O Filme Recomendado de Hoje: O Livro de Eli

Não é de hoje que desejo falar deste filme, que tive a honra de assistir dezenas de vezes. É um filme impressionante do Denzel Washington, repleto de ação e com uma história riquíssima, com direito a uma das reviravoltas mais sensacionais que já pude vivenciar.


Bem, falarei o que penso a respeito.

O filme é de 2010 então, acho que não tem problema mas, evitarei dar muitos spoilers, não dá pra evitar.

Boa leitura.



O Filme de Eli


Este é aquele filme que podemos assistir quantas vezes quisermos e ainda nos impressionaremos, principalmente pelo fato dele ficar ainda mais interessante quando conhecemos o plot twist: O protagonista é cego desde o começo.


Todo o cuidado que tiveram para deixar pistas da situação dele, mas ao mesmo tempo não deixar nada explícito, é sem dúvidas uma das características que mais chamam a atenção. Porém, não é só isso que torna este um filme especial e recomendadíssimo.

Ele é repleto de violência e alegorias, retrata o mundo de forma pós apocalítica que praticamente mostra um futuro muito mais próximo do que imaginaríamos, em uma narrativa serena, mas que sabe se tornar agitada quando preciso. E, o melhor e mais contraditório de tudo é que esta é uma história gospel, mas sem tendências religiosas, pelo menos não de forma tão carregada quanto normalmente vemos.


Aliás, sabia que Eli só se apresenta no final? Seu nome é citado apenas duas vezes no filme, uma em uma etiqueta em sua mochila, que ninguém pode ler (afinal, os jovens não sabem ler). 


E outra no final, quando ele diz seu nome pela primeira vez.

"Biblia do Rei James" é uma tradução dos livros hebraicos em inglês, autorizada pelo Rei James I e publicada em 1611


A História de Eli


A história do filme é simples, com um homem caminhando no deserto do fim do mundo, após guerras que devastaram boa parte da humanidade, e o calor intenso que tomou o planeta após o aquecimento global. 

Rumando ao oeste, o homem tem como objetivo levar um livro para um lugar seguro, seguindo vozes que somente ele escuta, e guiado por uma fé absoluta.


No caminho porém, além dos obstáculos produzidos pelo desastre das guerras, ele ainda tem de lidar com bandidos canibais, pessoas em uma sociedade colapsada pela fome, sede e morte, em uma terra sem leis, e sem deus.

Mas, em seu caminho surge um homem, regente de uma cidadela de sobreviventes, que tem como objetivo principal o domínio mundial, através do controle da massa pela fé. A ideia de religião, assim como suas escrituras, foram totalmente extinguidas da sociedade no pós guerra, e seu sonho parece impossível, até que Eli surge com justamente aquele livro que ele tanto desejava, a Bíblia.




A Cegueira provocada pelo Sol



O protagonista do filme é cego, mas ele não demonstra isso pra ninguém, e sabe "fingir" perfeitamente bem, substituindo sua visão pelos demais sentidos aguçados. Só que, isso facilmente passa desapercebido pelo espectador, assim como também ocorre com todos que entram no caminho dele.


Cenas são montadas de um jeito que faz parecer que ele enxerga, criando situações e reações nas quais alguém com deficiência visual aparentemente não agiria da mesma forma. Mas, é tudo um bom jogo de câmera, feito para dar uma impressão de que o personagem reagiu por olhar, mas na verdade foi por outras razões.


Muitas passagens do longa usam dessas artimanhas pra nos confundir, e quando a derradeira revelação chega, ela também é pouco discutida. Ninguém no filme inteiro declara que Eli é cego, nem ele mesmo. Mas o espectador percebe isso, e caso assista outras vezes, passa a notar com mais facilidade as pistas dessa informação.


Como no início, quando ele pega Botas de um cadáver, mas se assusta com o corpo assim que o descobre. Essa cena, à primeira vista mostra ele se assustando com o corpo, o que é totalmente comum. Porém, se assistirmos novamente, reparamos que ele se assusta com a porta caindo ao abrir o armário, e só percebe o corpo muito depois, por causa do cheiro.


O fato da bíblia que ele carregava ser em braile, é outro indício de que ele era Cego. Apesar de não ser determinante, o fato dele praticar leitura diária (em braile) mas não conseguir ler uma placa grande de perigo (em letras garrafais), só corrobora ainda mais com a falta de visão dele.


