SérieMorte: Round 6

Outra vez vem a Netflix toda serelepe me atraindo pra séries duvidosas que no fim, acabam por me surpreender.

Dessa vez no entanto, eu já fui pra experiência ansioso e meio preparado pra curtir afinal, minha confiança nas obras Sul Coreanas está no ápice.

Assim sendo, não é nenhum espanto que ela me agradou, mesmo tendo alguns pontos negativos.

Bem, falarei o que acho mas, evitarei spoilers, por isso pode ler sem medo. 

Aliás, uma observação: O nome em Português (na Netflix) foi traduzido pra "Round 6", com a palavra americanizada "Round" referindo-se a partidas diferentes, e o "Seis" sendo uma referência ao último jogo, que dá o nome original da série. A série também recebeu esse nome no Canadá.

Em inglês, o nome é "Squid Game" que traduzido ficaria "O Jogo da Lula". Esse é o nome original da obra também (오징어 게임 ou Ojing-eo Geim, que em tradução vira o tal "Squid Game"). Talvez o nome não pegaria bem, seja pelo jogo ser desconhecido por aqui, ou simplesmente pra evitar questões... digamos... políticas (acredite, tem gente que relacionaria o nome a outra coisa por aqui). 

Enfim, continuando com o artigo agora... 

Boa leitura.

Round 6 é uma daquelas séries ao estilo Battle Royale, Gantz e claro Jogos Mortais. É basicamente uma história dramática com jogos letais, e por incrível que pareça, ela se destaca muito mais pela parte do drama, do que pela parte sangrenta (mesmo esta última sendo razoavelmente gráfica e chocante no que é mostrado).

O objetivo dela não está em escancarar corpos e execuções por falhas em alguma armadilha oportunista, e sim em desenvolver personagens, nos fazer nos apegar a eles, torcer por eles, pra então sim, escancarar seus corpos em execuções por falhas em alguma armadilha oportunista.

Daí vem a regra de sempre: Não se apegue. 

Difícil seguir essa regra uma vez que cada episódio, de pouco mais de 1 hora, foca 90% do tempo em mostrar seus personagens. É consequência, o espectador se apega (ou passa a odiar, dependendo do personagem) e simplesmente se vê atrelado ao destino daqueles por quem torce (a favor ou contra).

Não há "super personagens", ou seja, não tem nenhum gênio dos jogos, ou alguém protegido pelo poder do protagonismo. Não é como a série "Alice in Borderland" em que o protagonista simplesmente tem sorte, e vai se superando cada vez mais. Aqui é um pouco mais real, e cruel do que isso.

Existe um protagonista "principal", que acabamos acompanhando por muito mais tempo que os demais, mas isso não diminui a presença dos outros, nem os converte em meros coadjuvantes. Pior ainda é que esses personagens vão ganhando mais espaço conforme a trama progride, e até nos dão uma esperança de vê-los sobreviver, mas no fim, nem mesmo o protagonista tá a salvo.

Isso é lembrado o tempo inteiro, e como a série fica cambaleando entre seus personagens, as vezes tirando os holofotes daquele que a iniciou pra brilhar sobre algum outro menos chamativo, eis que várias sub-tramas vão surgindo e se desenvolvendo cada vez mais.

Inclusive, um dos pontos mais bacanas dessa obra é a quantidade de histórias paralelas sendo contadas, junto à principal, apresentando elementos que o Protagonista jamais conseguiria conhecer (logo, jamais nos seriam apresentados de forma natural).

Essas "histórias secundárias" tem seus próprios protagonistas, e expandem o universo simplório da perspectiva do protagonista principal, pra algo que realmente explica muito mais a trama por completo.

Um monte de elementos vão sendo mostrados e o espectador passa a acompanhar mistérios maiores do que a trama original parecia querer contar, e conforme o enredo avança, a gente vai conhecendo tanto sobre o universo da série que, acabamos ficando cada vez mais intrigados sobre onde tudo levará.

Explicando melhor: Tudo começa com um cara todo ferrado na vida sendo convocado pra um jogo estranho, no qual a vida dele, e de muitos outros, é posta em risco absoluto em troca de dinheiro. Porém, conforme a história avança, o negócio fica cada vez mais complexo, com uma variedade de enredos intercalados que simplesmente tornam tudo ainda mais misterioso, como Espionagem, Resgates, Venda de Órgãos, Apostas, e por ai vai.

O mais curioso é que tudo isso faz sentido, e inclusive são fatores complementares uns aos outros, pra que toda a história inicial se conclua de forma satisfatória.

