CríticaMorte: Coringa 2 - Delírio a Dois - O Pai do Coringa

Coringa 2 - 
O Filme Sobre o Pai do Coringa


Desculpe, spoiler já no título mas, é exatamente sobre isso que o filme se trata. A história é sobre Arthur Flack, condenado a pagar pelos crimes que cometeu, e ganhando a oportunidade de espalhar a semente do Coringa pelo mundo.

Meio que, o filme serve para confirmar o fato de que o Coringa é uma ideia, que se difunde na mente das pessoas e cria mais e mais Coringas.

E ele não é ruim, na verdade só é um filme delirante, assim como seu título sugere. Confesso que eu preferia nem ter assistido, pois ele bota um fim muito pior do que aquele que eu imaginei pro insano Coringa de Joaquin Phoenix, mas ao mesmo tempo, foi satisfatório.

Bem, bora explicar tudo o que achei e, bora lá.

Boa leitura.


Pensamentos Intrusivos


Tá, a primeira coisa que com certeza você já ouviu falar sobre este filme é que ele é um musical, e isso é uma tremenda de uma mentira! Na verdade ele é a personificação de pensamentos sórdidos que Arthur tem o tempo inteiro, e tomaram o lugar da realidade dele.

Tem músicas, claro que tem, mas elas são curtas, não acompanham grandes atrações, não são nem espetaculares, aliás, nem são reais. TODAS as músicas do filme se passam apenas na cabeça de Arthur, e são músicas clássicas, sem letras originais (nem mesmo são completas).


Diferente do primeiro filme, onde somos levados a conhecer a insanidade de Arthur enquanto se assume Coringa, e até entendemos como ele foi de uma condição pra outra, aqui nós já conhecemos ele, e testemunhamos a nata da loucura.

Esqueça alucinações repletas de teorias, esqueça mistério ou cortes secos e soltos para que interpretemos como quisermos, aqui é outra pegada. O cara tá solitário, medicado, e já não liga pra mais nada, então tudo que ele tem pra viver, são seus pensamentos.


E eles assumem a forma de música, muito pela influência do que Arthur assiste como recreação no hospício em que tá internado até ser julgado (muitos filmes repletos de sequências musicais dos anos 60), mas eles são reforçados pela mulher que entra em sua vida, e muda toda sua perspectiva.


Harley Quinzel


Lady Gaga traz a música pro filme, tornando a mente de Arthur esperançosa, e alimentando a confiança dele de que, ele pode ser mais, e ele ainda tem mais pelo que viver. Como Harley, ou "Lee", ela faz com que o Coringa nele aflore, mas não da forma como esperamos.

Ela enxerga nele um psicopata idealista e completamente insano, que admira e deseja pra si. Tudo que ela quer, é ter o Coringa com ela, e pra isso ela está disposta a qualquer coisa. Mas isso é só uma paixão muito distorcida da mente maluca dela, que tem seus próprios problemas.


Ela é estudante de psicologia, é rica e influente, mas se apresenta de outra forma para ele, como uma louca internada ao seu lado, que se aproxima, se apaixona, se deita, e engravida.

Tudo é contando de um jeito esquisito, perdido, e muito cheio de cortes duvidosos, pois na verdade nós estamos acompanhando a cabeça do atual Coringa, e como ele quer que as coisas sejam, ou pelo menos como ele imagina.

E, as músicas retratam essa ideia de sonhos lúcidos, só que também temos a cabeça da Arlequina, com seu próprio grau de loucura, querendo viver uma outra realidade. Eu achava que iam forçar de mais a personagem, mas foi bem legal como Lady Gaga a interpretou, e o jeito como a história dela vai sendo montada foi bem feito.


Ela acredita no Coringa, ela ama o Coringa, ela, assim como centenas de outras pessoas por Gotham, querem o Coringa, precisam dele, amam ele.

Isso é perfeitamente mostrado, inclusive no tribunal, com a plateia que vai em toda sessão só pra ver o ídolo. E isso não é tão longe da realidade assim tá, pois há mesmo muitas pessoas que acabam simpatizando com psicopatas, e idolatrando-os. O caso da Harley, ela sofre de um tipo de hibristofilia, tendo uma atração fortíssima pelo Coringa.


Só que ela só é especial aqui, pois foi a primeira a se aproximar dele. Muitos outros também tem isso, e muitos outros também tentaram alcança-lo, e ela aproveitou de suas vantagens para ser bem sucedida.

