A pedidos (na verdade súplicas seguidas de insistência), eis que me vejo assistindo um anime de 2018, que claramente é sobre sacanagem com robôs gigantes.
E o pior é que é bem feito, e apesar de muita metalinguagem sobre sexo, a história é envolvente. Apesar de Ecchi parcialmente censurado (se bem que num ajuda em nada a censura), é super bem desenhado e de bom gosto. E apesar de pegar pesadíssimo nas referências de duplo sentido como "Me deixa pilotar seu Franxx" significando "Me joga na parede e me chama de lagartixa", o negócio é interessante.
Outro ponto muito importante do anime, é o quanto um casal precisa ser compatível, caso contrário o Franxx num levanta. E se o Franxx num levantar, num rola batalha. É tão curioso como foram capazes de criar uma história interessante, sobre pessoas com problema de ereção.
Pelo menos é assim que os 12 primeiros episódios são, só pra puxar nossa atenção e nos deixar intrigados com a direção onde tudo tá indo, pra depois trazer uma bomba romântica catastrófica que nos faz amar e odiar cada pedacinho do elenco.
Nos 12 episódios finais, a história da uma reviravolta tão grande, que não da pra entender nossas emoções, quase em referência ao que os personagens passaram nos 12 anteriores. De fato, somos levados a gostar de personagens, pra então de repente passar a torcer para que morram, e logo em seguida voltamos a torcer para que sobrevivam. É tão esquisito.
Mas, bora por etapas.
Explicando "Darling in the Franxx"
A história se passa num futuro apocalíptico, onde crianças são usadas como pilotos de Mechas, pra enfrentarem monstros chamados Urrossauros que ameaçam a humanidade, tudo pra protegerem os Adultos que residem em cidades nos Latifúndios.
Os casais se unem nas máquinas, com os meninos literalmente pilotando as meninas, e por fora os robôs ganham a aparência afeminada, lutando com armas de fogo e lâminas.
Há inúmeras equipes pelo mundo mas a que conhecemos é a Equipe 13, um experimento que mistura indivíduos com personalidades muito variadas, e também tem seus Mechas com aparências bem exclusivas.
Com muito mistério sobre o que são exatamente essas crianças, o passado de cada uma, esse mundo futurista onde quase não se vê adultos, e as cidades sendo subterrâneas, é muito intrigante ir conhecendo mais e mais desse universo.
Apesar de muito girar em torno de um casal apaixonado, também conhecemos um grande elenco de jovens, todos eles carismáticos e com seus próprios núcleos e interesses, mas que são reconhecidos apenas pelos seus códigos frente aos poucos adultos que aparecem.
Tendo espaço pra explica-los individualmente, a história caminha bem com suas indiretas, e nunca perde o ar inocente, dando o tempo certo de desenvolvimento pra cada personagem.
A ironia é que eles foram nomeados ainda na infância de forma irregular, e isso cria um vinculo tanto entre eles, quanto conosco, nos permitindo nos apegar, mesmo que seja um baita erro.
Não que a história despenda pra um lado violento ou com baixas bruscas, pois não é esse tipo de obra. A questão é que como tudo é muito mais pessoal e intimo em todos os sentidos, é muito fácil acertar em cheio nas emoções alheias.
Cada personagem tem e faz descobertas sobre a vida, e passam por emoções que não entendem, e enquanto eles aprendem o significado disso tudo, a gente sofre por já conhecer e antecipar até onde tudo vai chegar.
O Duplo Sentido
Não posso negar que no início a pegada do anime é puxada pra ação com humor com uma pitada sacana, mas ele também se leva extremamente a sério no que mostra, o que soa contraditório. É muito termo técnico, muitas palavras complexas, e muitas situações esquisitas pra se aceitar, mas tudo é dito como normal.
Tudo vai piorando quando as maneiras pra que tudo aconteça são expostas, como por exemplo a forma de controlar os robôs gigantes: Os casais pilotos se posicionam de forma muito sugestiva, e mesmo que a história nunca aborde o tema diretamente, tudo sempre redireciona a atenção pro quesito sexual.
