CríticaMorte: Sorria - Antes tarde do que nunca.

Quando o filme foi lançado eu achei que era só mais um terror genérico de adolescentes amaldiçoados, por isso ignorei ele por um tempo. Mas, hoje decidi assisti-lo, e até que me surpreendi. Não é nenhuma obra prima, porém é um filme de terror diferenciado.


Falarei o que achei, sem spoilers.

Boa leitura.

"Sorria" (Smile) é um filme de terror de maldição e perseguição de criaturas macabras, tipo "O Chamado" da vida. Porém, o que difere ele (além de ser mais moderno) é sua simplicidade na maldição: Se sorrirem pra você, tu tá morto.


Tá, não é bem assim vai. A pessoa que sorri tem que por obrigatoriedade se matar, na frente de uma testemunha, da forma mais cruel e traumatizante possível, pra que a maldição passe adiante. Daí a nova vítima é atormentada por visões de pessoas sorrindo, até chegar um dia (menos de uma semana) em que uma entidade sorridente a possua, e passe a maldição pra outro através do ritual.


Essa é uma regra que fica bem clara ao longo do filme, mas demora até o pessoal se tocar, aliás, até a única vítima (atual) se tocar.

Toda a história é sobre uma mulher amaldiçoada, buscando uma forma de se livrar das alucinações cada vez mais frequentes, e quem sabe salvar a própria vida, sendo tudo resumido a ela e alguns poucos personagens relacionados. O bom disso é que assim fica mais simples acompanhar e se apegar a personagem.


Não há muita violência, nem mortes em excesso. Não ficam preenchendo o roteiro com personagens secundários descartáveis, só pra enfiar um monte de sangue na tela. Aqui, tudo é trabalhado lentamente na protagonista, e o choque não vem pela violência explícita (apesar de ter um pouco), mas sim pela atmosfera macabra, e a tensão crescente.


Nunca sabemos quando um sorriso surgirá em tela, e o quão imersa nas alucinações a personagem está, então a qualquer momento, seja dia ou seja noite, as coisas vão de 8 a 80, com bizarrices brotando do nada.

Até tem um ou outro jumpscary, mas no geral o filme é baseado em pura tensão, muito inspirada pela ótima trilha sonora. As vezes nem da pra diferenciar sons de cena com trilha sonora, com tudo se misturando e causando um baita incômodo.


Me lembrou bastante a experiência em outro filme, "A Entidade", onde o temor mesmo tá no barulho da música, sem ser aqueles acordes altos de sempre, mas umas músicas sinistras que vão tomando conta de algumas cenas, e perturbando.

A criatura também não parece ter nada de mais, mas incomoda bastante. É só alguém sorrindo, e nem é um sorriso aumentado digitalmente ou exagerado, é apenas um sorriso, constante, parado, fixo e penetrante.


As pessoas param, e ficam lá com os dentes à mostra, encarando a personagem, encarando o espectador, e esse é um detalhe que ao meu ver foi desperdiçado.

Considerando que o longa retrata uma única pessoa tendo visões, ele desperdiça a chance de nos aterrorizar com sugestões. Algo que geralmente eu sempre espero de found footages (e quase nunca fazem certo), neste caso em específico talvez funcionasse.


Você por acaso já ficou atrás de um caminhão que carregava vigas de aço ou madeira no trânsito? Se sim, caso tenha ficado com medo das consequências mais absurdas, você provavelmente foi um espectador de "Final Destination 2", ou melhor: "Premonição 2".

Isso ocorre graças ao poder da sugestão, com uma ideia plantada no nosso subconsciente que nos faz temer certas probabilidades, mesmo que sejam das mais impensáveis ou fantásticas. Mesmo aquele filme sendo de um terror mais "bobo" e exageradíssimo, é impossível não considerar tal cena, e leva-la pela vida toda.


Em "Sorria", durante seu lançamento, fizeram questão de pesar a mão na publicidade, colocando atores sorrindo e encarando câmeras em estádios e entrevistas alheias, só pra causar estranheza pra quem os visse. E de fato, alguém olhando e sorrindo pra você sem razão, é significativamente medonho, mesmo não sendo nada.


Então, no filme, eu esperava uma conclusão que me fizesse pensar duas vezes se assistir foi uma boa ideia, e ele conseguiu escancarar uma porta para incluir essa ideia, e induzir sua intepretação. Mas ele não o faz.

Um filme chamado "Marcas da Maldição" da Netflix tenta fazer isso, com um final que diz jogar a maldição na gente, que como espectadores nos expusemos aos seus males. Porém, ele não funciona por falta de credibilidade no que conta, e no que mostra.


Achei interessante que em "Sorria", por mais impressionante que a ideia seja, ela é bem convincente (não digo que soa realista, pois é ir longe de mais acreditar em maldições alucinadas) mas, ele é bem crível, afinal, o que torna impossível alguém alucinar com algo após ter a adrenalina levada ao ápice pelo medo, ainda mais após já ter sofrido traumas no passado?

