Weapons
A Hora do Mal
Este filme é dos bons, algo que dá pra perceber pelo uso de uma palavra única como título. Geralmente obras de terror que fazem isso são no mínimo interessantes. Infelizmente, traduziram o título pra "A Hora do Mal" ao invés de "Armas" que deveria ser o correto, e acredite, isso fez uma diferença gigantesca.
Além do filme evitar dar spoilers sobre sua real trama em trailers, a conexão com o título é sutil porém significativa.
Enfim, bora falar a respeito, e fique atento aos detalhes.
Boa leitura
Quase uma antologia
Curiosamente, este é daquele filmes que tem múltiplas histórias contadas paralelamente, com protagonistas próprios, mas todas as "histórias" são somente perspectivas de uma grande história.
Isso quase se enquadraria no formato antológico, só que como nem todas elas tem conclusões, e na verdade se complementam umas com as outras no desfecho, acabam não comportando tão bem este formato.
É quase um "Trick or Treat" (Conto do Dia das Bruxas - 2008, filme que gosto muito inclusive), também mostrando várias histórias curtíssimas de pessoas diferentes, interagindo umas com as outras mas sem saberem da história uma das outras. Só que cada perspectiva não tem exatamente um conto de terror ou algo exclusivo daquele personagem que mostra.
São apenas partes fragmentadas de uma grande história, algumas sim com terrores individuais mas, no geral elas apenas são peças do quebra-cabeças, separadas por tempo, e por uma bela edição.
Narrativa Mosaico
Já vi algumas obras que se enquadram mais num formato parecido com o deste filme e a primeira que me veio a mente foi "Magnólia (1999)", um drama psicológico onde temos várias pequenas histórias com tons diferentes, falando de drogas, conspiração, traição, todas com personagens vivendo num mesmo dia, que acabam se entrelaçando por pura coincidência, ou destino.
Outro clássico que faz parecido é "Pulp Fiction (Tempo e Violência - 1994)", que conta a história de diferentes personagens numa trama policial não linear, quebrada pela perspectiva de cada um deles em um grande conto sobre crimes, tudo isso irrigado por suspense, violência e um humor sádico ao estilo do Tarantino.
A novidade em "Weapons (A Hora do Mal - 2025)" é que ele parte para o terror, usando do suspense e mistério das múltiplas histórias não lineares, para contar algo perturbador que se estende por dias, voltando o tempo todo no primeiro dia, e contando a mesma coisa mas por um ângulo diferente.
Por conta disso, cada trecho da narrativa se divide por subtítulos que mostram a visão de um dos protagonistas, e de início isso pode ser incômodo, afinal quando uma história acaba, ela não traz o final real, apenas interrompe tudo no meio do mistério.
E no final, quando tudo é respondido ainda fica uma sensação ruim de faltaram partes, quase como se fosse necessário conhecer o lado de muitos mais personagens pra conseguir acompanhar tudo. Mas, é como se montássemos um quebra cabeças onde o centro da imagem está quase perfeitamente montado, e as bordas não, e nos damos por satisfeitos afinal já dá pra ver a figura que queríamos.
O terror é leve demais
Infelizmente apesar da trama ser interessante, ela não assusta. Sinceramente nem chamaria este filme de "terror" pois ele está mais pra suspense com pitadas de horror.
Mesmo tendo um elenco de crianças (o que geralmente é um baita sinal positivo de que será perturbador), ele caminha pouco a pouco pra comédia, mesmo nunca abraçando este lado.
Ele inteiro só causa apreensão e preocupação, e tem uma atmosfera pesadíssima. Ele sabe trabalhar o mistério e se orgulha disso, sempre parando bruscamente em momento chave com pequenas pistas do que virá, e só revela a causa de tudo quando está prestes a acabar.
O problema é que ele me fez rir no final, com uma resolução que deveria ser bizarra, mas ficou com um péssimo tom cômico por uma série de erros da produção. Enquanto ao longo dele inteiro fizeram bom uso de sons, trilha sonora, efeitos práticos e especiais, luz e sombra, cortes e um jogo de câmera perfeito que visava mostrar as costas dos personagens, no final apenas abandona isso tudo pra parecer um quadro de comédia.