Daí dá pra perceber mulheres sorrindo pro Coringa ao fundo, gente ovacionando ele, pessoas admirando com o olhar, mesmo sem ele perceber, pois na realidade, tem mesmo gente ali nessas condições.

E isso faz Arthur desejar ser mesmo o Coringa, e querer acreditar no mesmo que os outros que tanto o admiram acreditam.


Coringa Temporário


A questão é que o Coringa matou pessoas e agora tem de pagar, e o Arthur tem como defesa sua própria insanidade, e até uma dupla personalidade. Ele aceita isso, confia nisso, acredita fortemente que o Coringa é uma sombra sua, que assume quando está em perigo, mas não por ser de fato, não por sentir, mas pelos outros esperarem isso dele.

Ele assume a persona do Coringa, fica mais confiante, chega a achar que pode advogar por si só mesmo sem ter estudo, técnica ou conhecimento mínimo, e por mais que o filme force a barra aqui e ali, ele próprio não esconde que tudo isso é só loucura mesmo.


Desde o primeiro longa, sabemos que ele é alguém ingênuo e manipulável. O próprio Coringa é só uma forma dele mesmo se manipular e acreditar que é mais poderoso do que realmente é, se fortalecendo momentaneamente através da aleatoriedade.

Isso chega a curar temporariamente sua doença da risada, pois essa onda de confiança cria uma baita barreira psicológica. Só que a realidade dá alguns tapas em Arthur, apela pra sua humanidade, e a frieza mortal do palhaço não dura muito tempo.


Quando ele escuta um amigo dizendo que ele não é assim, ou outro amigo ser morto depois dele próprio ser abusado, ai ele começa a perceber que a ideia de Coringa não basta para tira-lo da posição medíocre em que ele se encontra.


Delírio a Dois

Essa cena nem tem no filme.

E ai que tá o título do filme. Arthur achando que é o Coringa mas não é, e Harley Quinzel achando que ele é o Coringa e ela a Arlequina mas, eles não são. 


No instante em que ela vê que tudo que ela sonhava, não passa de uma ilusão, e testemunha o próprio Arthur desmentir o Coringa por pura depressão, ai a magia acaba, a música acaba, e o filme acaba.

A doença dela misturada com a dele, deu vida a uma criança futuramente desnaturada e isolada, provavelmente fadada ao mesmo sofrimento que seu pai, ou talvez até maior.


E é justamente ai que entra o bebê de Harley. Ela engravida às pressas só pra dizer que terá um filho do Coringa, mas ai ela descobre que não existe um Coringa, era apenas o Arthur atuando, apenas um maluco depressivo que deu sorte em puxar um gatilho, sem ideais, sem objetivos, sem um másculo e misterioso psicopata por trás da máscara.

Era só um cara doido, e agora morto, mas a ideia permanece viva.


O Filho do Coringa é o Coringa


Existem muitos outros Coringas em Gotham simultaneamente, o filho de Arthur e Harley, se é que vai nascer de fato, seria apenas mais um.

De certa forma o segundo filme serve pra desconstruir o primeiro e retornar o personagem ao status quo, de alguém tão macabro que ninguém, nem mesmo o Bátima, sabe a verdadeira identidade.

O filme faz questão de relembrar que é o universo do morcegão, inclusive botando o Duas Caras como promotor que acusa o Arthur no tribunal. Ele chega a ter o rosto queimado numa explosão, só pra assinar a sentença!


E ainda tem os muitos fantasiados, de palhaços e variados, que ainda espalham o caos, ainda querem enfrentar o sistema, ainda aprovam e se inspiram naquela fagulha que Arthur acendeu ao vivo, quando meteu uma bala no Murray. 

Só que, o tempo dele acabou.

Arthur Flack morre no corredor da morte, morre pra Arlequina, morre pro sistema, morre para si mesmo, e morre pro Coringa.

Ele cai em desgraça ao assumir que é ele mesmo, e apenas abraça a morte, abrindo espaço pra que outro que mereça a sombra do Coringa apareça.


Mesmo sem ter sobrenatural na parada, chega a ser insano como uma ideia, uma simples ação, pode afetar, inspirar e manipular outras pessoas a seguirem por um mesmo caminho, e serem piores ou melhores no assunto, cada uma com suas vantagens.

Pior que eu me perguntava sobre o que raios do filme falaria, e a ideia dele ser um filme de julgamento com musical me soou muito estranha. No fim das contas ele não é nem um, nem outro. Como musical ele num chega nem perto, e como filme de julgamento ele é fraquíssimo, pois esse nem é o objetivo.


