CríticaMorte: Um Lugar Silencioso - Dia Um - Terror sem Terror

Enquanto "Um Lugar Silencioso" e sua continuação são filmes de Terror com pitadas de Drama, este é puro drama com ainda mais pitadas de drama e uma longínqua memória ao terror. Não que isso seja ruim, mas o longa surpreende por desperdiçar um cenário marcado pelo silêncio e o medo do próprio som.


O filme é bem ruim, e talvez seja bom para quem quer ver algo diferente mas não espera nada além de drama forçado e desperdício de elenco.

Boa leitura.


Silencioso porém Mortal



Desculpe a referência cômica a flatulência mas, foi só isso que pensei ao longo de todo o filme. E eu não menosprezei ele nem seu conteúdo, na verdade se tem algo que gostei foi a história de drama... o problema é que a expectativa era enorme pro Terror, e foi um balde de água fria ver apenas Drama, que pela primeira vez na história não arrancou uma única lagrima deste que vos fala.

E veja bem, eu nem havia visto os trailers pra não ficar com expectativas equivocadas e prejudicar a experiência, mas sendo conhecedor dos filmes anteriores e suas histórias, além do gênero que eles focavam, automaticamente me condicionei a esperar por terror.


E não tem terror! No máximo tem os monstros que são o pano de fundo pra narrativa, mas o enredo em nada se conecta a eles. Os bichos medonhos que matam seguindo o menor ruído não são nada no filme, apenas uma razão para a protagonista seguir sua história trágica de vida, e um mero agravante pro mesmo.


Por se tratar do "Dia Um", esperava-se uma abordagem mais perturbadora e sanguinária, já que multidões inteiras teriam de lidar com criaturas letais e hostis, estando todos despreparados e sem o menor conhecimento do que os atacaria, mas pelo contrário, o filme esconde o massacre garantido, que obviamente ocorre, jogando fumaça branca, poeira excessiva, escuridão constante, neblina e até chuva, como se fosse um Silent Hill da vida, sem jamais ser.


O problema é que todos esses artifícios pra esconder as criaturas e economizar em CGI, são o oposto do que causaria medo ou suspense. A gente escuta os bichos matando geral, gritos, berros, carros voando e explosões, mas tudo que vemos é a protagonista andando em silêncio num vazio empoeirado... afinal de contas era pra ter medo disso?

Até quando os monstros aparecem, eles não causam medo algum, qualquer sentimento de insegurança, nem ao menos um simples nervosismo. São só criaturas genéricas que atuam quando o roteiro pede, e são mal utilizados.


O Desperdício do Elenco



Temos criaturas vindas do espaço que matam pessoas ao ouvirem o menor ruído, e eles caem pelo mundo todo, incluindo Nova York, no ápice dos 90 decibéis constantes que fazem questão de lembrar no começo do filme. É a cidade que nunca dorme, barulhenta pra um caralh4, então vai ser um banho de sangue certo? Certo!?


Então, algum executivo quis muito economizar com gastos de computação gráfica e apenas deu a brilhante ideia de tacar poeira e escuridão em TODA PARTE. 

Esconder os monstros foi inteligente no primeiro filme, afinal o suspense alimentava o terror, nos fazendo pensar na razão dos personagens fazerem tanto silêncio, com tanto medo, e quando os bichos surgiam era impactante de mais.


Velozes, mortais, carrascos naturais implacáveis, o negócio era pesadíssimo. Ai agora, eles são apenas monstros genéricos que fazem MAIS BARULHO que qualquer outra coisa no filme inteiro, contrariando a natureza deles inclusive.

O medo no filme é quando ouve-se pisadas fortes de hordas dessas criaturas correndo atrás de um alfinete e ignorando seus próprios passos... enquanto a protagonista anda com um Gato que NÃO MIA NUNCA, e mesmo sentindo DOR CONSTANTE, consegue manter a calma, consegue ficar em silêncio, consegue fazer o que nenhuma pessoa conseguiria em tais condições.


Pois é, ele nos empurra pra descrença absoluta, e é fácil ignorar justamente aquilo que devia ser o foco: Os Monstros.


Não há nada que choque o filme inteiro, não há uma sequência que cause pânico, nada que crie tensão, e muito menos suspense. São só monstros pela cidade que dão o tom da obra como um "pós apocalíptico", mas a história em si é algo que funcionaria sem eles.


A História



Uma mulher com câncer terminal quer comer Pizza, mas algo a impede de chegar até a pizzaria da sua infância, e agora ela se vê perdida no meio de Nova York, ciente de que morrerá em breve e tudo que deseja é chegar até a Pizzaria.

Esse é o filme meus amigos, essa é a brilhante trama de "Dia Um". Explicar os monstros que futuramente massacrariam o planeta pra que? Foca na moça com o gatinho que é isso que o espectador quer.


Colocar ela criando vínculos com terceiros para arranca-los bruscamente com os monstros, lembrando que há um perigo gigantesco ali? Nada, enfia uns coadjuvantes gritando que o pessoal vai ficar assustadíssimo.

Associar perdas testemunhadas pela protagonista com sua própria história social e de vida, enquanto o absurdo do terror corre solto pelas ruas da cidade? Que isso, seria pegar pesado de mais, coloca um cara com problemas de ansiedade pra perseguir ela do nada, e então explica a vida dela com o que tiver de mais genérico possível.


O pai dela era pianista, comia pizza com ela em um local antes de morrer, e agora que ela tá nas últimas e pode morrer pela doença a qualquer momento (sim, não é pelos monstros, é pela doença terminal dela), ela quer ir até a pizzaria.