Este único ponto, do desfecho mal filmado e na verdade, sem acompanhar o restante da obra, foi o que marcou na minha memória e destruiu toda a ótima experiência.
Infelizmente, não dá pra evitar o final, diferente de Found Footages por exemplo, pois ele é o complemento ideal pra obra. E sim, ele é perturbador, mas igualmente hilário pelos motivos errados.
A História
Bem, a trama se divide em 6 partes, cada um com seu protagonista:
Justine
Uma professora do primário um dia chega em sua sala e de 18 alunos, apenas um está presente. Os demais 17 simplesmente sumiram da cidade, e uma grande investigação começa, botando ela como suspeita afinal foram apenas da sala dela que sumiram.
Ela passa a ser perseguida e ameaçada pelos pais preocupados, mas no final ela própria decide tentar investigar o desaparecimento das crianças, porém sem preparo algum e se botando em risco o tempo todo.
Archer
Pai de uma das crianças desaparecidas, ele tenta investigar usando câmeras de vídeo que gravaram seu filho correndo pra fora de casa na noite do desaparecimento, com os braços abertos, numa direção específica.
Apesar de suspeitar da professora, ele acaba achando uma pista do paradeiro das crianças após traçar um paralelo entre duas filmagens que encontrou, e se reúne com Justine na missão de achá-los.
Paul
Um policial que tinha um lance com a Justine, e na verdade estava traindo a esposa, tem outras preocupações além das crianças sumidas, se metendo num problema envolvendo um drogado.
Ele acaba se desviando da investigação, e isso cobra caríssimo.
James
O drogado que o policial encasquetou, estava cheio de dívidas, ferrado, vivia acampado na floresta e furtava das pessoas, até que um dia descobre pistas sobre as crianças sumidas.
E tentando tirar vantagem disso, encontrando coisas bastante bizarras, ele também acaba se envolvendo em algo muito maior do que conseguiria imaginar.
Marcus
Diretor da escola, ele tenta proteger a professora e ao mesmo tempo lidar com os pais, e marca uma reunião com a família da única criança que não desapareceu, mas quem aparece é uma tia estranha dele.
Essa tia era a raiz do problema, e acaba afetando Marcus com algo que o faz perder a cabeça.
Alex
Por fim, a única criança que não sumiu, e deveria ter sido melhor investigada afinal, ela era o centro de tudo.
Mas por negligência policial, desvios de atenção, e foco errado na professora, o garoto não foi ajudado quando podia, e acaba tendo de descobrir como sair do problema sozinho.
O Significado do Nome
"Armas" é muito mais simbólico do que significativo porém, isso se conecta ao jeito como as pessoas são usadas ao longo do filme.
São ferramentas letais para um plano maligno por assim dizer, e não são a causa do mal, mas a forma como ele assume uma forma e atua.
Exatamente como uma arma, a qual não é o verdadeiro assassino apesar de matar, sendo o verdadeiro vilão aquele que puxou o gatilho. Só que ao mesmo tempo, o longa se conclui mostrando que "armas" podem mudar de mãos a qualquer momento.
De certa forma ele também faz alegoria ao crime cometido em escolas por jovens com acesso a armas em casa, é bizarro olhar por esta perspectiva mas todos os fragmentos estão lá, basta olhar. É sutil, mas está lá.
Conclusão
Bem, se ficou dúvida sobre qual o terror real da obra, já adianto que é folclórico.
Repleto de alucinações, pesadelos, e desfiguração, é um filmes mais voltado pro lado das crenças do que pro sobrenatural em si. E ele trabalha tão bem esse mistério, que não quero entregar o segredo assim fácil.
Uma coisa eu digo, ele entrega um pouco cedo demais a resposta na minha opinião, mas ainda assim pode pegar muitas pessoas de surpresa.
Xingue-me se quiser por conta dos spoilers, mas acredite que assistir ainda será melhor que ler qualquer crítica sobre, e você tem tudo pra se surpreender.
Acho inclusive que já falei de mais então... obrigado pela leitura.
See yah!
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