CríticaMorte: X - A Marca da Morte - O Primeiro da Trilogia

Originalmente o filme se chama apenas "X", uma única letra mesmo, sem subtítulo nem nada. Claro que isso é um pouco complicado pro marketing e no fim das contas, dependendo da região, ele recebe seu subtítulo. 


X

A Marca da Morte

Foi lançado em 2022, pelo estúdio A24 (os caras num erram uma), e só fui assistir agora, e bem, vou contar o que achei a seguir.


Boa leitura.


Filmes de 1 Nome Só

Sigo uma crença de que filmes com apenas 1 nome tendem a ser surreais, ainda mais no gênero do terror, mas por muito tempo evitei este, por conta de sua premissa: Um filme pornô que deu errado.

Pelo menos era isso que ouvia falar, e no fim acabei me deixando levar pelo preconceito. Até que, finalmente, decidi deixar isso de lado e assistir, me impressionando e assustando até de mais.

É um filme de terror e horror, e não se difere em nada dos muitos filmes do gênero, ainda mais com toda sua trama se passando em uma fazenda isolada, com personagens jovens pedindo pra morrer, em acidentes e desastres bizarros, com direito a nudez gratuita, insinuações sexuais e um "pornô leve".

E ai que tá o pulo do gato, pois o filme parece com qualquer um, faz uso das mesmas artificialidades de todo filme de Terror B, mas entrega algo muito mais assustador e perturbador do que os demais.

Sabe Massacre da Serra Elétrica, Olhos Famintos, Casa de Cera, Floresta Maldita e por ai vai? Então, se parar pra pensar são praticamente tudo o mesmo filme, com jovens morrendo em lugares perigosos, pras mãos de pessoas perigosas. O que difere neles é só o tipo de matador, e a condição que cada pessoa vai bater as botas.

Testemunhar a carnificina é geralmente o que atrai o público amante de "horror", mas ai colocam peitos e bundas pra bater a meta do erotismo, como se isso fosse essencial. Então, meio que é uma regra não comentada: Todo filme de horror, tem que ter nudez.

"X" parece ter notado isso, pegou a fórmula e disse "bora trabalhar isso", criando assim um filme que integra todos os pré-requisitos de um bom horror clássico e clichê, mas que também funciona como filme de terror, do início ao fim, fazendo um excelente uso de tudo o que mostra.


Sexo é Indispensável, 

Mas não Explícito.

O motivo pros personagens se colocarem em risco é por causa de sexo, a razão para eles morrerem também é por causa de sexo, então obviamente, seria um baita filme de sexo né? Ao menos essa é a impressão que ele tenta passar.

Na verdade, quase não há pornografia, e o pouco que tem é tão leve, que mal dá pra ver algo, e tudo fica mais na imaginação do espectador. Os enquadramentos são feitos propositalmente pra não mostrar muito, e as cenas não se estendem além do necessário pra comunicar o que precisam comunicar.

Na trama, o elenco viaja pra uma fazenda pra filmar um filme para adultos, numa época em que a tecnologia e recursos para tal eram escassas. Então lá, o grupo jovem curte seus momentos, mas também constrói o próprio terror sem perceberem. 

Aliás o filme faz uma boa representação dos anos 70, e até brinca no início com a proporção da tela, mudando de 4:3 pra 16:9, não por conta da filmagem, mas pelo enquadramento através de uma porta (o que achei genial), mas no geral ele é filmado em 16:9, exceto nas cenas do filme erótico, alternando entre elas.

Enquanto filmam, além de surgirem momentos de reflexão sobre a natureza da pornografia, ainda há um impacto psicológico pesado em certos personagens, desencadeando verdadeiras catástrofes que são totalmente plausíveis.

Conseguimos acreditar que os personagens fariam o que fariam, e não vemos apenas um roteiro que seguem. Diferente dos demais filmes, nada parece forçado, nada é gratuito ou empurrado (eu disse nada, não ninguém), e no fim o que testemunhamos é uma história de terror pesada e de teor mais psicológico do que visual (apesar de ter muito sangue).


