SérieMorte: Upload

Curioso como certas coisas passam batido pelo nosso radar mesmo quando é evidentemente do nosso interesse. As vezes isso acontece, como foi o caso de "Upload" comigo.


É uma série de ficção científica futurista, que aborda um dos temas que mais gosto: Realidade Virtual.

Aliás, ela é quase um episódio de Black Mirror convertido em uma série de 10 episódios com mais de 40 minutos cada, todos disponibilizados na Prime Video (streaming da Amazon), porém consegue ser bastante original apesar da comparação, e tem muito a abordar sobre o tema escolhido.

Eis meu parecer sobre "Upload", sem spoilers.

Boa leitura.

Aguardo ansioso pelo dia em que poderemos entrar nos vídeo games, em mundos virtuais, com interatividade imersiva e sensibilidade, tipo o que vemos em animes como Sword Art Online, ou então em filmes como Jogador Nº1. Estamos longe disso, muito longe, engatinhando e brincando com Óculos Gigantes que nos deixam vesgos e atrapalhados, mas um dia chegaremos lá.


E é justamente na pretensão de prever esse evento e como ele sucederia, que Upload surge. 

Ele mostra um mundo num futuro não tão distante, onde essa tecnologia já foi descoberta, desenvolvida, e aplicada ao cotidiano, paralela a várias outras. Mas o foco da série não é mostrar seu uso para jogos, ou interação social (apesar de mostrar isso em alguns momentos), e sim na extensão da vida humana.


Direto ao ponto: Uma empresa viu vantagem em transferir definitivamente a mente de pessoas pra um "Resort Virtual" onde elas viveriam eternamente, desde que pagassem por isso. 

A série é sobre isso, a capitalização de um recurso tão incrível, e uma vislumbrada de como provavelmente essa tecnologia seria explorada pelo mercado, ao máximo.


O protagonista é uma vítima do sistema, que acaba não tendo qualquer alternativa e descobre a podridão desse mundo, da pior forma possível, apesar dele também ser responsável pelos próprios problemas.

Curioso que enquanto isso ocorre, um romance entre ele e seu "Anjo" (quem administra o sistema) vai surgindo até que, nos vemos mergulhados no suspense pelo mistério da razão dele ter ido pro sistema.


A cada episódio, um pouco dessa realidade é mostrada, sempre com ênfase no impacto do capitalismo empresarial em cima da sociedade. No entanto, o bacana são as previsões tecnológicas que pouco a pouco são apresentadas.

Sejam Bicicletas Automatizadas de Aluguel, Veículos Completamente Autônomos, Celulares Projetados por Holograma, ou até Preservativos com Webcam (sério, é algo bem maluco), a série vai longe no quesito criatividade, mas sem fugir tanto assim da realidade.


Há constantes comparações com nosso mundo atual, e tentativas de antecipar o que nosso futuro nos aguarda, com facilitações cada vez maiores do nosso cotidiano, e igualmente mais retenção de lucros por empresários espertalhões.

É difícil não perceber, e se incomodar, com o aproveitamento da empresa principal daqui ao vender seu produto e tirar o máximo do que há dele. Por um lado, manter sua mente num mundo digital após sua morte já levanta um monte de nuances e dúvidas sobre a natureza dos "Uploads", mas isso é ofuscado pela tendência em explorar esses uploads de forma cada vez mais desumana, mas intrigantemente crível.


No mundo virtual, eles não tem escolha, devem viver lá sem opção alguma, mas caso queiram mudar algo, queiram simular algo diferente, ou apenas seguir algum rumo distinto, é preciso que paguem por isso. 

A pessoa que vai pro sistema apenas perde sua liberdade, e vira um algoritmo à disposição dos vivos. Nesse caso não são nem apenas os exploradores econômicos, mas suas famílias e amigos também. Basicamente, a opção de prolongar a vida indefinidamente, é uma armadilha pra se tornar ainda mais dependente dos outros, e pior, é um ponto final naquilo que torna a pessoa um individuo, e consequentemente: viva.


Sem poder produzir, mesmo ainda tendo sua mente plenamente funcional, o upload depende de alguém no mundo real para mente-lo existindo. Isso é assustador.

Mas repito, tudo soa bastante crível, e se pensarmos bem, caso tal tecnologia surja, será usada dessa exata forma pelos mais espertos, pra tirar proveito dos mais ingênuos e entusiasmados. 


Enfim, a série é interessante pois a cada episódio nos faz entrar mais e mais nesse mundo, e imaginar como isso nos afetaria. Também nos faz torcer pelo protagonista, e investigar seu passado e as circunstâncias de tudo que lhe ocorreu, só pra que no fim tenhamos alguma solução pra um cenário tão caótico e perturbador.

Bem, os efeitos especiais são muito bem feitos, e é legal quando brincam com falhas digitais, propositalmente inseridas, e algumas artificialidades gráficas. Tudo é feito de um jeito que nos lembre quando os personagens estão no mundo virtual ou não, e isso funciona direito.


