SérieMorte: Delete: Netflix - Uma série boa disfarçada.

Caramba cara que bizarra.


A série Tailandesa da Netflix a princípio é bem desinteressante e pouco chamativa, eu mesmo não estava nem um pouco afim de assistir, afinal, a premissa dela eram pessoas usando um celular pra deletar outras pessoas. 8 Episódios de 40 minutos cada de um melodrama forçado não me parecia uma boa ideia, mas assisti, e terminei boquiaberto. 

Essa é uma série de Mistério, Drama, e Terror Criminal. O negócio tem tantas surpresas que mesmo depois que acaba, ainda tem o que contar, e tudo só vai ficando mais bizarro a cada episódio.

Enfim, falarei o que puder, mas sem dar spoilers, afinal mesmo sendo sim uma série com um ritmo longo e lento, sem muita ação e bastante diálogo, ela compensa muito assistir.

Boa leitura.

Delete: Gênero...


Então, a série realmente passa a impressão de ser uma novela tailandesa, repleta de melodramas e reviravoltas superficiais só pra tentar impressionar, usando como chamativo principal o fantástico celular que apaga geral, ao tirar fotos. Pra piorar, o aparelho em si já some da trama no segundo episódio, e pouca ênfase tem, o que apenas destaca ainda mais a parte "melodramática".

Só que é tudo proposital! A série desvia nossa atenção para que não percebamos o terror se formando. Ela já esfrega um monte de reviravoltas ainda na metade, e faz pensarmos a respeito, afinal passa a ideia de que não tem tanto a contar, quando na verdade está contando tudo em pedacinhos.


Cada detalhe é crucial pro encerramento, e nada é por acaso, tudo simplesmente recebendo a atenção necessária, no momento necessário. Pra quem gosta de um bom mistério, ela já compensa ai, mas ela vai além.

O que impressiona é o resultado desse belo teatro geral, e a entrega final é mais do que satisfatória, ela é bem perturbadora, abrindo nossos olhos pra além do que estamos preparados. O mal está em todo mundo!


Pra quem curte True Crime, acredite, esta é uma excelente amostra do gênero, mesmo que ela tenha elementos de ficção científica, drama e até romance, o que ela se torna no contexto geral é absurdo, e surpreende.

Delete: Câmera...


O artifício principal da história é sim a tal câmera, mas não espere algo bobo como uma trama longa sobre pessoas fazendo o uso desse aparelho "mágico" pra satisfazer suas próprias vontades macabras, mas sim todo uma construção de bom e mal uso do tal aparelho, baseando-se na ética e moral de quem o utiliza.

E o legal disso é que não há um guia de como usar a câmera, nem o porquê, aliás, chamo de "câmera" pois apesar de soar como um celular, tudo que ela é na verdade é um aparelho fotográfico digital, sem capacidades além de registrar imagens, e deletar pessoas (ou qualquer coisa orgânica, viva ou morta) da existência.


Não sabemos de onde veio, não temos ideia de quais as consequências de empunha-la, mas estamos lá, tão perdidos quantos os personagens.

Personagens aliás que já vem com problemas de fábrica! Todos tem suas vidas em andamento, e já surgem com uma série de situações ruins e bastante complicadas, e do nada, eles recebem essa arma, que aos poucos vai pulando de mão em mão, resolvendo e piorando as situações em que é envolvida.


E suas regras? Bem, não há um manual explicando elas, não é como um "Death Note" que já tem um monte de resguardas para seus usuários. Aqui, quem pega descobre na marra o que a câmera pode ou não pode fazer, e nós somos os espectadores que tentam ver onde tudo vai parar, sem qualquer chance de prever o final.

Essa é a melhor parte, pois por mais que achemos que estamos entendendo, no fim não temos a menor ideia de pra onde tudo está nos levando. Fiquei pasmo por cogitar parar de assistir, e olha que esse pensamento ficou na minha cabeça o tempo inteiro, mas continuei assistindo, pois tinha algo ali que intrigando: Era tudo óbvio de mais... mas ainda parecia misterioso.

Delete: Perspectiva...


