CríticaMorte: Resident Evil - Bem Vindo à Raccoon City

Estava eu de bobeira com a família quando decidimos assistir um filme. Entre a sugestão de um found footage medonho ou uma comédia dramática, eis que escolhemos: Resident Evil, o novo filme.


O que uma coisa tem a ver com a outra? Absolutamente nada. Mas já que recentemente joguei a toalha e venho consumindo qualquer tipo de coisa, porque não assistir a mais uma adaptação de video games pro cinema, e ainda por cima de um jogo que eu já não curto tanto.

Eis meu parecer! (E lembrando, é minha singela opinião).

Boa leitura.

No começo, eu jurava que tinha botado o filme errado pra rolar. É que, diferente de tudo que assisti recentemente, este longa emula uma fotografia de época e realmente parece ser um filme antigo, dos anos 90, que se leva a sério e tenta causar terror. Isso no começo é claro.


Começo este que me animou, confesso. Eu parecia um adolescente empolgado ao notar referências e, por alguma razão tive fé no que tava assistindo, e minha expectativa, que era completamente negativa, foi sendo contornada por um otimismo estranho.

Ao notar que era mesmo um Resident Evil não pela trama e suas referências, mas pela sutil presença de um símbolo familiar (o logotipo da Umbrella) ao fundo, eu realmente disse em voz alta "Tem coisa boa ai". Segundos depois, mais uma referência, agora um cartaz grande, meio escondido ao fundo, falando Umbrella, e eu "Okay, repetiram, mas ainda tá legal". E na sequência, nomes familiares "Chris e Claire", eram os protagonistas, as crianças (num flashback longo da infância deles), a marca de que aquele era mesmo um RE... eu fiquei empolgado, mas eu não devia.


Talvez eu tenha sido pego de surpresa pela filmagem em si e me vendei aos indícios e obviedades referentes a qualidade do longa. Eu fiquei tão animado com a ideia de um filme "usando tecnologias antigas misturadas com novas" que, esperei por mais daquilo.

Sei que há muitos filmes que contam histórias de época, ambientados tão bem que até convencem, e isso é até uma modinha de hollywood. Mas, eu não me lembro de ter visto um onde a tecnologia de filmagem em si era também a de época. A imagem com qualidade dos anos 90, os vícios e trejeitos de manipulação de câmera, as atuações canastronas porém, satisfatórias dentro do que se pede no roteiro, e uma trama nem tão direta, nem tão enrolada... que fica ali no meio termo, cambaleando entre um terror focado em suspense, e um terror mais visual e grotesco.


Isso tudo me fez ignorar coisas incômodas pra caramba, como a constante conveniência forçada, onde personagens e resoluções sempre surgem em momentos chave, como por exemplo alguém dando um tiro em outro alguém pelas costas, pra salvar mais alguém. Contei isso 4 vezes, mas repito, eu estava entorpecido pelas possibilidades que meu imaginário apontava.

Eu só comecei a me tocar que estava numa armadilha teatral quando, já próximo ao desfecho, reparei que o que eu havia visto não tinha nada de tão criativo, e só ocorreram desperdícios de ideias e conceitos que isoladamente funcionaram bem, mas no conjunto todo viraram até esquecíveis.


Mas, nem é disso que eu queria falar pra ser sincero. O que chamou minha atenção no desenrolar e encerramento, foi o fato de eu sentir a mesma sensação de jogar justamente Resident Evil.

E é esse meu ponto... o filme conseguiu mesmo transmitir a essência de RE, o que na lógica, tornaria ele uma adaptação excelente. Engraçado dizer isso mas ele funciona como um filme terror (antigo), e como adaptação de games (afinal a essência é passada), mas há algo bem errado nele que, ao meu ver, deve ter sido o que o tornou fraco: O Fan-Service.


Há situações nas quais ele abandona a criatividade e mergulha numa reapresentação forçada de coisas vistas nos jogos, o que vai contra a história em si. 

