Crítica: The Ballad of Buster Scruggs - Antologia de Faroeste

Atrás de experiências diferentes, acabei parando pra assistir um filme de faroeste, algo totalmente incomum pro meu gosto, e então descubro que é um filme antológico que eu nunca assistiria (afinal geralmente busco por terror) e eu amo antologias.


Apesar de ser de 2018 e não ser tão memorável, vale a pena reservar um tempinho aqui pra falar a respeito então, bora la. Aliás, tudo culpa do meu irmão viu, era pra gente ter visto outro filme de faroeste e comédia mas ele se enganou com o título e acabamos pegando esse na Netflix.

Boa leitura.



"The Ballad of Buster Scruggs e Outros Contos do Faroeste Americano" é uma coletânea de curtas metragens inspirados no velho oeste, cada um abordando alguma ideia da cultura na época. Apesar de ser tudo bem humorado no começo, cada história tem seu próprio tom, e na maioria das vezes é mais trágico do que cômico.

Entre uma história e outra, vemos um livro ser apresentado com o capítulo em questão, dando a entender que tudo na verdade é a imaginação inspirada nesses contos do livro, e é uma boa forma de conectar todas as histórias, apesar de cada uma ocorrer com personagens completamente únicos.

O que segura a atenção é com certeza a primeira história, não tão longa, mas enriquecida por música e efeitos especiais excelentes que exageram nos feitos de cowboys e pistoleiros, e convenhamos é disso que todo mundo gosta quando se trata de faroeste. 

Só que, cada conto leva muito a sério o tema que aborda e alguns ficam tediosos de tão esticados, enquanto uns são bem rápidos mas divertidos, e tem um que só por deus viu, o negócio é pura alegoria e é difícil suportar, quanto mais entender.

Mas, bora falar sobre cada um dos contos assim não me estendo muito.


The Ballad of Buister Scruggs


A primeira história, que dá o título principal ao livro e ao filme, é sobre Buster Scruggs, o melhor pistoleiro e músico de todo o velho oeste.

É a história mais divertida, realmente cheia de músicas e o cara faz jus ao seu título. Sempre conversando com o espectador (quebrando a quarta parede), ele enaltece a si mesmo e mostra o quanto é incrível e pomposo.


Até que no fim, alguém melhor aparece e por conta de sua prepotência, seu conto é encerrado.


Nessa história há alguns aspectos além do mero duelo entre pistoleiros, como a questão dos bandidos procurados e como podiam andar soltos por aí até alguém requisitar suas cabeças.


A lenda da "Mão do Homem Morto", uma superstição do Poker originária dos tempos do velho oeste, que diz que caso alguém tenha dois "As" e dois "Oitos" de naipes pretos em mão durante uma partida, e jogar com essa mão, ele morrerá.


E, ainda tem a questão do pós vida mas, neste curta é pura brincadeira com a música.





Perto de Algodones


A segunda história é sobre a lenda do enforcado, um cara tão enforcado financeiramente, que faz desse seu destino literal.


Ela fala sobre um ladrão de bancos que tenta a sorte em um bem isolado, mas acaba dando de cara com um banqueiro maluco que se protege com panelas por todo o corpo, depois disso ele é condenado a forca, e não consegue escapar desse destino por mais que tente.


Ele sobrevive ao tiroteio da panela, consegue ganhar uma chance a mais depois de ser atacado por indígenas, e mesmo assim ele ainda é capturado e condenado.


O conceito dos bancos é bem curioso, onde mesmo sendo unidades ricas eram tão isoladas e aparentemente desprotegidas que se tornavam alvo fácil, mas os funcionários eram bem mais preparados pra lidar com isso do que hoje em dia.


A ideia das panelas também é um detalhe curioso do faroeste, onde não haviam coletes a prova de balas mas, cobrir o corpo com placas de metal ou panelas realmente ajudava a se proteger de balas perdidas.


E os indígenas que saiam matando forasteiros pra livrar suas terras, também é algo bem comum dessa época.


E também o próprio tema da forca, onde essa era a condenação mais usada para lidar com foras da lei. Servia até como entretenimento as vezes.


Vale Refeição


A história mais longa e chata de todo o filme, e olha que a última consegue ser ainda mais chata mas não vence só pela duração. O ritmo dela é simplesmente terrível, e por mais que faça parte da própria história isso, é chato de mais pra suportar.


Neste conto, vemos um jovem sem pernas nem braços, usado como entretenimento durante os finais de tardes em pequenos vilarejos, por um viajante que tenta lucrar em cima dele. Além da aparência chamativa, ele recita poemas, histórias, trechos bíblicos, discursos políticos, e mais uma vasta quantidade de textos complexos e decorados. E se tem algo que incomoda, é ouvir ele falar por horas e horas, enquanto nada mais acontece.


Essa história é tão tediosa, mas tão tediosa, que eu e meu mano paramos de assistir pra tomar uma água no meio dela, e o que pareciam ter sido horas, na verdade eram segundos. O filme tava em 20 minutos ainda e parecia já estar perto do fim.

E olha que os discursos do rapaz são longos mas cortados pela edição, e ainda assim se repetem e perduram o suficiente pra passar o incômodo e o tédio pra gente.


Mas, a história em si é sobre esse jovem sendo usado como uma ferramenta descartável de entretenimento e pronto.


No fim, seu dono vê uma apresentação de uma galinha inteligente (puramente um truque) que chamava muito mais atenção do público, e gasta todas suas economias pra comprar a galinha (e não o truque, acreditando que a galinha era realmente inteligente). Daí ele descarta o jovem como se fosse um brinquedo velho, ignorando sua humanidade, sua inteligência, e até sua companhia. 


