Adaptação: Castlevania - Nocturne - Parte 2 - Nunca Será Castlevania

 Castlevania: Nocturne
Parte 2


A Netflix demorou um pouquinho mas finalmente produziu a segunda parte da história alternativa para o Richter Belmont. Nem creio que seja justo dizer que é uma adaptação dos jogos de videogame pois toda a história contada aqui é uma baita de uma releitura.

Pra quem aguardava alguma referência mais direta aos jogos, esqueça isso por completo. Na verdade a série foi pra um caminho totalmente oposto ao do jogo estreante do personagem, o "Rondo of Blood", e mesmo com a participação surpresa de Alucard, protagonista e coadjuvante de tantas outras tramas de Castlevania, tal presença ficou apenas por alto, como um participante especial com algumas rápidas referencias gratuitas.

A história de Nocturne foca muito mais na versão alternativa de Annette, na exploração da natureza dos poderes de Maria, e da nova vampira vilã que recebe um baita de um reforço narrativo pra justificar suas ações. Com uma mistura cultural e religiosa, a série tenta enfatizar o lado místico variado de toda a franquia, errando um pouco as vezes mas, no geral sendo bem interessante de assistir.

Pra quem gosta de Castlevania, talvez seja uma baita decepção, afinal é uma trama de ritmo lento, com pouca ação e quando há, não empolga em nada (mesmo no desfecho). Mas, pra quem quer só conhecer uma boa história, compensa pelo menos pra concluir o que começou na primeira parte.

Explicando melhor agora...

Boa leitura.


Sem Dracula, Sem Castlevania


Pra uma série que usa o nome do castelo do conde Dracula, não ter nem mesmo uma citação do mesmo, chega a ser ofensivo.

Não que todo jogo da franquia deva tratar dele, mas convenhamos, se for pra contar uma história genérica de vampiros querendo conquistar o mundo, num bota o título de Castlevania.

Tentam muito justificar isso com a presença de ícones como os Belmont, a Maria, o Alucard, e muitas alusões ao que há nos jogos. Mas, cadê o Drácula?


Poxa, a essência dos jogos é a eterna luta contra o mal do Drácula, não apenas contra vampiros ou criaturas da noite. A existência dos Belmont e a grande razão pra eles carregarem sua história no chicotinho matador de capirotos, é a luta contra o mal supremo, o nêmeses deles, o Drácula.

Sei que desde a primeira parte da animação quiseram deixar claro que tudo vai além desse grande vampiro, mas apelar pra uma entidade egípcia como antagonista não foi uma escolha tão esperta.


O vilão da vez é uma deusa egípcia encarnada numa vampira, que quer controlar o mundo mergulhando ele em trevas, isso enquanto rola uma luta revolucionária na França.

Pra tentar explicar tal monstruosidade tão maligna e assustadora que até Alucard teve de surgir pra detê-la, a série conta com flasbacks dos vilões, mostrando como eles surgiram, e se esforçando muito pra justifica-los.


Mas pra tal eles chegam a ressuscitar personagens que já haviam sido descartados, e criam reviravoltas tão fortuitas que quase não faz sentido haver história.

Enquanto na primeira parte o foco era mostrar Richter evoluindo até aceitar o fardo de caçador de monstros de sua família, explorando também algumas coisinhas da franquia, aqui apenas escancaram a porta da criatividade e foram muito longe da essência de Castlevania.


Os vampiros são sem graça, são só seguidores cegos de uma divindade falsa, e os monstros são puro amontoado de criaturas genéricas, todas justificadas pelo mesmo motivo: Uma máquina de ressurreição.

O que na franquia é explicado como uma coleção de seres místicos na galeria do Conde Drácula, dominador de monstros e conquistador das sombras, que em seu castelo amaldiçoado reúne suas hordas de atrocidades que ressurgem ao longo das eras, aqui é só uma maquininha que transforma pessoas em monstros.


E, pra tentar dar um pouco de sentido pra isso, também acabam enfatizando muito a natureza misteriosa de tal máquina, com a aparição breve de uma entidade das sombras, que supostamente é o capeta em pessoa, quem sempre anda de mãos dadas com o Drácula.

