Cassandra
Julguei o livro pela capa, e acreditava de verdade que seria só mais uma história genérica de máquinas assassinas porém, é algo bem mais complexo e impressionante que isso. É uma casa assassina!
Essa série alemã de apenas 6 episódios sabe contar uma baita história, repleta de mistérios, terror psicológico, e sem apelar pra nada gráfico. Mesmo sendo simples, ela é riquíssima em detalhes e construída para surpreender com sua reviravolta final, que acredite se quiser, não é nada previsível.
Sem dar spoilers (eu acho... cuidado com as imagens), falarei mais a respeito e...
Boa leitura.
O Robô Caseiro
A série gira em torno de uma casa automatizada, em que uma governanta virtual cuida de tudo, e essa governanta se chama Cassandra. Seguindo aquela ideia de casa do futuro, em que um robô administra tudo, essa é a premissa básica pra qualquer terror inspirado em IAs que saem do controle.
Já existem inclusive histórias sobre casas do tipo, ou robôs que tem controle total sobre o ambiente e por algum desajuste apenas saem do controle e levam terror pra geral (tipo Black Mirror antes de Black Mirror deixar de ser sobre tecnologias).
Mas aqui as coisas vão além disso, concentrando toda a experiência no mistério sobre a existência da Cassandra, e o destino da família que ousou invadir seu território.
O design do robô então é meio risível. É uma robô super simples, com um monitor enorme no lugar da cara, e um rosto feminino projetado em computação gráfica bem ruim e em baixa resolução. Ela usa garras ao invés de mãos, e não tem praticidade alguma. Ainda assim, ela é bem parecida com as máquinas que achavam que iriam dominar o mundo antigamente. Aliás, qualquer semelhança com "Os Jetsons" não é mera coincidência, quase parecendo uma história de terror sobre a robô Rosie.
E isso é proposital, pois a série não trata de tecnologia moderna. A robô é resultado da tecnologia antiga, reativada em tempos modernos, e a grande antiga ideia da "Casa do Futuro" retorna com força pra causar um medinho extra.
Duas Linhas do Tempo
Tudo se passa em dois pontos do tempo contados paralelamente, sendo uma história da família que reside atualmente na casa automatizada, e uma história da família que morava lá antes, então tudo que se espera é uma explicação digna de como ocorreu a troca de moradores certo? Bem, é quase isso que ocorre.
Na verdade tudo serve mais pra explicar a origem do sistema da casa, e como ele é perigoso, não fisicamente mas sim psicologicamente. Eles fazem um excelente trabalho em explorar o quanto uma simples automatização pode afetar vidas inteiras tão rapidamente, sem necessariamente ser brutal.
Fazem questão sim de mostrar possíveis perigos que a máquina pode representar, e os riscos de tal tecnologia mas, não é sobre isso que a série fala, inclusive isso funciona como um desvio de atenção.
A Família do Presente
As ideia é explorar a paranoia da nova família, que já vem com uma baita bagagem emocional e ainda precisa enfrentar essa grande novidade.
A família atual é formada por um pai, que é um escritor famoso de thrillers, e está com certo bloqueio criativo.
Um filho, que é gay, tinha uma banda, e agora precisa se misturar na nova região em que moram.
Uma filha, que ainda é uma simples criança e já tem de lidar com grandes traumas psicológicos.
E uma mãe, que acabou de perder a irmã pro suicídio, e precisa se manter firme enquanto duvida de seu próprio psicológico.
Junta esses 4 e um robô feminino estranho, que é simpático de mais, e tem completa autonomia e controle sobre a casa em que vivem, e está feita a família perfeita pra tragédia.
A questão é que a mãe logo percebe que a máquina não é uma boa ideia, mas devido ao que já passou, e ao histórico da irmã (que se matou justamente por ser psicótica), ela sem querer cai nas armadilhas da governanta computadorizada, e aos poucos perde a credibilidade em sua própria casa, enquanto a governanta robótica simplesmente pega ranço por ela e decide que tornará sua vida um inferno... tudo por causa do seu próprio passado.
A Família do Passado
E, enquanto essa família aprende que o robô tem mais personalidade do que imaginavam, o passado dela é revelado pouco a pouco, mostrando que ela era uma mãe de família.
Ela tinha um marido e um filho, e vivia naquela mesma casa mas sem nada computacional. Tudo que restou dessa família aliás, é a aparência da moça, que é projetada em monitores da governanta digital, e relatos de que eles faleceram a muito tempo já.
E ai vem o grande mistério, pois saber como que uma mãe de família virou um robô psicopata é aquilo que mais queremos.
Quando isso é contado, a surpresa é descobrir que não era nada disso o grande "terror" da trama.
A Reviravolta
Sem dar spoilers, eu juro que fiquei perplexo com a reviravolta. É revelado algo que estava ali de baixo dos nossos narizes o tempo todo, e a história deixa de ser sobre robôs, e passa a ser sobre tragédias da vida causadas por imprevistos.
Não da pra antecipar, são várias pequenas pistas colocadas aqui e ali, que criam sim uma certa dúvida, mas é impossível prever onde tudo vai levar.
Por mais simplória que a resolução seja, ela vem com tudo e logo depois de revelações tão impactantes que não da pra questionar, é genial.
Tudo fica amarrado no fim, tudo é respondido mesmo que nem pareça ser possível, e confesso que aos 40 minutos do segundo tempo, eu achei que a série não seria capaz de explicar todas as pontas soltas... mas ela o faz dignamente.
Um Terror Descente
Vale lembrar que é aquele terror mais voltado pro psicológico, sem violência explícita salvo alguns pequenos ganchos.
É que, de uma cena pra outra as vezes rolam coisas macabras, pra chocar mas sem mostrar nada de mais, e inclusive com resoluções pouco ou nada trágicas. Há exceções, mas a maioria das situações de horror que acontecem são bem simples e pouco impactantes, visualmente falando, já que psicologicamente a conversa é outra.
O corte seco entre um final de episódio e início do próximo já é o suficiente pra causar um baita desconforto, graças ao suspense geral. Ficamos sempre na expectativa de algo terrível e apesar de não acontecer nada do tipo, a sensação perdura.
E isso é algo que se espera em terror, o que faz dessa série um ótimo exemplo do mesmo.
Drama Exagerado
Porém nem tudo são flores viu... a série erra dando muito espaço pra algumas tramas secundárias.
O pai sendo escritor quase não tem relevância e o namoro do filho também não importa nada no fim das contas. São algumas histórias contadas aqui e ali pra estender a série, e criar um falso alarde pra nos preocupar... só que no fim nada realmente importa.
Passa a impressão de drama barato, o que pode incomodar os mais exigentes. Porém, ao menos tudo finaliza de um jeito brusco e perturbador, o que com certeza agradará gregos e troianos.
Eu curti, e deu até vontade de procurar outros materiais com casas inteligentes e terror de IA só pra ir comparando essa ideia. Já vi alguns antes, só não me recordo os nomes... mas, vou pesquisar e assistir novamente.
Qualquer coisa escrevo aqui.
E é isso.
Obrigado pela leitura, espero que tenha curtido.
See yah!
2 Comentários
Cassandra é realmente umas ótima série, no final ficamos surpresos, ótimo artigo!
ResponderExcluirEu adorei ter assistido e adorei teu comentário. Boas vindas sempre!
ExcluirObrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.
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