Horror Psicológico Pesado

Ver uma velha desnuda fazendo vulco vulco com um velho banguela é medonho? Pra caramba, ainda mais pelos sons que eles fazem... contudo, o filme te traumatiza com mais do que isso.

Há situações de risco naturais colocadas em tela, há consequências pra ações dos personagens que condizem com o verossímil, e o melhor (ou pior) de tudo, é que todos os personagens criam e tem uma ótima construção de proximidade e identificação com o espectador.

E sim, a gente acaba se importando com um bando de jovem tarado. Pois, eles estão ali lutando pela vida deles, não tão só fazendo baixaria pro entretenimento adulto alheio. Cada um ali tem sonhos, tem motivações, tem esperanças e isso é muito bem explicado sem tornar tudo um grande drama.


A Filosofia do Entretenimento Adulto

Na verdade, a impressão que o filme dá é que é uma história sobre bastidores da indústria pornográfica, mostrando pessoas comuns tentando a sorte com o que acreditam. 

Um deles pelo menos tem um grande, enorme, gigantesco talento pro gênero, mas no geral, todos ali confiam em suas habilidades e acabam aceitando o tipo de produção em que se envolveram, adaptando até mesmo suas filosofias individuais para entender e aceitar que sacanagem também é arte.

Mas nem por isso significa que tudo é normalizado. Inclusive, um dos personagens fica traumatizado (e nos perturba) antes mesmo do terror real começar. Ele que inicia tudo, sim, mas os motivos para a vida dele ter virado um inferno, não são os mesmos dos demais, ele precisa confrontar um tipo de "traição" mesmo que na lógica, inclusive imposta e explicada previamente, ele nunca passou por uma traição.

Agora explique pra um cara que ta filmando sacanagem que, sua própria namorada quer ser filmada sem se importar com o que ele pensa. Ta errado isso? Pra ela não, afinal corpo dela, regras dela, mas e pro cara? Cadê os sentimentos, emoções, amor? É tão normal assim pros atores então, porque não seria pra ela? Se é comum eles fazerem isso, porque ele não aceita e fica feliz com isso? Pois é, dependendo do lado que nos posicionamos, o terror difere, e muito.

Aliás, nenhum deles morre pelos mesmos motivos, e cada personagem tem um desenrolar para seus desfechos brutais. Ver esse tanto de camadas e subcamadas é de impressionar, simples assim, e eu não me lembro a última vez que me importei e preocupei com personagens (bons e ruins) tanto assim.

Até os vilões tem motivos pra agirem. Eles não são apenas psicopatas, eles são pessoas, que tiveram razões para agir, razões deturpadas e injustificáveis? Claro que sim (matar nunca é normal), porém é curioso como da pra se importar com eles também.


O Vilão Tem Passado

Acredito que não seja novidade que "X" faz parte de uma trilogia, onde o segundo filme se chama "Pearl" e o terceiro "Maxxxine", onde justamente "Pearl" é o passado da vilã de X. Contudo, fiquei perplexo ao assistir e perceber que ainda em "X", o filme mostra que ela tem um passado, sem mostrar o passado.

As ações dela, as decisões, as reações que ela tem, tudo deixa evidente que ela é uma personagem com um passado carregadíssimo, e ainda puxa nossa curiosidade. O filme nos faz querer conhecer o tamanho do trauma que a vilã teve pra chegar naquelas condições, e por mais que ele se baste e complete com o que mostra, ele ainda instiga curiosidade.

E olha que, ele não perde tempo com flashbacks, nem depende de discursos longos e expositivos pra explicar os vilões. Eles apenas agem, e enquanto falam aqui e ali, nós captamos a mensagem rapidamente, sem a menor necessidade de desenharem pra gente.

O filme não é daquele tipo super inteligente, com um monte de mensagens subliminares, mas ele também não é uma obra toda explicadinha, e trabalha muito com metalinguagem, e paralelos de cenas para nos fazer entender.



