The Penguin - A série do Pinguim
Ah, a questão das primeiras impressões. Achei surreal como a série sabe nos fazer ver Ozwald Cobblepot como um chefão da máfia, ou um capanga medíocre, dependendo de quem o observa.
A série é exatamente sobre a figura do Pinguim, e como ele muda dependendo apenas daquele com quem ele interage. O melhor dela é que ela sabe moldar esse vilão para que aos olhos do Batman vire um dos principais em sua galeria a combater, enquanto para a população de Gotham é apenas um zero a esquerda que poucos temem ou sabem que deveriam temer.
E isso vai mudando regularmente, o que é satisfatório de mais de assistir. Esquisito né? A série não tem super poderes, não tem nada que remeta muito ao universo DC em seu lado mais fantástico, e tenta ser bem pé no chão, mas, ao mesmo tempo, ela tem tanto pra mostrar e contar que me impressiona muito ter sequer cogitado a possibilidade dela ser "ruim".
Enfim, bora pra mais uma análise de série! Só que agora sem Spoilers.
Boa leitura.
The Penguin pós The Batman
A série retrata um Pinguim em tempos modernos, com smarthphones e os caramba, mas com uma aparência muito similar a dos quadrinhos. Um cara gordo, asqueroso, com problema em uma das pernas, que tem como única qualidade a frieza da manipulação.
O universo no qual tudo se passa é derivado do filme "The Batman" de 2022, com o eterno cara do Crepúsculo (Robert Pattinson) no papel do Batman, que vai na direção dessa abordagem mais realista de tudo que as histórias do morcegão mostram.
Inclusive, a série começa exatamente onde o filme parou, depois do Charada ter sido derrotado, e segue pelas consequências do combate contra o Batman, mesmo que ele nem apareça (só foi citado no jornal). Ela não busca necessariamente continuar a história do Batman, o que ela quer mesmo é contar tudo sobre o Pinguim.
Pela visão do Pinguim, vemos as ruas tomadas pela máfia, e os pequenos criminosos que o justiceiro não tem tempo de caçar, conhecendo assim a ascensão do império do Pinguim, vindo lá de baixo, da sarjeta, como um capanga que ninguém dá a mínima.
O Cara Engana
Ele é simpático, político, rápido na lábia e sabe muito bem como sair de problemas complicadíssimos, apenas no diálogo. É um mentiroso nato, tão bom que engana até o espectador, sem saber se ele é inteligente, ou sortudo.
Essa característica imprevisível dele nos faz subestimar o vilão, o que apenas espanta quanto ele faz algo num nível realmente maligno. A primeira vista sempre enxergamos ele como um cara bobo, pisado pelos outros, emocionalmente dependente e que finge ser o que não é. Mas, esse é um dos lados dele, que acaba se mostrando bem sagaz em usar de suas fragilidades pra criar proximidade, tanto com inimigos quanto com inimigos... afinal para Pinguim não existem amigos.
O curioso é que, fica nítido o quanto ele é temido por quem está abaixo dele, e esnobado por quem está acima, mostrando o poder da hierarquia.
Maroni, Falcone, as grandes famílias da máfia de Gotham, todas são um obstáculo pro capanga meia boca do Pinguim, mas ele dobra todos em seu jogo pouco a pouco, sem se colocar nem acima, nem abaixo de ninguém.
Mas a história não é apenas sobre ele.
Demais Personagens
Contracenando com o Pinguim há muitos personagens, todos descartáveis afinal qualquer um pode ser alvo dos planos improvisados dele, mas, alguns se destacam muito, como o caso da Carrasco.
Sofia Falcone é uma vilã da galeria do Batman, chamada de A Carrasco, que foi presa no Arkham por assassinar mulheres, ao menos é a forma como ela é descrita aqui.
A atriz (Cristin Millioti) dá um ar psicopata pra ela, com seu olhar penetrante e causa um frio na espinha, porém apenas pros espectadores. O Pinguim fica tranquilo na presença dela, pois sabe como moldar a situação mesmo ele sendo o mais ferrado de todos.
Mas isso não torna ela menos competente do que ele, muito pelo contrário, em termos de capacidades ela é muito superior ao Pinguim, sendo ameaçadora, inteligente e versátil na arte da tortura. Sua única fraqueza são os danos psicológicos que teve ao longo da vida, e o jeito como é menosprezada pela família, o que é algo que o Pinguim sabe utilizar.
Também tem o Victor Aguilar (Rhenzy Feliz), ou apenas Vic, é um capanga do capanga. Ele é só um trombadinha que deu muita sorte, ou azar, de pegar o Pinguim num dia ruim. A consequência disso é a posição de seu capanga, seguindo ele e fazendo suas vontades, enquanto a paciência de Oz durar.
O bom dele é que é um personagem que nos faz ter a perspectiva dos abaixo do Pinguim, sobre o que sua figura simboliza. Pros criminosos pequenos, o cara é um rei do crime, tão imponente e ameaçador que não ousam provoca-lo, pois o menor sinal de deboche pode ser o fim.
Já pros que estão na posição do alto escalão, tipo o Sal Marconi, ou outros mafiosos, ele não significa nada e passa desapercebido mesmo que seja justamente o mais chamativo ali. Em algumas partes da série me perguntei sobre a razão do Pinguim se desdobrar tanto pra escapar de crimes, sendo que em Gotham tá tudo liberado, bastando apenas ter força.
Mas o modus operandi dele é justamente na politicagem absoluta, ele busca conquistar a grandeza, pisando nos demais e fazendo com que eles façam o trabalho por ele, por vontade própria. É um cara ardiloso de mais.
