Série: IT - Bem-vindos a Derry

 IT - Bem-vindos a Derry


Depois de uma longa espera, finalmente o spin-off dos filmes "IT - A Coisa" chegou, contando uma história no passado, bem mais no passado do que os filmes já contavam. A série que adapta alguns detalhes do livro de Stephen King que não chegaram às telonas, tem tudo pra se sair bem, mas ainda falha em alguns detalhes.

Sem querer ser chato, porém já sendo, acredita que não curti o primeiro episódio? Ele é pesado, pra quem tem sensibilidade ele vai com toda certeza apavorar até seus ossos, mas os erros lógicos simplesmente arruinaram a experiência pra mim.

Não é ruim, na verdade com relação ao terror que vem surgindo em séries ultimamente, até que se saiu muito bem, mas está longe de ser tão bom quanto os filmes, se é que essa comparação pode ser feita.

Enfim, bora falar tudo o que achei, comentar sobre os episódios, e como a série será lançada semanalmente, atualizarei este post com o tempo.

Bora lá! Boa leitura e prepara, terão spoilers (mas aviso quando começar).


O Começo


It - A Coisa fez sucesso, tanto sucesso que já teve uma série clássica de 1990 (It - Uma Obra Prima do Medo), um filme (que é a própria série ajustada) e mais dois filmes que recontaram a mesma história em 2017 e 2019, dividida em Parte 1 e Parte 2, e isso deu vida ao palhaço mais assustador dos cinemas modernos, O Pennywize de Bill Skarsgard.

Considerando que o livro não tem continuação (diretamente, afinal todo o universo de Stephen King é conectado e ele tem livro pra caceta), era de se esperar que iriam dar um jeito de aproveitar mais desse ícone do terror que o palhacinho vesgo virou... e eu temi que fizessem o mesmo com o caso da Freira, ou da Anabelle, ou até mesmo da Megan (meu deus o que fizeram com a Megan!).


Quando surge um design acertado, os executivos ficam ouriçados e investem tudo pra que isso dê mais lucro, mas não daria pra escrever um novo livro, pedir pro Stephen ou quem sabe o filho dele escrever histórias novas pro palhaço, ou apenas dar um jeito de esticar suas aparições, então qual foi a decisão genial que tiveram? Criar um spin-off.

Arriscado, ainda mais sem uma base original pra sustentar a ideia, só que eles decidiram usar as partes vagas das adaptações do livro, pra assim esticar mais a história do palhaço.

No livro a história é sobre crianças de Derry que lutam contra o palhaço em duas linhas do tempo, uma enquanto são jovens, e outra quando já se tornam adultos e voltam pra finalizar o palhaço. Isso foi contado devidamente porém, o livro também fala de pessoas que viveram antes deles, em outros períodos que o palhaço esteve ativo na cidade. A cada 27 anos ele acorda pra comer um cadinho de pessoas assustadas.


Pronto, a fórmula seria pegar as partes onde o autor cita o palhaço nas décadas anteriores (pelo The Derry Interludes), durante as pesquisas dos jovens sobre o mal da cidade, e desenvolver isso em uma série com história completas. E há conteúdo pra explorar nesse meio tempo viu, afinal A Coisa já está desperta no livro desde 1740, acordando sempre em seu ciclo e criando o caos na cidade.

Aliás, há um equívoco sobre o palhaço ter despertado em 1715, mas isso foi uma má interpretação de fãs. Na verdade a única data inicial de Pennywise citada no livro de 1986. A primeira aparição dele noticiada foi a do Massacre de Derry Town em 1740, mas como o autor disse que o palhaço já existia a milhares de anos na Terra, algumas fanbases calcularam 1715 como um ponto de partida (não oficial).

Enfim, contar uma história por episódio não renderia palco suficiente pro palhaço então, optaram por esticar demasiadamente uma única história de cada um dos ciclos, e se tudo der certo com a primeira, reservam-se ao direito de criar umas 7 temporadas seguindo esse modelo.

