Ao ver a chamada do filme na Netflix, a primeira coisa que pensei foi "Não vou assistir, ta na cara que é ruim". Era um filme de um mascarado assassino matando jovens dentro de um contexto aleatório, e assim como muitos outros filmes do gênero slasher, era de se esperar mais do mesmo.
Mas me surpreendi, pois nunca achei que se atreveriam a copiar na cara dura o roteiro de um filme famoso, e ainda botar em tela como se fosse algo completamente novo. Pior de tudo é a satirização e indiretas que o próprio filme da ao hábito de plagiar, sem contar que o filme como um todo é bem desagradável de assistir.
Geralmente, eu não acuso filmes de plágio afinal, ideias vem e vão, tudo se copia e nada se cria, e é claro que não tem problema se inspirar para criar algo novo, numa nova perspectiva e contar de um jeito que seja diferente do convencional, mas este filme não faz nada de diferente, exceto a audácia de copiar igualzinho, mas piorando, mudando a cor de caneta de azul pra rosa, e cometendo dezenas de erros gramaticais.
Falarei tudo a respeito a seguir...
Boa leitura.
"O Clube dos Leitores Assassinos" é só um pano de fundo para contextualizar a vingança dos estúdios espanhóis contra Hollywood. Depois do plágio descarado de "REC" com "Quarentena" (pra quem não sabe, Hollywood refez o filme found footage "REC" que é espanhol, na maior cara dura, relançando como "Quarentena") fiquei aguardando o dia que a Espanha daria o troco, ou tentaria. O dia chegou, e a vingança usou como alvo o filme "Pânico".
É exatamente o mesmo filme, só que muda as sátiras ao cinema, por sátiras baratíssimas aos livros (na verdade, o filme fracassa miseravelmente ao tentar fazer alguma referência, se é que faz). A impressão que temos ao assistir, é que ninguém da produção se deu ao trabalho de pesquisar como um clube de livros funciona.
Até certas cenas e suas conclusões são imitadas, como a protagonista provocando quem a observa (após o mesmo ligar pra ela), e sendo perseguida pelo assassino, pra logo após ela ser "salva" pelo namorado, que deixa cair uma pista importante que levanta dúvidas sobre ele ser ou não o vilão, tudo para causar intrigas. É copiado com tanta exatidão, que é impossível não notar, essa é uma cena muito clássica do filme de 1996, e sua reprodução aqui é feita de forma nada convincente, enquanto lá era algo construído com tensão e terror.
A ideia é mostrar um grupo de jovens, possíveis vítimas de um massacre futuro, totalmente artificiais (são todos jovens bonitões, ricos, cheios de personalidade e sem defeitos), que participam de um Clube de Leitura, onde ninguém lê, só fica fazendo vulvulco com os coleguinhas, e comentando sobre memes da internet.
Daí, imitando o início de "Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado", colocam o grupo todo pra testemunhar um assassinato involuntário, e pronto, nasce ai a premissa para nos agraciar com mortes repletas de gore forçado, e sem qualquer suspense.
Geral se veste de Palhaço, para assustar o Professor de Literatura que tentou abusar sexualmente da protagonista, então um deles acaba machucando o professor no rosto, e ele tropeça na protagonista, morrendo em uma queda e empalado numa estátua.
Depois disso, eles fingem que nada ocorreu, e já no dia seguinte, um Palhaço entra pro grupo de whatsapp deles, mandando Capítulos de uma Novela que ele escreveu online, contando justamente tudo o que eles fizeram.
Então esse Palhaço diz que a cada dia, atualizará a novela, com um novo capítulo apresentando a morte de um novo integrante do grupo (matando de fato no mundo real). E no fim, a verdade vem a tona, descobrimos que eram 2 assassinos, e pronto.
Também imitando a ideia de "Histórias Assustadoras para Contar no Escuro", o filme usa uma boa narrativa, com histórias medonhas, publicadas online, premeditando o crime que ocorreria (ou apenas descrevendo o que supostamente já aconteceu), aumentando assim a ansiedade das vítimas, e fazendo elas brigarem entre si.