Mas no fim das contas, o próprio Drácula nem é lembrado, salvo um único momento em que chamam Alucard de seu filho, e questionam como ele se sente sendo filho de um vampiro. Alucard também fala que já o matou e reduz a criatura que é literalmente o cerne de toda a série, a uma citação qualquer.


Só que calma, parece revoltante mas tudo isso é só pra lembrar que a animação nunca nem tentou ser um Castlevania, apesar de usar nomes e fingir que faz alguma noção do que tá mexendo.


Annette


A mudança de etnia da personagem Annette, par romântico de Richter Belmont nos jogos, não foi apenas para lacrar. Teve um baita motivo narrativo pra isso, de incluir a religião umbanda e também mesclar o tema da escravidão, fazendo um baita paralelo com várias condições ao longo da história.

Papa legba Castlevania

Os monstros nascidos para servir um padre ensandecido com uma máquina do mal, ou os vampiros crentes em uma divindade que apenas se matam em prol dela. Isso juntamente da época, em plena revolução francesa, mostra que não foi algo escolhido ao acaso.

E eu particularmente curti muito essa mudança. Papa Legba, Oxum, a essência espiritual, tudo isso foi muito bem mostrado e contado, e deu voz a um lado que dificilmente se vê.

Preto Velho no desenho

Os poderes dela de moldar o metal e terra, e a luta constante em prol da liberdade, isso é algo que só veio a somar a personagem.


E, é bem interessante como usam tudo isso para no fim ela se tornar uma boa solução pro grande problema. Unindo inclusive diferentes religiões, e sem desrespeitar suas regras individuais, mesclam os temas e usam dos atributos de cada um pra dar uma conclusão enfim digna, tanto pra personagem quanto pra sua razão de existir.


O Padre Satanista


Queria poder dizer o mesmo do pai de Maria, o padre cego pela religião que de tão devoto, ousou contratar o diabo pra criar sua máquina de ressurreição.


Essa explicação foi muito ofensiva ao catolicismo, aliás, tanto ao catolicismo quanto ao cristianismo, pois faz referência direta a essas duas religiões. Senti que foi bem desrespeitoso, principalmente quando escancaram a inexistência do divino, e que o diabo era cultuado independente do que acreditavam.


Toda a fé do personagem foi jogada no lixo, por mais que saibamos que estava equivocada, afinal ele foi contra tudo o que acreditava, contra a própria família, e se entregou ao mal só por achar que era o certo. No fim mostrar a alma dele recolhida pelo diabo, foi sinistro, mas ao mesmo tempo um pouco estranho.


Afinal, se todos os deuses existem na história, se todas as religiões tem destaque igual, porque apenas essa fizeram questão de mostrar apenas o lado maligno? Não há anjos, não há santos, não há nenhum dilema religiosos de última hora, tipo... eles só foram pintados mesmo como os errados e pronto.


Maria


A personagem se perdeu. Esqueceram sua inocência e apelaram pra corrupção, colocaram ela matando atoa, fizeram seus poderes se tornarem malignos para que houvesse uma superação posterior, mas tudo isso destoou do que ela era.


Afinal, ela sempre foi mostrada como uma invocadora de criaturas benevolente, seus animais tinham um laço com ela, e ela os amava. Do nada enfiarem que ela invoca demônios, e que é o amor presente nela que os torna bondosos, foi muito apelativo.

Maria invoca lobo gigante

Ela tomada pelas trevas pois sua mãe virou uma vampira, apesar de combinar com a trama, não combina com a personagem. Ela ainda tinha o apoio e carinho de Richter, que era como seu irmão mais velho, então não faz sentido apenas jogarem ela pra escanteio, amaldiçoando a todos e esquecendo a bondade.


E, por mais que ela se corrija no final e aprenda a domar seus poderes, fazendo até uma rápida referência aos super ataques dela nos jogos (mas, sinceramente, não curti isso do jeito que mostraram), a personagem não só é abandonada no fim, como parece regredir em comportamento perto do desfecho (a custo de suspense).

A Mãe Vampira


A mãe dela é um caso muito desperdiçado. Ela virou vampira, ainda detém poderes mágicos elementares, e é muito forte. Mas ela é reduzida a coadjuvante de sua filha, aconselhando quando pode e indo embora no momento que mais seria útil.


