Pois é, fui ao cinema ver este longa, justo eu.
E apesar de ter achado um bom filme, não fiquei tão surpreso quando achei que ficaria.
Acontece que o suposto live-action da Barbie é só um pseudo Matrix da boneca da Mattel, mas com mensagens sociais direcionadas para as mulheres, com alfinetadas para os homens, e um humor bobo para as crianças.
É um filme que não tem um público alvo decidido. Ele funciona como uma armadilha, atraindo pelo título toda a criançada (as meninas apenas), mas jogando na nossa cara 2 horas de drama satirizando o mundo real, com piadas de sentido adulto que só podem ser compreendidas pelos mais velhos.
Enquanto as crianças procuram algo pra rir ou que as faça reconhecer a Barbie que tanto querem assistir, as mães começam a concordar com os discursos políticos das bonecas de plástico humanificadas.
E sério, acho que mais da metade da sala nem entendeu qualquer palavra que a "Barbie Estereotipada" disse, pois ela é tão cheia de palavras difíceis e jargões técnicos para descrever a podridão do mundo patriarcal e capitalista em que vivemos, que até eu me vi boiando.
Mas vi coisas bem interessantes no longa, e bem, bora falar de tudo a seguir.
Boa leitura, e tem spoiler.
"Barbie - O Filme" é o longa metragem protagonizado por Margot Robbie (mais conhecida por ser a Harlequina) como Barbie, ao lado de Ryan Gosling como Ken, o eterno namorado/amigo/parceiro da Barbie.
E a proposta dele é mostrar a boneca questionando sua existência por ter uma conexão com sua dona, no mundo real, quem também passou a ficar magoada com o dia a dia.
Então ela deixa sua ilha/pais/mundo/realidade perfeita, para buscar sua humana e tentar corrigir suas mudanças repentinas.
O filme é isso, ela sai do mundo dela rapidamente (a transição é a piada, onde não precisa fazer muito, só andar de patins/carro/nave/barco até a fronteira), e simplesmente brota no mundo real onde todos a estranham, e ela estranha todos, mas ninguém estranha o fato dela aparecer do nada.
Ao seu lado vai o Ken, que em seu mundo é menosprezado como se fosse só um acessório, mas ao ver que no mundo real os homens "mandam", ele se infecta com a ideia do patriarcado e a leva de volta pro seu mundo.
Daí, o mundo da Barbie vira o mundo do Ken, criando brinquedos no mundo real (em tempo real), e cabe a Barbie retornar sua realidade ao que era antes. É um vai e vem, que não dá em lugar nenhum.
Cheio de metáforas e alusões ao mercado capitalista e machista, o filme faz questão de discutir a respeito, oferecendo longos minutos de falas sem nem mesmo ter trilha sonora, só para que prestemos atenção nas palavras sérias que esbravejam, questionando o lugar feminino, indagando os problemas reais que as mulheres enfrentam, em contraste com o que o mundo masculino tenta empurrar na mente da criançada.
Mas também ele faz o oposto, através do Ken, jogando mensagens indiretas de como o patriarcado não é uma ferramenta onipresente no mundo, inclusive é tão cheio de concessões, correções e adaptações, que nem mesmo pode ser identificado hoje em dia como "mundo patriarcal".
A Utopia que Ken tenta criar pra ele e seus semelhantes, é o ápice do estereótipo, assim como a Utopia de Barbie também era. Os exageros penderam o filme aos dois extremos, e ficamos no aguardo do meio termo.
O filme sugere que trará uma reflexão sobre o mundo perfeito, um mundo onde homens e mulheres podem ser iguais, um mundo em que todos convivem em irmandade mas, ele não o faz. Pois isso não é possível.
A mensagem do filme é que o mundo é falho e todos também somos, mas precisamos existir e conviver gostando ou não.
Mas o formato dele muito me incomodou.
Sua narrativa é abobalhada. Enquanto no mundo das bonecas era "aceitável" ver piadas bobinhas e personagens artificiais e sem personalidade alguma além daquela roteirizada, é estranho ver o mesmo no "mundo real".