Detalhes como ele tropeçando ou esbarrando com algo e quase que imediatamente disfarçando, como se tivesse feito de propósito, só reforçam que ele disfarça que enxerga, para não soar como alguém com desvantagens no mundo.


Mas, isso também faz ele parecer muito mais perigoso e sério, como alguém que não teme nada, nem mesmo uma arma apontada pra própria testa. Sua falta de reações esboçadas, faz ele parecer mais casca grossa do que já é, como um cowboy no velho oeste.


Há detalhes menores ainda, como a pupila dele que não dilata ao olhar pra luz ou pro próprio sol, algo que ele também esconde com seus óculos assim como a maioria das pessoas que sobrevivem no mundo arruinado.


E ele nem é a única pessoa cega, pois há pelo menos 2 personagens com a mesma deficiência apresentadas, e é uma situação comum, pois pelo que é citado, muitas pessoas perderam a visão por causa do sol.


Tem a mãe da garota que vira aliada de Eli, que é também a única pessoa por quem ele demonstrou interesse real, justamente por notar que ela é deficiente visual (aliás, uma cena incrível pois, ele precisa esconder que não vê, de alguém que está na exata situação, e ele precisa criar um jeito de saber onde ela está).


E tem a moça que barbeia o vilão, e apesar de aparecer pouco, também demonstra cegueira pelo jeito que se movimenta (guiando-se com as mãos nos móveis).


Como Eli mesmo cita, a perda da visão ocorreu tanto pela Guerra, quanto pela destruição da Camada de Ozônio, e a luz do sol teria queimado a retina das pessoas, como uma das consequências do fim do mundo.

Ele sendo um dos mais antigos (um senhor com mais de 60 anos, apesar de Denzel Washington não parecer tão idoso), provavelmente perdeu a visão na guerra, e aprendeu a sobreviver. Mas os outros perderam pelo sol, ou nasceram assim, como é o caso da mãe da garota.



Solara, o anjo de Eli



O final do filme é curioso pois Solara, a garota que o acompanha no fim de sua jornada, some no horizonte quando caminha com seus pertences, para voltar pra "casa". Isso é uma alegoria ao fato dela ter sido um tipo de anjo da guarda dele, mas que só aparece no fim, pra garantir que sua missão se concluiria.


Porém, ela não é exatamente celestial, sendo apenas uma garota, filha da mulher cega, que nasceu no mundo apocalíptico como uma escrava ao lado da mãe. Seu pai é um mistério, mas fica subentendido que ele era o capanga do vilão.


É que, há um momento em que ela garante que não é filha do dono da cidade, mas o braço direito dele mostra um tremendo interesse em conseguir ela pra si. A princípio entende-se que é para fins sexuais, ainda mais com as insinuações do próprio vilão, mas depois algumas poucas pistas fazem parecer que ele engravidou a "mulher do chefe" sem que ele soubesse, e esconde isso até os dias atuais.


Mas, em todo caso, essa personagem está na história para servir de ajuda, e apesar dela também ser o motivo pras coisas desandarem (afinal, o livro é descoberto por causa da oração que ela faz), é como se ela tivesse sido enviada por Deus.



Nada é "Sobrenatural"



Apesar de terem muitos momentos de aparentes intervenções divinas, é interessante observar que o filme tenta ser mais crível do que fictício. Parece absurdo pensar que um homem totalmente cego venceria em um tiroteio, mas e se pensar que ninguém sabe atirar de verdade (afinal são todos jovens pós guerra que não tiveram treinamento), que ele é ex-militar, e seus sentidos estão tão aguçados que o barulho de um tiro o faz saber a exata posição do atirador?! Táticas assim são usadas na guerra, então não é algo impossível.


Assim como ele andando para o oeste sem ter qualquer tipo de guia. Tirando o fato das vozes lhe dizendo o que fazer e pra onde ir, seguir a direção do vento, sentir o calor do sol (e deduzir a direção em que está) e acompanhar as estradas, não é algo tão complicado de se fazer, ainda mais tendo conhecimento prévio de como se localizar e direcionar.


Talvez o único salto de pura fé que o personagem dá é o de acreditar que seu destino está no Oeste, a mais de 30 anos.

