Este é um dos melhores episódios da série, talvez o melhor, mas é daqueles que eu quero esquecer.
Tecnologia da vez: Memórias.
O episódio usa uma variação da tecnologia de memórias, mesclando uma tecnologia de avatares virtuais e... eu não consigo.
Momento deprê:
on
tá difícil escrever...
o episódio mostra como somos estúpidos sabe? como a vida é repleta de reviravoltas e as coisas se misturam... é só bagunça.
sabe, é complicado falar, ele mostra um senhor de idade, tendo de lidar com o luto de alguém que ele aprendeu a odiar a vida inteira, mas amou muito na juventude. alguém que o abandonou sem dar uma razão, e desapareceu da vida dele sem que ele nunca entendesse.
mas, graças a uma longa inspeção por suas memórias, ele se recorda de coisas boas, coisas ruins, e vai relembrando seus acertos e erros até finalmente entender tudo. a vida dele foi destruída, as escolhas que ele fez foram terríveis, e ele sempre culpou os outros, sem nunca olhar pra si. e quando ele finalmente olha ele percebe seus maiores vacilos, e repara no quanto poderia ter sido feliz, ter feito aqueles que ama feliz, se não fosse um ignorante.
ele nunca soube porque ela foi embora sabe? na série ainda fazem o suspense sobre os detalhes mas mesmo se soubesse, a ignorância é tamanha que possivelmente os erros seriam idênticos, talvez até maiores.
ele poderia enfiar na cabeça que a responsabilidade não é dele, poderia justificar pra si mesmo que foi melhor assim, dizer que ela simplesmente o largou pois não servia pra ela, e buscar inúmeras razões pra culpar ela e nunca admitir que na verdade, ele que desperdiçou todas as chances, ele que falhou.
tá difícil.
Momento deprê:
Off
Eu gostei muito desse episódio, pois ele é real. Ele não mostra nada absurdo, nem é chato ou enrolado, ele só é completo.
Ele mostra esse velhinho (Paul Giamatti cara, eu to chorando por tua culpa!), nem tão velho assim mas, velhinho, que recebe uma mensagem de uma empresa chamada Eulogy, que produz velórios especiais usando memórias de todos que se importavam com o falecido, e mesmo ele sem ter contato com a mulher por décadas, acaba recebendo um pedido direto da filha dela pra oferecer algumas de suas memórias.
Esse momento mano, esse momento... eu pensei "Eu não agiria assim" e olhei bem, vi a alma do cara, e pensei "Eu agiria exatamente assim", só com outro nome. |
Então tudo que vemos é ele usando uma tecnologia emprestada pela empresa, para vasculhar suas lembranças olhando fotos, entrando nelas como se estivesse em uma realidade virtual, e buscando em sua mente por lembranças pra compartilhar.
Mas a dor desse velhinho é tanta, que ele não tem mais fotos inteiras da moça, as que tem estão rasgadas e ilegíveis e, mesmo assim ele é guiado pela assistente virtual da tecnologia emprestada, pra viajar entre as fotos.
O trabalho técnico
é sublime.
Cada cena, dele entrando nas imagens e as reconstruindo como pode, enquanto tenta relembrar contando dos eventos que consegue recordar, é tão bem feito, sereno.
As imagens são estáticas e permanecem assim mesmo quando ele entra nelas. Partes que ele não se lembra e não foram registradas não são simplesmente corrigidas, pelo contrário, elas surgem borradas, sem textura, como um computador gerando uma imagem bugada, e isso é perfeito pro tema.
Afinal ele está lá dentro vendo memórias, procurando elas, tentando forçar com suas fotos antigas, com música, e o que ele consegue se preenche, se complementa, já o que não importa continua danificado.
O episódio evoca tranquilidade enquanto faz esses passeios, sempre de mãos dadas conosco para que entendamos bem a mente do protagonista, e de fato somos levados pela curiosidade, querendo ver a garota da qual ele tem de lembrar, mas mais que isso, querendo entender como tudo terminou como terminou.
A vida tem dessas,
drama em todo canto.
Naquela clássica história de casal perfeito que do nada se separou, cada foto, cada memória, por mais corrompida que esteja basta pra oferecer pistas da história completa, e conforme ela avança, ora o protagonista é uma vítima, outrora o carrasco de seu próprio destino.
Ele não é um santo, os erros dele que ele escondeu de si mesmo aparecem enquanto tenta falar, como uma garota que o paquera em uma festa, enquanto ele se remoí de rancor e ciúmes da própria namorada, que igualmente ele rejeita no momento pelos mesmos sentimentos, quando deveria estar lá ao lado dela.
