Em 2019 assisti o primeiro filme do Poço e apesar de ter gostado muito, não cheguei a escrever a respeito. Ele não é confuso, na verdade é muito mais fácil de entender que o segundo, mas acaba sendo importantíssimo para que compreendamos ao menos um pouco da sua "continuação", por isso acabei assistindo novamente.
Antes de explicar o final do segundo filme, é importante ao menos dar uma resumida do que são os dois filmes, só pra caso no futuro eu venha a esquecer suas histórias, como aconteceu com a do primeiro, então bora pra um review do que foi O Poço.
Antes tarde do que nunca.
O Poço
Enfim, o Poço conta a história de um cara que se voluntariou para um tipo de prisão vertical, em que ele ficaria por 6 meses, experimentando uma tortura em um tipo de experimento social.
O filme segue aquele padrão de filmes claustrofóbicos, em que tudo se passa em um cenário isolado e fechado, mas ele é repleto de diálogos e dilemas, o que não deixa ele monótono nem parado, sem contar que ele tem todo um mistério envolto do Poço em si, que é explicado pouco a pouco conforme o longa se aprofunda no enredo.
Sem conhecer as regras do local, o protagonista precisa confiar em seu parceiro, para ter o mínimo de noção do que ocorrerá lá: Todo dia, um elevador descerá com comida no centro da sala, parará por um tempo, e continuará descendo até chegar ao último andar do poço.
Cada andar tem 2 pessoas, que sempre formarão um par (a menos que uma delas venha a falecer) e a cada mês, o andar dessa dupla é trocado aleatoriamente, por um mais acima, ou por um mais abaixo.
Cabe a dupla decidir o que fará com a comida que desce, se pensará nos demais andares, ou se aproveitará meses de fartura para suprir meses certos de escassez, afinal, são centenas de pessoas famintas e forçadas a se alimentarem do que tiver ali na mesa, decidido por alguém que não conhecem e está acima.
E detalhe, nenhuma comida pode permanecer no andar quando o elevador desce, pois a sala é incinerada ou congelada caso isso ocorra.
O Protagonista do Livro
O protagonista além de ser voluntário pra tal projeto, descobre que as coisas ali são extremamente cruéis, e pra variar ele pega um parceiro nada confiável, que mente muito, carrega uma faca que se auto afia, e já está a meses vivendo nesse Poço, já tendo passado por andares inferiores e vivido traumas que, apenas ele conhece.
No caso dele, ele revela que para entrarem, tinham de escolher um item e um prato favorito, sem muitas explicações. Ele escolheu um livro do Dom Quixote, enquanto o velhinho foi bem mais sábio e escolheu a Faca. Contudo, não tinha como ele saber o que ocorreria ali.
Também é revelado que o prato que ele escolheu foi Escargot, um pratinho cheio de caramujos que pouca gente colocava a mão, mas que não sobrevivia à fome em andares mais baixos. Mesmo assim ele não tinha como saber do que precisava ou que viveria ali.
O Poço é um projeto aparentemente secreto, que apenas pessoas selecionadas entram, geralmente criminosos com a chance de se corrigirem mediante a tortura social provida ali. Por alguma razão nunca revelada, esse cara escolheu entrar ali, e ficar por seis meses.
O longa mostra flashbacks da seleção e a insistência dele entrar, participando de entrevistas com uma moça, mas ainda não explicando exatamente quem ele é, ou quais seus objetivos. Em todo caso, a história acaba sem nunca explicar isso, apenas dando indícios pela índole e comportamento dele ao longo de sua estadia.
O Velhinho Óbvio
Só ai já levanta uma bandeira de alerta, pois o protagonista sendo novato, entrou para substituir alguém, provavelmente o parceiro falecido desse senhor com quem precisa conviver pelos próximos meses. Era um velhinho obcecado pela palavra "óbvio", que parecia culto, mas virava uma fera quando via comida.
Vendo o jeito como ele devora os restos de alimentos que surgem na mesa, fica evidente que a sobrevivência em andares inferiores é quase nula, com ele tendo inclusive de apelar para canibalismo, ideia que soa até natural conforme permanecem ali.
De uma convivência pacífica em um andar superior, tudo vira tragédia ao acordarem em andares inferiores, e o bom velhinho de faca mostra sua verdadeira natureza, até ser morto ao acaso.
