SérieMorte: Brooklyn 99 - Lei e Desordem.

Virou costume já fazer um mini review de séries por aqui, então pela primeira vez, trarei uma de comédia, só pra variar.

Brooklyn 99

Boa leitura.

Com o nome traduzido no Brasil para "Lei e Desordem" como uma sátira a série "Law and Order", a qual inclusive trata de um tema semelhante, Brooklyn 99 mostra um grupo de detetives no dia a dia, em uma delegacia bem maluca, com casos e situações cada vez mais insanas, e hilárias.

Diferente da série que satiriza, tudo nela é voltado pro humor, e apesar de ter um ou outro momento dramático, o peso no quesito "besteirol leve" é grande e reina por cada episódio.

Com temporadas longas de mais de 20 episódios cada, todos com seus 20 minutos, não tem como resistir e deixar de rir com as tiradas e piadas constantes e sem sentido que jogam na tela.

Mesmo se tratando de uma série "policial", ela se sai perfeitamente bem ao brincar com situações plausíveis e mescla-las ao implausível. Com um humor leve, mas ao mesmo tempo bem pastelão, ela consegue arrancar sorrisos facilmente.

A sua fórmula é bem interessante: Cada episódio mostra os personagens principais lidando com alguma situação que envolve tanto o profissional, quanto o pessoal.

Muitas vezes cada parte da equipe fica com uma narrativa a parte, formando duplas ou trios, e as aventuras paralelas se convergem no final do episódio.

Assim, sempre há uma interação nova e divertida no time, com uns descobrindo coisas novas sobre os outros, e causando situações cada vez mais engraçadas.

No fim, os problemas costumam ser resolvidos no próprio episódio e não geram consequências drásticas, exceto quando apresentam algum personagem novo, ou são um gancho pra temporada seguinte.

Os personagens mudam um pouco de temporada pra temporada, em termos de evolução. Eles sempre são do mesmo jeito inicial, e tem os mesmos trejeitos, mas eles vão evoluindo e aprendendo com os eventos passados. Nada que mude totalmente suas personalidades, mas é algo que ocorre.

Também tem algumas mudanças no relacionamento de alguns personagens. Uns ficam juntos, outros se separam, mas nada disso implica de forma negativa na trama, e também, tudo sempre é adaptado e utilizado nas histórias de cada capítulo.

As vezes uma mudança gera consequências que perduram pelos próximos 3 ou 4 episódios, mas logo tudo se normaliza. O que importa, é que é muito legal assistir, e sempre tem algo surpreendente acontecendo.

Aliás, a série tem como protagonistas um pequeno grupo, mesmo a delegacia em si sendo bem grande e tendo vários personagens coadjuvantes. Existem momentos até que a "panelinha" é questionada, e vira uma piada a parte. Mas, isso também satiriza o modelo das séries policiais, que costumam centralizar a história em uma divisão pequena de personagens.

Bem, vou falar dos personagens principais e descreve-los brevemente.

Jake Peralta

Um cara hiperativo, que não leva nada a sério, está sempre buscando um jeito de fazer piadas ou descontrair. Obcecado por "Duro de Matar" e com um pai ausente (coisas que não cansa de falar) ele é um dos melhores detetives que a Delegacia 99 já teve.

Sempre consegue bons resultados em suas investigações, tem um instinto de detetive certeiro, o cara é um gênio quando se trata em pegar criminosos, mas é tremendamente infantil pra lidar com outras pessoas.

Charles Boyle

Melhor amigo do Peralta, é um pouco mais velho, mas extremamente leal e até meio submisso ao amigo. Ele é bastante ingênuo e um pouco inocente, e é um amigo muito presente.

Boyle faz degustações e avaliações culinárias, por isso tem um paladar bem incomum. Além disso ele é fácil de se apegar, sempre se derretendo pra mulheres que entram em sua vida. 

Rosa Diaz

Misteriosa e bruta, Rosa é uma mulher séria e agressiva, que dificilmente se abre, mas contraditoriamente é bem apegada com seus colegas. Ela confia neles, da mesma forma que é confiada.

No entanto todos tem medo dela também, por ser explosiva e imprevisível, e nada carinhosa. Rosa é uma detetive bem barra pesada, sempre com uma jaqueta de couro e um visual sombrio que impõe respeito, pelo medo.

Amy Santiago

Uma detetive excelente, Santiago bate de frente com Peralta em investigações, inclusive tudo começa com eles fazendo uma aposta longa de quem prenderá mais gente.

Santiago é bem certinha, metódica e organizada. Isso a torna um pouco insegura e bajuladora, mas ela não é nada boba. Ela tem um lado malicioso e sacana, mas geralmente seu jeito tímido passa a impressão que é ingênua.

