Resenha: Black Mirror - Hotel Reverie - IA Melhor Que o Roteiro

Hotel Reverie

hotel reverie - episodio 3 7 temporada black mirror

Este episódio ficou no meio-termo, sendo bom em conceito, e terrível em execução. A qualidade dele está na criatividade e plausibilidade da tecnologia que mostram, mas tudo desanda por conta do péssimo roteiro. Pelo menos não fogem muito da essência da série.

Cheio de conceitos repetidos, dramatização e um tiquinho de inovação, eis o episódio 3 da 7° Temporada.

Bora falar mais sobre, e lamento tem spoiler.

Boa leitura.


 A Tecnologia da Vez: Acessório de Imersão

tecnologia de imersão em realidade virtual colocada na cabeça black mirror

Desenvolveram o método de transferir a mente pra um computador usando um dispositivo que fica anexado na têmpora da pessoa, e apesar de ser um pouco repetitiva, a tecnologia é basicamente a Imersão em um Simulador, ainda num tipo de fase de testes para ver onde ela se encaixaria melhor, e para que poderia servir. 

Mulher usando o Redream para entrar no computador

A proposta da vez é aplicar tal tecnologia no cinema, usando simuladores de realidade como palco para que as pessoas interajam com os personagens de filmes.

E tudo funciona relativamente bem, com um ator sendo introduzido a um filme, substituindo o papel de outro que tenha participado, e podendo reencenar tudo a sua maneira, e com sua imagem. A questão é que para que isso aconteça, os demais personagens simulados recebem personalidade, condizente com seus papeis originais do filme, mas também livres para se adaptarem se necessário.

filme preto e branco black mirror

O computador vai gerando linhas de roteiro, cenário, falas, tudo para que as coisas fluam naturalmente, mas se o ator que foi inserido seguir a risca as falas do papel original, nada precisa passar pela tal adaptação.

cenário sendo gerado artificialmente pelo sistema

Só nisso já tem como antecipar as problemáticas possíveis, e os dilemas levantados. Seria isso uma afronta às memórias daqueles que participaram dos tais filmes? Os personagens gerados tinham consciência do que eram ou poderiam desenvolver? Quais os limites desse tal simulador, e quais os riscos que ele oferece praqueles que o usam?

entrando no filme black mirror

Chega a seguir até mesmo a premissa de Sword Art Online, com consequências letais relacionadas ao desligamento da máquina: O usuário só pode sair do sistema quando o filme acabar, e qualquer interferência antes disso pode mata-lo. A questão é que a série ignora até isso em vários momentos, cria interferências que pouco afetam a pessoa, como passagem de tempo acelerada, desconexão, bugs... e tudo isso tira a gente da imersão, faz a credibilidade do episódio decair.

Ainda tem todo o problema burocrático que envolve uma atriz famosa se submeter a uma tecnologia experimental e perigosa para a mente, sem assinar nada, sem saber do que se trata, sem ser informada, quase como nada disso importasse... sendo que na realidade isso tudo seria um baita de um impedimento pro andamento da série.

o agente da atriz em black mirror

A falta de compromisso em respeitar as próprias regras é o ponto principal que arruína tudo, mas acredite isso não é o problema principal, pois a história mira em romance e drama, e não em ficção científica.


Resumo da História
Hotel Reverie


comparando os filmes black mirror

Um estúdio de filmes antigos acaba assinando um contrato com uma fintech empolgada, optando por revitalizar suas obras não na forma de remakes, mas com relançamentos modificados dos filmes clássicos, começando pelo mais famoso: "Hotel Reverie".

assistindo o hotel reverie antigo black mirror

Então, na busca por um ator para substituir a estrela do longa no papel de Alex Palmer, sem sucesso em convencer os grandes nomes da época, decidem simplesmente entregar o papel para uma atriz famosa chamada Brandy que demonstra interesse, porém só estava cansada de ser usada nos papeis femininos convencionais.

indo pro sistema sem preparo black mirror

Assim, ela negligencia a preparação pro projeto, e vai confiante pra imersão sem nem mesmo conhece-la, passando por apuros dentro do programa e contracenando com uma atriz já falecida chamada Dorothy, da qual ela era muito fã.

a protagonista se apaixonando pela ia black mirror

Durante os problemas provocados por pequenas variações e adaptações da obra, ela descobre que a Inteligência Artificial pode se adaptar muito além do papel atribuído a ela, e que o sistema está mais vivo do que aparenta, as vezes mostrando traços da atriz, e não da personagem, e isso intriga muito ela.

elas ficam presas por dias no sistema

E assim, ela faz descobertas pessoais, e se aprofunda nos prazeres da vida virtual, ficando presa ao sistema e a um romance recíproco, mas nada disso tem consequências e tudo acaba de forma brusca.