Pois quando a boneca sai para explorar, todo mundo é tão artificial quanto em seu mundo (falei "mundo" tantas vezes, mas o filme inteiro se passa num mesmo mundo, parece até que a Barbielandia é só um país onde as ideias das bonecas ganham forma física, mas nada é realmente explicado). Tem pedreiros machistas, gays afeminados, crianças rebeldes e feministas, executivos abestalhados que mais parecem crianças em corpo de adultos... tudo apenas é ridículo.
O filme não se leva a sério, mas tenta empurrar ideias sérias brincando com elas, esfregando na nossa cara e do nada mudando de personalidade pra algo dramático, pesado, sensível, e muito expositivo.
O desabafo da dona da Barbie, "a sua criança", sobre como a maternidade é difícil, como a vida adulta é difícil, como ser mulher é difícil, como agradar a todos é difícil, é tão explosiva e impactante quanto repentina e assustadora.
Muitas mães na sala do cinema começaram a falar "Isso ai" e "Pesado", e eu acho que ouvi até um tapa na nuca de um dos pais durante o discurso dela.
E eu fiquei com os olhos arregalados pois, eu me coloquei ali. Eu fui só pra assistir meninas de rosa, arco-íris e pôneis, e sai conscientizado sobre como o patriarcado é ruim, e como as mulheres são tratadas de forma injusta.
Pelo menos era isso que o filme queria que eu dissesse, mas eu fiquei foi espantado com os saltos que ele dava, do caótico e idiota, pro profundo e dissertativo.
Mas confesso que eu já imaginava que seria assim. Pelos trailers o filme entrega que será bobo, e esconde as mensagens sociais, ou tenta esconder.
Queria muito compara-lo com "Uma Aventura Lego", mas ele não consegue atingir os padrões mínimos para alcançar esse outro filme. A ideia de brinquedos descobrindo o mundo real, a aprendendo lições adultas no mundo infantil, foi algo mal trabalhado em Barbie, pois não consegue ser divertido... não para todos... não ao mesmo tempo.
Pois a própria Barbie ignora o mundo infantil. Pouquíssimos foram os momentos em que as crianças riram, e quando riram foram das coisas mais ridículas, das quais os pais não riram. Isso causava estranheza, pois o oposto também ocorria, onde as mães e pais riam de coisas com teor mais adulto, e as crianças não entendiam a graça e se calavam.
A melhor cena do filme para as crianças é essa, e ela se repete duas vezes. Detalhe que uma criança do meu lado ainda reclamou por repetirem! |
Eram coros dispersos de risadas tímidas pois, ninguém tinha coragem de participar daquilo, e os que tinham se envergonhavam, não emprestando a voz para tal.
Ouvi até alguém tentando puxar um aplauso no final, que foi rapidamente abafado pelo silêncio e algumas mães forçadas a explicar para as filhas o que era "ginecologista".
Achei hilário esse final inclusive, pois do meu lado tinham irmãs conversando o filme inteiro, e nessa parte, em que a Barbie comenta a respeito, a irmã maior (que não tinha mais de uns 12 anos) tentou explicar pra irmã menor o que era Ginecologista e porque ela tava rindo, mas ela própria não sabia (e basicamente disse que viu a mãe passando nele uma vez).
Eu fiquei pasmo, pois apesar do filme não conseguir se identificar, ele pelo menos tentou algo, e entrega uma história repleta de subversões, e referências vagas aos brinquedos da Mattel, como o Allan (amigo do Ken).
Entre musicais coreografados, perseguições ridículas, e muito drama forçado, aprendemos que devemos buscar nossa própria identidade, ser frio com quem gosta da gente, tratar aqueles que nos cercam com indiferença, reclamar de como o mundo é, e abandonar nossas responsabilidades por mais simples que sejam, tudo pois nossa vida é finita, e um dia todos nós morreremos.
Se não foi isso eu já não sei de mais nada!