Terry Jeffords

Musculoso, Terry é o Sargento dos Detetives, o segundo no comando, pelo menos na lógica. Ele é casado, tem filhas, e é bastante preocupado com seu lado paterno.

No trabalho ele é organizado e meticuloso, prefere seguir todas as regras e jamais desafia a linha de comando. Por ter de cuidar de detetives instáveis e meio loucos, ele é como uma mãe desesperada, limpando a bagunça dos filhos.

Curiosamente, o ator que o interpreta é o Terry Crews. Imagino que seu nome seja Terry na série para que seja mais fácil reconhece-lo por nome no papel. Ele é bastante famoso por ter interpretado o pai do Chris, e o Latrel, então sei lá, parece que decidiram deixar Terry mesmo pra falar diretamente dele. 

Gina Linetti

Uma assistente do Capitão, civil, que faz questão de tomar o controle de tudo na delegacia. Apesar de ser visivelmente procrastinadora, indiferente ao trabalho e até negligente, ela sempre da um jeito de trazer as soluções.

Gina é assustadora, pois é manipuladora e muito controladora. Ela sabe de tudo, e todos, mas espera as melhores horas pra usar suas armas e tirar vantagem dos demais. Sem contar que ela é inabalável, e nada a afeta emocionalmente, estando sempre a frente de todos. Ela não chega a se uma Rosa, mas não é nada carinhosa. 

O bom dela é que é amigável, jamais trai seus amigos e sempre busca ajudar, mesmo que por baixo dos panos.

Ray Holt

Por fim, o Capitão Holt, um homem sério, que raramente esboça alguma emoção, e que presa pelo bom linguajar e ordem absoluta. Holt é gay, negro, casado, e lutou décadas pra conquistar seu posto, não permitindo que ninguém ouse questiona-lo.

No entanto a 99 pega pesado com ele, pois criam tantas confusões que ele se vê em estados alarmantes. Ainda sem expressividade alguma, o cara os lidera e organiza da sua forma, e se adapta aos seus subordinados, respeitando-os, e criando vínculos carinhosos com eles.

É engraçado que ele todo sério, mecânico, não quer se envolver de forma alguma, e mesmo assim, vira praticamente um pai pra todos lá (principalmente pro Peralta). Holt é o melhor líder que a 99 já teve, e é respeitadíssimo, independente de sua raça ou gênero.

Scully e Hitchcock

Não da pra falar deles separadamente. Scully é um homem de idade avançada obeso, com problemas cardíacos sérios, que dificilmente (raramente, quase impossível) sai da cadeira. Ele é um detetive duvidoso, que tem toda sua atenção destinada a alimentação e conforto seu e de seu melhor amigo.

Ele canta ópera, algo que adora mostrar quando pode, e não parece ser nada inteligente, pois tem um raciocínio lento, além de nunca dizer coisas coerentes à situação.

Hitchcock é um senhor de idade, calvo, que também tá acima do peso (não como Scully), e igualmente, é lento de raciocínio e só pensa em comer e dormir, além de quase nunca sair da cadeira.

Ele é bem pervertido, sempre tocando em assuntos suspeitosos, e tem o péssimo hábito de tirar a camiseta por qualquer coisa. Se derem oportunidade, ele fica pelado sem problemas.

Ironicamente, esses dois personagens, que são melhores amigos inseparáveis, são os mais velhos na delegacia, e detém até recordes de prisão. Eles já foram grandes policiais, ao que parece, mas agora só tão de boa curtindo a vida sedentária no escritório.

Existem situações em que eles viram investigadores de ponta, mas somente quando o assunto é comida. De resto, eles são totalmente alheios.

Apesar de sempre estarem presentes, em todos os episódios, e terem até tramas próprias, eles não são creditados na abertura.

A série é catalogada na Netflix, e algo que notei é que a abertura é a mesma, desde a primeira temporada, sem incluir o Scully e o Hitchcock.

É triste, pois eles mereciam crédito de protagonismo, visto que não são meros coadjuvantes nem a pau.

Tem muitos outros personagens, o marido do Holt, alguns "vilões", alguns amigos que aparecem, e até um certo bandido que toda temporada tem um episódio próprio. Mas, eles sim se enquadram em coadjuvantes, pois não permanecem por mais de 3 ou 4 episódios, e geralmente fazem participações especiais apenas.