IA Sentimental e IA Mística

o mundo parado e ela se movendo black mirror

É bacana ver um novo uso pro clássico sistema de imersão em realidade virtual. É um estudo válido para as possibilidades de tal inovação, caso um dia ela se torne real. Mas, apesar do acerto em escolher a pauta, ela foi mal executada.

Ia estranhando variações

Usar simuladores pra interagir com atores gerados por computador, e indo até além permitindo contracenar com quem já faleceu, é um uso bem criativo. Mas a ideia se perde na fantasia quando colocam memórias impossíveis em tais personagens, e desviam a proposta pro lado espiritual.

Em dado momento é sugerido que os atores presentes no simulador eram mais que mera representação, eles eram cópias dos mesmos enquanto vivos, com direito a lembranças dos bastidores, e reações a elementos fora do filme.

os bastidores black mirror

Mas, tal ideia é absurda, indo contra as leis e regras que Black Mirror mesmo apresenta. Há certos limites pra algo tão incrível quanto a revitalização de pessoas através de meros avatares super realistas, que usam como base imagens pré-gravadas. Não tem como eles saberem o que havia por trás da quarta parede... não daria pra saberem das câmeras, dos bastidores, das suas vidas fora da obra, já que nada disso é registrado nos filmes.

A Ia lembrando que é atriz black mirror

Caso fosse, as câmeras seriam mostradas quando vemos a personagem dentro do simulador. Seria mostrado o diretor, a equipe que trabalha atrás da mesma e até o estúdio... mas o sistema não gera isso, pois ele só considera aquilo que foi visto no filme, dando vida justamente a ilusão dele.

O cenário gerado pelo sistema black mirror

Tudo fica sem sentido quando enfiam goela abaixo o conceito de que a IA pode se adaptar tanto, mas tanto, que sabia até quando morreu na vida real! Os atores fictícios podiam simplesmente despertam memórias e conhecimento sobre coisas que nem mesmo viveram na época da filmagem, e isso beira o ridículo.


Da pra aceitar o simulador, as IA se adaptando, elas criando personalidade ao seguirem linhas de raciocínio similares aos personagens, quem sabe até poderiam lembrar que são atores se necessário e usarem isso pra desenvolverem hábitos mais voltados pras pessoas atrás dos papéis. Só que isso teria um limite de tempo eu imagino, afinal a época do filme difere da época da exibição e produção.


Fizeram Melhor Antes


A série extrapola na criatividade e ao incluir o conceito espiritual disfarçado de inovação, dá um tapa na própria cara, afinal há outros episódios da série que tratam do tema com mais consistência, e até usam a mesma tecnologia: Sem falar muito deles, há um em que uma IA gera personalidade idêntica a de uma pessoa, pois ela foi concebida através da Cópia das memórias. Em outro, a IA se adapta tão bem que quase engana ao se passar por alguém que já faleceu, apenas aprendendo via internet com fotos, vídeos, gravações de áudio e conversas em texto... 

Aqui não acontece nenhum desses casos, pois tudo que alimenta a IA é o material final do filme que ela está executando, sem dados complementares (como cenas dos bastidores ou perfis dos atores), o que faz tudo ficar sem sentido lógico. Não seria estranho uma IA questionando sua existência ao descobrir que é só um programa, e já teria muito a se trabalhar em cima disso, então pra que inventaram de apostar mais alto e manchar a boa reputação da série?


Pois, é lógico uma IA se lembrar de coisas quando ela é um clone de memórias, e é lógico uma IA fingir ser alguém quando ela é alimentada com todos os dados da vida da pessoa, mas não é lógico uma IA se lembrar que é um ator e toda sua vida, apenas reproduzindo um filme. Soa idiota.


As Três Pautas: Étnica, Gênero e Sexual


E infelizmente este não é o maior dos problemas. Há uma tentativa muito esquisita de cutucar o maior dilema social do momento: Questões de etnia, gênero e sexo.

