CríticaMorte: Terrifier 2 - Um Hilário Horror Estragado

Nunca nem ouvi falar de "Terrifier" e de repente, escuto falar do quanto sua continuação é assustadora, ao ponto de fazer pessoas correrem dos/pros cinemas.


De cara o que pensei foi "puro marketing" e... é isso mesmo.

Falarei do filme sem dar spoilers (se bem que eu nem teria como, a história é péssima). Mas, compensa assistir.

Boa leitura!

O filme é bem interessante, usando e abusando de efeitos práticos, e muita groselha, pra ilustrar as terríveis ideias que seus desenvolvedores tiveram.

É bizarro? Sim, muitas vezes, em conceito e prática, mas o filme perde seu brilho por causa de sua enorme fraqueza: Roteiro.


Antes fosse um filme de um palhaço mímico sórdido que mata geral, e só nisso já se bastaria como um espetacular filme de horror (do pior gosto possível!). Mas seus idealizadores optaram por criar uma narrativa pra explica-lo, ou melhor, pra ambienta-lo, onde uma família puxa os holofotes pra si e simplesmente desvia a graça da obra.

Com foco absoluto numa história sem graça, a parte mais desagradável, portanto atrativa desse horror, fica em segundo plano e precisa dividir o palco... o que é triste.


Estou abismado com a ousadia dos caras em tornar uma criatura tão bizarra quanto o "Palhaço Art", em personagem secundário num filme que funcionaria perfeitamente bem apenas com ele estrelando! E eu sei, aqui ele age como antagonista, sendo o vilão contra quem os protagonistas devem lutar... mas... acho que o melhor desse horror é o próprio horror, logo, ele deveria ser o protagonista.


Ele tá no mesmo nível de personalidade que Chucky (sim, o Boneco Assassino) e Freddie Krueger (Hora do Pesadelo), além de muitos outros seriais killers da ficção, que aterrorizam beirando o cúmulo do absurdo em suas ações. Seu diferencial, é que apesar de emular o estilo Michael Myers (Halloween) e Jason (Sexta-feira 13) de caladão e cruel, ele é hilário em suas reações!


Ele veste a camisa de palhaço, fazendo questão de zombar de tudo, e atuar como se estivesse brincando enquanto tortura, dilacera, e massacra. É esquisito falar assim? Poxa, claro que é... mas estou apenas expondo o que pensei ao vê-lo.


É um personagem realmente assustador, e as vezes engraçado, mesmo em situações extremamente grotescas. Nos fazer rir em desconforto é uma característica única dele, algo que nem mesmo as piadas de duplo sentido do Chucky são capazes de fazer, pois aqui ele não torna a situação "tresh", na verdade as coisas permanecem horríveis, e as expressões dele apenas o fazem ser mais assustador, por expor o quão impiedoso e facínora ele é.


Ele até lembra o Pennywise (IT - A Coisa), mas consegue ser ainda mais atrevido e desaforado, além de debochado, do que qualquer outro palhaço medonho que eu já vi.


O forte dele, tá no silêncio, e é muito intrigante (e ainda mais assustador) ver ele abrir a boca em espanto, fingir que tá gritando, sem soltar um único som, ou então fazer poses animadinhas ou desengonçadas enquanto suas vítimas simplesmente gritam de terror. Mímicos por si só já dão medo, agora imagine um assassino!

Sem se limitar a armas (usa de tudo que possamos imaginar) o estilo dele pra torturar e caçar suas vítimas, é totalmente imprevisível. Ele pode ser rápido e espalhafatoso, ou lento e muito macabro, mas algo que com certeza não da pra fazer é prever suas ações antes e após elimina-los.


E tá ai algo que falta em muito filme de terror: Um vilão que seja implacável, imprevisível e instável o suficiente, pra nos fazer entender que não podemos entendê-lo.

E o triste aqui, é que jogam tudo isso fora ao depositar atenção num roteiro fraquíssimo de um grupo desinteressante, que pouco ou nada tem a oferecer no entretenimento que buscamos. Só pra constar, a história das pessoas que o palhaço massacra até que são bem contadas, e há uns momentos bem inspirados, mas elas por si só não são nada de mais.


É uma dupla de irmãos, uma moça se preparando pra festa de Halloween e um menino viciado em seriais killers, ambos filhos de um cara importante que já morreu do outro filme (aparentemente), e com uma mãe super chata que fica no pé deles. Daí eles descobrem que são "Os Escolhidos" pra matar o vilão imortal.


Todo o resto é apenas isso, resto. Personagens randômicos que nos fazem questionar os padrões do assassino mas que no fim, só tão lá pra gerar o bom e velho banho de sangue gratuito.