E pra começar, desenvolvem a história do Bar Queimado (Black Spot), algo que foi rapidamente mencionado no filme de 2017, mas nunca nem fez sentido (pra quem não conhecia a história nos livros). Foi quando um grupo de racistas incendiou um bar de negros, causando mortes pra caramba e alimentando bastante o palhaço. O Mike tem isso como medo pelas histórias sobre o incidente, e no filme fazem uma cena dele olhando pra onde o bar ficava, e vendo o incêndio. Só que o próprio filme não consegue desenvolver essa ideia (sendo algo que só fica claro no livro).


Esse evento ocorreu nos livros no ano de 1930, mas como a série se passa no mesmo universo do filme, a data foi ajustada para 1962, já que a história principal se passa em 1988/2016 ao invés de 1957/1985 como nos livros.

Diferença pouca essa né? são 32 anos de sociedade e tecnologia e é um salto enorme que, talvez seria difícil adaptar, mas os caras são malabaristas da narrativa. e deram um jeito. 

De fato na década de 30 a segregação era bem mais pesada que na de 60, mas ainda era possível contar uma história parecida com ênfase no evento do Bar queimado, mas só isso não seria o suficiente pra uma série.


Então aqui nascem os personagens infantis carismáticos e descartáveis, para assim ter muita sanguinolência e violência pro palhaço do terror brilhar, mesmo que nada disso faça sentido lógico.


Dublagem com Problemas


A série tem acertos e falhas mas, a dublagem conseguiu arrancar alguns pontos dela. A falta de esforço em dublar uma música, prejudicou uma boa parte do impacto de um determinado evento, e ainda por cima criou uma baita estranheza. 

Eu entendi o que rolou, mas imagino pessoas que não estão acostumadas vendo uma música em inglês, ser cantarolada em português, e com base nisso sendo interpretada por crianças assustadas levando elas ao lugar exato de onde a música saiu.


Junta isso com o fato da série começar com essa música cantada em inglês, sendo que ela é um dos alicerces pro terror do próprio episódio! E na hora em que ela é cantada por uma das crianças num cano, ela é dublada (o que apenas quebra a conexão).

Geralmente nem falo dessas coisas, mas cara, isso incomodou pacas, e olha que normalmente prefiro assistir tudo em inglês mesmo só com legendas.


Primeiro Episódio: 
Erros de Série
Spoiler


Tudo começa com um garoto de uns 14 anos que ainda chupa chupeta, indo pra um cinema clandestinamente, e fugindo de casa. Ele é o café da manhã do palhaço, que se personifica como uma família feliz num carro pra dar carona.


Depois disso, tudo gira em torno de 2 núcleos principais, onde em um temos o grupo de crianças que se une pra investigar o desaparecimento do amigo chupador de chupeta (que não é amigo), paralelo a pesadelos lúcidos que vem tendo. São eles: O Judeu, A Garota que deu o Fora, o Coadjuvante 1, a Coadjuvante 2, e a Garota Negra.


Do outro lado da cidade, temos os militares aviadores que guardam um segredo, enquanto desenvolvem uma nova aeronave, tudo isso pra mostrar o personagem major negro, que virá a sofrer racismo.


No grupo das crianças também há uma menina negra, que é filha do dono de um cinema, e com isso se converte em parte do grupo oferecendo recursos para a investigação.


Independente de sabermos onde tudo irá terminar, a introdução de um elenco provisório fingindo protagonismo acaba por desperdiçar muito tempo de tela. O elenco tá forçado, alguns personagens insistem em puxar o holofote pra criar um pouco de conexão, e preparar pro choque da perda, mas são mal desenvolvidos, e não passam de coadjuvantes empurrados goela abaixo do espectador. 


Conversa de mais pra desenvolvimento de menos, a sensação que dá é que nos enrolam pra culminar com efeitos práticos ou digitais de pura bizarrice e matança, alimentando assim o terror visual.

Só que muito desse terror é apenas idiota se pararmos pra pensar um pouquinho. O primeiro grande evento é o da família no carro, onde há do nada um parto bizarro, e prefiro não entrar em detalhes pois chegaram a fazer uma vagina de efeito prático pra simular o parto em si, e tudo isso para incomodar e aterrorizar o espectador, e não a vítima.