Ela luta contra sua natureza vampira, não pelo medo de se alimentar de sangue ou por não ter controle, nem pelo fato de não conseguir andar à luz do dia, pois pra esses dois problemas ela já arranja soluções bem rápidas.


O problema que ela encontra é só aceitação mesmo. Ela teme ser rejeitada, e está confusa por ser uma vampira agora, mas sua mente permanece intacta e inclusive ela não responde ao controle mental de seus mestres. Logo, é uma personagem livre. A série apenas esquece que os Vampiros e Monstros tinham uma temática relacionada a escravidão, e passa a trata-la como coadjuvante.


Pelo menos até no final quando a entidade maligna dos pactos aparece atrás dela, como se a tivesse tomado.


Juste Belmont


O que fizeram ao Just foi esquisitíssimo. Ele foi trazido pra história de Richter (da qual nunca participou nos jogos), mas apenas pra ser um vovô para Maria.


Sem ter espaço algum na história, afinal o que que ele tem pra fazer contra um monstro que ninguém nem entende? O personagem virou só o guardião da garota, que toma indiretas o tempo todo, e mal tem desenvolvimento.


O máximo que rola com ele é ele se equipar com um anel, e lembrar como que faz magia, voltando assim ao ramo da caçada. Mas até isso fica muito mal aproveitado, com ele sendo um lutador nato ao lado de Richter, mas apenas pra encher a tela de luzes e magias bobas.

Maria e Juste

Até a primeira interação dele com Alucard ficou sem graça, com ele falando abertamente que Alucard é super famoso em sua família, e cobrando pela ausência dele em sua vida, e fica por isso mesmo.


O cara tem um jogo inteiro só dele, e foi isso que tiraram do jogo? Antes deixasse apenas ele aparecendo e dando aula de chicote pro neto como foi na primeira temporada. Tava bom assim, deixasse assim.

Alucard

Alucard em Nocturne

E o que falar dele? O filho do Drácula, o cara mais casca grossa da franquia, o ser mais poderoso que, aqui toma um pau pra um vampiro ressuscitado e todo corrompido só por causa do roteiro.

É muito bom ver ele lutando, não me entenda mal, tem uns momentos épicos em que ele voa...


Vira morcegos... vira neblina... vira lobinho...


Vira até um protótipo de Drácula teleportando e soltando bolas de fogo igual ao pai.


Mas cara, sério mesmo que ele fica a trama toda enfrentando a vampira que ele já matou?

Alucard é explicado como um viajante que explora maldições pelo mundo e, calhou dele estar seguindo as pistas da maldição egípcia que estava prestes a se revelar, por isso que ele chega.

Mas depois disso ele vira só o coadjuvante, que de tão poderoso é afastado das lutas principais pra ter seu próprio inimigo perseguidor, que pra variar é bem sem graça.

A Vampira Ressuscitada

succubus seminua castlevania

A personagem era forte, e morreu facilmente pra estabelecer o poder de Alucard. Então o que a série faz? Ressuscita ela com a máquina de monstros.


Além de tirar a fraqueza dela contra a luz do sol, afinal ela renasce sem ser uma vampira, mas com os mesmos poderes de antes, e a mesma consciência, a personagem ainda continua seu grande plano original, com a animação explicando que ela era a vilã principal, e não sua mestra.

Com flashbacks, é contado que ela cultuava a deusa egípcia, e ela queria muito trazê-la de volta a vida, e por isso se esforçou pra achar um receptáculo ideal. Até mesmo se converter em vampira ela se converteu, afinal é super fácil achar um vampiro no Egito antigo...


E ai ela começou seu plano, até achar uma condessa que seria aparentemente forte o suficiente pra aguentar a alma de sua deusa. E ai fica nisso, ela serve enquanto dá, e quando não da mais ela mesma tenta virar a deusa e morre por causa disso.


Mas poxa, estenderam de mais a participação da personagem.

Os Monstros


O cantor de olhos lindos, amigo da Annette, que morreu e voltou como um monstro pela máquina do padre, e despertou consciência voltando a se lembrar que era humano, tinha um potencial enorme, e virou apenas um personagem qualquer que canta.

