CriticaMorte: Veronica

Quando terminei o filme "Irmã Morte" vi que ele tinha conexão com "Verônica" e fiquei curioso, pois ele termina com vários mistérios e pontas tecnicamente soltas.

Acontece que ambos estão conectados, mas funcionam perfeitamente bem isolados, e inclusive a temática de terror nos dois filmes é bastante similar, porém cada um pende pra um lado do sobrenatural, sendo este focado em "Possessões", e o outro em "Alucinações".

O curioso dele é que ele é verdadeiro sem tentar ser um "found footage" da vida. O caso mostrado no longa é bem consistente e passa uma sensação de documentário, com um suposto caso real sendo mostrado, antes e após o evento paranormal.

Falarei tudo a respeito a seguir, e aviso que haverá spoiler.

Boa leitura.

"Verónica" é um filme espanhol lançado em 2017 que recentemente foi "continuado" (na verdade recebeu um prequel indireto) com "Irmã Morte", contudo, os dois filmes contam histórias totalmente sem relação, sendo a única real conexão as personagens que acabam se encontrando uma hora ou outra.

   

Há também várias sutis similaridades entre as duas obras, como o Eclipse Solar que tem forte presença nas duas histórias, mas, eles falam de assuntos totalmente diferentes.

"Veronica" fala de uma garota com tal nome, que mexe com o oculto através de uma Tábua de Ouija, invocando "sem querer" uma entidade pra sua própria vida. Apesar de ser apenas uma brincadeira com fantasmas vendida em fascículos de bancas de jornais, o jogo acaba funcionando por conta do Eclipse.

Isso faz com que a garota sofra com entidades sobrenaturais que apenas ela testemunha, e muito terror é baseado em suspense, com aparições ao fundo, e alguns pesadelos tomando forma.

O filme é um pouco diferente do costumeiro pois antes de tudo, ele investe mais na construção de um ambiente familiar. Como explicar?! Ele é um tipo de filme que te faz entrar no ambiente e viver como se fosse a própria personagem, tão imerso e tão conectado a ela, que é difícil não se perder na apreensão e terror gerado pela preocupação tanto por ela, quanto pelos demais.

O fato dele começar mostrando um detetive chegando ao local do incidente, aterrorizado com o que vê e deixando tudo em puro suspense, nos faz temer bastante já de cara, mas há vários outros pequenos sinais que atiçam nossa curiosidade, e só reforçam ela mais e mais conforme a história progride.

A princípio o filme faz de tudo para que conheçamos sua protagonista alguns dias antes do derradeiro evento, e nos importemos tanto com ela quanto com seus familiares, e ele é bem sucedido nisso. Algo que inclusive não observo em várias outras obras de terror paranormal ou demoníaco como "Exorcista: O Devoto", mas que serviria muito bem à proposta se bem executado.

É fácil temer quando os personagens são crianças, irmãs, e todas vulneráveis ao mal que está mais próximo do que imaginam. A própria Verônica leva pra casa algo que ela não pode controlar, e aos poucos isso vai tomando proporções cada vez mais graves, botando todos em risco.

Não são só sustos baratos e aparições medonhas ao fundo, há algo a ser perdido ali, vários jovens correm risco pois sua única tutora presente é o grande perigo, e o filme já adianta isso mostrando que tudo vai terminar mal.

Parte do terror que melhor funciona está neste ponto, o fato de nos importarmos com quem estamos acompanhando, mesmo cientes de que o erro a princípio foi deles.

Aliás, eu notei que a motivação da personagem é exatamente a mesma de outra no filme mais recente do exorcista, onde o fato de mexer com o oculto desprovida de qualquer conhecimento, era pra contactar um ente querido que faleceu. O que muda o peso das duas versões é que nesta, há fatores secundários que influenciam nas consequências, e agravam muito o problema, tornando aquela brincadeira algo muito mais sério.

O Eclipse é algo que fortalece o jogo do Ouija, algo muito bem estabelecido em subtramas pinceladas ao longo da construção da própria personagem, mas não é a única coisa. Temos todas as informações para que tiremos nossa própria e óbvia conclusão, sendo desnecessário por exemplo aquele clássico desvio de enredo para expor fatos e explicar a história.

Ao invés disso, temos sequências de terror, que crescem gradativamente até chegar no ápice que já aguardávamos desde o início. E quando ele chega, ainda estamos perplexos com o que assistimos, sem querer acreditar, mas cientes de que tudo ali faz sentido.

