CríticaMorte: Irmã Morte - Filme de Freira Sem Demônio!

"Irmã Morte" é um filme sobre freiras, conventos e assombrações, que por incrível que pareça, não fala de demônios! 

Aliás, nem mesmo fala de religiosidade, pelo menos não de questões de fé. É um filme que aborda o mundo das freiras, noviças e irmãs, por uma perspectiva bem mais realista e lento, e isso é o que mais amedronta nele.


Depois de "A Freira 2" e outros títulos com foco em religião como o terrível "Exorcista: O Devoto", eu fiquei meio receoso em dar uma chance pra este longa espanhol. Minha baixa expectativa me fez enrolar, enrolar, até que finalmente parei pra assistir, e foi perturbador... no bom sentido... ou mal... ah!

Como eu sempre digo, filme de terror que tem a coragem de colocar crianças no elenco, ou é muito bom, ou um completo desastre por desperdiçar a oportunidade de chocar, pegando leve com os mirins. Pois bem, em Irmã Morte, ele não desperdiça essa chance.

E aliás, fiquei surpreso em ver que ele tem classificação de 16 anos, sendo que tecnicamente, ele é mais pesado que muita obra +18 por ai.

Adiantada minha opinião, bora pra crítica!

Boa leitura.

Qual a História?

Este filme conta a história de uma jovem freira chamada Narcisa, que ainda não fez seus votos, indo pra um convento de passado oculto, para educar algumas meninas.


Ela tem um passado misterioso também, sendo um tipo de santa em sua infância por algo que viu.


Porém, ela é assombrada por suas visões e pesadelos, e descobre assim as verdades e mentiras de suas irmãs.



É um Terror Lento, mas Rico


Sua lentidão serve pra enriquecer a atmosfera do terror, sem se preocupar em assustar com forças gratuitas ou repentinas, e o próprio longa se da o devido tempo pra construir o terror.


Mesmo quando não parece estar acontecendo nada, está, ao fundo, nos cantos, na história. Cada minúsculo detalhe foi pensado pra estar ali, e nada é ao acaso. Terrores assim, baseados na observação e atenção do espectador, são raros hoje em dia.


Uma única sombra na câmera, que à primeira vista parece só um efeito provocado pelo balançar de uma vela, se torna assustador quando percebemos, junto a trilha sonora bem encaixada, mas serena e quase imperceptível, que é uma pessoa andando bem na frente dos nossos olhos.


Um farfalhar metálico ao fundo, paralelo a um conto de terror de uma criança pra provocar outra criança, se aproveitando do mesmo pra assustar mais, ganha outro tom quando percebemos que o som realmente estava ali, e havia alguém trancando portas e arrastando correntes.


É como aquele barulho na calada da noite que costumamos ignorar, como móveis se contorcendo pela madeira se contraindo, com um pouco de música pra acompanhar, tudo pra nos deixar atentos.


Efeitos Sonoros e Visuais Minimalistas


O filme não exagera com acordes sonoros quando estes não são mais necessários. Se já sabemos o que está a espreita, pra que músicas altas? O silêncio e a calmaria consegue ser muito mais perturbador, pois abafa gritos, inquieta nossos sentidos, e nos tortura com o anseio resultante disto.


Há fantasmas na obra, mas não precisamos vê-los pra saber disso. E só o fato de querermos ver, só amplifica o terror pois é o que os personagens envolvidos também querem. Saber o que os rodeiam é uma forma de saber pra onde fugir, ou do que fugir. 


Sem dizer quais são as ameaças, e sequer se existem ameaças, o filme vai nos atiçando a curiosidade, cutucando até nos irritar, ainda provocando constantemente com alucinações, brutais sim, mas meras visões confortadas por um suspiro e acordar repentino de Narcisa.


É um Show de Alucinações


O que é bem feito! Nunca sabemos quando ela está alucinando ou não, pois nada é comunicado assim até encerrar. As alucinações se revelam apenas no desfecho de cada uma, por extrapolar e ir além do comum, além de mais do comum ao menos.


Pois tudo nesse convento soa errado, soa cruel ou até maligno. Mesmo cientes de que tudo é normal ali, crianças trabalhando "forçado", mulheres se chicoteando pra purgar seus pecados, até mesmo meninas sendo postas em jaulas enferrujadas, sozinhas, como castigo. 


Coisas assim são "normais" pra época, e para aquele local, um tipo de internato, um local sagrado onde as mulheres de deus educam e doutrinam as menores.


Mas com certeza groselha jorrando não é algo comum, e quando isso começa a acontecer, percebemos que são alucinações, mas isso só acontece quando saber se é ou não real já não faz diferença.


O melhor é que, todo esse trabalho de nos confundir é propositalmente articulado para que, quando tudo comece a desandar de verdade, nós não saibamos identificar a tempo, nos pegando de surpresa e supetão. 


Quando a personagem confirma que já não vê mentiras ali, e tudo por mais abstrato ou surrealista que seja, ainda é real, ai sim a coisa muda de figura.


Mortes Chocam


Pior é quando certos personagens morrem diante da câmera, sem o menor pudor, sem que ela esconda nada. Pode não ser gráfico de mais, mas com toda certeza não é nada leve, e é fácil desejar que as alucinações retornem.


O desfecho como "terror alucinado" é um alívio para os personagens, e para o espectador, que aprende que por maior que seja a crueldade vista, tudo não passaria de um pesadelo. Então, quando esse alívio é arrancado fincando o pé e afirmando que a partir daquele ponto tudo é e foi real, ai ficamos sem chão, ficamos sem fuga. 


E o filme sabe disso, e aproveita a situação pra pegar pesado... ainda sendo poético só pra sacanear nossos sentimentos.