Depois disso, nada é contado de forma minimamente plausível. Tudo se passa em alguns dias, cada morte é diária, e tecnicamente não há consequências.
Pessoas somem, não vemos suas famílias procurando. Gente morre, não vemos policiais interrogando. Pessoas gritam cheias de sangue, não vemos ninguém se assustando. Algo que no principal filme plagiado não era esquecido, e esses momentos de consequências ajudavam muito na imersão e terror, dando plausibilidade e criando tensão, nos fazendo nos preocupar não apenas com os protagonistas, mas com amigos, familiares, coadjuvantes... coisa que não rola aqui.
Nada ocorre de forma natural, e é tudo tão falso que nos empurra pra muito longe dos personagens. É difícil simpatizar com alguém, quem dirá torcer por alguém, afinal tudo que vemos deles é que são jovens que adoram... bem... conversar? Não há profundidade nem tempo de desenvolvimento, quem dirá envolvimento.
O filme ainda faz uma introdução de cada personagem, com seu nome em destaque (me lembrando muito como é feito nos jogos da franquia "The Dark Pictures Anthology") e repete os nomes em praticamente todas as falas dos atores (tipo, a gente aprende por repetição). E ainda assim, não dá pra se interessar por eles.
Todos os personagens são esquecíveis, e sem grande importância, até mesmo a protagonista, Ângela.
Ela é um atraso ambulante, carregando consigo a maldição da Alucinação Frequente, o que simplesmente empurra o "Palhaço Assassino" em cenas de susto sem significância, pois ele não está lá de verdade, sendo só coisa da imaginação surtada da garota. Ai quando o assassino aparece de verdade, a gente torce pra ele matar alguém e confirmar que é real, e não só um susto barato.
Em relação aos demais personagens, eles são tão caricatos que da pra saber quem é o assassino logo no início, sem qualquer esforço.
Temos o influencer, que tem um canal nas redes sociais e recomenda livros. Vale dizer que em momento algum vemos ele recomendar algum livro, exceto a Novela do Palhaço, no terceiro dia das matanças, como se fosse tudo normal, inclusive alavancando a publicidade do tal livro, e gerando votação de quem seria a próxima vítima (algo que é posto de forma forçada, e nem é aproveitado pois o filme acelera pro final, inclusive matando ele fora de cena, degolado).
Temos a garota esquisita, que não fala com ninguém, não é amiga de ninguém, parece inocente, mas tem um acervo de páginas rasgadas de coisas bizarras, e é a única que testemunha a morte do professor tarado, sem fazer parte do grupo (sendo que ela só estava na faculdade, na hora que não devia). E ela é a "primeira vítima"... suspeito não?
Temos o namorado da protagonista, que é um cara que trabalha de noite como barman (parece ser o único que trabalha) e... é isso. Ele só é o namorado, e a garota aos poucos vai se afastando dele, sentindo que ele não a apoia e tal. Ele não morre, por sorte de roteiro, e a única mudança que fazem em relação ao "Pânico" é que, aqui não é o namorado que é o vilão (pelo menos não o "primeiro namorado").
Temos a bibliotecária, que é ignorante, revoltada, e desrespeita geral na própria biblioteca, mas é aparentemente uma Nerd (aparentemente pois em nada lembra uma nerd). Ela morre fora de cena também, e seu corpo é encontrado (tipo, nem criatividade tiveram pra executa-la).
Temos a garota bonita que é só isso, bonita. Sério, ela é só uma patricinha que tá no clube pra ter rapidinhas com o namorado. Morre empalada com um martelo, que é deixado na cena do crime mas nenhum policial aparece investigando.
Temos o namorado dela, que é um cara boa pinta, valentão, forte e alto, que tá no clube pra ter rapidinhas com a namorada. Ele morre depois de descobrir a identidade do assassino, rir dela, e ter a barriga aberta depois de dar um murro nele. Só que ninguém nem acha o corpo dele.