A série conta múltiplas histórias de pessoas que acabam colocando as mãos na tal câmera. Porém, nós acompanhamos apenas partes dessas histórias a cada episódio, com suas conclusões, resoluções ou apenas desenvolvimentos, surgindo umas nas outras, pela perspectiva de cada personagem.

Por mais que acompanhemos bastante da vida de cada personagem, isso não é nada, nem mesmo o mínimo para que tracemos um perfil decente daqueles que são mostrados. Somos o tempo inteiro induzidos a interpretar a galera metido a fotógrafos, mas nunca estamos preparados pra verdade.


Enquanto vemos geral brincando de Fatal Frame, em até perseguições de Paparazzo, o real cenário do maior problema está ali camuflado, mas aos poucos aparecendo, sem que notemos: As pessoas são o problema.

Esses personagens são piores que a câmera, pois o uso que fazem dela apenas espelha seus interesses mais íntimos. Afinal de contas, ela não apenas deleta as coisas... ela tem um monte recursos inclusos no pacote que vem com Apagar Pessoas.

Delete: Regras!


O mais legal é conhecer as regras do aparelho que deleta, junto com o pessoal. A série explica aos poucos, conforme seus novos usuários vão testando suas funções, a cada pequena participação do aparelho, e cada regrinha vem de forma bem explicada, contornando as situações a cada nova descoberta.

Sumir com uma pessoa ou animal, vivo ou morto, é vantajoso dependendo de quem usa isso. Pode ser algo usado tanto pro mal, quanto pro bem... tudo realmente só depende de quem está no poder, e as possibilidades são amplas!


Além disso, existem consequências, e até soluções pras ações com a tal câmera, o que ameaça um dos maiores suspenses sobre o uso do objeto misterioso, mas que também é algo tão bem feito, e de uma forma tão natural, que mesmo tirando um pouco do impacto das pessoas apagadas, ainda consegue nos manter atentos.

Porém, a própria série entende isso e logo em seguida nos joga um problema maior que sua premissa principal, só pra que nunca deixemos de prestar atenção. Afinal é assim que ela nos faz chegar até o fim, e apenas ficar bem incomodados, pois a grande revelação vem de supetão.


A série chega a um ponto em que cria a dúvida sobre as pessoas sumidas, sobre quão desaparecida estão, e se realmente estão perdidas pra sempre... e cara, quando as verdades surgem tudo fica ainda mais impactante do que esperaríamos, pois nem tudo se resume a dita câmera.

Delete: Compensa?

Sim! Muito! Creio que é necessário ter muita atenção aos detalhes, e paciência pois os episódios são longos, lentos, e tomam muito tempo pra se construírem, o que pode parecer enrolação. Mas acredite, cada detalhe é crucial e tudo é lembrado no fim, sendo todo esse processo mais do que suficiente para que a experiência compense.


Além disso, a estória é boa, repleta de caminhos bifurcados e escolhas alternadas, de pessoas diferentes que acabam causando consequências uns nas vidas dos outros. Inclusive, eu não diria que há um protagonista aqui, além da própria Câmera que tudo Deleta.

Em questão de efeitos especiais, atuações, e efeitos sonoros, pra mim tudo soou extremamente bem feito, e não vejo nada de negativo. 


Fizeram um ótimo uso das câmeras, souberam contar tudo no tempo certo, os personagens convencem, e a música é bem única (o efeito do tempo desacelerando quando geral é apagado combina muito com as cenas).

É isso... Se eu falar mais, vou comprometer sua experiência caso decida assistir. O estilo dela lembra um pouco a série "A Lição", mas ela tem muito menos romance, e é muito mais cruel.


É uma boa série, que acho que poderia ter sido um pouco mais direta, e por várias vezes quase me fez desistir de assistir. Mas sou grato a mim mesmo por ter aguentado firme, afinal o final compensa, e ela impressiona, além de ser bem memorável... aliás me lembrou tanto "Life is Strange"... a gente fica fascinado pelo fantástico que não lembra de como o mundo é cruel.


Mas, caso já tenha visto e esteja querendo entender o final, digamos apenas que: Quanto pior o usuário, mais poderosa a arma se torna.

See yah!

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