Muito disso vem da mãe dele, por quem ele ainda mantém carinho e busca sempre dar atenção, por fora da máfia é claro. Ela vive isolada numa casa e ninguém sabe da sua existência, pois na lógica ela é a única coisa e pessoa que ele mantém algum tipo de sentimento verdadeiro.
O resto é tudo descartável para ele, que surge sorrindo, finge ser um baita amigo, mostra plena confiança, pra apunhalar pelas costas sem o menor remorso.
A Caracterização do Oz
Colin Farrell como Pinguim é absurdo, e gente, é tudo maquiagem! O cara gordão é interpretado por um um galã e você nem nota isso. Quando ele surge no filme de 2022 eu nem dei muita atenção, mas agora percebo o quão incrível ficou.
Maquiagem absurda, expressões realistas, ele parece um cara normal, apenas muito asqueroso e tenebroso, porém sem fugir da normalidade.
Inclusive achei que poderiam acabar exagerando como no caso do filme Batman - O Retorno de 1989, do Tim Burton, onde Danny DeVito deu vida ao vilão, mas com uma caracterização exageradíssima (que marcou o personagem na minha memória), mas não, ele apenas foi pra um lado muito mais natural e humanizado.
Até o pé dele, meu deus, o pé dele é grotesco (minha mãe amou), e justifica uma das suas características (andar mancando) sem precisar apelar pra arquétipos relacionados ao seu apelido de criminoso.
Também não humanizaram ele de mais, como em sua versão jovem interpretada por Robin Lord Taylor na série "Gotham" (que eu gosto, apesar de nunca falar dela), que apesar de bem atuada não é uma caracterização que me fazia ver o Pinguim.
Ficaram ali no meio termo, nem humano de mais, nem monstruoso de mais. O mal dele está nas ações, e seu sorriso bizarro engana com uma falsa sensação de segurança, mesmo com toda a aparência medonha dele.
A Droga de Gotham
Como toda boa série de mafiosos, é legal ter alguma substância ilegal, e em Gotham a tal substância se chama "Gota" (gostei do trocadilho).
Um tipo de colírio que alucina quem o usa, e é basicamente o que mais é comercializado a princípio. Por conta dos eventos do filme, o comércio dessa droga foi diretamente afetado, e acabou mobilizando o Pinguim pra agir e tentar se manter no mercado, mas isso o colocou contra as grandes famílias, a quem ele serve.
Nessa virada de mesa, os vilões da história são os mafiosos que o o protagonista já serve, e ele fomenta a guerra entre eles pra tirar vantagem.
É um jeito criativo de aproveitar a bagunça gerada no filme, mostrando que as ações do Batman e seus vilões não são rapidamente esquecidas, e surtem grandes efeitos na cidade, direta e indiretamente.
Inclusive a inundação provocada no final, destruiu uma boa parte da periferia de Gotham, o que aumentou a criminalidade geral, e só melhorou o palco pro vilão da vez.
É Medonho e Apoteótico
Gostei do formato da série pois ela não é nada novelesca, e cada episódio se basta, com uma narrativa bem construída, mesmo que no geral tudo também funcione junto.
Cada episódio mostra um pedaço da ascensão do Pinguim, e como ele se vira pra se livrar dos perrengues que acabam caindo no seu colo. Eles dão o problema no começo, e a solução no final, sem precisar forçar nada.
Com plena fluidez, a trama é cheia de suspense e tem um pouco de violência, mas nada muito gráfico. A ideia é mais macabra só pela constante ameaça do Pinguim tropeçar em algum erro, e por conta da sua falha pagar com a vida.
E isso que nos prende, pois fica divertido ver o tanto que ele consegue enganar a galera, pra se sair bem das piores condições possíveis. Tem até momentos de ação onde o cara tem que dar um jeito de sair na lábia, e ele consegue!
Torcer pelo vilão, não é algo muito bem vindo mas, em Gotham é difícil não simpatizar até pelo mais vil e cruel dos capangas, quando sua história é mostrada de forma tão próxima.
O Pinguim não é um anti-herói, não é mocinho nem inocente. O cara não presta, é alguém que só enxerga valor em quem pode ser usado e descartado em prol de seus objetivos, e ele é chamado assim o tempo inteiro, a gente vê ele assim, a série nunca esconde o quão ruim e mentiroso ele é, e mesmo assim a gente fica torcendo pra que ele obtenha sucesso.
Ou seja, sua série também nos engana, ela também nos manipula, ela atinge o objetivo de ser "O Pinguim".
Continuando pra Encerrar
Bem, atualmente tem 5 episódios, cada um com aproximadamente 1 hora na HBO, e eu estou assistindo e amando. Seguindo o padrão, a primeira temporada terá uns 8 episódios.
Preferi falar por alto dela, o que eu queria evitar (geralmente gosto de falar tudo sobre a série, até resumir episódios), só que nesse caso é bem difícil me segurar.
Pinguim é boa, um acerto grandioso da DC que voltou com séries pelo menos decentes depois de bombas como aquelas da Warner (Flash que o diga).
E, perto das catástrofes da Disney (ainda estou fugindo deles mas, algo me diz que Agatha pode ser boa... to tomando coragem pra ver), é bom ver algo mais sério e de temática adulta, pra variar.
Não é uma série leve, mas também não é tão complexa, e não chega a ser aquelas longas e tediosas histórias sobre complôs mafiosos repletos de traição. Tem? Tem... mas é algo divertido, ainda mais pela incômoda simpatia do terrível Pinguim.
E... ele odeia ser chamado assim...
Enfim, essa eu boto minha mão no fogo, pois achei boa, e duvido muito que me decepcione com o desfecho.
Por hora, é isso.
Obrigado pela leitura...
See yah!
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