E temos o vendedor de livros, que é um cara grande, bonito, que vive mexendo no cabelo e é apaixonado pela protagonista. Ele tem relações sexuais com ela, antes de revelar que ele é um dos vilões... exatamente como no filme de 1996, só que aqui é algo explícito e gratuito, onde de repente a garota decide praticar coito fervoroso com o rapaz, sem compromisso nem nada, e só cenas depois descobre que ele era o vilão (e detalhe: ELE TINHA NAMORADA, SUA CUMPLICE, QUE NEM LIGA PRA ELE TER DORMIDO COM SUA INIMIGA!).
O assassino, que se veste de Palhaço, seria um deles afinal sabe o que eles fizeram, mas fica tão óbvio que era alguém de um passado mais antigo, e que era a garota esquisita que não se dava bem com eles (mas curiosamente aparece ali pra testemunhar, que coisa hein?!) que é impossível acreditar no que vemos.
O fim imita muito o final de "Pânico", com a revelação de que o vendedor livros, era namorado da garota esquisita, e ambos criaram o Palhaço para se vingarem da protagonista. Isso pois no passado, ela publicou um livro inspirado na história da garota, explorando ela, o que a fez aparentemente se matar.
Mas claro que isso não ocorreu, e todo mundo só se uniu pra se vingar.
Há mortes no filme, há gore explícito, mas é jogado de um jeito tão inconsequente e gratuito, que nem chega a impactar (no máximo visualmente).
Torcemos pra história acabar logo, e ainda mais para que ela seja ao menos interessante no fim, com alguma reviravolta que surpreenda ou algo do tipo, mas não, tudo que ocorre é cópia, e mais cópia, de ideias batidas e cansadas pelo tempo.
Pois é normal filmes slashers terminarem assim, mostrando o vilão como um membro do próprio grupo, só que tramando entre eles. E tá errado isso? Óbvio que não, são histórias, e muitas são bem legais na forma como contam esses finais bobos... só que aqui o negócio fica bem ruim.
A protagonista só é desinteressante e objetificada. Ela é bonita, então todo homem quer um pedaço dela. Ela tem traumas fabricados (sem razão alguma) então começa a alucinar em tempo real, o que faz ela ser mais frágil que os demais.
Mas ai ela vira a heroína e só age com psicopatia no olhar, matando alguém e praticamente sorrindo com isso.
Daí no fim, eles ainda plagiam a ideia de "Pânico 2", com tudo se passando um ano depois, e o tema voltando na boca do povo, na ideia de uma "continuação".
Claro que, o filme não pretende de fato levar essa ideia adiante (se o fizer, seria traumatizante), mas ele tem mesmo a pachorra de fazer alusão a continuação, brincando com a ideia, assim como "Pânico 2" fez.
Só que o que isso tem a ver com livros? O filme é mal contado, não especifica relações com literatura, não faz nem citações de outras obras literárias, se não as fictícias que ele próprio cria para sua trama. Poxa, nem mesmo pra divulgar a plataforma de publicações de fanfics o filme presta, escondendo que é o "Wattpad" e substituindo por uma versão fictícia chamada "Escrileo"... qualé mano! É a mesma plataforma, onde pessoas publicam suas fanfics e tal. Porque enrolar?
Em "Pânico", a todo momento há referências a filmes de terror, seus clichês, e até certos deboches sobre padrões narrativos. Tudo proposital como ferramenta pra nos fazer aproximar dos personagens, pois nós também observamos esses padrões.
Já no filme sobre "livros", não há nada de livros.
É um longa fraquíssimo, que nem deveria existir, e apesar do bom trabalho técnico, com bons efeitos práticos e especiais, e uma trilha sonora decente, ele não se salva, sendo uma história medíocre e desinteressante.
Me arrependi de assistir. E escrevo para registrar caso um dia precise lembrar, do quão ruim foi essa obra.
See yah.
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