Se não fosse suficiente mexerem com atores falecidos e a ideia do remake, optam por fazer sátiras sociais ao modismo de remakes que tomou a sétima arte. Fazem até citação da Deepfake e a capacidade de usarem rostos conhecidos por cima de materiais prontos, ou do uso da IA pra gerar falsas gravações bem convincentes, só que tudo pende pra uma discussão maior que essa.


Substituir o elenco por alguém de outro gênero, cor e sexo, apenas por lacração já seria o cúmulo (e pior que acontece), mas aqui o fazem por mera ambição de executivos, sendo algo bem curioso a se abordar. Contudo do jeito que fizeram e adaptaram ao roteiro não fluiu tão bem, não pareceu muito pensado.

E olha que conseguem sim relacionar a questão da sexualidade ao contexto, mas gênero e etnia não.

O ator do filme clássico era um homem branco, nos anos 40, que se apaixona por uma mulher branca casada. O cara é super famoso mas já falecido, então a ideia do estúdio era refilmar a mesma obra, sem mudar nada (nem adicionam cores), apenas o ator principal pra um mais novo (algo bobo diga-se de passagem).


Eles então contratam uma atriz negra pro papel, sem se atentar a detalhes contraditórios como às questões raciais do período dos anos 40, à questão de gênero diante um papel importante que antes era masculino, e claro à sexual ao introduzir uma mulher contracenando romance com outra mulher. Isso tudo afeta muito os significados do filme original, e praticamente o reinventa mas, sem o menor compromisso com tamanha possibilidade.


É como se fizesse sentido apenas trocar o personagem, e toda a história seguiria inalterada e com lógica, quando na verdade uma mudança do tipo seria de tamanho impacto, que um simples beijo entre as duas personagens, na época retratada, já seria um absurdo social de extrema relevância.

Talvez nos tempos atuais ninguém possa discutir sobre isso por medo de ser cancelado (também chamado de respeito na cabeça de muitos), mas nos anos 40 isso era muito diferente. Haviam questões sérias, que se ignoradas são praticamente uma negação da realidade, e o racismo e a homofobia eram traços terríveis mas reais da sociedade.


Só trocar um ator por uma atriz é achar que troca de elenco é como troca de figurino, quando na verdade isso causa impacto na obra como um todo. Isso levanta questões complexas, e por mais que seja sim uma ferramenta simples, o resultado disso é muito amplo. O quanto algo assim modifica o significado da obra, seu impacto crítico, seu público alvo, seu compromisso ético?


A Sexualidade Importa, 
Enquanto o Roteiro Quiser

duas mulheres se beijando em preto e branco black mirror

Mas ai que tá, além do fato de trocarem o homem por uma mulher, e o branco por um negro, sem nem se esforçarem pra ajustarem o roteiro (algo que inclusive é questionado pela própria pessoa que deu a ideia, a atriz), temos a questão sexual que se destaca muito mais e tem muita importância pra todo o enredo.

É que, a atriz original do filme que fez o papel da mocinha apaixonada, se matou sem ninguém entender a razão, e com a participação de uma mulher contracenando com ela, isso acaba sendo finalmente explicado.


Contudo, a série duvida da inteligência do público e adiciona cenas completamente imbecis para que entendamos que a atriz tinha segredos pessoais impossíveis de expor na época, e que isso induziu sua desistência.


Mesmo assim, eu diria que foi um bom estudo de personalidade e uma abordagem crítica bem pensada mostrar que a simples mudança do papel principal, afetaria os interesses pessoais da atriz por trás da personagem, e talvez isso mexesse com detalhes sutis do filme afetando seu resultado final.

A ia tem uma memória depois do filme em black mirror, sendo que ela nunca viveu

Algo assim ocorre, mas com tantos buracos enfiados pelo roteiro, isso se fragmenta e perde todo o significado. E olha que curioso, o enredo do episódio destaca o maior furo de roteiro dele próprio, já que enquanto retrata os bastidores da Atriz escondendo sua sexualidade por medo de ser julgada, ele mostra uma história que ignora tais mudanças e o quanto ela seria percebida pelo público, ou afetaria o longa.