Para ele faltava apenas 2 meses para sair do Poço, algo que ele conta, mas justamente no último mês de sua estadia, os caras jogam ele num andar bem abaixo onde certamente sofreria fome. Quando trocam os andares, os administradores colocam todos para dormir com um gás, e o velhinho acorda antes do protagonista.
Ele prende o cara na cama para se alimentar dele quando estiver com fome, mas bem no dia em que o devoraria, uma moça aparece e o salva, esfaqueando ele a primeira vez, e depois deixando que o protagonista termine o trabalho.
Pior que depois disso, o próprio protagonista é forçado a praticar canibalismo, devorando os restos do bom velhinho pra se manter vivo ali no Poço.
A Mãe
Acontece que havia uma personagem específica que descia os andares mensalmente, após matar seu parceiro, e aparentemente procurava por seu filho. O problema é que não há crianças no poço, pelo menos não devia haver.
Mas ela sempre desce os elevadores, todo santo mês, enfrentando os perigos, matando muita gente, tudo pra chegar ao fundo do poço, procurando sua criança.
O protagonista demonstra empatia por ela, e quando ele precisa, ela acaba o salvando na hora H, e cuidando dele por um tempo. Eles inclusive se encontram outras vezes, sem nunca conversarem adequadamente, ela chega a ser questionada sobre sua criança, mas nunca responde, e permanece descendo.
Ela morre em um dos andares inferiores, lutando contra bárbaros canibais, e perdendo apesar de ter sobrevivido por tanto tempo. É algo testemunhado ao acaso pelo protagonista, mas nunca chega a ser parte da sua reviravolta, pelo menos não da forma como aparenta.
É explicado por uma nova parceira do protagonista, que essa mulher entrou sem criança no Poço, que não há crianças ali, e que ela nem mesmo tem filhos.
Ela era uma aspirante a atriz, que queria fama, e tinha levado um Ukelele para o Poço como seu objeto, e um prato chinês como seu favorito.
A Mulher do Cachorro
E essa parceira é uma mulher que escolheu um cachorro como seu objeto. Ela ainda por cima escolheu seu parceiro inicial, diferente de outros que entraram no Poço, decidindo entrar junto do protagonista.
O que levou ela a fazer essa escolha foi o objeto que ele escolheu, ele apenas pegou um livro, o que pra ela foi muito curioso, deixando ele marcado em sua memória. Essa mulher era ninguém mais ninguém menos que a moça da seleção.
Ela sabia sobre o Poço, mas muito pouco, ficando surpresa com as atrocidades que percebeu ao chegar ali. Ela imaginou que a ideia do Poço era forçar seus habitantes a entrarem em consenso sobre como lidariam com a comida, e dividirem igualmente entre todos os andares para que todos comecem.
Daí ela tenta impor uma regra aos andares inferiores, dividindo a comida e forçando os demais a repetirem o processo. Isso não da certo, mesmo com o protagonista ajudando com ameaças de defecar na comida caso os caras dos andares mais abaixo não cooperassem.
Eles dão a sorte de começarem juntos num andar alto, e ganham bastante comida pra fazer a administração, e a moça pra ser justa, alterna nos dias de alimentação com seu cachorro. Inclusive quando questionada ela explica que há apenas 200 andares no Poço, algo que se prova uma farsa depois.
A convivência deles dura um mês, mas depois eles acordam no andar 202, com muito mais andares pra baixo. Significa que ela estava errada o tempo todo, e nunca seria possível dividir aquela comida com todos os andares. Ela então se mata antes do protagonista acordar, enforcada, pra ele comer a carne dela e sobreviver mais um mês.
Ela tinha câncer em estado terminal, por isso escolheu entrar no Poço e tentar ajudar, mas ela não sabia nada sobre ele, mesmo achando que sabia.
Aliás, o cachorro morre devorado pela moça que descia o elevador. Ela come o animal por fome, apesar de ser extremamente cruel pra sua dona.
O Homem da Corda
Por fim, o último parceiro do protagonista é um cara que escolheu uma corda como seu objeto. Seu objetivo inclusive era usar a tal corda pra subir e escapar do poço pelo andar 0. Só que o problema é que nem todos cooperavam com ele.
