Tinha minha suspeitas se este era um filme de terror, ou apenas um filme de ficção qualquer. Mas, me surpreendi ao assistir um tipo de "terror experiencial", repleto de diálogos, mas com um suspense pesadíssimo.
Nada nele é explícito, tudo se resume a conversas e deduções, e nada fica totalmente respondido. O que sabemos é o mesmo que os protagonistas, e aí que está o terror.
É aquele tipo de filme que te deixa tão confuso quanto os próprios personagens, e faz isso de propósito pra te assustar com plausibilidades e possibilidades. Afinal, tudo que ocorre nele poderia facilmente acontecer com qualquer um, em um piscar de olhos, bastasse as mesmas condições.
Este é um filme de apocalipse e colapso social, por fatores misteriosos, estilo "The Happening" (Fim dos Tempos) porém, diferente das obras do gênero, ele não apela pra visceralidade nem pra eventos catastróficos repletos de morte e calamidades ambientais, pelo menos não de forma explícita.
Tudo está ali, mas nós não vemos até ser tarde de mais, e nossa perspectiva é apenas a das pessoas que acompanhamos, as quais estão isoladas do evento que destruirá o mundo delas, até este evento alcança-las.
Enfim, falarei mais a respeito a seguir, com alguns spoilers, mas adianto que este é um filme "parado", que praticamente se sustenta por seu mistério e mensagens. Mas ele quase não dá respostas, apenas levanta muitas dúvidas e deixa elas lá, pairando no ar, nos intrigando.
Boa leitura.
A História
"O Mundo Depois de Nós" é a história de uma família que resolve tirar férias, alugando uma casa de outra família rica, num lugar isolado na floresta. Porém, aos poucos, a internet deixa de funcionar, as redes de comunicação, a tecnologia em geral, e o mundo parece estar passando por algo ruim que eles não podem testemunhar, pois estão longe da cidade.
Paralelo a isso, os donos da casa chegam por conta de uma emergência, e decidem conviver com a família na própria casa, sem lhes causar mal, mas também sem explicar por que estão lá.
Entre dúvidas e mais dúvidas, pouco a pouco as duas famílias descobrem que o país está sob ataque de algo, e começam a priorizar cada um suas próprias preocupações, não só na busca por sobrevivência, mas por respostas.
E assim o filme acaba.
É, bem vago eu sei, mas é exatamente isso que acontece.
O Conceito
Os personagens tem cada um seu próprio objetivo, e em meio ao apocalipse em potencial, eles começam a pensar nesses objetivos com mais clareza. Mas nenhum deles vai longe de mais.
A história mesmo não é sobre o que eles fazem ou farão, mas sobre como o mundo é facilmente abalável por pouco. Bastasse um ataque de 3 fases e pronto, era o fim de uma sociedade.
A grande resposta ao que tá rolando chega em um simples diálogo no fim, mas há pistas de tudo ao longo do filme. Detalhes como animais migrando sem razão, instabilidades tecnológicas randômicas, a falta de comunicação, e principalmente a suspeita entre as pessoas. Tudo isso se mescla aos eventos alarmantes mas sem agravantes, e culmina quase que em uma "piada" interna.
É que assim, todos os personagens tem seus objetivos, uns mais complexos que outros, e são basicamente seus objetivos de vida. Diante o fim dos tempos, eles obviamente mirariam e focariam nesses objetivos, e tecnicamente a única pessoa que conquista seu foco é a que tinha o sonho menos complexo (pois era muito superficial).
Mas, não se engane, apesar da narrativa ser cheia de diálogos, e nada muito sério acontecer em tela, o longa nos força a pensar além do que mostra, e imaginar o que está rolando do outro lado da floresta.
Talvez ele falhe na intensidade em que revela suas reviravoltas, não mostrando consequências, e apenas construindo uma torre grande que a qualquer momento poderia desabar. Aliás, há até uma referência a isso com o jogo "Jenga", justamente pra ilustrar que toda a história é apenas um pilar de blocos sobrepostos, mas instáveis e que podem desmoronar a qualquer instante.
Chato que fica só nisso. Pra adoradores do terror e horror, e acostumados com filmes apocalípticos, é de se esperar explosões, gritarias, gente morrendo e sangue pra todo canto. Mas nos poucos momentos em que algo do tipo acontece, está muito longe, e nós não testemunhamos.
Também há aqueles momentos de tensão em que tudo pode dar errado a qualquer instante, e decepciona ver que não acontece nada de mais. Soaria decepcionante, se não fosse o fato da tensão em si ser funcional, e também ser apenas a ponta de um iceberg que estava prestes a emergir.
O ruim, é que esse momento de revelação nunca acontece, e fica só na nossa imaginação pensar "O que será que acontecerá agora?". Obvio que não é nada de bom, mas fica ali apenas na nossa imaginação.
Um ponto que pra muitos pode soar negativo, afinal, qual a graça de ver um filme que na hora que vai ficar "bom", apenas para!?
Mas, por outro lado, é um exercício mental interessante notar que, não precisam contar o que acontecerá pois já mostraram tudo oque precisavam, pra deixar claro que o desfecho não seria positivo.
Guerra, massacre, famílias brigando e colocando seus próprios objetivos a frente dos outros. É isso que rolaria. Nós só vemos tudo antes de desmoronar, ou seja, a torre sendo construída.