Os Personagens


São poucos, mas vale menciona-los, pois diferente da maioria das obras que consumo, acabei realmente simpatizando com eles. Vale destacar que contarei suas mortes de forma subliminar.


RJ, o Câmera Man

(Owen Campbell)

Tadinho dele, o cara foi forçado a aceitar chifres e isso pesou muito pra cabeça dele. É um personagem que roteiriza e filma, todo empolgado, crente que seu filme se tornará uma obra prima, mas no final ele perde a cabeça por ter sua namorada envolvida com o filme dele, quem ele levou para ajudar na produção mas nem imaginou que teria de filmar.



Wayne, o Diretor

(Martin Henderson)

Namorado de uma das atrizes, e também diretor do filme, ele não se importa com o fato dela se deitar diante das câmeras com outro, sendo aquele tipo de pessoa que gosta de observar, e é exatamente por causa disso que ele se lasca. Ele é quem alugou o lugar para as filmagens, mas acabou olhando pra onde não devia, e pra onde devia ele desviou o olhar. 


Jackson, o Ator

(Scott Mescudi)

O super dotado, o cara é orgulhoso (também pudera). Ele é um baita ator que filma com as três mulheres, mas também namora uma das atrizes, e no fim acaba estufando o peito atoa, causa inveja alheia, e acaba se dando mal.



Bobby-Lynne, a Atriz

(Brittany Snow)

Namorada do dotadão, ela é uma atriz, cantora, e apesar de estar em um relacionamento, ela é uma excelente atriz do gênero que não se importa com quem se deita. No fim, ela saboreia os momentos, assim como permite que todos também "saboreiem".


Lorraine, a Garota do Microfone 

(Jenna Ortega)

Namorada do cameraman, ela não é muito liberal a princípio, faz caras e bocas pra tudo que testemunha, e só ajuda segurando o microfone gigante, porém ela é apressada de mais, e acaba botando as mãos pelos pés, e pede pra participar do filme. Claro que no geral isso não faz bem pra imagem dela, nem pro relacionamento, e ela acaba explodindo de raiva, culpando os outros. (Curiosamente, a Wandinha que fez essa atriz!!!).



Maxine, a Segunda Atriz 

(Mia Goth)    

Maxine, é curioso como tudo meio que sincroniza com a história dela, mas a história dela não é contada. Ela é uma garota que usa muitas drogas, e quer ser atriz, mas também é filha de um pastor, e parece ter fugido de casa pra seguir essa vida. Estranhamento, seus relacionamentos a colocam em riscos além dos que ela podia imaginar, e fugir acaba sendo uma decisão constante dela.



Howard, o Velhinho

(Stephen Ure)

Um dos antagonistas é o locador da fazenda, que não fazia ideia das intenções dos visitantes, mas ele próprio também tinha suas intenções. Ao longo do filme há pistas de que eles não eram os primeiros, e demora pra que o velhinho seja focado.

Quando isso ocorre, ele revela que tudo que faz é por amor, mas é justamente esse amor que o prejudica.


Pearl, a Velhinha (Mia Goth)

Por fim, temos a velhinha tarada, que tudo que queria era fornicar. Porém, com seu parceiro não dando mais conta por causa da saúde, e com sua aparência não sendo nada atrativa, ela pira na batatinha e sai aniquilando a juventude alheia, afinal se ela não pode ter, ninguém terá.

Mas, ela acaba percebendo algo em comum com Maxine (ambas são a mesma atriz, Mia Goth, então deve ser isso), e seu desejo incontrolável acaba pesando de mais pra sua consciência.


Me Arrependi de Demorar pra Assistir

No fim das contas, esse filme é só uma parte de três, e mesmo assim ele é uma agradável e tenebrosa experiência autossuficiente. Eu inclusive me senti assistindo uma continuação, tive dúvidas sobre o que aconteceu antes e o que tudo significaria, mas o que ele tem pra contar, ele conta já aqui, ainda atiçando a curiosidade pra sua sequência.