Tem personagens fazendo algo bastante específico, que não comunica nada, nem tem qualquer relação com o enredo, apenas é feito por referência, e pior, como no caso da Claire Andando de Morto, consegue desconstruir uma mudança válida realizada no começo da própria obra (onde ela começa num caminhão ao invés de na moto, como nos jogos), a troco de nada (toda a cena dela na moto não importa!).


Há as criaturas brotando do nada, onde apesar de ter todo um desenvolvimento bem interessante pro Cachorro Zumbi, e até pra personagem misteriosa (que no fim nem importou também diga-se de passagem), não há nem explicação pra criatura do teto (Licker) ou pro "chefão final" (o cara se transforma, vira um monstro, persegue as pessoas pra matar, incluindo A PROPRIA FILHA, mas faz questão de mostrar que ta consciente e tagarela o tempo todo). Ele até tem uma razão pra existir, mas e a motivação pra atacar? Onde foi parar?


Existem os diálogos expositivos que não combinam com a trama até então abordada (explicam de mais em tempo de menos, como o caso do cara na prisão) ou apenas, citações randômicas a nomes completos de personagens que no fim, não importam em nada pra variar (a Lisa, eu fiquei boiando), tudo isso simplesmente diverge do lampejo de brilhantismo que sugerem em alguns momentos, e abraça um padrão desagradável de referência gratuita constante.

Essa parte é aquela que revela o lado terrível do filme, pois é quando ele esquece que tá se apresentando pra um público extenso, e aponta única e exclusivamente pra um público seleto, mas sem a menor chance de alcança-lo pois, são referências soltas e dispersas numa história que tinha tudo pra funcionar (e funcionou, nos jogos).


Ousaram tanto ao mudar as etnias dos personagens, ao recontar suas histórias com adendos familiares, ao mudar até mesmo a estrutura da cidade de Raccoon City (palco dos 3 primeiros jogos principais) pra algo bem mais do interior, e principalmente, ao reestruturar a transformação das criaturas (ao menos as iniciais), que apenas, me fizeram questionar a razão de pararem bruscamente e  fazerem o resto do filme de qualquer jeito.

A Mutação... fizeram dela algo mais lento, real, e até perturbador. Os infectados se transformam progressivamente mas se mantém vivos e sãos, com efeitos cancerígenos por todo o corpo (faz mesmo parecer que a cidade foi inundada por uma infecção biológica, quiçá radiação). Eles só se convertem nos famigerados "zumbis" quando morrem, e a infecção toma conta de seus corpos. Mas antes mesmo disso, eles já são uma ameaça, e isso é incrível, é assustador.


Vale dizer que, assistir Resident Evil é como ver dois filmes ao mesmo tempo. Um é genioso e cheio de nuances sutis, aplicadas ao gênero terror com um simular de época. O outro é bobo, apressado, debocha da sabedoria do espectador e tenta mastigar enredo e referências, negando o sabor a quem assiste.

E aí eu volto a dizer... ele me lembrou justamente "Resident Evil", os jogos.


Quando jogo, sempre começo empolgado com o mistério, terror, com a curiosidade, e o medo. Mas, conforme avanço neles (falo dos principais, excetuando-se o 7 que, acabou sendo um jogo bem diferente dos demais pra mim), fico entediado pouco a pouco, com o excesso de ação, com o apelo às criaturas mirabolantes e grotescas, e acabo me desprendendo deles, tanto que eu quase nunca consegui terminar um Resident Evil (os únicos que o fiz foram o 7 e um que acabei analisando aqui, além de um de tiro em primeira pessoa pro Wii).

O filme é exatamente assim. Uma experiência misteriosa e repleta de emaranhados narrativos, que parece que vai surpreender com uma resolução diferente de tudo que esperamos, mas que repentinamente se converte em um conflito armado desnecessário e empurrado com urgência, finalizado inclusive com tiro, explosões e bombas.


Vai dizer que não é assim que é RE!

