Crítica: Bring Her Back - Faça ela Voltar - Filme de terror novo da A24

Depois de Megan 2 eu perdi a fé em filmes de terror, mas felizmente ainda existe a saudosa A24 que costuma acertar em 99% das vezes no gênero.

E mais uma vez, eles mostraram como se faz, contando uma história medonha e repleta de detalhes, que não se estende além do necessário, e consegue na medida exata contar tudo o que precisa pra nos atormentar.

Terror voltou!

Boa leitura.

Bring her Back

"Bring Her Back" ou "Faça ela Voltar" é um filme de terror que mistura conceitos paranormais voltados pra rituais, suspense investigativo, e um pouco de terror psicológico e social, na mais pura ironia.

Trata-se de uma história sobre os perigos da Assistência Social! Claro que não exatamente nesse sentido mas a história no geral fala de como é arriscado confiar nos sistema pelo sistema, e isso em vários fatores.

É a história de uma garotinha deficiente visual, que vive com seu meio irmão mais velho, e seu pai, e um dia acaba testemunhando uma perda bizarra e acaba indo pra adoção.

Nessa adoção, tudo só tende a piorar, mesmo seu irmão indo junto querendo muito protegê-la, as estranhezas da nova residência somadas aos mistérios envolto da nova guardiã deles, só escalona a bizarrice a cada segundo de filme.

Começa com a nova e estranha guardiã dando muito mais atenção e demonstrando bem mais interesse pela garota cega, do que pelo rapaz.

E então começam a surgir os detalhes das histórias de cada um deles, como o passado da família original do garoto e da garota, depois o passado da própria guardiã, e até um pouco sobre o outro misterioso filho que a moça tem em casa, mas que ninguém sabia.

Nessa brincadeira vemos duas crianças em risco, sem saber contra o que estão lutando ou precisam se proteger, e uma mulher que cada vez mais passa a sensação de perigo, até mesmo quando está sorrindo.

Estranho é Bom

Essa personagem inclusive é assustadora por ser anormal, porém estranhamente comum. Ela só parece uma mãe em luto que quer suprir a falta da filha, com outra filha, e seus atos e trejeitos não soam tão incomuns.

Até que ela começa a exagerar, partindo pra ações violentas e higienicamente duvidosas, até atos completamente imprudentes contra crianças, que só revela o quanto ela é perigosa.

Só que ela não tem armamentos, não tem contatos, não tem super inteligência nem recursos fora do normal para colocar suas ações em prática. Na verdade tudo que ela tem é o bom e velho poder do serviço público assistencial!

E se tem algo que dá mais medo, é saber que a tia estranha da prefeitura pode a qualquer momento surtar e sair sequestrando crianças pra invocar o tinhoso e ressuscitar gente morta em rituais aprendidos via VHS.

Mostra pouco pra contar tudo

E sabe o que mais curti no filme? Ele não é expositivo, não sai contando tudo em mínimos detalhes e nem mastiga os acontecimentos. Ele apenas vai rolando, a história segue, sem mistério mas também sem expor de mais.

Ele mostra pra gente o necessário pra que entendamos o que rolou, e o que ele foca são apenas as esquisitices pra nos assustar.

Interessante também que isso combina com a subtrama da deficiência visual da protagonista, já que a história não é sobre isso, mas tudo é meio nublado pra que nossa mente faça o trabalho de preencher as lacunas.

Um bom longa é aquele que mostra ao invés de contar, e este filme mostra pouca coisa, mas o que mostra é o suficiente pra contar tudo. Fez sentido isso? 

Terror físico e psicológico

Por fim preciso comentar sobre o terror incômodo que ele usa, e que me fez desviar o olhar algumas vezes, mesmo sem ser nada tão exagerado ou explicito como nos acostumamos.

É que geralmente os filmes do gênero costumam apostar em horror visceral com tripas pra todo lado, sangue e mutilação, numa violência que por si só já rende traumas e náuseas pro público geral, mas quem conhece simplesmente nota que aquilo é puro exagero cinematográfico.

Então quando surge uma cena crua com corpos mortos do jeito mais realista possível, com direito a vômito com bile e sangue escorrendo pelos buracos... a coisa fica muito mais perturbadora.

Cenas de violência também se tornam muito mais traumatizantes quando não são sensacionalistas, mas meramente realistas. Isso basta pra assustar, e o longa tem consciência disso.

Ainda tem o lado psicológico que intensifica tudo isso com ajuda do sobrenatural, apesar desse outro ponto do filme ser muito mais contido.

Tem demônio, tem possessão, tem até um ritual maquiavélico de invocação do mal, mas nada é assombroso. O máximo que se tem é um reflexo no espelho do capeta, mas só. O próprio sobrenatural se limita à tensão, e nunca avança pro metafísico.

Nada de gente voando ou vomitando sopa de ervilha, nada de cabeças girando, ou subindo pelas paredes. O que se tem são pessoas cometendo mutilação e auto canibalismo, o que é provocado por sérios distúrbios mentais ou evidente possessão, mas o filme nem tenta se sustentar nisso.

A história explicada

Aqui deixo alguns spoilers, mas serão só pra explicar o final do filme caso tenha ficado alguma dúvida.

Tudo é sobre uma mulher que perdeu a filha cega num acidente, e surtou. Ela trabalhava pra assistência social e um dia encontrou uma fita com um ritual demoníaco de ressurreição, provavelmente de alguns dos casos que ela acabou cuidando durante o trabalho.

Só que ela em luto se deixou levar pela ideia de poder trazer a filha de volta, e estudou a fita, imitando o ritual levianamente em casa. Pra isso ela sequestrou um garoto qualquer, pra usar ele de receptáculo para um anjo caído (ou seja, demônio), e depois sondou uma família que tinha uma filha com quase a mesma idade da dela, e com cegueira também.

Pro ritual, ela precisava de um corpo para o demônio, e um corpo para servir de reencarnação pra pessoa morta, e quanto mais compatíveis fossem os corpos, maiores as chances de tudo funcionar, por isso ela procurou uma criança do sexo feminino e com deficiência visual.

E pra ajudar nisso, ela provocou a morte do pai da menina, só pra ela ser colocada à adoção e ela tirar proveito disso. Mas ela não contava com o irmão da menina sendo um baita super protetor, mesmo tendo muitos traumas.

Só que no fim nem ele consegue detê-la, e ela quase finaliza o ritual. Até um pingo de carinho surgir por conta da inocência da criança, e ela interromper tudo.

Daí ela só aceita o fim, enquanto por muita sorte o capeta também decide romper o contrato e tudo acaba bem, pelo menos pras pessoas que conseguiram permanecer de pé.

Conclusão

Eu gostei do filme.

Tem horas que dá uma revolta enorme, ainda mais vendo como tudo vai se encaminhando pra desgraça generalizada, mas ainda assim há momentos bons que ajudam a digerir a trama perversa.

Tipo o final, que mesmo sendo muito ruim, ainda tem espaço pra um pouco de alegria, num âmbito de puro terror mas, feliz.

Cara é esquisito, não é um filme pra todo mundo, com alguns temas que podem soar como gatilhos emocionais mas, no geral ele agrada muito pra quem gosta de terror, e apavora quem não tá acostumado.

Ou seja, é mais um acerto da A24.

É isso.

Obrigado pela leitura, e desculpe se falei de mais.

See yah!