Nem tentam explorar a natureza das almas, ou dar um significado maior pra sua luta. Na verdade só colocam que é normal monstros voltarem a se lembrar que já foram humanos, basta que o roteiro dite isso. 


É o que acontece com a vampira ressuscitada, que volta plena sem nem tempo pra tentar lembrar de algo, então tipo, ele não tem importância.

Tanto que no final nem matam ele, ele só vai embora com Annette e ta tudo resolvido. Que final perfeitamente tosco pra um personagem com tanto potencial.


Isso que a morte dele é impactante, mas agora, qualquer um pode voltar a vida, basta usar a máquina.


O Dragão Verde


E claro, tem o outro vampiro que tá sobrando, que é poderoso, matou a mãe do Richter, tem um caso amoroso com um cristão, e tá la servindo a falsa messias pois aparentemente, ele não tem mais nada pra fazer.


O cara sobra tanto na história que se resume a um personagem que fica nas sombras olhando as pessoas, e no fim ajuda os heróis, e vai embora, num perdão sem sentido que Richter dá pra ele.

A Falsa Vilã


E por fim tem a vampira mor, a grande vilã que na verdade só foi manipulada mesmo.

Legal que enquanto humana, ela realmente era má, uma matadora de crianças que havia sido presa e foi liberta pela sua nova capanga, ganhando assim a forma de vampira, e ainda o poder da deusa filha do sol do Egito.


Mas mal sabia ela que a deusa que ela tava virando tinha 3 almas, e ela só tinha 1. Ai toda a história que vemos é ela procurando as outras duas almas.

No fim, ela pega facilmente a segunda alma, num corpo mumificado da deusa, e pro seu azar, Annette pega a terceira.


É ai que acontece a mescla de culturas. Da Umbanda vão pra Egípcia, com Annette indo pro mundo espiritual e lá pegando tal atalho.

Ela conhece a verdadeira deusa, conversa com ela, e oferece o corpo dela como receptáculo pra que a deusa lute contra sua impostora.

vampira musculusa nua castlevania

E enquanto isso, Annette enfrenta espiritualmente o Jacaré devorador de almas, que é algo da cultura egípcia. 


É legal isso? Pra caramba, mas sério que essa é a vilã que pra ser detida precisou de 2 Belmonts de gerações diferentes no auge dos seus poderes, uma Invocadora de Criaturas Mágicas, um Vampiro que vira um Dragão e solta Raios, e principalmente o Alucard?


Gente, Drácula então vai precisar de todos os Belmonts que já existiram quando for ressuscitado.


Lá Se Foi o Potencial


Enfim, essa falsa segunda temporada, que na verdade é só a segunda parte da história, com mais 8 episódios curtos, é lenta de assistir, cansa, e é totalmente distante do que é Castlevania.

Mesmo quando botam Alucard falando de seu período aventureiro no Japão, como uma indireta pros jogos que se passam lá, te juro que nada nessa trama me fez sentir a mínima vontade de jogar.

Just e Alucard juntos

Foi diferente do que senti ao ver apenas a primeira parte, pois lá eu fiquei curioso sobre o Just, inclusive eu só fiz o artigo do jogo dele por causa de Nocturne, e também fiquei empolgado pacas com Alucard e Richter. Aqui, nem aquela espada fajuta que ele usa no fim me fez ter vontade de entender mais a respeito.


Lamentavelmente tudo foi pra outra direção, afinal abandonam a trama do jogo original, ignoram Drácula, e toda a importância de Castlevania, em algo que leva seu título.

Quiseram da um desfecho, e enquanto a primeira parte é de fato um ode ao jogo, essa segunda é tudo, menos Castlevania. Aliás, se quiser ler o que achei da primeira parte (acredite, me esforcei bem mais lá pois eu explico todas as referências e significados, devido minha esperança na qualidade), só ler a seguir.


Bem, é isso.

Obrigado pela leitura, é só minha opinião, a animação ficou ridícula de tão ruim, parece que pioraram nessa segunda parte, e sinceramente, se forem pra estragar a memória de um jogo, faz isso não.

See yah!

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