Pior que eu tava gostando... eu gostei da recaracterização dos personagens principais, da história de fundo que deram pra Chris e Claire, e até pro Leon (e eu gostei do Leon bobão, faz sentido ele ser assim uma vez que é novato). Gostei de como Wesker foi construído (podia ter sido muito melhor se nos aproximassem mais dele), e apesar dos pesares, eu amei a fotografia.

Algumas cenas a câmera fica muito mal posicionada, como quando um cara sobe as escadas pra investigar uma mansão e, ela fica de baixo da escada, quase nem da pra ver ele. Ou quando um policial tá dentro do carro e testemunha um tiroteio, sem poder reagir, nem sair, nem entender o que ocorria, mas com a câmera ali, restrita ao carro, travada nele e nos mantendo presos junto.


Isso é legal pois cria imersão. Mas nem sempre funciona, pois em outra cena, onde Chris ta enfrentando zumbis no escuro, além dos flashs constantes de tiros serem a única fonte de luz (o que incomoda), tudo se encerra com uma forçada cena em primeira pessoa pra tentar dar jumpscary. Não ficou bonito, e ainda nem funcionou, mas a tentativa foi válida.

Os primeiros jogos da franquia eram assim. As câmeras eram fixas no cenário, não no personagem, então você tinha uma experiência única, assim como foi neste filme... nessas partes.


Triste é que, na hora de usarem efeitos especiais digitais, os caras erraram rude. São efeitos ruins, que não combinam com o filme. Ironicamente, quando há algo mais voltado pro prático, consegue ser incrível. Aposto que, se tivessem focado mais nos efeitos práticos, tudo seria muito melhor e até assustador, num nível de "O Enigma do Outro Mundo".


Enfim, afinal, eu gostei ou não do filme? Então, eu mesmo não sei dizer. Ele é uma experiência curiosa.

O filme nem é tão legal assim, nem é memorável, é cheio de falhas, e meio perdido no geral. Porém, até que me agradou.

Mais do que adaptações anteriores, e mais do que as animações. Talvez meu gosto esteja comprometido, mas eu curti boa parte dele, em especial a Raccoon City em si, e a forma como a infecção foi abordada... achei bem medonho, um "medonho antigo" focado no bizarro...


Mas, apesar de tudo, eu não assistiria novamente, e passaria longe de qualquer continuação.

Vou guardar ele na memória como um filminho legal.

Aliás, eu nem falei isso, mas o filme adapta as histórias do primeiro e segundo jogo misturando tudo, e nada tem a ver com aquela sequencia de filmes prévios. Não se conecta nem aos jogos, nem aos filmes anteriores, ou animações. É uma tentativa de adaptação nova, mas que encerra imitando os jogos.

É isso.

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4 Comentários

  1. Esse filme fez com quê os outros da Alice parecerem obras de arte. Sem meme.

    Detestei todos os personagens e essa desconstrução forçada de ultimamente. Wesker e Leon foram simplesmente intragáveis. Para quê estragar tanto assim a personalidade e a caracterização física de um personagem? Não é como em um livro, onde as características de um personagem não estão estabelecidas e podem mudar. Já sabemos como eles são, já foi definido. Para quê mudar? Aí o próprio diretor confessa que mudou porque ele queria "provocar os fãs". É um Zé ruela.

    A Claire foge do orfanato, passa anos foragida, e sabe mexer em todo tipo de arma. Quem ensinou ela? A milícia? Traficantes? Não dá pra engolir um negócio desses.

    Leon ser um novato na polícia é completamente diferente dele agir como um completo retardado. É simplesmente ridículo o que fizeram com ele.

    Além disso, personagens que eram do primeiro jogo nem deram as caras. E nem vou falar daquele final... uma coisa horrorosa.

    Assisti na força do ódio mesmo e dei graças a Deus por essa bomba ter fracassado tanto nas críticas quanto na bilheteria porque assim as outras franquias da Crapcom ficarão a salvo por um tempo.