Sem mostrar em parte alguma a perspectiva dela, os pensamentos dela, afinal ela já faleceu, a série nos explica muito bem que nem tudo é preto e branco, e mostra através das próprias descobertas do protagonista seus erros, e aquelas vezes em que pelo arrependimento de não ter agido certo, ele apenas nublou sua mente.
É algo tão lindo de assistir, e doloroso também, ainda mais quando de algum jeito tudo isso se encaixa muito bem num arquétipo de sofrimento familiar pra mim. Desculpe, a série chegou num tópico super pessoal e, eu estou com dificuldades de me desprender disso.
A inteligência artificial
auxiliando como pode.
Mudando de assunto antes que volte a chorar, eu adorei como reutilizaram a ideia da "cozinheira digital", apresentada em outro episódio das temporadas anteriores, em um novo tipo de tecnologia, não focando nos males dela, mas nos benefícios.
A assistente digital, que se personifica no mundo virtual (interpretada pela excepcional Patsy Ferran) quando o protagonista usa o negocinho na têmpora, é fruto dessa tecnologia. Ela é a mente de alguém, copiada pro sistema para ajudar na administração do próprio sistema.
Sem ir fundo nas questões existenciais dessa entidade virtual, usam ela pela emoção dela, e isso encaixa como uma luva em toda a história, sem soar forçado, sem soar exagerado, apenas lógico, crível, aceitável.
Ela era alguém importante na vida da moça falecida, mas a história leva seu tempo pra contar quem, explicar o que significa, e usa a descoberta do protagonista pra também se revelar, igualmente se encaixando quando pode e, completando as pequenas brechas que a história abre.
É tudo tão bem feito, tão bem montado e sem falhas que, eu fui pego totalmente desprevenido.
O carisma da personagem também ajuda muito a compreendê-la, e quando ela começa a se exaltar um pouco, reagir e até culpar o protagonista pelo que começa a observar (e ele nega), isso vai preparando pra revelação final.
Não é absurda,
não é um plottwist,
é apenas realidade.
Enxergar a verdade em certo ponto é mais doloroso do que se considerar um fracasso pelas circunstâncias da vida. As vezes tá tudo ali, e não vemos pois não queremos.
Mas não é nada filosófico nem complexo, é bruto, simples assim. Ele vê a verdade, vê que cometeu erros, aceita isso e não tem pra onde fugir, nem como remediar.
Mesmo que picos de esperança surjam eles são automaticamente aniquilados pelo choque da realidade: Ela morreu, é pra isso que ele está ali, é pra isso que ele está lembrando.
Tarde de mais pra tomar alguma atitude, já passou. Daria pra ter feito diferente, mas agora já foi.
A Tecnologia da Vez: Memórias.
Dessa vez vou concluir com a tecnologia, sem falar do desfecho afinal tudo é mais voltado pro emocional aqui (e não sei quanto mais aguento disso).
Então, a tecnologia é uma mescla da projeção da mente no virtual, com a IA gerada pela cópia de mentes.
O usuário daquele dispositivo clássico que Black Mirror criou, a bolinha posta na cabeça, não vai diretamente pro mundo digital, nem se desliga completamente da realidade. Aqui, a bolinha conversa, ela assume uma personalidade (inspirada na mente clonada nela) e auxilia o usuário antes mesmo de conecta-la a si.
E, dentro dos limites de controle dela, ela pode explorar a mente da pessoa, buscando pelas informações que precisa. Caso o usuário se sinta confortável ele também pode ajudar a vasculhar as memórias, usando fontes externas e mergulhando nelas literalmente.
O dispositivo pode projetar a pessoa em sua própria mente, e visitar aquilo que visualiza mais profundamente. Assim, surge um cenário mais fechado e surreal, do dito passeio pelas fotografias.
Mas não é só isso... tem muitas sensações exploradas, e questões sabiamente abordadas nos pontos exatos. Como as limitações táteis da memória, como ela pode se ajustar ou não, o que pode ser ouvido, visto, sentido. Os sentidos humanos replicados diretamente no cérebro chegam a ser mais intensos até, mas só nas horas certas.
E então no fim, sobra aquele velhinho carregado de culpa, afundado até a nuca num oceano de sonhos, pensando em tudo que viveu, tudo que poderia viver, e tudo que apenas não soube perceber que vivia.
É isso.
Obrigado pela leitura, e me desculpe se pesei um pouco no emocional aqui... foi realmente tenso começar a escrever. Esse é daqueles episódios que cutucam feridas abertas e, vi tanto nele que lembrou... coisas... como odeio dramas mano.
Falta só mais um episódio e, se for tão perfeito quanto este, dou meu braço a torcer por Black Mirror.
Antes disso, eu diria que a série precisava se aposentar mas, vejo que foram apenas erros ao longo do percurso e ainda não é tarde de mais.
Ela está firme e forte, a série segue firme e forte...
See yah.
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