Crítica: O Clube do Crime das Quintas-Feiras - A Netflix contra os Livros


O Clube do Crime das Quintas-Feiras


A Netflix continua com o dedo podre para adaptar livros. O que deveria ser uma mina de ouro para boas histórias vira, mais uma vez, um crime contra as bibliotecas.

A vítima da vez foi o escritor Richard Osman e "O Clube do Crime das Quintas-Feiras", um dos cinco livros pertencentes à série de mesmo nome.

O problema não é a ideia de adaptá-lo. O livro é um sucesso de investigação criminal e suspense. O erro está em como a obra foi transportada das páginas para a tela: longo, cansativo, sem graça e mal apresentado.

Dito isso, bora explicar onde erraram.

Boa leitura.

O Clube dos Erros


Não é a primeira vez que me vejo questionando a qualidade das adaptações da Netflix. Virou praxe errarem de tantas formas que acrescentar mais um livro à lista já não surpreende.

Confesso que raramente falo de filmes fora do terror e da ficção. Partir para algo sobre mistério e investigação é fora da minha bolha, mas não consegui resistir.

Assisti ao filme recentemente e o único sentimento que tive foi revolta contra a plataforma. Estava empolgado para ver algo diferente e, no mínimo, esperava não sair decepcionado. Mas foi ainda pior: terminei entediado e arrependido.

Os 5 Livros


Richard Osman escreveu 4 livros da série, e um quinto será lançado em setembro de 2025, todos pertencentes à série "O Clube do Crime das Quintas-Feiras". Além do primeiro com mesmo nome, tem "O Homem que Morreu Duas Vezes", "A Bala que Errou o Alvo", "O Último Demônio a Morrer" e "A Fortuna Impossível", este último ainda não lançado mas já em pré-venda.

Todos eles tratam do mesmo tema: Velhinhos Detetives e casos mirabolantes em quintas-feiras. 

Só que o que poderia render uma sequências de longas de sucesso, já começou muito mal.

A História de 2 Horas


Um clube de idosos que investiga crimes antigos toda quinta-feira em um asilo, apenas para passar os últimos dias de vida de forma divertida, não deveria render uma história tão longa.

Mas o filme estica a trama em duas horas que parecem quatro, recheadas de humor arrastado e diálogos intermináveis, deixando a investigação em segundo plano.

A história força os velhinhos a lidar com um crime recente que os afeta diretamente, mas sem coesão. Uma pessoa próxima, de grande importância para eles, morre vítima de um crime misterioso investigado imediatamente pela polícia. E a primeira reação dos idosos é brincar de detetives?


É aí que tudo se perde. O que deveria prender o espectador acaba afastando. Fica irritante ver os idosos se achando melhores que autoridades, discursando sobre suas supostas habilidades investigativas, enquanto na prática não investigam nada.


As pistas simplesmente caem no colo deles. A polícia é retratada como idiota apenas para dar mais credibilidade à sorte dos idosos.

A Diferença de um Bom Livro


Nada disso parece ser tão forçado nas páginas de Richard Osman, que claramente se inspira em Agatha Christie para construir seus mistérios.

Todos os elementos estão no livro: um grupo entusiasmado por investigar, um grande mistério repentino, uma lista de suspeitos, e claro, as pistas.


O problema é que o filme joga tudo de qualquer jeito, sem dar tempo para que as peças se conectem em um desfecho satisfatório.

As Falhas em Pauta

O grupo mal é apresentado e já sofre mudanças com a entrada de um novo membro. A história pregressa dele deveria ter destaque, mas só recebe atenção no final, soando solta e desconectada do caso principal.


O mistério sobre quem morreu e quem matou é resolvido de forma abrupta e com respostas bobas, sem qualquer consequência real. Não há velório, prisões preventivas ou comoção pública. Ninguém liga. E se ninguém liga, por que nós ligaríamos?


Os suspeitos são mal desenvolvidos. Metade do filme se perde em enrolação com personagens randômicos, para depois reapresentar todos eles como peças importantes do crime. Só que já era tarde: se eles eram desinteressantes antes, ficam ainda mais desinteressantes depois.


As pistas, por sua vez, são entregues de bandeja. Não há sutileza na direção ou na fotografia. Se um personagem olha torto ao fundo ou se algum objeto ganha destaque em cena, ignore. Nada disso importa. As respostas vêm de forma expositiva, com os idosos explicando passo a passo como chegaram a cada conclusão, apenas quando o roteiro decide que chegou a hora.



Conclusão

É chato assistir a algo em que não podemos nem tentar investigar. Esse é o ponto mais distante do material original.

Livros desse tipo instigam o leitor a caçar pistas e tentar antecipar o final. Aqui, não há mistério algum, apenas a sensação de estar sendo guiado pela mão em uma história preguiçosa.

E o pior é perceber que isso virou regra em adaptações da Netflix. Não é sobre contar uma boa história no audiovisual, mas sobre transformá-la em um produto raso, sem a mínima preocupação em preservar sua essência.


No fim, "O Clube do Crime das Quintas-Feiras" não é mistério, não é investigação, não é sequer adaptação. É só mais uma prova de que a Netflix consegue matar uma boa história e ainda enterrar junto o interesse do público.

Enfim, é isso.

See yah.

Postar um comentário

2 Comentários

  1. Simplesmente descreveu tudo o que senti. Em suma é um filme chato e arrastado que não cative ninguém. Duas horas que pareciam uma eternidade. A sensação é de que meus neurônios iam morrendo aos poucos, sério, não recomendo nem como última opção.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pior que isso vem se tornando cada vez mais comum, ao ponto de eu estar me acostumando muito. Poxa, senti o mesmo assistindo "Feios", e me parece que ele também é adaptação de livro. Sabe o que é pior? Eu tava torcendo horrores pra começarem a adaptar obras do John Scalzi, ainda mais depois que percebi que dariam ótimas séries televisivas... mas agora tenho medo.

      Excluir

Obrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.

Emoji
(y)
:)
:(
hihi
:-)
:D
=D
:-d
;(
;-(
@-)
:P
:o
:>)
(o)
:p
(p)
:-s
(m)
8-)
:-t
:-b
b-(
:-#
=p~
x-)
(k)