É um processo comum, inclusive enquanto escrevo este artigo, algo bizarro me ocorreu: Fui ao banheiro, e na hora que abri a porta, um vulto preto pulou em mim. Senti o vento passar pela minha barriga, e acompanhei o vulto com os olhos assustado, achando ser uma peça de roupa ou meu gato preto. Porém, não havia nada.


O que achei estranho foi que, eu não senti nada passar por mim, apenas o vento e minhas pernas estavam fechadas, nada nem encostou entre elas (minhas roupas pra variar estavam largas, seria impossível atravessa-las sem nenhum impacto). Também não ouvi som algum de algo caindo ou andando, nem consegui achar roupa alguma no chão. Foi medonho.

Esse medinho é natural, principalmente do desconhecido e inexplicável, e convenientemente este filme consegue causar essa sensação, apenas partindo de um gesto comum: Um simples sorriso.


Dito isto, creio que o final dele se favoreceria melhor das belas oportunidades que ele conseguiu construir, se fosse um pouco mais "abstrato" por assim dizer. Se, ao invés de nos falarem e mostrarem exatamente como tudo acaba, perdurando a maldição e a transferindo para outro personagem, ou vencendo a criatura em seu próprio jogo, poderiam colocar o sorriso apenas nos encarando, ao invés de apelar pra um final mais genérico (que é o que acontece).


Eu imagino como me sentiria estranho, após acompanhar as regras da maldição e entender que não havia escapatória, e acabasse vendo a personagem aparentemente quebrando as regras, se matando e olhando diretamente pra tela, sem mais ninguém por perto para transferir a maldição.


Afinal, a entidade se transferia apenas se houvessem testemunhas da morte traumática, e seria estúpido de mais depois de tudo que o longa mostrou, só rejeitarem a ideia e matarem a personagem sem uma testemunha próxima. Pensando assim, imagina a adrenalina que surgiria se na verdade, o ato de termos assistido o sorriso e o desfecho nos tornasse a testemunha?

É algo que combinaria perfeitamente com o filme, e ainda por cima com a estranha divulgação da época, isso nutriria a ideia ainda mais, nos fazendo estranhar e arrepiar com os gestos mais simples daqueles que nos cercam.


Apesar do final não ser assim, e ser muito mais explícito e comunicativo do que precisava, ele é satisfatório no que promete, e apenas prepara terreno pra uma possível franquia.

Não sabemos nada sobre a origem (então não me espantaria com um próximo filme chamado "Sorria - A Origem") nem temos uma resolução definitiva. Tudo que vemos é uma história dentro de inúmeras possibilidades, com início, meio e fim, mas também estabelecendo uma corrente, sem limites.


É um bom terror pra assistir, e tem uma ótima narrativa, com as atuações e sequências esbanjando naturalidade.

Fiquei até envergonhado por ter demorado tanto tempo pra dar uma chance pra obra, mas que bom que o fiz. Agora ficarei mais atento com próximos longas do tipo, e com o marketing!

É isso 😁

See yah!

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4 Comentários

  1. o monstro é assustador.... e os sorrisos sao meio coringa kkkk

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    1. Bem nível coringa. Mó filme daora né. E ai sr Rodrigo!!!

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  2. Vi esse filme ontem com minha namorada, até que achei interessante. Não chega realmente a ser medo, mas esses sorrisos realmente causam um desconforto. O final que realmente não me agradou, pra mim tudo que foi construído acabou sendo jogado fora, pois a personagem principal se tornou só mais uma, acontecendo com ela exatamente o que a maldição dizia que ia fazer e a gente já sabia que aconteceria, então mostrar foi só previsível e sem emoção, dando a entender que podiam ter contado a história de qualquer um dos outros que daria no mesmo. Até a história lá do cara que matou alguém pra fugir da maldição foi mais legal, se o filme fosse sobre ele talvez eu tivesse aproveitado mais.
    Enfim, quanto a esse vulto aí no teu banheiro, descobriu o que era??? Eu ia ficar pilhado com isso aí, tá doido, que sinistro

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    1. Ual, eu falei desse filme e não lembrava! Acho que to chegando no ápice da minha falha...

      Aliás, pior que não descobri o que foi aquilo, e pior, muitas coisas estranhas vem acontecendo ultimamente comigo... vultos são o menor dos problemas. Ontem mesmo minha gata tava miando no meu quarto, eu chamei ela pra minha cama e virei pro outro lado. Então senti ela subindo no colchão e respirando na minha nuca, e pensei "Lá vai ela começar a lamber, ai ai" dai ela miou, na porta do quarto. Virei com tudo e não tinha nada atrás de mim.

      E tá piorando.

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