Até a parte em que ele se machuca, e parece resistir como se fosse um super-humano, é plausível. Mas claro que a história faz a alusão religiosa, deixando evidente que ele foi auxiliado não só por sorte, mas por algo mais.


Mas isso só dura enquanto ele cumpre a missão. Levar o livro sagrado até um lugar seguro é seu único objetivo, com ou sem livro.



A Bíblia de Eli



A jornada para levar o santo livro ao seu destino incerto é algo longo e dificultoso, e no fim Eli perde até mesmo o livro. Mas, ele o decora, de tanto ler e o repete para um escriba, parecido com como a bíblia foi escrita na primeira vez. Originalmente foi rascunhada por Moisés (velho testamento) e Paulo (novo testamento), mas repassada por escribas no idioma Hebreu e posteriormente Grego.


Mas este não é o único livro sagrado a sobreviver. Outros como o Alcorão são vistos ao lado dele na biblioteca de Alcatraz, mostrando que todas as religiões teriam vez num novo mundo.

Só que a Bíblia Sagrada é defendida ao longo do filme como uma grande arma, principalmente de manipulação social, em que além de levar esperança e fé, também leva ordem, ou o caos. Como a fé é algo perigoso, e teria sido o que causou a guerra (nunca é dito exatamente como, mas não seria o primeiro evento movido pela fé que causou destruição global), a aniquilação do livro foi uma ideia para remover a religião do mundo.


Mas a consequência disso foi uma terra que, além de devastada pela natureza calejada pelas intervenções humanas, ainda se viu sem esperança alguma, e repleto de pessoas sem objetivos, e sem leis.

O mundo que restou é pura desordem, repleto de violência, estupro, morte, e sem o menor respeito pela vida alheia. É exatamente como o mundo ficaria caso não houvesse uma ordem espiritual mínima, de respeito mútuo entre as pessoas.


O que nos mantém na linha, é o fato de sabermos que respeitar o próximo é essencial. Nem todos somos tementes ao divino, mas os mandamentos originais ainda são o mínimo que separa o ser humano, de animais (por mais que hajam muitas pessoas que não liguem pra isso).

Não matar, não roubar, não causar o mal, é algo naturalmente imposto para que possamos conviver uns com os outros. Em um mundo onde todos já estão morrendo, sem recursos, e sem leis, a única coisa que manteria a moralidade de pé seria a fé, e esta se foi no mundo de Eli.



O Mundo de Eli



O mundo onde a história se passa é o nosso, mas depois da guerra, fome, praga e morte. A alusão ao apocalipse bíblico é evidente, e o que sobrou seriam os 1000 anos do diabo na terra.


O fim do mundo através dos cavaleiros, seria exatamente o que vivemos hoje, com pessoas morrendo de fome mesmo com tantos tendo tanto em abundância, com guerras sendo travadas sem sentido, com pandemias desolando boa parte da humanidade, e com mortes provocadas por catástrofes naturais cada vez mais intensas.


O Sol queimando o mundo todo já é uma realidade muito mais palpável hoje (calor é pouco viu). Então, o mundo no qual tudo se passa seria justamente aquele em que os ímpios dominaram, e os puros foram arrebatados. A "segunda chance" dos pecadores para ascender aos céus, assim como citações bíblicas do Apocalipse.


Mas, tudo isso é só uma ferramenta mais uma vez alegórica, para conduzir a narrativa em um âmbito religioso, mas sem jamais citar com todas as letras do que se trata. É algo que observamos, mas não difere tanto do mundo desértico de Mad Max por exemplo. É uma terra desolada pela desgraça, em que hoje habitam ignorantes e sobreviventes.


Tudo ainda é retratado com sua própria originalidade. O fato de algumas pessoas praticarem canibalismo, e desenvolverem a doença de Kuru (Encefalopatia Kuru), é uma abordagem de como o mundo ficaria. A doença em si é provocada pelo excesso de príons no organismo, descoberta em comunidades indígenas da Nova Guiné que praticavam canibalismo, e que causava sintomas como perda da coordenação motora, tremedeira, cegueira e demência.


Em um ambiente escasso em plantas e animais, é de se imaginar que muitas pessoas apelariam pra devorar carne humana. E aqueles que o fazem no mundo do filme, demonstram os sintomas da doença de Kuru.

