Mickey 17 é um filme diferente do que eu esperava, sendo muito mais voltado pro drama e ficção científica do que pro humor como eu acreditava.
Os trailers entregam toda a premissa e eu jurava que não tinha como me surpreender ou impressionar com uma simples história de clonagem, mas pra minha surpresa, me impressionei.
O filme porém não é uma obra prima, é um tanto quanto esquecível pra ser sincero e nem chega a ser uma grande revolução na indústria da ficção científica, porém é bem legal.
Enfim, bora falar dele.
Não tem spoilers... eu acho.
Clones São Vida?
Como fica claro nos trailers, a ideia principal do filme é mostrar a rotina de um clone em um programa de imortalidade e testes, onde o usuário chamado Mickey é substituído caso morra por uma cópia idêntica dele, carregando as mesmas memórias.
Então, passamos a acompanhar a história do Mickey 17, lutando pra sobreviver enquanto por acidente, um Mickey 18 é criado, gerando um baita problema existencial.
Porém, o filme não fica apenas na discussão sobre o que torna Mickey um individuo perto de outras cópias, e vai além mostrando algo que foge completamente do conceito principal.
Um Clone, Muitas Mulheres
O primeiro desvio é com os relacionamentos que Mickey tem. O que tem de mulher ficando encantada por ele é sem igual, mas não tem a ver com suas personificações.
Na verdade, quase não é abordada a ideia de "variação racional" das versões ressuscitadas de Mickey, ao invés disso, é focado seu amor por uma determinada personagem, que perdura em todas suas versões, enquanto outras garotas tentam seduzi-lo.
O Mickey 17 seria a 17° personificação, e mantém aquele mesmo amor do começo, afinal as memórias dos que faleceram são passadas pra ele se acumulando, mas quando um 18 surge para competir, as coisas poderiam ficar bem complicadas.
Poderiam, mas não ficam. É esquisito como tudo se resolve relativamente rápido, não por haver uma solução, mas por problemáticas secundárias ganharem cada vez mais destaque ao ponto de inundar a trama que achávamos ser a principal.
Alienígenas Invasores
A história real é sobre Colonização de planetas. Sim, esquece a ideia de clonagem ou ressurreição contínua, na verdade Mickey é o único nessas condições o filme inteiro.
Há certa ênfase no preconceito que ele sofre por ser descartável, mas no geral isso pouco importa, pois da metade pro final o longa é sobre uma raça alienígena lutando por seu planeta.
E vira um tipo de ficção espacial com colonização e exploração, e Mickey é só uma peça secundária nisso tudo. Inclusive, tudo me pareceu até uma cópia de Prometeus, mas sem terror, e sem aquela reviravolta que o conectava a Alien.
Dois Clones, Uma Mulher
Dois clones vivos simultaneamente é contra a lei no universo do filme, então quando a história apresenta a condição de Mickey 17, como sobrevivente diante do Mickey 18, rapidamente somos levados a antecipar o conflito entre os dois.
Mas como adiantei, esse conflito quase nem é abordado, e do pouco que se vê, é forçado. O Mickey 18 é o primeiro de todos a desbloquear uma personalidade muito diferente dos demais, e isso nunca é sequer explicado.
Há comentários da narração que dizem que cada Mickey tinha traços únicos de personalidade, mas como nada é mostrado, o que resulta é algo aparentemente forçado.
Sabe a ideia de Clone Maligno? Então, é quase isso... mas daí vem a história que antes deveria ser apenas o pano de fundo, o palco, a justificativa pra existência dos Mickeys, e toma o espaço de principal.
O Cenário é Mais Importante
Mickey existe como único tripulante alistado num programa de clonagem, justamente pra ser usado infinitamente na missão de viagem espacial e colonização.
Apesar disso, há milhares de outras pessoas na nave que ele tripula, e todos o tratam feito lixo pois sabem que ele é totalmente descartado.
Ironicamente, apesar da inovação tecnológica surreal que possuem, ninguém a utiliza além do Mickey pois é algo mal visto, simples assim.
Tem até um trecho enorme do filme que explica que o inventor da máquina era maquiavélico, e que isso desencadeou leis anti-clonagem, mas no fim o que a gente assiste é um clone enfrentando a dura realidade de não ter mais espaço na humanidade.
Só que mais que isso, sua história é rapidamente ofuscada pela história da nave e sua tripulação, principalmente o líder da mesma, que é um déspota religioso e abusivo, ao lado de sua esposa.
Tudo da uma volta tão grande em torno do umbigo desse cara (talvez por ser interpretado por Mark Ruffalo), que o que sobra da história de Mickey (interpretado por Robert Pattinson) parece só algo secundário de um coadjuvante qualquer.
Inclusive, muitas reviravoltas em potencial, como ele aprendendo a se comunicar com criaturas espaciais, ele sobrevivendo por motivos misteriosos, a mulher que o conduziu até o experimento da clonagem, e a morte da mãe dele na infância, dentre outros eventos, é tudo só descartado, sem respostas ou com resoluções tão indiferentes que causam até desgosto de assistir.
Ele Mastiga, Nós Engolimos
O auge do filme está no desfecho que tinha muito potencial pra nos fazer pensar e questionar a natureza da vida, imaginando soluções alternativas. Mas, nada disso ganha força afinal a história opta por resumir tudo através da narração.
Inclusive, se não fosse o protagonista narrando tudo pra gente, seria muito complicado entender as cenas desconexas e postas fora de contexto e com uma elipse jogada, transitando pro passado, presente, sonhos, e no fim terminando.
A ideia é mastigada pra gente pelo protagonista, e tudo que precisamos fazer é engoli-la sem questionar, aceitando tudo de qualquer jeito (mesmo que muito nem faça sentido).
E sinceramente, achei isso um baita erro do filme. Além de prejudicar muito seu impacto, ainda desperdiça todas as interpretações que antes eram possíveis, ditando todos os resultados e tornando tudo bem bobinho sem relevância e tão... simples.
Enfim...
Eu esperava mais, mas não me arrependo do que vi.
É uma história legal e, apesar de não trazer nada revolucionário ou inédito, é divertida pelo menos.
É isso.
Obrigado pela leitura.
See yah!
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