliás, tem um caso de um cara que usava um aplicativo no TikTok que distorcia formas de pessoas, com luz, e isso capturou algo na poltrona que a vó dele usava quando ainda tava viva. A coisa identificada não deveria ser capturada, pois o app só pegava coisas vivas, e quando ele vira a poltrona da frente da parede, a coisa parece se libertar, pois para de ser capturada. MEU! Fake ou não, isso é horripilante! E ainda tem vários casos assim (isso parece bem realista, mas depois ele força um vídeo com a silhueta da avó aparecendo, e fica bem falso).

Aliás, se quiser ver esse caso, tem vários assim ocasionados pelo TikTok e aplicativos de celular, tem também capturas de câmeras de segurança e coisas do tipo, eu acompanho um canal no YouTube chamado Nuke' Top 5, que costuma compilar vídeos assim, sem fazer diferença se são reais ou falsos, apenas junta tudo e mostra. É bem legal (é em inglês).

Isso traria "Host" pro lado real, pro mundo real, e faria ele ser perfeito. Se tirassem os sustos escancarados, se parassem de forçar as mortes (poderia até ter, assim como o possível desfecho mortal da moça que começou a invocação, mas simplesmente deixou a conferência por interferência), e focassem mais nos pequenos detalhes, ao ponto de nos fazerem assistir várias vezes a mesma cena, isso sim seria bem sucedido.

Nesse tipo de terror, menos é mais. Poderia até ser só uma vídeo conferência de pessoas invocando coisas, que terminasse com todas elas bem, se pá até sem terem testemunhado nada sobrenatural, mas tipo, uma ou outra desconectada sem mostrar o que aconteceu de fato, e dezenas e mais dezenas de pistas sobrenaturais em cada parte do filme. Isso renderia algo surpreendente.

Pois é, os caras tinham a faca e o queijo na mão, e tentaram fazer lasanha.

No final aliás, eles fazem uma brincadeira com os créditos, onde todos os envolvidos são creditados como pessoas na lista de contatos de quem tava gravando. Aparentemente, quem gravava tudo era a primeira pessoa que ligou a conferência, mas ela já morre no final então, tanto faz.

O engraçado é que isso até seria um final perfeito sabe, eles tirariam totalmente a imersão mostrando que tudo era falso, mas claro, eles eram parte da trama também. Era legal... mas acabam com isso também, pois em seguida incluem os créditos da forma convencional.

Pra que fazer essa "brincadeira?"

Caso queira assistir, ele foi disponibilizado num desses provedores de streaming alternativos, mais um que eu desconhecia chamado "Shudder", e é original dele, que é focado em filmes de terror pelo que notei... infelizmente ele não está disponível no Brasil, mas da pra assistir em alguns sites de filmes gratuitos, só pesquisar.

E, é isso.

Queria ver um filme no nível de "Buscando...", que tivesse um drama legal, ou um terror legal, e não forçasse desfechos mirabolantes e trágicos só pelo sensacionalismo. 

Obs.: O filme saiu no Brasil pela Netflix como "Cuidado com quem chama". Nome péssimo.

See yah.

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