Referente a maturidade da obra, ela é engraçada, mas sem soar boba, é romântica sem soar pegajosa, e tem até cenas de nudez e sexo, mas de forma tão moderada que qualquer um pode assistir sem sentir desconforto. Além disso nada é gratuito, sempre havendo uma razão pra que as coisas aconteçam.

Como a parte da violência, em que a cabeça de alguém explode, mas há significado nisso, algo a comunicar, e o choque da cena é proposital.


Aliás, quando mencionei "Black Mirror" lá na introdução, foi por causa de vários episódios que abordam justamente essa ideia de "Mente Virtual". Como temática da série, eles sempre mostram o lado "negativo" desses avanços tecnológicos, e há muitos que mostram algo muito semelhante ao de Upload.

O que achei intrigante é que lá, tudo é mostrado em ambientes diferentes mas pertencentes a um mesmo "universo", com espaçamento temporal. Os eventos ocorreriam em épocas diferentes, com tecnologias diferentes, e todos os temas que vemos aqui, como capitalização e exploração financeira dos consumidores, relacionamentos à distância pelo mundo virtual, escravidão tecnológica, dependência e parasitagem social, clonagem mental, extensão de vida por meios digitais, etc, etc... tudo isso tem em Black Mirror, e mesmo assim, "Upload" consegue ser original.


Ele conta isso de um novo jeito, e apresenta as tecnologias de uma forma parecida mas não igualzinha. Além disso, essa é uma série contínua com a trama desenrolando mais e mais a cada novo episódio. Há pequenos eventos individuais, mas no fim a série só funciona se vista em sua totalidade. Já Black Mirror, por ser antológica, acaba surtindo efeito em qualquer episódio, independente da ordem que seja vista.

O que importa é que, compensa ver. Ainda mais se você for entusiasta com tecnologias do tipo, é muito legal ver quais as previsões e como imaginam que tudo isso será... e quem sabe um dia invistam pra valer nisso.


O bom é que, o lado ruim todo mundo já vai tar cansado de saber, e quem sabe se preparem pra isso (aham, se tal tecnologia surgir, provavelmente cometeremos os mesmos erros da ficção).

Pior que, atualmente estamos vivendo a era do Streaming, Bitcoins, Metaverso, NFTs, e mais um monte de inovações que, tão começando a assustar, pois caminham pra esse mundo tão retratado na ficção.


A vida imita a arte.

Aliás, são apenas 10 episódios de 40 minutos mais ou menos, e apesar de ter final, fica bem aberto e com certeza pretendem uma segunda temporada. Há muito pra explorar ainda... aliás, acabei de ver, já tem até trailer da segunda temporada. To bem ansioso.

É isso.

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2 Comentários

  1. Filmes como Matrix, Jogador N°1, séries como Upload, Black Mirror...será que não são apenas meios de comunicação indireta dadas por uma fonte universal dessa realidade, que apenas se trata de uma realidade virtual para essa fonte, para que os indivíduos presos nessa realidade virtual (nós) criemos a nossa própria e entremos em um loop infinito de desmaterialização por meios virtuais??!?!?! Será que tudo isso não passa de um joguinho estilo sandbox do Deus Cristão?!?!?!? Será que meu breve suspiro de consciência não é apenas incorporado por uma entidade cósmica onipotente mais velha que o próprio tempo experimentado o uso de consciência artificial em pequenas espécies por todo o cosmos?!?!?!
    São tantas perguntas, e por que raios elas parecem fazer sentido?! Isso não faz sentido!!!
    ("'Wilson...oh wilson, você voltou a abusar de entorpecentes de novo??! Eu disse para você ficar longe do porão!! Agora você vai delirar e falar coisas sem sentido e atormentar todo mundo ao seu redor...incluindo eu mesmo...ah...que vida"")
    então esses entorpecentes foram longe demais pq hoje eu tive um sonho dakeles viu, se ta doidooooo...




    Mas será que este comentário foi induzido a ser feito por uma entidade cósmica onipotente para reforçar a ideia de que nossa espécie tem controle de suas ações e realidade quando na verdade o contrário é absoluto e indissolúvel e cria ironicamente o sentido inverso para que nossa sociedade não se divida e colapse em um conflito nuclear mundial?

    Bom...voltamos a estaca zero, a terceira guerra eu não sei, mas a quarta vai ser com paus e pedras...


    E será que esse comentário não seria apenas mais uma ilus...
    (""Chega Wilson, chega...só...chega, já entendemos que você ta cheio das ideias...ok? Agora vai fazer algo útil...ajuda bastante..."")




    btw, as imagens como sempre perfeitamente combinadas ao contexto do texto, muito massa.

    Parece uma serie interessante...
    Bye.

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    1. Obrigado sr Wilson. To me esforçando pra pelo menos montar de um jeito legal. Bom que notou.

      Veja ela, não se arrependerá.

      See yah.

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