E, claro, ele iria a falência posteriormente mas a história acaba.


O tema base ilustrado aqui é o entretenimento, não só com o cara sem braço, ou a galinha, mas também bordéis por exemplo. O que era usado pra passar o tempo, por mais imbecis, perigosas ou entediantes que as coisas eram.


Cânion de Ouro


Depois da bomba do anterior, começa um novo conto que acaba sendo bem agradável. Nele, um bom velhinho minerador de ouro passa por sua rotina até alcançar seu grande sonho, mas é interrompido por um aproveitador, contudo, as coisas não acabam mal pra ele.


É uma história simples até, mas achei muito boa principalmente pela abordagem dos caçadores de ouro. É que, geralmente são retratados como pessoas peneirando pepitas em riachos, mas na verdade isso seria só uma parte do processo.


O minerador escolhe um leito de um rio, e passa a cavar próximo a ele, lavando a terra escavada no riacho pra assim verificar se há ouro naquelas terras. O velho aqui passa a calcular a quantidade de ouro pelos minúsculos fragmentos que encontra, e demarca o território escavado.


Conforme ele vai cavando, ele afunila a região, procurando cada vez mais o ponto onde teria a maior quantidade de ouro, buscando por um veio/bolsão, e depois de identificar a área em potencial, ele cava fundo até achar o precioso minério dos seus sonhos.


Só que, enquanto haviam os mineradores, também tinham os bandidos que só ficavam de olho pra atacar de surpresa e roubar o trabalho alheio com facilidade. Só que a sorte do velhinho é bem grande, e no fim do conto por mais forçado que possa parecer, é bem legal ver ele se dando bem.


A Garota Nervosa


Essa é uma história que é boa e ruim ao mesmo tempo. Ela mostra uma Caravana, e tem como protagonista uma garota indecisa que precisa lidar com os problemas de estar em uma Caravana.


A parte que incomoda dessa história é o longo processo com conversas furadas. Ela está na caravana pois o irmão pretende força-la a se casar para tocar a vida em uma outra cidade, e pra incomoda-la ainda tem um cachorro dele que sempre late e enche o saco.


Só que aos poucos ela perde todos estes empecilhos, e passa a ter a liberdade para viver sozinha, só que ai ela tem de decidir como reagir com as despesas que ficaram pra ela, e passa a ter de administrar sua carroça praticamente sozinha.


Porém apesar disso, ela consegue apoio dos líderes da Caravana, ou pelo menos de um deles. Toda Caravana é guiada por duas pessoas, que garantem a direção dela. No Velho Oeste, era comum viajantes irem em grupos grandes assim entre uma cidade e outra (que eram bem distantes), tanto para não se perderem (não haviam estradas), quanto para se protegerem de indígenas.


Enfim, a mocinha acaba se encantando com o líder da Caravana e após ter muita ajuda dele, ambos se aproximam e até marcam um casamento, mas ai ela comete um pequeno erro e sai do acampamento deles sem querer.


Isso bota ela no alvo de indígenas e, o outro líder da Caravana é quem vai ajuda-la, um personagem que fazia de tudo pra evitar contato com ela, mas levava seu trabalho ali muito a sério.


E este é o ponto que a história fica boa, dependendo da perspectiva. É que, em meio ao combate contra os indígenas, a moça toma uma decisão pela primeira vez, sem esperar pelos outros.


Só que a decisão é bem equivocada, ao estilo "A Neblina", e por conta disso uma bela história de velho oeste vira uma trágica história de faroeste.


Um final desnecessariamente trágico.


Os Restos Mortais


E no fim de tudo, vem a pior história de todas, e a mais chata.


Um francês, uma viúva e um caçador velho entram numa carroça, e falam pelos cotovelos.

Esse curta inteiro se passa dentro dessa carroça e é só muito papo jogado fora, gente falando atoa, e é difícil prestar atenção.


No fim, tudo isso é só pra simbolizar, do jeito mais alegórico possível, que essas três pessoa estão mortas e sendo guiadas pro outro mundo pelo cocheiro da morte e os anjos da morte.


Uma bobagem diga-se de passagem, já que é tudo demorado (literalmente vemos o dia virar noite com toda a conversa dos caras, e nada nela é útil), e o fim é completamente aberto, sem dar respostas claras.


A gente deduz o que é pelos sinais, mas é com toda certeza um dos piores finais pra um filme... pois é entediante, confuso, e nada empolgante.


As almas perdidas chegam até uma casa e são convidados a entrar, subindo depois por uma escadaria pro outro mundo, e tudo acaba com o francês fechando a porta, e todos aceitando o destino.


E é assim que termina o filme, de qualquer jeito.

Confesso que tirando essa última história, a terceira, e metade da penúltima... o filme me agradou muito.

É antologia fazer o que! Eu gosto de histórias curtas e pra mim foi uma boa oportunidade pra conhecer um pouco do faroeste.

Sei que é um filme relativamente antigo (caraca, to velho mano, 2018 já é praticamente clássico!!!), mas só fui ver agora ora essa.

E, vale pra listagem de antologias... e tem aquilo né: Se eu não escrever sobre, vou esquecer tudo e nunca se sabe quando certas referências podem ser úteis.

É isso.

Obrigado pela leitura, foi mal qualquer coisa e...

See yah!

Postar um comentário

0 Comentários