O público vai amar, afinal se curtiram uma grávida tendo de segurar a DOR DO PARTO em uma banheira pra que ela e seu bebê não fossem dilacerados juntos por um monstro mortal, eles vão amar a moça mergulhando com seu gatinho mudo na água, e sobrevivendo sem que ele solte um ronroninho sequer, afinal GATOS AMAM MERGULHAR NÉ!


Pô mano, minha gata pula na cama fazendo barulho, ela me olha e já solta quinze miados e três latidos, e o gato do filme simplesmente é caladão.


Eu sei, é gato terapêutico, provavelmente foi treinado pra jamais miar pois isso irrita pessoas com sensibilidade sonora (to tentando entender). Mas caramba né, sério mesmo que incluíram esse bichinho e nem pensaram em usar ele pra criar tensão? O ator que fez o gato deve ter pensado "Caramba mano, mó fácil meu roteiro".


Fiquei esperando aquele momento onde o gato soltaria um miado involuntário, afinal é natural da espécie fazer isso, e quem sabe do nada um momento tenebroso onde os monstros atacariam e a protagonista teria de dar um jeito de silenciar o bichinho (eu sei, eu sei, pesado), mas tipo, ainda to esperando.

Não há nada feito com o gato, ele anda livremente, os monstros ignoram ele, e quando os roteiristas lembram que ele existe, o enfiam em situações que não exigiriam a ação dos protagonistas em hipótese alguma, mas ainda assim optam por leva-los até lá.


É como toda a cena onde o cara aleatório vai catar remédio pra protagonista, e é seguido pelo gatinho, que acaba indo pro meio de um monte de monstros, e o cara apenas pensa "Opa, bora lá salvar o gatinho em perigo" sendo que, ele não tava em perigo! Ele anda sozinho, ele sabe se virar, ele mesmo foi ali e ele próprio sairia de boa.

Foi genial como souberam fazer justamente o contrário do que esperava-se, talvez na tentativa de subverter expectativas, mas criando apenas um grande show de bobices irracionais.


O Final


E sobre o desfecho então? Descobrem que os bichos não gostam de água, e ai preferem anunciar ao mundo que era pra ir pros barcos, o que já é uma solução definitiva pra todo o apocalipse e já é entregue ainda no meio do filme. 

Ai rola a cena de uma enorme passeata rumo às docas para a sobrevivência, que acaba causando tumulto, o que obviamente atrairia os monstros. Isso é algo que pros desenvolvedores soaria incrível, mas é ridículo na prática.


Pelo amor de deus né, tu vê monstros que matam no menor barulho, e decide se arriscar em meio a multidão?! Tem que ser imbecil de mais pra isso.

Pior são os monstros atacando pelo som de passos das multidões, e ignorando o próprio barulho que fazem (eu apenas nunca vou ignorar isso). Eles berram, eles pisam forte, eles quebram coisas quando andam. Se de fato são sensíveis aos sons, não deveriam ser mais silenciosos??? 


Uma coisa só não combina com a outra, e não da pra acreditar que ignoraram isso! E pior, ignoram esse ponto, mas reforçam que a chuva e os sons dos trovões não atraem as criaturas. Ao invés das pessoas viajarem pro barco nessas condições por exemplo, é o total oposto que todos fazem, e o próprio filme não sabe usar essas características, criando apenas mais drama com isso, como quando os personagens gritam de angústia após conversarem, sendo que, caramba! Não era melhor ir logo pra pizzaria aproveitando a chuva?


Colocam que a protagonista precisa de adesivos pra dor pra esticar mais a jornada, mas até isso é solucionado convenientemente quando o roteiro decide, inclusive colocando o cara com Ansiedade para buscar o tal adesivo, e conseguindo tal proeza após encontrar um ninho de monstros.

A ansiedade então, só funciona quando ele tem alguém perto pra ver que ele tem crises, já que ele não passa por isso quando deveria passar (na cena em que vai resgatar o gatinho, ele vai calminho).


Então, o final é a protagonista aceitando sua morte inevitável, e guiando esse cara qualquer para a embarcação da salvação. Momentos ridículos seguidos de enrolação dramática, apenas isso.

Ainda estou me perguntando a razão de botarem esse cara na história. No começo, a protagonista tinha um enfermeiro que ela não dava valor, e ele morre rapidinho. Então esse cara aparece absolutamente do nada, e segue ela como um maluco, virando o melhor amigo dela. Pensei "Caraca, vai doer quando ele morrer" e que nada, isso não acontece.


Pelo contrário, ela se sacrifica pra salvar a vida dele, mesmo que isso nem fosse mesmo necessário. No fim ele corre até as docas enquanto ela faz barulhos no lado oposto, mas os monstros por mais rápidos que sejam, NUNCA ALCANÇAM OS PROTAGONISTAS.


Afinal, se o filme levasse eles a sério, no primeiro suspiro geral já tinha capotado.


E a grande tirada é ela ouvindo música num ato suicida, e o suspense com um monstro pulando atrás dela. Nem é filme de terror mesmo, então pra que mostrar ela sendo atacada né.


Chocar pra que? Mostra o gatinho silencioso e está tudo bem.

Pensar que na lógica, todos esses personagens já se foram quando o primeiro filme é lançado, afinal se de fato viver no mar é a solução, a família lá teria ido pro mar também certo? Algo que se reforça com os eventos do segundo filme.

Enfim, não curti, só isso.

Obrigado pela leitura...

Desculpe qualquer coisa...

See yah.

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