Pura contradição, e nem é algo pensado. É só bem idiota mesmo, como se a série nem percebesse o equívoco. O pior inclusive é que nem chegam depois a explorar as consequências das descobertas. Na lógica, conseguem ver os motivos que levaram a atriz original (Dorothy) a se matar, e tem todo uma mensagem profunda sobre gêneros ai, mas nada disso é usado, e o descaso ainda se expande pra protagonista (Brandy) que simplesmente continua sem se assumir.


É como se no século 21 fosse um tabu ainda ter uma sexualidade diferente e assumir isso publicamente, quando na verdade a ideia do filme em substituir o elenco sem medo de ousar, já aponta a flexibilidade com o assunto nos tempos modernos, e tinha tudo pra aproveitar isso e fazer uma bela crítica social. Mas ele ignora, trata tudo com superficialidade e encerra sem aproveitar o próprio conteúdo.


Ator e Atriz, Elenco como Figurino


Um dos maiores problemas é a percepção da atriz como ator, algo que fica mal explicado, ao ponto de soar ignorado pelo roteiro, quando é crucial pro desenvolvimento de tudo ali.

Os personagens enxergam a atriz como ela realmente é, mas entendem ela como o cara que estava em seu papel. Na lógica, justamente pelo desfecho, é como se todos os personagens tivessem se adaptado ao protagonista visto como uma mulher mesmo. Só que a forma como eles passariam a lidar com ela difere muito do que ocorre no corte final.

Mantendo as exatas falas, eles tratam o assunto do mesmo jeito, e a mudança em si acaba nem sendo percebida pelo público no roteiro. Contudo era preciso que fosse notada, para que o relacionamento entre as duas atrizes soasse ao menos natural.


De certa forma a dublagem brasileira (e talvez em outros países) tentou corrigir esse pequeno gafe, alterando o gênero de certas palavras ("médico" pra "médica", "ator" pra "atriz", "ele" pra "ela", etc) o que já serviria bem pra adaptar as falas. Só que no áudio original, além de "Doctor" já ser uma palavra neutra (aprendi com Doctor Who graças a temporada da Jodie Whittaker), em uma frase dita pela protagonista a fala usada é "Actor" ao se referir a si mesma, enquanto ela usa "Actress" pra sua parceira de cena.

Um detalhe peculiar e sutil, mas que afeta muito a compreensão de tudo aos mais atentos. Afinal, se ela assume que é um homem naquele papel, a ideia é que os demais ainda a enxergam como um homem mesmo sua aparência tendo sido adaptada, e uma vez que isso acontece, tudo perderia o significado.


É que a personagem se apaixona por ela, mas de verdade e não como uma personagem. Ela gostava de mulheres, e a química dela com o ator original não era boa pois ela não tinha a menor atração, mas ao contracenar com uma mulher, ela se solta muito mais, mostra seu lado real e acaba expondo seu gosto com facilidade. E na frase em questão, a protagonista revela que é tudo um filme num simulador, mas se mantendo como um "ator", pois ela acreditava que era assim que era vista.

As obras diferem muito por causa disso, mas infelizmente a série não sabe aproveitar essa sutileza toda, e nem aborda o impacto que isso causaria. A protagonista por incrível que pareça sabe bem disso, mas tudo é só tratado com relaxo, e causa uma tremenda estranheza pra gente. 


Ao invés disso eles criam reviravoltas complicadas, incluem flashbacks impossíveis (a atriz simulada lembrando que morreu por exemplo) e fogem de mais do lógico, pra tentar explicar esse pequeno detalhe peculiar e sutil.


A Crítica ao Cinema: Vendendo Nostalgia


Remakes e mais remakes, até o cinema tá de saco cheio disso mas continua fazendo pois é o que o público quer, e infelizmente a longo prazo isso tende a ficar cada vez mais simplório, chegando facilmente nessa realidade retratada aqui.

A história mais uma vez se passa num período relativamente próximo, ainda no século 21, mas ela também faz suas referências a década de 40, brincando com a câmera e cores por exemplo. O filme refeito permanece em preto e branco, e no começo eles mostram um trailer do original.


Mas pra que fazer remake de algo que já está perfeito? Pra que aliás relançar tal obra na mesma roupagem, só que agora mexendo em pautas populares? Vale mesmo a pena sair ferindo as memórias dos clássicos só pra voltar a vender?