Fico imaginando como o palhaço achou que o garoto entenderia o que estava acontecendo no carro, estando ele no banco de trás, atrás da mulher que ele nem sabia que tava grávida. Muitos dos eventos mais bizarros inclusive ocorrem quando o garoto está de olhos fechados, e a própria série percebe isso em dado momento, usando essa brecha pra "finalizar" a cena, mostrando que o palhaço não precisa nem tentar se não olharem.


Mas ainda me senti muito incomodado pelo fato da cena inteira não funcionar se nos colocarmos no lugar da vítima. Se nos imaginarmos como o garotinho no banco de trás do carro, automaticamente percebemos o quanto a cena apenas não dá certo.


São medos direcionados ao público, e isso está longe de ser o método do Pennywise. Ele costuma usar pavores das vítimas contra elas, e o que projetaram aqui foi pura gratuidade atoa de jumpscare e bizarrice.


Exatamente como a segunda cena bizarra do episódio, onde o bebê voador aparece saindo de um projetor de cinema. Qual a lógica do bebê atacar as crianças se elas nem sabiam o que ele era? Qual a razão do palhaço projetar uma entidade assim e matar a sangue frio suas vítimas se elas não temiam aquilo necessariamente?


Se é só pra criar monstros e sair matando crianças, então imagino que a série errou feio em apostar tudo num bebê voador. Antes colocasse logo o palhaço que tanto querem aproveitar e sustentem ele de uma vez nisso, ao invés de desperdiçar um episódio inteiro com efeitos ruins.


Mas o pior nem foi isso, mas sim o grupo de soldados mascarados que atacaram o Major pra coletar informações ao estilo espionagem. Um momento tenso, que muda o tom da série pro modelo de espião, e cria aquela dúvida: Seria o palhaço agindo, ou seriam os militares testando a lealdade do Major?


É um evento que sobra, e destoa muito de tudo que a série tenta construir até aquele ponto, e isso me preocupa.


Se a ideia é trabalhar essa base militar secreta paralelo aos ataques do palhaço pela cidade, isso começa a parecer um "Stranger Things" alternativo da HBO, não começa?


Crianças enfrentando anomalias assassinas, enquanto adultos investigam o lado sobrenatural com ciência. Uma fórmula funcional mas já batida de mais. 

E voltando às bizarrices, há o abajur de pele de judeu, e a música cantarolada no ralo da banheira, ambas as cenas encaixadas forçadamente.


O garoto judeu escuta uma história do pai sobre o holocausto e como isso era um terror no mundo real, e do nada ele começa a ver um abajur com rostos de pessoas? 


A garota vai tomar banho e tem um flashback do dia que deu um fora no menino que morreu, e então começa a escutar ele cantando uma música de um filme que ela nunca viu, enquanto ele enfia os dedos pelo ralo do banheiro, e ela acha isso normal?


Ver eles perguntando e comentando com os outros sobre isso, tratando tudo com normalidade e sem emoção ou preocupação com consequências, ajuda a distanciar o espectador do medo.


Cenas como um garoto vomitando horrores por causa de um abajur que ele viu no dia anterior, é exagerado, e se torna cômico.


Da mesma forma ver as garotas conversando sobre um menino morto e a cena ser interrompida por uma delas peidando, faz parecer uma comédia.


E sinceramente, precisava mesmo dessas coisas? O massacre final e o corte seco no grito da garota após as consequências da investigação sem pé nem cabeça que iniciaram, foi legal, mas também foi satisfatório pois colocou um fim apressado a algo que já começou correndo.


Bem, o primeiro episódio foi isso... e dele consegui tirar isso. 

Mas, será que a série tem fôlego pra sobreviver até o último? Eu já tô com dúvidas.

Se você gosta de ver violência gratuita sem se preocupar com narrativa, eis mais um produto a nível "Terrifier" que pode te agradar.


Lamento pois o terror de It nunca foi sobre o susto em si, mas sobre o medo enraizado e personalizado de cada personagem, partindo muito mais pro psicológico do que físico.

Agora, se gosta de It - A Coisa, cuidado pra não se decepcionar. Mas, talvez eu esteja sendo chato demais... Lembrando que gosto é individual né.