Pra explicar esse ponto preciso dar um baita spoiler, mas, a protagonista acaba agindo contra o espírito que a persegue, mas ao mesmo tempo, ela se coloca em todas as situações como antagonista, causando os problemas, e gerando os males pra si e para os que a cercam.

Só que isso não ocorre só por conta do sobrenatural, ela já estava passando por uma fase complicada (puberdade), e isso também influencia em suas mudanças.

Seu estado mental fica tão bagunçado que ela própria provoca seu pesadelo, e apesar de acompanharmos ela pela perspectiva dela, vendo o que ela vê, e testemunhando a razão pra suas ações e escolhas, os demais personagens reagem ao que ela faz, sem entender isso, e o medo deles é muito verídico.

Eis outro ponto que contribui pro sucesso, pois os atores, principalmente os mirins, são excelentes em transmitir suas emoções.

Fiquei até triste pela dublagem brasileira ter "estragado" isso, não sendo tão bem executada quanto normalmente é. Algo que me fez assistir no idioma original, e é algo que inclusive recomendo que faça também.

A história pesa muito mais com as emoções verdadeiras dos atores/personagens, então a linguagem real deles é insubstituível, valendo o esforço de assistir lendo.

Com relação a "Irmã Morte", eu entendo a razão dela de repente se tornar uma estrela capaz de protagonizar sua própria história. A Freira fumante e cega, que parece enxergar o sobrenatural, e "ajuda" com dicas do que a mocinha deve fazer, mas sem se misturar com ela, é muito misteriosa, e tem uma forte presença de espírito em cena.

Só que ela fica sem explicação, ganhando chance para que um filme conte sua origem, até chegar ali. A velha estranha ganha mais sentido quando sabemos a razão dela ser daquele jeito. 

Algo que também pode ocorrer com o Detetive que datilografa a história do que testemunhou no final.

Eu não me surpreenderia caso também surgisse um filme contando sua história, ou mostrando mais uma versão de um tipo de sobrenatural nesse universo compartilhado de longas espanhóis. Claro que o destaque que ele recebe é mais pela história ser baseada em um evento espanhol famoso, em que policiais declararam oficialmente que algo paranormal ocorreu (só que ele não usa nada do evento real).

Mas é aquilo, conhecer um filme não te torna perito no outro, pois eles são muito individuais. Verônica é sobre como a garota vai lidar com a maldição que ela mesma trouxe pra si, e tentar defender sua família.

E ele é bom, pois sabe preencher seu tempo com terror, simples assim.

Ele não é violento quando não precisa ser, não é gráfico quando não tem pra que ser, ele sabe usar sua "criatura" nas horas certas, e é bem produzido.

Ele passa aquela sensação de "baseado em fatos reais", quase como se fosse uma reconstrução de cena, mas sem soar artificial. E tecnicamente, ele é (se inspira em um caso real, mas só por alto).

Algo que também curti, pois os dias que são mostrados parecem mesmo dias, com rotinas, sem pular momentos, mas ainda assim repletos de coisinhas escondidas pra nos lembrar que é tudo uma história de terror.

Essa atenção aos detalhes é algo que pra mim faz grande diferença, e foi algo que percebi no outro filme também. 

Só fico chateado por ter demorado tanto pra assistir e dar uma chance pra ele, tentarei ser menos "preconceituoso" na próxima.

É que filmes de terror que envolvem "Tábuas Ouija" e fantasmas normalmente são bem bobos e repletos de clichês de assombração, com jumpscary e sustinhos bestas, e todas as mesmas reviravoltas de sempre.

Ver que há algo bem construído aqui me fez lembrar de uma regrinha dos filmes de terror, que costuma ser bem precisa: "Quanto mais curto o título, melhor o filme".

Só não entendo pra quê traduziram o nome original para "Verônica: Jogo Sobrenatural", que acaba sendo um título genérico que só desgasta a imagem já calejada do filme por sua temática. 

Mas, ele é muito melhor que muito filme que vi recentemente, e estou satisfeito com a experiência.

É isso.

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4 Comentários

  1. Lerei, mas vou tentar ver o filme antes, depois volto aqui e falo o que achei, I promise.

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    1. Assista no idioma original, é minha dica rs. Bom filme sr Ed, e obrigado.

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  2. uma sugestao: um artigo de filmes de terror em que o mal vence.....ou vc ja fez?

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    1. Bela ideia sr Rodrigo!!!!

      Vou precisar fazer uma pesquisa, mas vou anotar isso. Preciso pensar em uns 10 filmes...

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