SérieMorte: The Cuphead Show

Cada episódio tem só 25 minutos, mas descontando o tempo da abertura e encerramento, sobram menos de 10 minutos, apenas 12 episódios de 10 minutos cada (é praticamente uma minissérie) sendo uma série bem curtinha, acelerada, mas divertida, apesar de ridiculamente boba...

Vou resumir o que achei e, boa leitura.

Vou evitar spoilers.

"The Cuphead Show" é quase uma adaptação de videogame, que no fim das contas funciona mais como prequel. O jogo foi lançado de forma indie, desenhado a mão, inspirado em artes de animações antigas e repleto de referências. Assim sendo, uma adaptação dele em forma cinemática soa até fácil, bastando apenas criar histórias no modelo antigo e reaproveitar as artes já introduzidas no jogo. 

Porém, os caras foram um pouco além pra não virar só algo genérico, e reinventaram a trama de Cuphead, adicionando elementos novos, personalidades, desenvolvendo conexões e relacionamentos, e  também salientando elementos do jogo, mas sem que ambos se vinculem, substituam, ou interfiram um no outro, pelo menos não ainda.

A história seria algo que se passa antes dos eventos do jogo, servindo pra apresentar personagens e introduzir mais detalhes na trama. Mesmo em alguns pontos parecendo que é algo completamente diferente, conforme as histórias são contadas percebe-se que estão relacionadas ao que surgirá no jogo, aliás, nos jogos.

Afinal parece até que esta animação existe como uma cutscene a parte, feita pra apresentar um personagem específico (que só aparece no último episódio) e seria um dos grandes destaques da "DLC" de Cuphead. Se pensarmos e calcularmos, leva-se menos de 2 horas pra maratonar a série toda, tempo este equivalente justamente às cinemáticas vistas em jogos, algo que Cuphead não usava (contando com Páginas Estáticas e Textos pra contar seu enredo), mas agora pode usar.

A série tem um tom muito infantil, com conversões do enredo pra amenizar um pouco o tema principal (pacto com o tinhoso), mas ainda mantendo as mesmas ideias vistas no jogo, em ambientes inéditos, e em situações novas.

E isso não é ruim, muito pelo contrário, deu um novo fôlego ao enredo do jogo e trouxe um novo tipo de interpretação.

Infelizmente, divulgaram ele de forma um pouco equivocada. A animação é vendida como "Besteirol Infantil" e não é bem isso não. É uma série de humor, besteirol sim, mas com uma subtrama bem adulta camuflada... assim como o jogo.

Claro que amenizaram bem, tanto que no primeiro episódio já mudaram a forma como a alma de Cuphead foi pras mãos do tinhoso. Ainda há acordo? Sim. Ainda tem danças e músicas, além de uma arte fofinha pra disfarçar o bizarro? Claro! Mas também mudaram e adaptaram várias circunstâncias pra algo mais aceitável. Claro que, a longo prazo parece que tal adaptação foi temporária, não descartando os eventos do jogo mas, os adiando um pouco, justamente pra dar mais liberdade e independência à série, sem inviabiliza-la junto ao projeto original.

Isso é bom pois atrai curiosidade, intriga, e entretém independentemente de conhecermos o jogo ou não, só que da mesma forma que eles pegam pesado nas ideias, parecem que maneiraram na execução e até se autocensuraram em certos pontos. Exemplo: Não há qualquer palavrão, nem piadas de conotação sexual, e o humor é tão bobo e tolo que é improvável um adulto gargalhar ao vê-lo (é o tipo de coisa que assistimos com o cérebro desligado) todavia tem mensagens ruins e que não servem de exemplo pra ninguém.

Cuphead e seu irmão Mugman são crianças, que vão num parque de diversões (e não um cassino) e perdem pro Diabo em um jogo trapaceiro de parquinho... Engraçado que só nessa parte já adaptaram milhões de coisas do jogo, em uma forma bem mais comunicativa, mas diferente do que é visto ao se jogar.

Por exemplo, o jogo é de Tiro tecnicamente, então mostraram isso ao fazer com que Cuphead fosse um mestre no tiro ao alvo, vencendo sequencialmente um jogo de jogar bolas em buracos, e fizeram questão de aproveitar isso como uma piada. 

Então ele perde apenas por uma atrapalhada de seu irmão, e olha que incrível, isso  também vale como referência, afinal uma marca de Cuphead - Game é a dificuldade em jogar em co-op pela constante atrapalhada dos aliados, e a dificuldade aumentada quando alguém joga junto contigo (ah, lembranças), e também funciona como piada, nos fazendo rir.

Até o Resgate das Vidas pelo "Parry" foi meio que adaptada. Mugman resgata a Alma de Cuphead na base da força mesmo, puxando de volta e enfiando ela no irmão (mais de uma vez inclusive), algo que evidentemente é uma baita trapaça, assim como visto in-game (onde dá pra negar a morte de aliados pulando em suas almas) e mais uma vez, não foi posto aleatoriamente só como referência, foi algo usado em favor da trama, com mais uma piada inclusa, e bem bolada.