Aliás, enfiar "Tartaruga" em toda parte do episódio não soa muito natural pra mim, e se é o jeito que os desenvolvedores encontraram pra mencionar o grande rival da entidade Pennywise, soou forçado pra mim viu. Tem o pingente da garota que ganhou de presente e "dá sorte", tem o mascote da escola que é ignorado e menosprezado por todos enquanto divulga a peça que é justamente sobre tartarugas... tipo... sério?


Quando saírem os próximos episódios, atualizo aqui.

See soon

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2 Comentários

  1. Tá, eu sou fã do livro, dos filmes e da serie antiga, e gostei do primeiro episódio da série. Gosto da direção do Andy, e gosto da interpretação ele deu a todas essas questões abordadas na história em geral. Não me incomoda as alterações referente ao tempo em que se passa tudo. Para quem leu o livro, da para entender bem as modificações e para quem não leu, não interfere. Acho que sim, você está sendo chato com a série e com os filmes também, mas gosto é individual como você disse. Pelo o que entendi, a ideia da série é abordar gradualmente em cada temporada um pouco mais da origem e do terror da entidade e como ele se alimenta do medo. Não achei que a série falhou em mostrar isso, até por que, o formato da série tem que ser diferente do formato de um longa. Gostei da forma gradual que estão conectando a família Hanlon a entidade já que no livro é através deles que sabemos mais sobre a entidade, e isso para mim auxilia a entender a história sem ter que ler. Essa comparação de stranger things com it é muito chata, até por que claramente tem semelhanças e não tem como fugir disso, é a base das duas histórias. Minha única preocupação na série, é o cgi, por que gosto de efeitos práticos que funcionaram muito bem nos filmes. MAS EU TAMBÉM GOSTO DE PASSAR PANO PARA AS OBRAS DO IT, é o meu livro favorito de terror e eu gosto justiça ideia de ter mais a contar sobre e de ver mais do universo. E para entender bem sobre a questão do universo do Stephen, tem que fazer mais do que só pesquisar e assistir algumas poucas pistas, são muitos livros, cada um deles conta um pouco sobre e de forma diferente, com múltiplas interpretações. Se incomodar por que fazem menção a bendita da tartaruga no primeiro episódio de uma série é chatisse também

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    1. Pior que venho sentindo que estou meio intolerante com terror, talvez tantas decepções contínuas acabou me deixando meio... rabugento?

      Obrigado por me dá esse toque inclusive, preciso tentar me policiar quanto ao que opinar, pra não ser agressivo ou impaciente demais. E serei justo, a série não me desagradou, apenas tô numa fase onde procurar pelo em ovo virou hábito rs.

      Pelo menos concordamos sobre CGI, negócio ali ta ruizinho mas, ainda assim não condena a obra não.

      Bem, eu particularmente não sou fã do Stephen no cinema, meio que consumo somente as adaptações do trabalho dele e 60% não me desce. Por isso sempre que assisto algo derivado ou inspirado por ele, fico receoso e chatinho, mais do que já sou normalmente, por isso peço mesmo desculpas.

      Sobre a Tartaruga, realmente to muito no pé, mas achei aquilo forçado... meio que pra quem não sabe sobre a tartaruga fica só como um mascote aleatório ou referência vaga, mas pra quem sabe não parece mesmo natural... como posso tentar me explicar... imagine que num livro o autor descreve a origem do universo como sendo a partir do Big Bang, então surge um monstro psicopata e a história é sobre esse monstro, daí no meio da série sobre tal livro, colocam o Sheldon Cooper ao fundo acenando... isso num fez sentido nenhum né? Tentei botar meus pensamentos pra fora e só saiu pior do que pensei kkkkk.

      Em todo caso, desculpe? Vou fazer de tudo pra recuperar minha visão... apesar de temer ter perdido a sensibilidade pelo tanto de tranqueira que já consumi. Isso também acontece né?!

      O curioso é que agora começo a me sentir mais tranquilo afinal, o problema está na minha percepção e não no conteúdo!!! Rs.

      Obrigado por comentar, isso me tirou mó peso da consciência e me animou pra mais.

      See soon!!!

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Obrigado demais por comentar, isso me estimula a continuar.

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