SérieMorte: A Lição (The Glory) - Parte 2

Apenas: Que série incrível.

Apesar de ter adorado a primeira parte, eu acabei achando chata a decisão de dividir o projeto logo em duas longas metades, de 8 episódios cada. No entanto, essa não parece ter sido uma decisão meramente tradicional, pra honrar esse modelo abordado em muitas séries da Netflix...

Aqui, parece ter sido algo realmente proposital, uma vez que a parte final é bem diferente da inicial...

Mas, essa diferença não remete a qualidade, ou ao conteúdo em si, e sim à carga que ele traz, pois a primeira parte foi só pra nos preparar.

Falarei mais a respeito, sem spoilers.

Se quiser ler a Parte 1, clique aqui.

Boa leitura.

Caramba, como valeu a pena tirar essas horinhas pra acompanhar essa baita história, horas essas que passaram rápido de mais.

Esse drama coreano é estendido pra caramba de fato, e cada episódio tem quase 1 hora de duração. Eu mesmo me vi um pouco receoso pra assistir, uma vez que nosso tempo vem se tornando cada vez mais curto, mas simplesmente compensou.

Apesar de episódios longos, eles não são enrolados, nem são lentos de mais, sempre tendo algo importante mesmo que não pareça. E olha que o formato é bem novelístico ainda, com drama, diálogos, romance, suspense e reviravoltas a todo instante. O mais legal são as insinuações, as sutis referências que apenas um trabalho muito atrelado as nossas emoções conseguiria fazer (e essa série consegue).

Tudo flui, e nunca se esquecem do astro principal, que rege a obra: A Vingança.

Apesar da jornada vingativa e vilanesca, notei que alguns padrões cinematográficos e até "tradições" foram mantidos.

Sabe a regra da Apple? Pois é, ela de novo. Vilões não são vistos com aparelhos tecnológicos com maçãzinha mordida, e isso aqui serve para nos confundir!

Uma vez que não temos certeza de nada, nem sabemos quem é herói ou vilão num enredo tão cheio de ações vingativas, fica difícil crer que a ordem empresarial de alguma forma vigorou aqui. A questão é que... ela valeu e não valeu, ao mesmo tempo.

É óbvio que os protagonistas estão agindo com ruindade nos olhos. Eles são vingativos, e a vingança é um ato ruim... mas a série nos mostra isso de um jeito mais justificado, aliás, "justiça" é a palavra ideal.

As personagens interagem e tem suas histórias reveladas pouco a pouco, numa boa reprodução do joguinho que ilustra boa parte da história.

Mais uma vez falando do Go, esse jogo é bem o que vemos em tempo real, muito mais nessa segunda parte (mesmo o próprio jogo nem sendo mais tão discutido, mas ainda ilustrativo).

Todo mundo se cerca, as vezes parece que a protagonista está enrascada (e está) com os rivais dela a superando, e o jogo começa a virar, com todos quase vencendo, mas no fim sempre havendo uma saída pra ela.

O jeito como ela montou sua estratégia, e a adaptou com as peças que recebeu ao longo da partida, só mostra o quanto ela se preparou pra sua glória.

Pior é que ela mantém aquele jeito frio até o fim. Até seus sorrisos são conflitantes, e meio nocivos pois percebemos constantemente o quanto ela permanece ferida tanto no corpo quanto na alma.

Tudo acaba sendo empolgante, principalmente pelo jeito como as histórias vão encontrando suas resoluções ideais, e como cada vingança é aplicada no fim. A princípio eu pensei "Mas, matar geral não vai nunca devolver a crueldade que eles fizeram com ela"... e de fato, é muito pior.

A série nos faz entender bem o quanto cada desfecho é cruel, e na igual medida ao que a protagonista sofreu. E se tem algo perturbadoramente satisfatório, é isso.

Pois, o tempo tomado pra mostrar cada personagem, é preciso e indispensável para que entendamos suas perdas, e como isso é pesado pra eles.

Ninguém é inocente aqui, mesmo que a história justifique seus atos, todos pagam uma hora ou outra.

Até mesmo o primeiro personagem que se ferrou prematuramente, numa ação ainda investigada aqui, é punido posteriormente. Suas ações não foram esquecidas, e ele nunca foi perdoado, tendo seu final apresentado apenas no ato final! E é de chocar, e por mais atentos que sejamos, ele ainda surpreende com detalhes que não notamos.

Inclusive, em algumas partes a série flerta com o paranormal e sobrenatural sabia? Ela insinua coisas, e até mostra, que nos fazem ter dúvidas... e isso enriquece muito o conteúdo. 

Aliás, surpresa é o que não falta aqui. Toda hora rola algo pra nos impressionar, seja pondo a protagonista na berlinda, ou destacando a inteligência dos vilões, ou até mesmo plantando dúvidas na nossa cabeça, com pequenas pontas soltas.

Algo que agrada são essas pontas, que nos deixam perplexos e curiosos, buscando entender o que deixamos passar, e é gratificante ver que tudo se combina no final, tudo se amarra.

Impressionante ver que não esqueceram nada, e até os pequenos arcos tem bastante relevância, e significância, na trama principal.

Nessa história montada de forma acronológica (parcialmente) acompanhamos essa vingança sendo conduzida, montada e executada do jeito perfeito. As dúvidas são postas pra criar intrigas, e as respostas chegam na exata hora e formato que precisam, pra cumprir seu compromisso narrativo.

Peça a peça, posta num tabuleiro grande, até ele inteiro ser preenchido... é o próprio Go.

Vemos bastante flashback, cenas interrompidas antes da hora, revelações de casos antigos, diálogos expositivos, e mesmo assim, tudo está bem posicionado, pra contar o que é preciso, e nos fazer entender.

Nada é exagerado, e nada é óbvio também. A série mantém seu nível, fugindo até mesmo de clichês.

O terceiro ato por exemplo, ele acaba e ainda assim, rola continuidade. Eu tava devastado em lágrimas e eles continuaram, é torturante, mas igualmente agradável, pois cria-se uma sensação rara de persistência e permanência.

Tanto que, no medo que eu tinha de apostarem em continuações, valendo-se inclusive de arcos ainda abertos depois da conclusão da trama principal, me acalmaram e confortaram trazendo as respostas, todas as respostas, sem deixar nada incompleto (mas ainda dando espaço pra continuação).

É legal como tudo o que essa série mostrou, foi resolvido e explicado. Mas, a obra em si pode ser continuada sim, não partindo de coisas incompletas como normalmente ocorre, mas seguindo seu conceito.

Ainda assim, não creio que seja necessário. 

A Lição é uma obra perfeita, completa e definitiva.

Seu desfecho não é um gancho pra "segunda temporada", mas sim uma mensagem de que a vida continua.

E isso é só uma das poucas coisas que aprendemos com essa viagem conturbada, onde a vingança não sai impune, pra ninguém.

Compensa muito assistir, e é bom ver uma série que trabalha suspense, mistério, e sabe terminar sem ficar com enrolações, e sem descartar seus mistérios com justificativas chulas.

E meu, como eu chorei viu, por um misto de emoções como raiva, ódio, repulsa, alegria, surpresa e tristeza. Toda hora minhas lágrimas derramavam por uma razão diferente, ainda mais na etapa final.

Espero que goste de assistir, e não se preocupe, não tem violência nem nada explícito (apesar de ter cenas impactantes).

É isso.

See yah!

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