Resumindo o filme:



O filme é só o Arthur no manicômio, conhecendo a Harley que finge ser maluca de um jeito, mas era maluca de outro, se apaixonando por ela das duas formas, indo pro tribunal e sendo condenado pelos crimes que fez, e no fim decidindo abandonar o Coringa para enfrentar a vida de queixo erguido, e ai ele morre, pois lembra o quão merda ele é.

Foi isso que eu entendi.

Apesar de ter gostado até, eu preferiria nem ter assistido, pois gosto muito mais da ideia do primeiro filme, e um Coringa nascendo do acaso mas ficando no mistério sobre continuar ou não.

E no fim das contas, continuou mas não continuou ao mesmo tempo.

É isso.

Obrigado pela leitura, e essa é só minha opinião.

See yah.

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6 Comentários

  1. A ideia do filme é muito boa, mas talvez foi muito explorada e acabou trazendo um senso de insignificância pra trama, simplesmente porque o filme todo pode ser o Arthur em delirio sentado na cama da Prisão, depois do primeiro filme...
    Mas ainda sim eu gostei, mas definitivamente, o primeiro é melhor! a ideia de um coringa puramente realista é ótima, e meio que nem parece um filme do coringa, esse parece, porque tem os personagens que remetem ao universo da DC, não deixa ele ruim, mas acho que perdeu um pouco a essência.

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    1. Eu prefiro pensar que é exatamente isso, o filme é o Arthur de camisa de força chapadão, imaginando um fim mais "digno" kkkkk.

      Ver o Duas Caras me fez lembrar que é um filme de quadrinhos, algo que nem passou pela minha cabeça no primeiro Coringa. É estranho saca, os caras parecem ter perdido o jeito legal na produção, uma pena.

      Joaquin Phoenix fez um papel perfeito novamente, mas agora não brilhou tanto quanto antes né.

      Nada vai superar o primeiro.

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  2. Coringa 2: o palhaço somos nós. 🤡
    Bom saber que até a crítica especializada está caindo de pau nesse filme.
    Mano, só esse ano tivemos Madame Teia, Bordelands, Kung Fu Panda 4, Megamente 2, o filme dos Caça Fantasmas, Turma da Mônica Jovem, Meu Malvado Favorito 4, o filme do SILVIO SANTOS, e o filme dos Mamonas Assassinas.
    2024 está se provando um ano HORRÍVEL para o cinema.

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    1. E isso se estendo pros filmes de terror, romance, fantasia. Cara, Rebel Moon, Feios, as inúmeras tragédias da Netflix, aquele Lugar Silencioso Dia Um, ta tudo uma decepção atrás da outra.

      Daí vamos buscar um sossego pra desligar a mente com filmes de heróis, vem o que? Aquelas pataquadas DisneyMarvel, nem Star Wars escapou da tragédia, tudo parece que tá piorando cada vez mais no cinema.

      Criatividade né...

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  3. O filme foi bem mediano mesmo, mas sinceramente, não sei o que as pessoas esperavam dele. Até hoje vejo gente "indignada" que nem no primeiro e nem no segundo tem um batman pra combatê-lo. Mas como você disse, o coringa aí é uma idéia, é a arlequina, são os caras que levam ele embora do julgamento que explodiu, é o cara que dá a facada nele e corta a boca depois ou qualquer um que queira levar a desordem a gotham. No fim, a desilusão do público é o mesmo da arlequina, o Arthur Fleck não é o coringa que eles queriam.

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    1. Pior que eu lembro do pessoal criticando muito o primeiro filme por ter dado um nome pro Coringa, e meio que rompido o mistério que é tão importante nos quadrinhos. E gente reclamando muito da caracterização e tudo mais, sendo que no fim das contas aquele filme ficou bem decente pra época, subvertendo expectativas dos tão comuns filmes de heróis e vilões e indo pra uma perspectiva mais "artística" e até voltada pra um terror psicológico, que combinou bem com o personagem.

      No momento que anunciaram que havia planos pra uma sequência eu pensei "Eis que vão matar um bom filme". E não deu outra, essa sequência tenta desfazer um suposto erro, e só faz estragar boas ideias...

      Acho que nem o Batman salvaria ele dessa vez, e olha que lá no primeiro tentaram apelar pra ele com aquele esquema do Arthur irmão do Bruce, só que não.

      Aliás se parar pra pensar, o filme deixa mesmo a sensação da Arlequina no público, será que fizeram propositalmente? Desiludir pra conquistar...

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Obrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.

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