E se tem algo legal de assistir, é isso. Uma história com uma cara simples no início, mas que vai se tornando cada vez mais complexa, sem ser complicada, pois tudo é contado no seu devido tempo.

Além disso, a parte dos joguinhos massacrantes ainda permanece sendo bastante terrível, e chamativa. Quando eles ocorrem, a cada novo episódio, mesmo que eles próprios não se tornem mais "intensos", afinal alguns são tão bobos que você não espera algo assustador no começo, as circunstâncias fazem com que eles se tornem aterrorizantes com o passar do tempo.

Os jogos? São simples brincadeiras de criança, sem armadilhas mirabolantes nem nada do tipo. As regras inclusive são as mesmas das respectivas versões infantis (as vezes nem tem tantas regras, e os jogadores mesmos as decidem, pra você ver a gravidade da situação).

Só que a parte sangrenta e letal tá na execução em caso de derrota, falha ou até desistência. Os caras metem chumbo mesmo e que voe groselha pra todo lado.

Assistir esses desfechos nem é algo que ganha tanto destaque ou foco. Tem isso? Tem, numa dose suficiente pra te deixar espantado. Porém não chega a ser exagerado e escrachado como em outras obras do gênero, onde o show normalmente é a violência.

Aqui, o foco é mais o drama, e de certa forma o suspense. Não há desafios elaborados e difíceis, nem enigmas complicados, nem possibilidades de vitória e derrota que beiram a injustiça. Aqui, tudo é equilibrado, e até fácil. Alguns jogos só é preciso ficar parado, outros é preciso só recortar coisas, outros puxar uma cordinha, ou apenas brincar com o amiguinho (aliás, todos os jogos aparecem nas paredes da sala/alojamento onde os jogadores esperam... mas só da pra perceber quando as Camas são removidas).

Não tem extremismo, até certo ponto é claro. Todos tem chances iguais de vitória, mas, precisam se manter individualistas. Esse é o ponto que mais nos atiça...

E não bastasse nosso obrigatório distanciamento dos personagens para que não soframos com suas baixas, há também a exigência moral de que torçamos pra que os próprios personagens não se relacionem, não interajam, nem se apeguem. Pois se tem algo que dói mais que ver um personagem legal morrendo bruscamente, é acompanhar a reação dos amigos dele à perda inevitável dos companheiros.

Pois é, o negócio pode ser chamado de Drama Psicológico, no sentido de afetar nossa cachola com uma tristeza compartilhada sem igual. E mesmo assim, é uma ótima série.

Tem coisas que são contadas e explicadas, sem nem mesmo ser falado sobre. Muito do que entendemos e interpretamos parte da mera observação casual, e é natural, qualquer um entende.

Tipo, a organização dos administradores dos jogos. Todo mundo que ta envolvido, tirando os jogadores, usam máscaras. Praticamente todas são idênticas, exceto pelo símbolo na frente. Claro, tem uma que é melhor que todas as outras e é única, nesse caso sendo diferente em vários aspectos, mas há um motivo lógico por trás disso.

As máscaras representam a hierarquia dos administradores. Máscaras com Círculos, que são usadas pela grande maioria, são as que os Trabalhadores Braçais carregam. Eles são responsáveis por fazer os trabalhos como limpeza ou preparo dos jogos, e qualquer coisa que lhes seja ordenada.

Os de máscara com Quadrado, são pouquíssimos e só surgem liderando, ou dando ordens. Eles falam quase que livremente, e fica na cara/máscara que são os comandantes, os porta-vozes do grande líder do jogo. 

Os de máscara com Triângulo só aparecem com Metralhadoras, ou Pistolas em mãos, sempre ficando de guarda, ou executando os jogadores que falham. Eles são os Seguranças e Executores, responsáveis pelo armamento mesmo.

Apenas os Quadrados podem falar, e dentro das poucas regras que apresentam, nenhum dos mascarados se comunica verbalmente. Na verdade é proibido conversar, tirar a máscara, etc. Eles estão lá só pra fazer o serviço e pronto.

Existe é claro o Líder, que usa uma máscara e roupas diferentes. A dele tem feições mais humanas, com nariz, olhos e boca, mas é quadriculada, além de ser totalmente preta. Além disso ele pode falar o quanto quiser, mas sua voz sai distorcida.

O que esses caras querem, e qual a razão de tamanha organização, é algo que a série vai explicando através daquelas múltiplas perspectivas que citei, nas várias sub-tramas de outros personagens, e nesse caso nem posso falar muito pois seria um baita spoiler.