Os instantes finais (tirando o pós-crédito) são tão clichês que desonram a péssima (nesse caso é algo positivo) imagem que o longa constrói de inconsequente, visceral e grotesco. Tanto que no único momento que percebi efeito especial digital, foi num nível tão antiquado que quase achei estar vendo uma série de televisão dos anos 80. E a cena em si foi em total desserviço com tudo que foi construído até aquele instante.


Pior de tudo é que dava pra prever isso, pois é exatamente no roteiro, e na ênfase exagerada que dão na Espada, e no background da família protagonista, que isso é apontado e incluído na trama.

Por ser o segundo filme, é normal por exemplo haverem referências ao primeiro... mas aqui essas referências surgem somente nas cenas da tal família, o que me faz acreditar que haja ligação dela com algum personagem de destaque no primeiro filme. Algo lamentável, pois repito que o auge do longa é o vilão.


Não só o vilão aliás, mas sua ilustre e macabra coadjuvante, que nunca é explicada apesar de sabermos bem o que ela simboliza. Uma criança também vestida de palhaço, que não da pra saber se está mesmo ali, ou é puro fruto da mente do palhaço... pelo menos a princípio.


Ela não chega a por a mão na massa em momento algum, mas faz parte das atuações do vilão como se fosse uma cúmplice! E, eu realmente gostei do uso dela.


A personagem está ali como um apoio dele, mas ela não é uma arma dele. Cenas nas quais imaginei que ela seria usada como uma artimanha forçada pra abrir portas pra ele, ela não é usada. E isso só reforça a imprevisibilidade da dinâmica dessa dupla!


Os poucos momentos nos quais ela participa diretamente da história, são conclusivos, e quase como se apenas limpasse a bagunça. Ela é como uma seguidora do palhaço, ou uma influência, que nunca é explicada, apenas surge, e isso melhora muito o terror.


Imagine se os personagens perdessem horas pesquisando sobre quem a figura da menininha é para o palhaço, pra então combatê-la. Isso seria como pregos no caixão, tirando tudo que tinha de mais "divertido" do filme.

Felizmente isso não ocorre, e eles apostam no mistério com o desfecho dela, e no pós crédito e a bizarra cena do "parto". Achei sensacional! Perturbador, nojento, e um final digno pra esconder o final que os diretores botaram originalmente... ou pelo menos camufla-lo um pouco e devolver aquele gostinho azedo que tanto fez bem, nas melhores/piores cenas.


E algo que achei interessante também é que toda essa parte do pós-crédito é sustentada por coisas que não vimos, apenas imaginamos, ao longo de todo o filme. É que uma terceira "antagonista" é mencionada, como sendo sobrevivente do filme anterior (aparentemente), mas nunca vemos ela em ação, exceto nessa cena. E o curioso é que paralelo aos eventos que assistimos, ela chega a matar, e isso é citado! Mas o longa não mostra isso, mantendo o mistério.


O filme começa bem, desanda e perde força por conta do senhor roteiro, e encerra muito mal, tornando o vilão (até então poderoso e imbatível) num verdadeiro palhaço, que é vencido pelo poder do amor. É desapontador ver um cara que abriu o braço de uma pessoa ao meio só na mão, sendo chicoteado nas costas pela princesa Xena.


Sobre o gore... eu não me recordo de ver algo tão explícito antes. Mesmo que notemos a maquiagem ou a artificialidade (ainda mais com a textura do sangue), não da pra negar que as coisas funcionam do jeitinho que planejaram. Legal que eles atiram pra todos os lados nesse sentido, indo de alucinações pra verdadeiros massacres á luz do dia! Sempre mostrando muito sangue e agonia.


Há exageros? Aos montes!! Mas convenhamos que a "graça" do horror tá no absurdo, que aqui é temperado pelo palhaço mímico e suas performances.

O filme é razoável. Eu que não sou fã desse estilo acabei "curtindo". Aliás, senti que o estilo de filmagem aqui é diferente... da um ar de anos 90, apesar de ser uma história em tempos modernos. Eu gostei muito da filmografia, meio saturada mas muito fluída, inclusive nas cenas de ação (mostrando tudo quase que initerruptamente). 


Não sei se verei o primeiro agora, mas seria bom pra tentar compreender referências que o segundo fez, ainda que ele não dependa disso pra que assistamos.

Se você gosta de filmes slashers, este é uma boa opção, não por seu enredo, mas por seus dois personagens antagonistas (a menininha é um adicional surreal... tenho medo dela).


É isso.

Espero que tenha gostado do texto.

E se for assistir, prepare o estômago, tem cenas muito nojentas e fortíssimas, mesmo sendo falsas.

See yah!

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