CríticaMorte: Tetris - Baseado em Fatos Reais!

Se alguém te chama pra passar a noite jogando Tetris, provavelmente você pensará "Poxa, que chato". E então sobre assistir um filme baseado nesse jogo? Eu mesmo fugi da ideia por pensar justamente que seria algo muito chato.

Um jogo tão velho e simples, que não oferece tanto desafio, não tem um enredo nem uma narrativa, nem mesmo tem gráficos espetaculares, e não passa de um jogo com uma música russa, que de alguma forma gruda, e não da pra simplesmente dizer que é injogável. Pelo contrário, Tetris é algo viciante, divertido, e mesmo soando repetitivo, daria fácil pra passar a noite se divertindo, e inclusive muitos passam, passaram, e passarão, mesmo ele sendo um jogo de 4 décadas (pra mais).

Ai chega a Aple TV e tem a brilhante ideia de fazer um filme baseado nesse jogo. O que você esperaria? Um filme chato, no mínimo, afinal o que que tem pra falar disso? Pois é, da mesma forma que a simplicidade do game engana, o filme também o faz, pois você entra esperando algo bobo, e acaba com um sorriso bobo na cara.

Falarei mais a seguir.

Boa leitura.

É um filme estranhamente envolvente, divertido, com reviravoltas e surpresas, e ainda por cima uma trama muito bem feita, interessante e fluída. As atuações são convincentes, os cenários são perfeitos, e o melhor de tudo, a narrativa é mó legal.

E do que ele fala exatamente? De Tetris, literalmente. Este é um filme inspirado em fatos reais, que retrata eventos reais, de como o Tetris foi feito, descoberto, desenvolvido, lançado, vendido, e todo uma disputa nos bastidores pra lucrar com ele. E apesar disso ser sim um tema muito chato, é exatamente como as pecinhas bobas do jogo: O todo que é divertido!

Alias eu nem imaginava que o jogo se chamava assim pois todas as peças tem apenas 4 partes!

Ele não conta uma história qualquer, ele a romantiza e dramatiza de um jeito crível, sensível e pra lá de dinâmico. Ele brinca com a proposta de ser algo inspirado em videogames, e praticamente é moldado no formato de um videogame, com fases a se passar, jogadores participantes, chefões a se enfrentar, segredos pra se revelar, e muita viagem pela história e pelo mundo.

Inclusive, acho que foi a aula de história mais divertida que eu já tive em toda a minha vida. Baita filme, que nem parece ser inspirado em fatos reais, mas não só ele é, como também nos prova isso, e garante com cenas pós créditos e tudo mais.

E bem, do que se trata o filme Tetris?

A história é de um cara que descobriu o jogo em um tipo de conferência da época, onde ele tentava vender outro jogo (e falhava miseravelmente). Esse cara era um programador, empolgado e entusiasmado com a ideia de vender jogos, e do nada se viu seduzido pelo pequeno jogo de Computador com peças pra encaixar.

Ele decide então vendê-lo pelo mundo e tentar ganhar algo com isso, mas aí descobre que grandes empresas já tinham esse peixe na rede, e vai buscando algumas alternativas pra tentar conseguir isso, descobrindo oportunidades que os demais não notaram, e ainda desbancando todo uma conspiração capitalista, envolvendo até mesmo espionagem!

E nesse processo ele se envolve com a Nintendo, e o lançamento do Game Boy, tendo de lutar em meio a Guerra dos Consoles e Plataformas da época, juntamente com a Guerra do Capitalismo contra o Comunismo, a tal Guerra Fria.

E ele é bom por quê?

Ele não é só uma história sobre Tetris, ele é sobre o mercado, sobre o sucesso e fracasso, sobre a economia e política, principalmente durante a Guerra Fria, e ele é responsável com tais informações e afirmações, sem tomar um lado, e sem apontar vilões ou heróis. Ele mostra apenas a realidade nua e crua, mas de um jeito divertido.

A diversão também não se trata de animosidades ou exageros, ele mostra pessoas lidando com pessoas, temendo o governo, passando por ameaças, tropeçando em problemas uns dos outros, caindo em traições, fazendo escolhas e por ai vai. Apesar de as vezes ele também deixar tudo com um toque fantástico... mas só por questão de estética mesmo, botando uns detalhes digitais só pra enfeitar.

Mas ele se torna interessante quando humaniza os participantes, mostrando tanto suas falhas quanto suas virtudes. Os interesses são bem transparentes, desde os solitários aspirantes a vendedores, até as megalomaníacas empresas superfaturadas e seus executivos, todos querendo uma fatia do Tetris.