Sua trama mostra mais o mal humano do que o mal sobrenatural, mas ele não se priva de excelentes ideias paranormais, como o fantasma agindo através de memórias, e causando mortes ao estilo "Freddy Krueger", através do tempo.


Achei magnífico isso, pois na lógica, espíritos seriam ecos da vida repetidos infinitamente no pós morte. Então, se um espírito pudesse agir, ele veria tudo em sua própria linha do tempo, e agiria por sua própria perspectiva. Mostrar isso, intercalado com o tempo real, e situando as consequências em tempo real, é sem dúvidas o melhor do terror aqui.


Ainda por cima há todo o trabalho de criar um mistério em torno da personagem, e seus inexplicados poderes. Aliás, se tem algo que não curti muito foi isso.


Certos Mistérios Ficam no Ar


Muitas perguntas surgem, mas nem todas as respostas são dadas. O filme não perde tempo explicando nada, ele só vai mostrando e a gente que se vire pra entender.


O final por exemplo, é um gancho pra outro filme "Verônica: Jogo Sobrenatural" o que eu também desconhecia (na verdade já ouvi falar mas nunca assisti), consolidando assim um universo compartilhado. Mas, e a Narcisa? Quem foi ela na infância que tanto mostraram e pouco contaram???


Ela era um tipo de santa? Ela tinha visões? O que tornava ela tão especial?


O uso do Eclipse pra potencializar os poderes dela (algo que também achei muito bem bolado), combina com tudo que o filme contou até aquele ponto, mas os tais "poderes" dela seriam o que exatamente? 


Tomaram a liberdade de manter um ar de mistério, o que talvez seja pra que nós tentemos interpretar o que ela foi. No todo, isso não faz grande diferença pois todo o terror que tem mal depende dela.


O Protagonista Está Oculto


Narcisa é mais como uma coadjuvante da história, pois tudo que ela faz é testemunhar, e talvez até agir em alguns pontos. Mas o foco verdadeiro estava em outra direção, estava escondido, num tipo de horror que não da pra antecipar.


Isso sim foi espetacular, pois geralmente quando vemos um filme de Freiras ou com teor religioso, a primeira ideia que vem é "Vai ter o tinhoso ali atuando" mas, pasme, o medo causado aqui é por razões humanas, derivadas do fanatismo, da vergonha, do trauma, da guerra.


São causas e consequências humanas que se misturam ao breve sobrenatural, fazendo deste mais um artifício para vingar o passado, e trazer justiça de sangue, do que apenas causar o mal a torto e a direita.


Assim "Irmã Morte" é um baita filme de terror, que assusta sim, mas impacta muito mais pelo enredo que tem, de forma mais psicológica, mas nada complexa.


Ele apenas demanda estômago, pois certas cenas e situações são de puro desconforto. Mas tudo compensa assistir, ainda mais pra quem gosta do gênero de terror.

Curti muito.

É isso.

Outro bom filme, na Netflix... to ficando acostumado a falar isso, da até medo. Foi uma ótima recomendação, que passo pra frente. Aliás, verei o outro filme agora.

Espero que o texto tenha ficado bom, e que eu não tenha dado spoilers.

As vezes me descontrolo.

See yah!

Postar um comentário

4 Comentários

  1. Eu gostei bastante desse filme, ele é curto, mas te prende do começo ao fim pq como você disse a narcisa é como o telespectador e juntos queremos saber o que está acontecendo, sendo acabou explorando e aprendendo com ela sobre o local e seu passado

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Concordo plenamente contigo. Aliás, obrigado por comentar. Pra mim foi uma ótima surpresa assistir esse filme, espero que continuem fazendo obras boas assim né.

      Excluir
  2. AVISO DE SPOILER







    Terminei de ver o filme agora, pra ser honesto algumas coisas eu não entendi. Tipo, o problema da mulher lá era com as freiras já que tinham matado a filha dela, então por quê ela matava crianças? Ela matou a menina lá sem razão nenhuma, foi lá e escreveu o nome dela no quadro (ou eu deixei passar algo).
    Quem falou com a Narcisa no confessionário foi o tinhoso? Outra coisa, quem possuiu o corpo da mulher lá depois de ela se enforcar foi também o mochila de criança ou tudo que aconteceu foi pelo desejo da própria mulher que morreu? Achei confuso kkkk
    Mas no mais, valeu, não fazia a menor ideia que esse filme tinha ligação com outro. Já assistiu esse Verônica? Vale a pena?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caraca ótimas perguntas...

      Tipo, eu acho que quem matava era a criança dela, e não ela. Tipo, fica subentendido que o espírito dela tava preso no quarto, e ela não gostava do que a filha estava fazendo, como a menina assombrava a torto e a direita sem ninguém pra disciplinar ela como gasparzinha, ela atacava as crianças, adultos, e qualquer um que ousasse contata-la. Penso nisso por causa do jogo da forca, que era interligado com o caso da lousa, e ambos meio que eram parte das brincadeiras da menina.

      A parte do confessionário eu não sei responder. Minha alegação de que não há participação do caipiroto na obra cai por terra naquela cena, pois tecnicamente era algo maligno ali. Mas também pode ser a criança tirando onda?! Porque na lógica, quem assombrava fora do quarto era a criança.

      Caraca, eu fiquei de assistir e cai no limbo do TFT. To meio viciado num joguinho da Riot... esqueci da vida. Vou assistir pra ontem!!

      Excluir
Emoji
(y)
:)
:(
hihi
:-)
:D
=D
:-d
;(
;-(
@-)
:P
:o
:>)
(o)
:p
(p)
:-s
(m)
8-)
:-t
:-b
b-(
:-#
=p~
x-)
(k)