Fiquei realmente impressionado e já vou pro "Pearl". Aliás, fico imaginando como será o terror dele já que, o que torna o terror "slasher" daqui decente, é o fator surpresa. 

Afinal, o filme não parece de terror no começo, apesar de deixar claro que será algo sinistro pelos policiais que chegam no lugar onde tudo acaba (o filme se passa 1 antes do incidente, mas começa com os policiais achando tudo já no fim). Mas até tudo começar a ficar macabro, ele é puro suspense (inclusive instigando pra que lado do terror levará).

Mas eu curti, e devia ter confiado no "nome único".


Enfim, obrigado pela leitura.


See yah!

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4 Comentários

  1. Para, para tudo!!! Já?! Sério?! Uau... Rapaz não esperava que você fosse fazer tão rápido. Fiquei tão feliz que até parei o que ia fazer aqui só pra ler sua análise! Enfim, vamos lá...

    É realmente um filme e tanto. E o curioso é que primeiro vi Pearl (li a história toda na wikipedia, infelizmente antes de ver o filme, e fiquei revoltado com tanta maldade) e só depois vi este aqui. Pearl realmente é um filme intrigante, te digo. O horror dele e seu ritmo é menos visceral e explícito, na maior parte, que "X" e ele tem um viés psicológico ainda maior. Te garanto que a última cena vai te deixar de um jeito... Rsrs sério, aquele monólogo e aquele sorriso me impactam até hoje!

    E que bom que cê gostou. Uma das coisas que mais me intrigam neste filme é como Mia interpreta as duas tão bem, que versatilidade! E basicamente a razão disso é pelo fato do diretor ver as duas como fases diferentes de uma mesma pessoa, sabe? Seria porém o destino tão terrível para Maxine como foi para com Pearl? Destaque também Maxine nao gostar da Lorraine pois a mesma na verdade lembra a própria Maxine antes de ela embarcar nesta vida hedonista...

    Sobre o terceiro filme ainda não se sabe muito a respeito mas acredito que será muito bom também. Mia já disse que é o melhor dos 3 então vamos ver!

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    1. Heh, fiquei feliz de mais com seu comentário sr Marcio.

      Tipo, eu fui assistir Pearl mas tomei um desvio num filme que tava esperando (acabei de publicar). Ainda bem que tem Pearl ainda pra ver pois vou precisar de algum terror decente depois de Stopmotion.

      Fugi tanto de X por tanto tempo, e quem diria que ia gostar tanto dele. Ele nem é tão pesado sexualmente quanto o pessoal fala.

      Não sei nada de Pearl, por enquanto, então vou de mente totalmente aberta pro filme, to vendo que vou me impressionar hein.

      Enfim, obrigado!!!

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  2. Hahaahha se prepare que aposto que cê vai curtir mais Pearl que X, eu sei que eu curti embora Pearl tenha um ritmo mais devagar...

    E sim, já li a crítica de Stopmotion e já me encaminho pra lá pra comentar também. Pensar que eu tinha esquecido que cê já tinha visto Coraline também. Há poucos meses eu enfim li a HQ de Coraline e gostei, embora realmente o filme permaneça meu favorito, mais até que o livro.

    Enquanto se encaminha para Pearl e já viu Stopmotion e quer algo de terror bom, já sabe o que vai ver depois? Recomendo o já dito "Infinity Pool" e ainda o "Casamento Sangrento" que vi semana passada. Pense num filme brutal que ainda consegue te fazer rir.

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    1. Coraline é um dos poucos terrores que me fazem temer e admirar ao mesmo tempo...

      Estou bem curioso quanto a Pearl, logo mais compartilharei minhas impressões... e poxa, obrigado pela recomendação. É bom ter algo decente pra assistir!!!

      Infinity Pool e Casamento Sangrento, listado. Eu to pensando em ir pra uma série agora, tem uma que to curioso e é curtinha... e verei os filmes, afinal to super curioso.

      Enfim, sr Marcio, obrigado amigo.

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