As Famílias
Temos 3 famílias no filme, duas como personagens principais, e uma que aparece só no final.
A primeira é composta por um pai, uma mãe, e dois filhos menores de idade, um garoto e uma garota.
A mãe que aluga a casa pra tirar férias, fazendo isso pela internet e escolhendo uma casa bem grande no meio do nada. Seu objetivo era só se isolar do mundo, cansada de viver correndo e trabalhando.
O pai aceita, cansado também, como professor ele vê ali uma chance de esclarecer a mente e relaxar, mesmo que pra isso tenha de ser praticamente forçado pela esposa.
O garoto é aquele típico adolescente que joga videogame e se distrai com qualquer mulher que vê.
E por fim, a garota é uma criança que viciou na série "Friends", e já havia conseguido chegar ao último episódio, mas acaba indo pra viagem e perdendo acesso a rede (porque ela não baixou antes eu não sei).
A segunda família é composta por um pai e uma filha, donos do casarão.
O pai é um gênio da contabilidade, que acaba voltando pra sua casa reserva que alugou, por conta dos problemas na cidade.
A filha é uma garota genial e observadora, que não hesita em falar o que pensa, e geralmente está muito certa em tudo que diz.
A questão é que a família maior não sabe se pode ou não confiar nos estranhos que surgiram do nada ali, da mesma forma que os estranhos não sabem se podem confiar naqueles que estão abrigando, ambos por suas respectivas razões.
Depois de construir a relação deles, os problemas externos começam a afeta-los mas sem fazê-los brigar, ainda não.
A terceira família é apresentada por alto, com o pai e a filha menor de idade aparecendo (ninguém mais além deles dois).
Procurando ajuda pro filho da família maior, o anfitrião do casarão leva o outro pai para pedir conselhos e remédios pra essa terceira família. Mas, eles são hostis, em defesa pessoal, mostrando que o colapso social estava iniciando.
Um pai armado protegendo a filha de pessoas que ontem eram amigas, mas hoje querem seus recursos.
Uma família que abriu as portas de casa para estranhos, e os acolheu mesmo sendo eles os estranhos na própria casa.
E uma família que é a primeira vitimada pelos males do novo mundo, e começam a se ver capazes de tudo pra sobreviver.
O que ontem poderia ser impensável, torna-se plausível em dias futuros, e é isso que o filme deixa implícito.
As Respostas
É chato não ter respostas, não só sobre o que tá rolando com o mundo, se é com o mundo todo, ou se é só com o país mostrado.
Se os preconceitos alheios irão despertar monstros e feras dentro das pessoas.
Se doenças surgirão e causarão a desgraça a todos.
Se catástrofes naturais com animais brigando por território irão afetar a humanidade que restar.
Este filme apenas mostra o início, de algo que nem faria sentido ser continuado.
Pois o que ele conta é que em um mundo onde todos somos dependentes da tecnologia, onde todos somos cegos pra nossos próprios desejos, onde todos apenas respeitamos ao próximo por causa de regras sociais, seria onde tudo poderia ruir em instantes, bastando pouco esforço.
E ele não tá errado, bastava uma instabilidade para o sistema colapsar, e assim, as pessoas se matariam e digladiariam pra sobreviver.
É aquele tipo de filme pra te fazer pensar e conversar com amigos e familiares, sobre o que fariam se do nada, o mundo começasse o fim.
Não é o tipo de filme que costumo assistir mas, curti.
É isso.
See yah.
2 Comentários
Particularmente achei interessante, foi um filme que me prendeu bem e realmente achei que não precisava comentar mais nada. A maioria das reclamações que vi foram sobre o final, por ele não ser fechado, mas nesse caso aí realmente não precisava, a gente descobre que deu ruim e é isso, bola pra frente. Os momentos de tensão que o filme se propôs a fazer deram certo, não tenho do que reclamar.
ResponderExcluirObs.: Eu também nunca baixo os episódios de nada kkkk eu ia me lascar numa situação dessas aí se quisesse muito ver o último episódio de uma série.
Obs. 2: Tenho pavor de perder os dentes, se eu fico igual aquele garoto lá ia ser um fim de mundo bem ruim pra mim (se é que dá pra ser bom).
A cena dos cervos em paralelo ao impasse mexicano me fez esperar só desgraça. E te juro, fiquei muito mais contente com o resultado "positivo" do que ficaria chocado caso desse merd4. Isso pois, por mais que nada de tão ruim acontecesse naquele momento, a situação em si já era um alerta de que "a paciência ta no limite e logo vai acabar".
ExcluirAquele final em aberto a princípio me deixou irritado "Ah sério?! Acabou aqui? Logo agora que ia ficar bom" mas tipo, é muito melhor deixar tudo para que nossa mente preencha com o que já mostraram, e o terror fica ainda mais forte assim. Eu curti.
Falando a real, na hora dos dentes eu pensei que era alucinação, pois já tive esse pesadelo várias vezes. Senti uma agonia com aquilo.
Eu também acabaria ficando incomodado sem internet kkkk. Então eu entendo a garota, ainda mais faltando só 1 episódio pra fechar a experiência. O irônico é que o filme acaba fazendo praticamente o mesmo com a gente kkkk.
Obrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.
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