A série está dublada, e apesar da dublagem ser excelente, ela faz algumas conversões de piadas pra cultura brasileira, substituindo nomes de celebridades americanas das piadas, por figurões brasileiros. Além disso, muitos dos diálogos costumam ter gírias ou citar algum tipo de meme da nossa cultura. As vezes é engraçado, e sempre da pra pegar a referência, mas as vezes a piada em inglês soa mais engraçada.

De qualquer forma, tudo é bem feito e divertido.

Enfim, compensa assistir. Há muitas reviravoltas legais, e você certamente vai curtir.

Mas... postagem curta né? Que tal eu dar uma alongada e aproveitar pra por algumas curiosidades. Eu bem que gostaria de por 99 curiosidades, mas acho que fica muito repetitivo (tem algumas listas do tipo pela net e, enjoam). Escreverei aquilo que pra mim, é bastante curioso e responde algumas perguntas que quem assiste com certeza faz.

Curiosidades sobre Brooklyn 99

1 - Em uma determinada temporada, Peralta acaba confiscando um Crossover para uma perseguição. Ficou muito óbvio que era de fato um crossover (junção participativa de duas séries ou universos), pois a personagem motorista tem destaque de mais, por um longo tempo durante aquela cena. Pra quem tem dúvidas, a personagem que aparece é de "New Girl", Jessica Day, e rende um bom diálogo sobre a razão de estar em Brooklyn, que aliás, é um episódio da própria série dela, a viagem pra Nova York, o qual também desenvolve melhor esse crossover.

2 - Adam Sandler chega a aparecer em um episódio e rouba alguns minutos de atenção, interpretando a si mesmo. Outros atores também chegam a fazer participações especiais assim, como o Reginald VelJohnson, que interpreta a si mesmo satisfazendo um dos sonhos de Peralta. Ele faz parte do elenco original de Duro de Matar.

3 - Aliás, Peralta é fanático por Duro de Matar e até mesmo diz ter se tornado Detetive por causa da franquia, mas o mais interessante é que o ator dele compartilha do fanatismo, tanto que essa característica vem originalmente do ator. Ou seja, se Bruce Willis aparecer na série, a satisfação no olhar de Peralta será totalmente real.

4 - Ao longo das temporadas, alguns episódios acabaram consolidando um tipo de "tradição", como os episódios de Halloween, que sempre contam uma história baseada em uma aposta que começou ainda na primeira temporada, onde os detetives são desafiados a roubar algo uns dos outros. Tem também os episódios de Ações de Graça, e claro, os do Bandido do Pontiac, um fora da lei que sempre consegue escapar do Peralta, além de ser um grande amigo dele.

5 - O Bandido do Pontiac, Doug Judy (Craig Robinson), é tão bom no papel, que além dos episódios especiais que recebe em cada temporada, participando e reencontrando sua amada Rosa (sim, ele ama ela) e o seu melhor amigo Peralta, dentre os demais da 99, ele provavelmente terá uma série própria derivada de B99, chamada Killing It. Tudo depende do roteiro.

6 - Muitas das frases de efeito da série são coisas dos bastidores, piadas internas do elenco, ou improvisos, que pegaram bem e viraram parte da série. O grito "Noventa e Nove!" da equipe pra incentivo, ou a constante brincadeira do Peralta quando alguém fala algo de duplo sentido sem notar (ele diz: "Esse é o nome do seu filme pornô"). São tudo coisas que vieram dos bastidores.

7 - Além do nome, muitas características do personagem Terry são compartilhadas com o ator, como por exemplo sua tremenda capacidade pra desenhar. Pois é, Terry desenha pacas, tem até um instagram com suas artes, mas pelo que vi ele ama fazer autorretratos ultra realistas.

8 - Existe um episódio inteiro sobre intolerância racial, que encabeça Terry. Ele retrata uma situação real da vida de Terry, e é possível notar seriedade em suas frases, além do próprio tom do episódio ser bem mais pesado. 

9 - Em determinada temporada, contrataram Winston Story pra interpretar o sósia de Charles Boyle. Ele é idêntico, mas só se você não conhecer bem o Boyle. Eu até achei que eram gêmeos de fato, mas sou suspeito pra falar pois o primeiro episódio que assisti foi acidentalmente o episódio de halloween da 5º temporada, onde ele aparece pela segunda vez na série. O personagem em questão, Bill, é um ex-garoto de programa que Peralta contrata pra enganar todo mundo num roubo de Halloween.  

10 - A família Boyle é enorme, e todos compartilham traços equivalentes (como roupas, e certos problemas de saúde). Até o momento, só de primos já foram apresentados quase 20, e nem foram todos ainda. Membros novos da família vão surgindo a cada nova necessidade do elenco, e o mais curioso é que, a irmã do Boyle ainda nem apareceu (na fase adulta ao menos), pelo menos não até a 7º temporada.