Só pra constar, tem várias outras máscaras mas são apresentadas apenas no final... então nem compensa citar (além de também ser um baita spoiler).

Mas, adianto que é muito bom de ver, só é bem triste no final.

Meu irmão e eu chegamos ao cúmulo de dar uma parada na série e respirar um pouco pra assistir os 3 últimos episódios. Apesar dela ter apenas 9, ela cresce exponencialmente em seu impacto próximo ao fim, e fica difícil de suportar.

O episódio 5 é bastante cruel... mas não é uma exceção, pois todos acabam tendo resquícios de crueldade.

Compensa muito assistir, mas prepare o coração. Pode não ser uma obra de terror psicológico assumida, mas se enquadra totalmente nesse formato. Você termina temendo, pensando, e no cantinho do quarto recolhido e chorando.

Além disso, há momentos divertidos (por incrível que pareça) e alguns um tanto quanto, dramáticos de mais.

Já espere longos diálogos e histórias de pessoas se ferrando muito na vida, ao ponto de aceitarem apostar suas vidas em jogos infantis, porém mortais. Isso precisa ser feito, e é feito de um jeito que nos convence de que, o resultado não seria diferente.

Também, espere bastante mistério. A série é bem difícil de antecipar, e consegue nos guiar por falsas pistas e possibilidades de uma forma que surpreende, e impacta drasticamente. Você dificilmente estará preparado pras atrocidades que ocorrem... e acredite, isso é interessante.

É isso.

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8 Comentários

  1. Eu assisti e achei o artigo muito bom, a série é bem ampla e nos coloca dentro dela quando vc menos percebe já está tentando adivinhar que jogo será ou o que poderia ser feito pra vencer, além de abordar a pergunta "até onde vc iria por dinheiro ?"

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    1. Toda hora eu ficava tentando antecipar as soluções dos jogos, e até achar saídas alternativas... mas no fim, tudo sempre resultava em algo trágico.

      Dinheiro não vale tanto assim... né.

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  2. Só posso dizer que assistir essa série foi um respiro enorme, no meio de tanta produção fraca que a Netflix tem lançado ultimamente. Achei o tema da série muito interessante. Pegar brincadeiras inocentes e transformá-las em um algo cruel. Por que choras, Espiral?

    O cinema coreano dando um banho em Hollywood mostrando como se faz uma produção que envolve terror/mistério/drama e que nos faz nos preocupar com os personagens.

    Nunca mais verei Batatinha 1,2,3 da mesma forma.

    Esses dias assisti um filme chamado Innocent Witness, também sul-coreano, e segurei as lágrimas.

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    1. Kkkk, por que choras Espiral foi fogo.

      Eis a parte que traumatiza, a série corrompeu de certa forma, as memórias de algumas brincadeiras, independente de termos elas ou não. Ao conhece-las, logo nos vem a mente a deturpação. Meu, fizeram terror com algo tão simples e funcionou perfeitamente. Como você disse, Hollywood só parece ainda mais chula agora.

      O ruim é que eles tem o hábito de perder a mão em continuações. Eu lembro do que houve em Trem pra Busan, e a suposta "continuação". Um era excelente, o segundo um lixo humilhante... torço pra essa maldição ser rompida e só surgirem pérolas de hoje em diante. Mas, falando de Netflix, difícil ter esperança.

      Innocente Witness... famigerado "Dorama". Se aparecer em recomendados eu farei questão de ver. Não é meu estilo, mas nos tempos atuais ta até que sendo bom sair um pouco da zona segura. Só não vou atrás pra assistir, pois to com outras obras de cortar o coração em andamento.

      To vendo "To your Eternity", e to chorando diariamente.

      Ah, só pra constar, to ansioso por Outubro. Tem Found Footage novo (VHS 94) pra sair, e promete ser muito bom. O mês do terror pelo jeito vai voltar às origens esse ano e vão pesar a mão no gênero. To bem ansioso.

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    2. P:s: o episódio 6 me destruiu completamente. 💔

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    3. O 6 é aquele após o jogo da bolinha de gude né? Eu já cai no 5. Fiquei 3 dias sem assistir até aguentar e retomar.

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  3. O sexto episódio é o da bolinha de gude. Ainda tô digerindo o que eu assisti. Muito triste. Sinto como se eu mesma tivesse perdido um amigo muito querido ou um parente.

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    1. Então eu confundo, de fato, é esse o episódio que fatia corações.

      Estamos juntos moça... mas se serve de consolo, a parada fica mais triste depois.

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