The Last of Us
Parte 2 - Episódio 1
A adaptação dos jogos sobre zumbis fúngicos voltou em 2025, um tanto quanto apressada talvez, com um diferencial de apenas 2 anos em relação a primeira temporada, e graças a esse detalhe conseguiu entrar numa polêmica bastante desnecessária, até mais que as polêmicas já pré-existentes na obra que adapta.
É que o jogo em questão é bem amado em sua primeira parte, mas costuma causar revolta na segunda por conta de certas decisões no roteiro, e pra muitos é um jogo relativamente mais pesado e desnecessariamente cruel que o primeiro... e mesmo assim adapta-lo não foi um problema ao ponto de destacarem outro problema: A idade da protagonista.
Mas, apesar de ser uma decisão ousada, a série não deixou a desejar em qualidade, e a essência do jogo está presente, inclusive até melhorada justamente por tais fatores.
Enfim, bora falar um pouco a respeito e desculpe se houver spoilers.
Boa leitura.
Bella Ramsey como Ellie
Gostaria muito de falar da série sem precisar comentar a respeito do elenco, mas é impossível não falar sobre a Ellie. É que, Bella Ramsey foi selecionada pro papel por sua aparência se encaixar bem na de uma garota de 14 anos, apesar dela ter seus 20 anos na época (2023), e é algo muito comum afinal Hollywood costuma nos enganar bem com atores mirins falsos, para facilitar a produção (há muitas leis contra trabalho infantil e é mais complicado lidar com crianças reais no cinema).
Só que o problema chega ao mostrá-la atuando como uma personagem de 19 anos, ainda com sua aparência de 14, tendo ela 22. Confuso né? E na verdade não deveria ser problema algum afinal a atriz de fato é até mais velha que o papel que representa, mas a questão ainda é a aparência e como isso impacta a história.
Além da história seguir a risca várias linhas originais, ela não se relaciona bem com os caminhos que toma em relação a personagem. Ela ser uma adulta de aparência frágil deveria ser melhor explorado em momentos de risco.
Em uma parte um personagem com quase o dobro da altura dela chega e diz para ela não se arriscar, e ela responde "Porque? O que me impede de ir?" e tipo, creio que na obra original essa frase deveria servir para se referir ao fato dela ser uma mulher, e abordaria aquele clássico machismo, só que o próprio espectador já antecipa uma fala que nem existe: "Você é jovem demais pra isso?".
De certa forma, isso transmite uma mensagem intrigante, talvez até mais profunda do que no jogo, já que agora estamos testemunhando uma personagem julgada não apenas por sua sexualidade, mas por sua aparência também, e tudo isso abordando talvez uma realidade da própria atriz, e pessoas que se identificam com ela.
O único problema é isso não fazer parte do texto, e acabar soando ignorado sendo que enriqueceria (e muito) o conteúdo, aprimorando muito o contexto e saindo do comum. Não se vê muitas críticas do tipo, e geralmente elas pesam de mais na caracterização, como no filme "A Órfã" onde falam justamente da aparência enganar por certas fugas do padrão da maturidade biológica, mas exageram nas liberdades criativas e soam falsos além do ponto.
No jogo, Ellie amadurece bastante nesses anos, psicologicamente e fisicamente, se tornando mais grosseira e menos alegre, e com uma aparência mais velha. Como isso não aparece na série, visualmente falando se torna um empecilho, que felizmente é corrigido pela atuação de Bella, e pelos diálogos.
Aqui, temos uma atriz que representa bem o tema da aparência, fazendo um papel de representatividade clara em uma adaptação de uma história que por si só já foi muito questionada. Então, talvez devessem incluir isso no roteiro.
Sobre atuação em si, ela se esforça pra ser mais fria, muito menos agitada que na primeira parte, e até rancorosa eu diria. É exatamente como a Ellie do jogo, alguém que parece guardar mágoa e não se abre mais, nem é mais tão alegre como antes.
A Ordem dos Fatores Não Afeta os Resultados
Pra quem estava acostumado ao copia e cola da primeira temporada, fique feliz pois a fórmula é a mesma na segunda. É a mesma história sem tirar nem por, apenas mudando a ordem dos eventos.
Os detalhes são adaptados, mas nos apresentam em momentos repensados para que tudo fique coeso, e funciona muito bem.
Recentemente joguei a primeira parte do game e notei com clareza todas as cenas adaptadas, que seguem até o mesmo modelo, mas estranhei a ordem em que foram mostradas, mesmo que não afete o contexto, nem prejudique a mensagem.
Um baita spoiler é dado logo nos primeiros minutos, revelando os "Caçadores de Joel", algo que demora mais pra ser apresentado no jogo. Mas isso serve bem para nos conectar a situação atual do Joel com Ellie.
Pedro Pascal como Joel
E essa questão que antes era a abertura da história, aqui foi dissolvida ao longo do episódio. Joel e Ellie não se falam mais desde os eventos no final do "Massacre de Vagalumes", e a carga emocional no jogo é esmagadora, com o controle passando do Joel para Ellie e o tempo inteiro nos sendo reforçado que eles não estão emocionalmente bem um com o outro.