Tirando o tema principal que só passa a ser abordado a partir da segunda parte do anime (os tais 12 episódios finais), o tema que domina a trama é o de relacionamentos, principalmente (mas não exclusivamente) os intersexuais. Inclusive uma grande parcela da história é sobre a natureza da vida, e como ela surge a partir dessas interações.
Porém, engana-se caso pense que tudo vai pra um lado erótico ou puxado pra hentai, pois na verdade não há nada indecente o anime inteiro. Sem promiscuidade, sem sacanagem, nem mesmo a palavra "sexo" é dita, pois tudo é contado através de códigos.
Tem sempre detalhes sutis sabe? Como por exemplo os uniformes dos meninos formarem um Y no zipper, enquanto os das meninas formam um X, em alusão aos cromossomos Y e X. Também há mais significado nos códigos, sendo palavras que significam algo pra gente, mas no mundo de Darling mudam de significado.
"Parasita", "Darling", "Chifres", "Tarado", "Pilotar", "Urrossauro", "Pistilas", "Stamens", "Papai", "Magma", "Latifúndios" e até a simples palavra "Beijo". Não precisa ser mente suja pra entender o real significado dessas palavras quando postas em contexto e vistas por fora da obra, mesmo que nada seja mostrado explicitamente.
Chega até a ser meio infantil, o que também condiz com o elenco usado (que é de crianças na puberdade em sua maioria), pois mesmo com o mundo apontando um monte de coisas conotativas, a compreensão dos envolvidos se limita ao que são ensinados a reconhecer, regidos pela pureza da inocência.
Logo é comum pensar "Poxa, falar de sexo com personagens dessa idade? Ta errado!" mas a história trata tudo pelo lado da descoberta e aprendizado naturais, sem nunca expor ideologias, e sem ser explícito.
Aliás, até a questão de gêneros é explorada, mas com tanta sutileza e naturalidade, que até mesmo o mais cético em relação a isso passa a entender o quanto é confuso para alguém em autodescoberta, tentar entender suas próprias emoções e sentimentos, ainda mais sem ter instruções ou informações a respeito.
Isso é melhor explicado quando a questão do "Beijo" vem a tona, sendo justamente o oposto do código inicial pra disfarçar o tema, e expondo a ideia pra quem não a captou ainda. "Beijo" não significa Beijo, enquanto o ato de beijar é praticamente um mito.
Este anime aliás é um dos poucos em que rolam beijos pra caramba, algo que convenhamos é raríssimo de se ver (mesmo ao longo de temporadas inteiras) na maioria dos romances asiáticos (justamente pela complexidade de tal ato e seu significado).
Aqui porém, a palavra beijo é usada como código pra uma transferência de energia (Magma) entre grandes alojamentos humanos, e sendo assim quando o ato de beijo entre duas pessoas é praticado, todos ficam perplexos com a ideia de lábios se tocando.
Significado das Palavras
O mais curioso, é que muitas palavras diferentes são ditas, como "Franxx", que é o nome usado pra designar o modelo dos Mecha, ou então Stamens e Pistilas, designações para "Pilotos e Volantes" respectivamente.
Stamens seriam aqueles que pilotam os Franxx, e os Pistilas seriam aqueles que servem literalmente de volante pra isso. Ambos acabam tendo de trabalhar em conjunto e se um falha, todo o processo falha junto.
Também algumas palavras ganham outro significado, tipo "Parasitas", que são a designação para as Crianças usadas nos Mechas. Pra quem vê isso de fora, tais palavras parecem até pejorativas mas, no mundo de Darling in the Franxx, tudo é diferente.
Incluindo as duas palavras que dão nome para o anime. "Darling" vem de "Querido", mas aqui tem outro significado, até mais profundo que isso, e relacionado ao passado do personagem que recebe essa palavra como seu apelido. Enquanto "Franxx" é um título composto com um nome pessoal, e dois cromossomos X, simbolizando as mulheres (forma que os Mecha sempre assumem), mas isso também ganha mais significado conforme a história é contada, e seus mistérios revelados.