    Já está na hora da Crapcom agir como a Nintendo e parar de ceder os direitos de adaptação de suas franquias.

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    1. Srta Sammy, a Claire explicou que aprendeu a usar armas pois foi do orfanato... isso significa que... la eles treinavam as pessoas a usar arma de fogo desde crianças... é o que da pra entender kkk. Criançada metendo bala.

      Pior que eu realmente achei hilário como retrataram o Leon. O cara não é nem estagiário, é filho de alguém no poder... é bem triste mas, eu ri.

      O final com todos em fila horizontal em câmera lenta, após a implosão da cidade e a morte de uma vaquinha inocente. Isso é uma obra prima!

      Você notou que a Capcom não apareceu nos créditos? Eu senti falta disso na abertura, e eu não vi as letrinhas finais então, isso teve o aval dela?

      Bem, eu espero que algo bom apareça no futuro... games tão difíceis de adaptar...

      Obrigado por ler e comentar srta Sammy. E confesso, sinto mó vergonha de ter curtido o filme no começo.

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  2. Tô na área, derrubou é pênalti, haha!

    E lá vamos nós enfim, de volta e já vejo que tem filme na área que me interessa e muito ver você fazendo suas análises cirúrgicas (Resident evil? Nah, CORALINE mas verei depois) como cê costuma e é uma das razões as quais gosto tanto do seu trabalho!

    Bom, esse é um filme que à semelhança de Monster Hunter não vi e cho que jamais verei, sério. Desde os trailers já vi que não era grande coisa e pelo visto tinha razão pelo que já li e já vi de zoação dele (como um ótimo vídeo no canal "Primeira Fila") foi mesmo uma confirmação do esperado e olha que eu tive coragem de ver Mortal kombat mas esse e Monster Hunter? Meu pai, livra-me.

    Esse filme é mais uma demonstração que Hollywood não aprende e continua insistindo nos mesmos erros desde sempre nas adaptações de games. Há sempre, por alguma razão, a ideia de que "vamo cololocar um monte de referência de jogo pra galera gamer ficar feliz mas não vamos seguir os games, não! Vamos criar tipo uma história nova, usar personagens dos games e abordar de forma geral não um mas ainda mais jogos duma vez" e pronto, temos aí coisas como os primeiros resident evils, Mortal kombat (2021 e aniquilação), Silent Hill revelação, DOA, Tekken (vi uma vez e mal me lembro do filme), Street Fighter (Jesus) e SF A Lenda de Chun-li (que eu ainda gostei mas como adaptação de games é risível) e é claro esse novo Resident Evil. Resumindo, Hollywood não aprende e agora é torcer para o novo filme de Silent Hill realmente acontecer mas que o diretor (mesmo do primeiro) repita a fórmula do filme original e dê certo e que ele saiba mandar bem também em Fatal Frame (franquia aliás que gosto muito).

    Ps: E o Pânico, hein? Já viu os filmes da série? Espero que sim e que escreva sobre essa saga em breve, inda mais agora que o maravilhoso Pânico 5 cabou de sair e já vi duas vezes de tanto que amo o filme!

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    1. Pelo jeito ta animado com sua franquia favorita hein rs. Infelizmente, eu não assisti ainda. Tive alguns contratempos, mas verei não se preocupe.

      De fato sr, precisamos torcer muito pra que acertem nesses dois longas de terror... pois não é só adaptar um título de videogame, mas todo o conceito e ideia atrás dele. Quero ver mais terror!!! E não um monte de fanservice... vamos ver se o cara vai conseguir isso (mas, sendo sincero, tenho minhas dúvidas... raios não costumam cair no mesmo lugar duas vezes).

      Sua lista de filme-games é assustadora kkk. Só citou o nectar da decepção! Tomara que um dia aprendam... uma amiga minha (leitora aqui inclusive) disse que tão adaptando MegaMan... mano... eu to com muito mais medo que Fatal frame ou SH... sério.

      Bem, obrigado pela presença sr, sabe que sempre fico feliz.

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