A sorte ainda foi maior pois eles acordaram juntos no andar 6, um andar muito alto e rico. Fica esclarecido também que os novos parceiros não necessariamente são pessoas novatas no sistema, e as vezes eles apenas juntam aqueles que ficaram sem duplas.
Enfim, esse cara não consegue subir, mas ele acaba respondendo aos interesses do protagonista, que decide colocar o plano da sua falecida parceira em prática de uma forma mais forçada. Ele desceria junto de seu parceiro pelo elevador de comida, e obrigaria as pessoas a comerem apenas porções nutricionais básicas para ficarem vivas.
O cara aceita a ideia, pois significaria que ele chegaria até o fundo do poço, e poderia subir junto do elevador no final, as as coisas vão mudando conforme descem.
Em um certo andar, encontram um cara que é um baita conselheiro, e diz que de nada ia adiantar mostrar esse caminho para todos no poço, e era preciso mandar uma mensagem para a administração. A mensagem deveria ser uma comida intocada, porém saborosa, devolvida ao topo, para mostrar que todos aprenderam a viver em harmonia.
Com esse novo plano, o cara passa a proteger uma Panacota com sua vida, enquanto forçavam os andares inferiores a comerem suas porções, ou nem comerem. A ideia foi se difundindo conforme desciam mais e mais, e tudo se tornou mais violento.
No fim, depois de luta, esse cara consegue preservar a Panacota até o andar final, mas lá eles acabam tendo de abrir mão dela por uma descoberta maior.
A Criança no Fim do Poço
Tudo termina com a descoberta de que havia mesmo uma criança no poço (estranhamente muito bem nutrida), escondida no andar 333. Uma menina asiática, aparentemente filha da moça de fato (apesar de não ser exatamente isso).
Ela é alimentada com a Panacota, e o cara morre pelos ferimentos, restando ao protagonista (também bem calejado) decidir o que faria.
Ele entende que se mandasse a criança pro topo, provaria pro sistema que aquilo tudo é falho, e que há crianças ali. Mas ao subir no elevador com ela, ele desce mais um andar, rumo ao vazio absoluto.
Lá, o cara é forçado a deixar o elevador, guiado pelo fantasma do seu primeiro parceiro, o Velho do Óbvio.
E a criança sobe com o elevador, direto pro topo da administração.
A Administração
Não fica claro quem comanda tudo ali, e o máximo que há de referência a eles são cenas soltas da cozinha preparando os pratos.
São mostrados cozinheiros, um chef, e a exigência contínua para que todos os pratos saiam perfeitos. Então, a preocupação do Andar 0 era preparar os alimentos, apenas isso.
O que fariam com eles não importa, apenas que fossem preparados e organizados na mesa.
As Alucinações
O problema é que o filme lida muito com memórias falas e alucinações, com o protagonista vendo seus parceiros mortos o assombrando.
O final mesmo, onde o cara do Óbvio recepciona ele no fundo do Poço, é totalmente ilusória, pois aquilo é apenas a culpa dele personificada.
Mas ele permanece ali, como se tivesse chegado ao fim da vida, e permitindo que "A Mensagem" subisse.
Se deu certo ou não, isso deveria ser revelado numa continuação, mas o segundo filme antecede este cronologicamente, e serve para explicar o antes, e não o depois.
Demais Personagens
Antes de concluir, é importante falar de alguns personagens menores que aparecem, principalmente na descida do poço.
Os que mais se destacam são sábio de cadeira de rodas, que dá a ideia da Panacota.
E o garoto com síndrome de Down, que é muito sincero e parece até maligno quando é encontrado.
Ele diz claramente que irá abrir a barriga do parceiro e comer o que deram pra ele comer, ignorando o sistema de divisão igualitária que o protagonista quis forçar.
Isso mostra que ele havia decidido como sobreviveria, a qualquer custo, e não ligava para as imposições alheias.
Também fica claro que o protagonista não foi o único a escolher um item inútil para a estadia no poço, com um cara que escolheu dinheiro aparecendo rapidamente em uma cena.
Enfim, há muitas e muitas pessoas no poço, vivendo suas histórias e alternando com pessoas aleatórias. E haviam muitas outras narrativas simultâneas ali, o que é melhor mostrado no segundo filme.