Inclusive destacando mais a culpa do antigo protagonista com relação ao que fez, e a carga de ter salvado Ellie. E no fim das contas, tudo isso é bem transmitido na série.
Ellie distante, Joel tentando tocar a vida, mas a preocupação dele evidente e a situação dramática existente sendo claríssima, e igualmente desconfortante.
Pedro está espetacular (eu sou fã dele) e acaba parecendo mais bem velho (apesar de só ter 50) e transmite bem a sensação de pai preocupado com a filha jovem adulta que o ignora. A gente sente isso, e além disso ainda sentimos a culpa dele só pelo olhar do ator, chega a der pena do velhinho.
Isabela Merced como Dina
Dina, novo par romântico de Ellie que serve para destacar a sexualidade dela (bem mais que na primeira parte), foi uma excelente escolha de elenco.
A atriz Isabela Merced é tão jovial em aparência quanto a Bella, e acaba formando um casal crível, sem contar que ela é pra lá de enérgica. Chega a contrastar com a Ellie sendo mais rude e fechada, o que é justamente sua característica principal no jogo, mas faz até mais, permitindo que ela corrija possíveis falhas do roteiro em não se reconhecer nos temas que mostra.
O homossexualismo é um tema muito forte em Parte 2, e inclusive é a primeira coisa apresentada no jogo. Ellie comenta sobre a festa, que só viria a ser mostrada depois, e já revela que todos sabem, e que é vítima de preconceito. Tal fato já havia sido mostrado antes e nunca foi um problema, mas acaba ganhando muito mais destaque nessa história a princípio.
E mantiveram isso, mostrando justamente o relacionamento de Dina e Ellie com firmeza, e felizmente não causaram estranheza.
Lembrando que estamos vendo atrizes que normalmente seriam usadas para papéis bem mais jovens, mas interpretando suas idades vigentes (ou algo próximo a isso) em situações de conotação puramente sexual. Felizmente a série tem responsabilidade com o que mostra e como mostra, e sabe muito bem contar a história sem desviar ou apelar.
É um romance de jovens adultas muito bem ilustrado, e não pende pro erótico nem nada do tipo. Ele é responsável com o assunto, tem consciência do que está mostrando e adaptando e como isso pode chegar aos olhos do público.
Terror com os Estaladores
Não só de drama e polêmica vive a série, e o terror está presente, em menor quantidade é claro. Sem causar suspense nem sustos, é algo adicionado apenas pra lembrar que tudo se passa num mundo pós apocalíptico com zumbis estaladores.
E, além de cenas soltas de treino de tiro nos monstros, temos uma sequência bem feita que remete a uma nova ameaça: Estaladores Caçadores.
Ellie confronta uma criatura que parece imitar caçadores, e isso a faz muito mais perigosa que os estaladores comuns. Sendo silenciosa ao invés de barulhenta, furtiva ao invés de desengonçada, e rápida ao invés de lerda, a primeira criatura do tipo mostra bem o quanto pode ser letal.
E a outra ameaça, talvez inédita pra série, são os fungos que se expandem, chegando até a cidade por onde menos esperam.
Como a série mudou aspectos da infecção, isso acaba se encaixando muito melhor do que apenas partículas fúngicas se espalhando, e os riscos também são muito maiores. Lembrando que os infectados da série parecem responder em uma mente coletiva, então eles costumam se redirecionar par locais onde seus galhos de fungos ramificados brotam, e já nasce ai uma baita ameaça.
Kaitlyn Dever como Abby
E por fim ainda tem a Abby, meio que vilã do jogo, e ao mesmo tempo uma protagonista de sua própria história, que lidera os "Caçadores de Joel". Ela é jogável inclusive, o que acaba dando uma dupla perspectiva na história.
São também uma ameaça além dos estaladores e as tragédias do mundo, e estão ali bem na cola da cidade na qual os protagonistas se abrigaram.
Conseguem explicar sem precisarem mostrar flashbacks e fica bem claro que as ações de Joel no hospital, quando salvou Ellie, terão consequências.
Talvez a passagem de tempo não tenha sido muito bem trabalhada, já que é de se estranhar tal grupo demorando 4 anos pra conseguir chegar até o alvo, mas em todo caso espero que a série saiba corrigir tais falhas.
A atriz Kaitlyn faz um bom papel de garota vingativa que quer a todo custo torturar velhinhos, e mesmo aparecendo pouco, marca o ponto.
Conclusão
Pra um primeiro episódio não se saiu nada mal, tem um bom ritmo, adaptou bem a história até este ponto, e confesso que não quero mais assistir pois tô com medo do que virá.
Se nos jogo já é tenso, imagina vendo tudo com pessoas reais e que esbanjam simpatia.
Tem tudo pra ser uma segunda temporada épica, tudo só depende do roteiro saber lidar com tudo o que terá de mostrar.
É isso.
Obrigado pela leitura e desculpe qualquer coisa...
A série terá 8 episódios de 1 hora em média cada (geralmente é o padrão), lançados semanalmente então, se necessário atualizarei o artigo com dados que soarem interessantes. Por hora, vou só acompanhar em silêncio.
See yah.
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