Não só isso, há a ideia de todos precisarem usar óculos escuros, e a escassez de água, tudo por conta da luz e calor extremo do sol.


E, há a divisão social entre pequenas comunidades defendidas com armamentos pesados, e saqueadores espalhados pelas estradas.

Só o fato, da biblioteca que "reconstruirá o mundo" ficar justamente na ilha onde ficava a Prisão Mais Segura do Mundo (até ter fugitivos históricos) de Alcatraz, é uma indireta para como o mundo se corrompeu, com os justos se escondendo em presídios, e os ímpios vivendo em liberdade.


Enfim...


Pra quem gosta de histórias pós apocalípticas ou de sobrevivência, com violência explícita e muita ação, além de toda a polêmica trama da perda da moralidade ocasionada pela falta de leis, assim como os filmes de velho oeste, "O Livro de Eli" contribui fortemente com tudo isso, sem fraquejar.


E pra quem quer uma história tocante e repleta de mensagens bíblicas, que faz pensar, sentir e até chorar, este também é um senhor filme.

É uma daquelas poucas obras que agradam a todos, independente do que se busca.


Por isso, eu realmente recomendo muito.

É isso.

Queria só falar um pouco desse filme.

Espero não ter me estendido de mais.

Obrigado pela leitura.


Se gostou do texto, por favor compartilha, vai me ajudar muito, e se quiser comentar, responderei o mais rápido possível. Sempre respondo!!!

Enfim, See yah.

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4 Comentários

  1. Nossa, esse filme é ótimo. Pior de tudo é que só vi ele uma vez e acho que eu tinha uns 12 anos (eu sei que a classificação indicativa é 16, shiu), mas por alguma razão foi um dos que se manteve até hoje na minha memória como um ótimo filme. Tentarei rever em breve, realmente é uma ótima recomendação, adorei ler esse texto.

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    1. Pior que ele tem essa classificação e nem é tão pesado. Acho que botaram isso pelo tema abordado mas, não tem nada explícito.

      Em todo caso, bom que curtiu o texto sr Ed. Temi que estivesse falando de algo antigo de mais, mas tipo... eu precisava muito falar do Eli.

      Obrigado sr.

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  2. MEU DEUS, esse filme é perfeitoooo!!!
    Adorei ler uma análise sua sobre esse clássico, era literalmente o que eu precisava hoje kkkkk seloko
    Esse é um daqueles filmes que gosto de classificar como clássico eterno, simplesmente não envelhece, de tão bom que é, tu assiste várias e várias vezes e mesmo sabendo do final e de cada canto da história você ainda gosta só pra reviver aquela história,
    A obra como um todo é genial, simplesmente, e é MARAVILHOSO ver um filme com uma temática ''religiosa'' mas que não se prende aos clichês de filmes assim, e simplesmente extrapola no melhor sentido possível todas as expectativas que você poderia ter de um filme sobre um cara cego que carrega a última bíblia em um mundo pós apocalíptico, e cara...é perfeito.

    Alias, ótimo texto senhor carinha, adoraria ver análises sobre outros clássicos eternos como esse (Você já fez sobre ''A procura da felicidade'' poderia fazer o do ''Eu sou a Lenda'' ou do ''Eu, robô'' não não é coincidência todos eles tem o moço que só toma tapa kkkkk).

    Enfim é isso, see yah!!

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    1. Pensamos igual hein. Eu me sinto bem assistindo esse filme, e sempre que ta passando na TV eu paro pra ver, e sempre me emociono, mas o irônico é que sempre é em partes diferentes, dependendo do meu emocional.

      Esse filme mexe com a gente, e tem tanto dinamismo... é um dos meus favoritos.

      Os filmes do Will sempre me agradam pra ser sincero, eu meio que curto muito ele, então difícil achar algum filme dele que não agrade rs. Recentemente assisti "Projeto Gemini", em que ele atua com rejuvenescimento digital, e apesar de muita gente não curtir, eu achei daora...

      Bem, porei estes filmes na minha lista pessoal pra analisar. Mas também garanto trazer mais textos sobre alguns dos meus favoritos do fundo do baú. Espere coisas antigas hein...

      See yah sr Wilson, e vlw pelo comentário mano.

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