O problema é o que o segundo é o primeiro na verdade...
Mas falo melhor disso no próximo artigo.
Até lá.
See you soon...
8 Comentários
Esse filme me deu arrepios por semanas, eu lembro que assisti quando tinha lançado...eu tinha 11 anos ne, meu Deus eu fiquei absurdamente aterrorizado, mas hoje eu estou acostumado com a ideia, instintos humanos são meio...previsiveis, e as pessoas mudam muito em situações que envolvem o risco de morte, eu acho isso muito bem retratado no filme
ResponderExcluirEu lembro que fiquei pensando em finais onde as pessoas pudessem sair sem apelar pra canibalismo ou coisas piores... e meio que me atormentei por noites...
ExcluirEsse filme é bem complicado e realmente, pesa na memória.
E caraca sr Wilson, tu viu isso com 11 anos mano, como tu não ficou traumatizado cara?
É que a vida me ensinou, que não importa o quanto você dê tudo de si, sempre vai ter alguem com um pau mais grosso que o seu, e isso não é sobre paus, apenas sobre qualidades, não importa o quanto você tente ser forte, haverá alguem mais forte, não importa a sua inteligência, haverá alguem mais inteligente, e isso tudo é só pra provar, que idade é apenas um numero, e somos apenas um arranjo aleatório de átomos com a exata mesma idade do universo inteiro, então sim meritíssimo, ela tinha idade o suficiente! (eu fiquei traumatizado por 3 semanas e eu não conseguia mais comer normalmente sem pensar no que eu vi naquele filme, até o momento que eu notei o quão frágil é a nossa existência e então tudo fez sentido...no poço se descobre quem realmente quer sobreviver, e quem só quer ver o circo pegar fogo, quem sou eu nessa história? o verme, que aparece depois de tudo, apenas para se aproveitar de quem deu a própria vida por uma causa falha...)
ExcluirChega, parei, que que foi isso mano (medo sincero)
Gente... até eu tremi agora sr Wilson.
ExcluirO trauma bateu forte ai hein...
Mas fica sussa... o lado bom de existirmos é o fato de sabermos que existimos.
Não Sr Shady Morte, o lado bom de existirmos é as vezes não saber disso...a ignorância pode ser sim uma benção, ainda mais para aqueles que relutam com a própria insignificância...ENFIM!
ExcluirTo completamente VICIADO nas animações da DC, assinei a HBO recentemente e to vendo tudo o que esses cabras fizeram, e posso afirmar, que coisa LINDA, a animação em si, trilha sonora, personagens, enredo, é tudo muito bem feito, tanto os desenhos animados (seriados) quanto os filmes mesmo (animações tb) e ai é engraçado, eu vou no google e tem tipo umas avaliação muito mediocre falando que o filme é ruim, ou sei la, eu fico pensando se eu só estou me tornando muito fã da DC ou só os caras que não sabem apreciar uma boa animação (espero que sejam os dois rs) enfim Sr, talvez não seja muito a sua praia, mas a DC manja muito fazendo animations
A DC é boa nisso mesmo po, inclusive, saiu a nova série deles o Pinguim, e caramba, eu to chocado de como o primeiro epi foi bom.
ExcluirPensando aqui a voltar a assistir as coisas pelo começo e escrever, essa de esperar lançarem tudo ta me deixando frustrado pois do nada, pararam de lançar as coisas de uma vez kkkk.
E não é só você não po, realmente a DC tem domínio em animações e séries, se saindo melhor que a concorrente em muitos projetos.
Eu acho que você deveria analisar as animações ''antigas'', por enquanto as unicas ruins foram a Piada mortal e Wonder Woman Blood line, que é meio que uma animação do filme da mulher maravilha, só que simplificada, ( e o filme convenhamos é meio mediocre), no geral, as animações do batman e do superman são quase todas impecáveis, e eu digo isso com um olhar critico de alguem que só gosta do batman em todo o universo da DC (KKKKK JURO) e agora que você falou, acho que irei assistir a série do Pinguim também, só me responde uma duvida, ela é muito focada em suspense policial ? (pelos trailers deu a entender isso)
ExcluirVou fazer um artigo sobre ela pra explicar, mas ela é um tipo de série de Máfia, no formato de Peaky Blinders.
ExcluirObrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.
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