Os Parasitas e seus Franxx
Strelitzia
Esse é o FXX (Franxx) mais forte de todos, mas também mais difícil de operar, que inclusive só pode ser comandado com a ajuda da 002. Ele tem como arma uma Lança Enorme, e pode assumir uma forma canina (caso apenas a 002 controle).
Aliás, esse formato animal é bem arriscado e chamado de "Debandada", sendo muito incomum usarem pois exige muito da Pistila.
Um dos protagonistas, Hiro é um jovem solitário e incompetente, que nem consegue pilotar um FXX, pois ele não consegue ergue-los.
Porém, quando conhece a menina certa, ele consegue levantar tudo rapidinho.
Zero Two - 002
A outra protagonista, ela é uma garota um pouco mais velha, muito experiente, e que ama muito comer doces, e lamber pessoas. No caso, ela é conhecida por matar seus parceiros depois de 3 rodadas, e busca incansavelmente por aquele que vai aguentar 4 seguidas ou mais.
Ela é conhecida como um monstro por matar seus parceiros, ter chifres, e por sua busca incansável por seu "Darling".
Delphium
É só um robô azul grandão que usa duas lâminas. Ela personifica principalmente os aspectos da líder do Grupo 13. É pilotada pelo 056 e pela 015.
Goro - 056
Este cara é o melhor amigo do protagonista. Apesar da parceira dele só ter olhos pra outra pessoa, ele nunca desiste do amor.
Ichigo - 015
A líder do grupo, super responsável, muito gentil e inteligente. Demora até cair sua ficha e ela parar de intervir no relacionamento alheio.
Argentea
Ela é um robô rosa que personifica as características da garota mais infantil do grupo, e luta usando garras. É pilotada pelos mais jovens da turma, o 666 e a 390.
Korome - 666
Este é o garoto mais novo do Grupo 13, e é o mais imprudente e agitado, que sonha em um dia crescer.
Miku - 390
Genista
Futoshi - 214
O gordinho do time, tem uma parceira muito atenciosa que ele ama muito.
Kokoro - 556
Uma moça doce, gentil, admirável. Gosta muito de pesquisar sobre a natureza das coisas, e investe muito tempo brincando de casinha.
Chlorophytum
O FXX púrpura, é pilotada pelo 326 e a 196, mas sofre com briga de casais.
Mitsuru - 326
Ikuno - 196
Ela é uma garota quieta que quase não fala o anime inteiro, e sofre muito calada, além de passar por um relacionamento muito complicado com seu parceiro.
Hachi
Apesar de não pilotar mais, este ex-parasita é responsável por cuidar do Grupo 13, assumindo um posto de "quase adulto".
Nana
Também ex-parasita, ela trabalha cuidando das crianças, ao lado de seu parceiro, também como uma "quase adulta".
Dr. Franx
Por fim, apesar de haverem muitos outros personagens que acabam tendo relevância ao avançar do anime, o único que acho bom mencionar é o velhinho tarado, meio robô, e cientista. Ele é tarado, meio robô, e um cientista.
Pra bom entendedor, meia palavra basta.
Aliás, esse é daqueles animes que você decide quando acaba. A partir do episódio 19 se você se sentir satisfeito, pode parar, e caso não curta pode ir pro próximo e tentar a sorte, pois no episódio seguinte um final novo completamente diferente surgirá e assim suscetivelmente, pois cada episódio traz novos finais.
E se não gostar mesmo assim, pode ler o mangá que foi criado depois do anime (o anime é o material original que serviu de base, curioso né?), e onde o autor termina a história de forma diferente (na verdade ele interrompe lá no episódio 19 mesmo, dando um outro desfecho).
Enfim, bora assistir o episódio 24 aqui. Meu irmão mencionou pra parar no 20, mas como eu sou teimoso, deixarei meu parecer a seguir: Sem palavras... final simplesmente perfeito. Fica assim mesmo, valeu pela leitura...
Que anime incrível. 10/10
See yah.
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