11 - Durante uma das temporadas, a atriz da Santiago ficou grávida, e teve isso disfarçado com roupas largas, e até mesmo um episódio com uma barriga e gravidez falsa. Ironicamente, temporadas antes, ela também fingiu uma gravidez (como fantasia), e rendeu altos flertes com o Peralta.

12 - Em determinada temporada, os produtores tentaram disfarçar a gravidez da atriz por trás da personagem Gina, com roupas largas, semelhante ao que fizeram com a atriz da Santiago, mas algo parece não ter dado certo, e acabaram engravidando a personagem, tornando as consequências da gravidez (como afastamento) uma parte canônica da história.

13 - Em um episódio, Gina perde os dois dentes da frente, e alega ter perdido ainda na infância. A cena é bem realista, da até pra ver a língua dela pelo espaço vazio, mas é puro efeito visual. Eu tive dúvida e precisei pesquisar, que bom que não era o único, e ela até teve de twitar sobre o assunto.

14 - Kwazy Cupcakes é o nome do jogo que Gina, Holt e até Hitchcock se viciam em um episódio. Então, ele não era bem um jogo real na época, sendo uma sátira ao Candy Crush, jogo de combinação de cores/doces. Depois de B99, um jogo assim foi criado com o mesmo nome, seguindo um modelo de jogabilidade parecido.

15 - A personagem Rosa assumiu sua bissexualidade por causa da própria atriz, que também se descobriu bissexual. Foi outra alteração de roteiro repentina por circunstancias externas.

16 - Aliás, no episódio em que Rosa se assume pros próprios pais, notou algo curioso? O pai dela é interpretado por Danny Trejo, o eterno Machete.

17 - O ator de Holt, Andre Braugher, é casado e não, ele não é gay, apesar de convencer. O engraçado dele é que seu maior medo ao dar vida ao capitão, não era interpretar alguém do sexo oposto, mas sim, fazer comédia, sendo tão sério. 

18 - No episódio 18 da segunda temporada, o Holt pede pra Santiago e a Gina resolverem um puzzle pra ele. O Puzzle é o seguinte: "Tem 12 homens em uma ilha, todos são exatamente iguais, exceto um que é mais pesado ou mais leve. Você precisa descobrir quem é, e a única ferramenta que dispõe é uma gangorra que só pode ser usada 3 vezes." Até o fim do episódio, o enigma fica sem resposta e eles ignoram isso, mas ele tem uma resposta. Na verdade, ele é uma adaptação do Puzzle das 12 Bolinhas, que funciona da mesma forma. Você pode checar uma solução bem mais clara de entender (graças a ilustração) aqui: Puzzle das 12 Bolinhas.

19 - Tanto Hitchcock quanto Scully tiveram seus anos dourados. Isso chega a ser mostrado parcialmente, mas antes mesmo do episódio em questão, eles mostram traços de inteligência e capacidade investigativa elevada, quando é do interesse deles.

20 - Mike Scully e Norm Hiscock são os nomes dos escritores e produtores da série, e sim, inspiraram os nomes de Scully e Hitchcock. Talvez por isso eles não são creditados na abertura. Daniels é baseada no co-criador da série, Dan Goor, mas essa personagem citada logo no início do piloto acaba não sendo tão "carismática" quanto a dupla preguiçosa.

21 - O nome da série é nada mais nada menos que o distrito na qual os personagens trabalham: Distrito 99 do município de Brooklyn em Nova York. No entanto, não existe no mundo real um distrito 99 em Brooklyn. Nova York tem 123 distritos, e os que estão em Brooklyn só vão até o 94º, com o 100º sendo no Queens. Os distritos são enumerados de forma saltada em alguns casos, pois uns recebem nomes próprios ao invés de números, e outros são combinados. Além disso, é comum em programas fictícios usarem nomes e números inexistentes para essas delegacias... isso evita transtorno com as autoridades. A delegacia vista por fora é na verdade o Distrito 78 de Brooklyn.

22 - Originalmente a série era da Fox, mas foi cancelada na 5° temporada. Depois de uma enxurrada de críticas via redes sociais (pois é) a NBC pegou os direitos 1 dia depois do cancelamento, e já garantiu continuidade! Aí, sob domínio da nova emissora, ela continuou em produção e hoje é disponibilizada via streaming na Netflix. Ironicamente, da pra notar uma mudança leve no humor da série a partir da 6° temporada, com palavrões constantes (censurados, mas presentes) e piadas vulgares.

Tem mais umas curiosidades, eu queria chegar mesmo em 99... mas to com preguiça. Então...

É isso.

See yah.