A resposta é que vale, e os estúdios não estão nem ai pra moral ou ética. Tudo que querem é vender algo que o povo vai consumir e se for preciso reciclar trabalhos alheios eles farão sem medo, e até mesmo usarão os mortos pra isso sem pensar duas vezes.

Se derem liberdade, eu não duvido que criariam filmes, séries e até músicas usando a nostalgia dos fãs como ponto de partida. Se pararmos pra pensar já estão fazendo isso e muito, vide o que a Disney vem criando ultimamente... mas o povo continua consumindo adoidado.


O Carisma dos Atores: Não Se Encaixam


A escolha de elenco foi bem infeliz, tirando a mocinha do filme clássico que brilha muito no papel de IA.

O problema é o resto... um elenco base que fica nos bastidores da sala dos computadores do sistema, composta por uma velhinha descolada que é dona do estúdio do filme, mas não convence em suas gírias moderninhas; uma comediante que interpreta a dona da nova empresa grande desenvolvedora da tecnologia, chamada Redream; e mais um monte de nerds estereotipados que só servem pra apertar botões nos teclados e explicar o óbvio da parte técnica.


Junta isso à protagonista, que ora se comporta como uma feminista fervorosa que odeia machos, e outra como uma cinéfila apaixonada por clássicos, e temos um dos personagens mais inconsistentes da série.

Não que ela seja ruim, mas o papel não combinou com ela. Parece até que escalaram pensando mais em preencher uma cota imaginária do que em escolher alguém que se encaixasse no personagem.


A Resolução Vazia: 
Não Aproveitam o Que Criaram


E sobre o final, o que tenho a dizer é que foi bem estúpido. Depois de um dramalhão pra lá de forçado que flerta com a protagonista pensando em se matar, para continuar vivendo dentro do simulador, ela volta atrás e quem morre é a simulação... 


Daí ela sai triste do programa e vai tocar a vida, com o filme saindo e ela nunca se assumindo.


Mas com o tempo, uma segunda tecnologia é apresentada, reciclando a ideia da primeira versão do sistema da Redream, só que agora usando isso como uma forma de conversar com os mortos, desde que tenham gravações deles.

A protagonista, traumatizada pela quase morte mas muito mais pela perda do amor verdadeiro que nem sabia que tinha (inevitável afinal era tudo um simulador) acaba ganhando de presente uma versão compacta do mesmo.


Contrariando outra vez a lógica, já que pra tecnologia funcionar era necessário um estúdio enorme repleto de computadores e um programa que precisava de muitos técnicos pra gerencia-lo, ela ganha um telefone que se conecta a um vídeo num notebook, e serve para que ela ligue pra sua amada.

E assim, elas conversam, com ela falando com a atriz que nem lembra quem ela é, numa simulação totalmente vaga e carente de profundidade técnica. O mais triste é que com isso eles também jogam no lixo o romance com IA, a verdade da Dorothy, a crítica social sobre aceitação e pressão pública, e principalmente a tecnologia de imersão, já que a solução foi criar outra tecnologia em cima da hora.

A tecnologia do telefone em black mirror está fora de encaixe

Ao invés da imersão, é só uma simulação muito bem feita de uma pessoa falecida que responde em tempo real.

Parece incrível, mas o Chat GPT já faz algo bem parecido e convenhamos que é algo moralmente questionável. Quem pegaria um telefone pra conversar com um programa fingindo ser alguém que ama e já se foi?


Conclusão
    
tecnologia do telefone black mirror

No fim das contas, Hotel Reverie tenta se passar por sofisticado, mas tropeça nos próprios clichês e incoerências. O episódio começa com uma proposta interessante, mas se perde completamente ao tentar emocionar sem preparo. A ideia de usar simuladores de filmes para reviver obras antigas é criativa. Mas o caminho que escolheram seguir transforma uma boa ficção científica em um drama exagerado, incoerente e cheio de furos.

Tinha tudo pra ser um episódio memorável. Em vez disso, vira um show de oportunidades perdidas.

Aliás, um detalhe: Qualquer semelhança com San Junipero, o episódio que praticamente fala da mesma coisa em questão de drama, é pura coincidência. As tecnologias derivam do mesmo princípio, mas o que foi feito no episódio "San Junipero" se sobressai muito mais. 

Enfim, é isso.

Queria falar o que achei.

Obrigado pela leitura e, faltam 3.

See yah

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