O enredo foi modificado levemente pra combinar com todas essas adaptações e, ficou muito legal. Você assiste, entende, mesmo sem conhecer a obra original, e caramba, temos aqui um "Silent Hill"???? É que, adaptações cinematográficas de jogos são amaldiçoadas, mas em casos raros como do primeiro filme de Silent Hill, a audácia em modificar muito, mas preservar essências, fez com que o projeto se tornasse significantemente agradável. A série de Cuphead quase faz isso... porém...

O que ela nos mostra são contos randômicos quase antológicos e inconsequentes, com pouca continuidade e num formato bem episódico, referenciando obviamente as animações mais antigas (que visavam contar pequenas histórias desconexas apenas pelo entretenimento). 

Poucos são os episódios que continuam algum evento anterior, e mesmo assim, eles costumam ser independentes em muito do que mostram, abordando temas próprios que não necessitam de informações prévias, nem oferecem qualquer consequência permanente à história.

Mas, o que torna este um projeto cronologicamente anterior ao jogo (ou seja, deixaria de ser uma adaptação pra se tornar um prequel) seria a forma como cada personagem é apresentado, e as interações entre eles. Alguns são originais, outros são tirados do jogo mesmo, mas eles estão sempre tendo o primeiro encontro com os irmãos Copo. No jogo, nunca fica claro se é o primeiro encontro ou não (na verdade até parece que todos já se conhecem), o que apenas permite tal interpretação sem qualquer problema.

Claro que, por ser uma animação, inspirada em algo que já era inspirado em animações, dá a impressão de que este seria um projeto simples e fácil, bastando apenas imitar o jogo e repeti-lo de forma narrada. Mas não foi isso que fizeram mesmo... eles remodelaram tudo e nos reapresentaram a essência de Cuphead, com novos eventos, uns mais idiotas que os outros mas interessantes.

O mais interessante é que, parece que os episódios emulam a ideia das animações dos anos 40, assim como o jogo fez, não só pela arte ou música, mas por toda atmosfera, pela forma caótica e descompromissada da trama, e claro, pelo baixo temor ao "politicamente incorreto", flertando o tempo inteiro com dualidades subliminares e referências que, crianças podem não pegar, mas adultos com certeza notariam.

Aliás, essa definitivamente não é uma série pra crianças, mesmo tendo uma arte bastante convidativa. As lições de Cuphead são terrivelmente erradas, e cada episódio consegue ser mais errado que o outro. 

Exemplo, vamos pegar leve, o segundo episódio ensina crianças a desobedecerem os adultos, abandonarem responsabilidades, e principalmente, ensina o abandono infantil como se fosse algo engraçado e correto. O terceiro ensina a roubar, o quarto a mentir.... a coisa vai piorando muito...  por isso repito, não é pra crianças, visto que esse humor distorcido é proposital, pois é algo pra provocar.

Cuphead é uma jornada curta, rápida, bem idiota, porém divertida e poderia ser prolongada muito mais. Se bem que pelo final, é exatamente isso que farão... Só achei estranho como decidiram fazer isso.

Em algo que é promovido como "Série", além de ser ridiculamente breve, ela ainda não se concluí. O último episódio termina de uma forma aberta, com uma consequência impossível de se ignorar, e com a apresentação de um personagem que pouco foi explicado no jogo, mas já tem confirmação de ser o terceiro principal dos games (nos anúncios de "Cuphead: The Delicious Last Course" ela aparece como jogável, sendo que no jogo original ela era um npc).

Por se tratar de algo original Netflix, talvez apenas se embananaram na hora de botar no catálogo e, falaram que era a "1º Temporada" sem realmente ser (tinha isso produzido, lançaram tudo junto pra formar um pacote conforme a plataforma exige, e deixaram o resto pra lançar depois como outras temporadas). Ou talvez seja mesmo e queriam deixar um final tão estranho justamente pra mexer com o espectador e chamar atenção.

Cheguei a supor que seria uma jogada de marketing pra DLC que vai trazer um monte de chefes novos e adições ao jogo principal (eu achei até que era um jogo novo pelo barulho que fizeram), mas quem sabe né?!

Só sei que, é uma série legalzinha. Assisti mais por curtir Cuphead, e sinceramente não vejo nada que nos prenda a ela sem ser a conexão com o jogo (o humor é realmente bem idiota). Porém, pelo menos tá muito bem feita.

Eu só esperava algo um pouco mais "errado" afinal, se flertaram com a ideia, porque já não "chutar o balde" de uma vez.

Tomara que nos próximos episódios encomendados eles pirem na batatinha e façam loucuras pra tornar este um desenho ainda mais polêmico e engraçado. Cuphead é legal.

É isso.

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