O melhor de tudo, é que ele mostra com oque é complicado a briga por direitos autorais e de publicação das coisas, isso desde sempre. Aí, mesmo com o criador do jogo propenso a negociar, por conta da política, tudo é ainda mais complexo e difícil de se fazer.

E algo que nasceu apenas para diversão, se vê em múltiplas guerras, não só por dinheiro, mas por influência, controle, e principalmente: Pelo mundo!

O negócio é profundo de mais, e eu nem imaginava que a história do Tetris era tão complexa.

Resumindo o filme...

O jogo foi criado por um russo chamado Alexey, quem o fez sem fins lucrativos, apenas pra ele e seus colegas brincarem nas horas vagas. Só que o jogo era tão bom, que foi replicado por toda a União Soviética, ainda sem fins lucrativos, afinal era Comunismo, e o mercado de jogos não existia lá.

Só que no resto do mundo existia, e o Tetris também estava se espalhando, já em meio ao Capitalismo, graças a um russo que comprou os direitos de desenvolvimento e venda do jogo, para Computadores, Consoles e Arcades e o vendeu ao exterior, pra uma empresa chamada Mirrorsoft, depois pra Sega, e então pra Atari (só os rivais da tia Nintendo na época).

Então um cara que se apaixonou à primeira vista pelo joguinho, descobriu que o desenvolvimento e venda dele no Japão não tinha sido negociado ainda, e consegue os direitos da própria Mirrorsoft, vendendo a ideia para a Nintendo...

Pra melhorar a situação, ele conseguiu convencer a Big N a lançar seu primeiro aparelho portátil com Tetris na memória (Ao invés de Mario! Imagina que absurdo!) mas pra isso ele precisa lutar pra conseguir os direitos de distribuição do jogo para Portáteis. E nessa rota, ele descobre que os direitos do jogo nunca foram realmente vendidos, além dos Computadores.

Um erro do filme, quando personagem fala que não existe Zelda sem Link, ilustram com dois Zeldas do Four Swords... digo, dois Links! Mó errado isso!

Daí na briga, ele se envolve com muita gente perigosa, viaja na maior cara de pau pra Moscou, faz tudo pra conseguir os direitos, e no fim, ainda descobre que o criador do jogo nunca foi reconhecido. Eles se tornam amigos, e juntos alcançam o sucesso.

Se foi exatamente assim a história eu não sei, mas que é legal ver tudo se desenrolando, e notar como cada peça do jogo foi se encaixando no cenário geral, isso com certeza compensou o tempo investido.

Por mais que o filme Tetris não seja exatamente um "live-action" de um jogo, ele é uma ótima ideia de adaptação de jogo pra cinema. Pois ele retrata como o jogo foi produzido (inclusive explica de forma dinâmica cada etapa de sua construção), e o quanto ele foi influência no mercado, na vida e na história dos videogames. Ainda por cima mostra de forma muito clara como funcionam a mente dos empresários.

E ele ainda consegue ser divertido! Ele nos faz torcer pelos personagens, causa tensão, e mesmo que saibamos o desfecho, não da pra não se surpreender com as reviravoltas. 

Além de tudo isso, ele é uma vitrine pra tecnologia da época, e pra situação geral do mundo. É um filme fácil de assistir, fácil de entender, e mesmo falando de coisas complicadas, ele não cansa, e literalmente vicia, assim como seu jogo.

Ps.: Ver os executivos da Nintendo correndo dos russos, meu deus cara! Queria ter visto a cena real kkk.

Concluindo o que achei...

Curti a experiência, conheci melhor o que é Tetris, o jogo e sua história conquistaram meu respeito, assim como esse belo filme.

Se algo nele foi exagerado de mais, confesso que não faz muita diferença no final, e pra mim, esse é o tipo de filme que até mesmo deveria ser passado em escolas, de tão informativo que é. Aliás, é como o próprio jogo também: Perfeito pra crianças, pra adultos, pra velhinhos, pra todo mundo.

Ainda não acredito que depois de achar que seria um filme chato, de época, e exaustivo, eu sai com uma cara de idiota e até mesmo chorando. Qualé! Eu tô sensível de mais ultimamente... só pode. Eu fiquei torcendo pro criador do jogo ganhar os créditos no cartucho no fim, e ele ganhou foi coisa melhor, mano, que filme bom!

Esse filme é genial, disso não da pra discutir.

Pois é, ele tem a essência de Tetris.

Aliás, a um tempo atrás fiz uma lista com TODOS OS FILMES BASEADOS EM JOGOS, e apesar de citar Tetris, eu o deixei de fora afinal, ele foge um pouco à regra. Mas achei melhor pelo menos fazer essa rápida crítica... afinal é um filmaço!

É isso.

See yah!