Observação: Não tem cena pós créditos no filme. Sei disso pois fiquei na sala esperando até os créditos passarem e tudo ficar escuro, e três caras vestidos de rosa apareceram pra me tirar... eu era o único lá. Foi mó esquisito... primeiro apareceu só um e ficou parado do meu lado, de pé. Depois apareceram mais dois e ainda chamaram mais alguém pelo rádio, e os três ficaram do meu lado só aguardando. Eu ainda na maior cara de pau levantei o celular e gravei os créditos (pra dizer que queria registrar o nome das músicas e tal). Depois eu levantei, agradeci (??) e sai. Os três me seguiram até a saída da sala e depois eu corri pelas escadas sem olhar pra trás. Pior que no fim eu ainda parei uma moça com as filhas enquanto esperava o meu Uber e perguntei pra ela se ela curtiu o filme da Barbie... e na hora que uma das filhas começou a falar que gostou justamente da cena do carro, ela segurou o braço dela e correu (eta exagero). Ta certo que eu vestido todo de preto, com barba por fazer e uma bandana na cabeça não era lá tão convidativo, justamente num filme desses... mas... bem, só quis contar.
É isso...
See yah... po mano achei que ia ser mó filme revolucionário, que saco!
10 Comentários
Resumindo a história, o filme parece ser um festival de besteirol com um monte de críticas e piadas sobre como o mundo é "patriarcal, machista e etc" e que as mulheres sofrem muito por causa dos homens e que as pessoas, inclusive as mulheres, não devem simplesmente se conformar e etc, etc, só que tudo de forma bem inconsistente sem saber ao certo se segue um caminho ou outro porquê enquanto aborda uma série de coisas não se aprofunda muito nelas e etc, etc... Enfim, não vi e só soube pela repercussão que tá tendo.Devo dizer que não tenho interesse nem no filme nem na atriz, não que eu não goste dela mas simplesmente não me importo, e não posso falar muito mas suspeito sim que tem já certo público que vai amar esse filme e que a crítica ainda vai elogiar por muita coisa, inclusive o desempenho da atriz e os pontos que o filme critica, e que o pessoal do twitter vai surtar e fazer muita referência mas enfim, coisas da vida. E ah, cê tava mesmo com muita esperança, seu Shady? Vish... Rsrs bom, pelo menos cê foi otimista.
ResponderExcluirE sim, Marcio aqui, rsrs, infelizmente saí como anônimo desta vez.
ExcluirEsperança... é, bota esperança nisso rs.
ExcluirSr Marcio!! Hoyahhh!!! Bom te ver sr, muito bom!
Lamentavelmente o filme é tão "complicado" de forma forçada que engana como inteligente, no fim é sim um grande besteirol. Pior que não é um desastre justamente pelas atuações, o pessoal teve um desempenho muito bom, principalmente nas coreografias. Ninguém pareceu ser humano, tudo realmente foi plástico e sem vida, igual a boneca, mas na hora de dançar o pessoal soltou as asas.
A crítica dele foi muito gratuita, mas provavelmente terão pessoas que gostaram da "representatividade", apesar de que eu acredito que dava pra ser melhor.
Infelizmente eu não sei o que faz os comentários bugarem as vezes. Tem uns que viram Spam (e eu tenho que administrar o tempo todo) tem outros que saem como anonimos, é um saco. Mas o importante é que o pessoal comenta, já ajuda muito rs. Vlw sr, e vou tentar arrumar isso.
ExcluirBom, sobre o comentário bugar talvez tenha a ver com o navegador usado ou quem sabe até a conexão da pessoa com a internet, eu acho.. Rsrs e sim, eu ainda acompanhei a crítica do Tragicômico,que no caso foi mais uma crítica aos temas do filme, e aquela parte do discurso, nossa...Bizarro e incongruente ao extremo, e pensar que ainda tem gente que diz que amou e tudo? Ok... Bom, era de se esperar. Só espero que o ingresso não teja muito caro,rsrsrs!
ExcluirO filme conseguiu bater os demais em bilheteria, mas acredito que ele trapaceou. É mais fácil lucrar com venda de ingressos pra crianças, pois no mínimo vendem sempre em dobro (nenhuma criança vai sozinha no cinema né!). Soma isso com amigos, e pares de pais, fica muito fácil bater metas de venda.
ExcluirMas chamo de trapaça pois, o material não é nada honesto, onde além de não fazer jus à boneca, ainda é pra lá de militante, de forma que até o público "alvo" passa a não entender direito.
Respeito quem gostou do filme e entendo que, ele tem suas mensagens e subversões sociais, e até curti a experiência, mas o exageros com certeza me marcaram.
Tenso né sr Marcio =/
É senhor Shady, pelo menos eu fico feliz que por causa deste filme eu soube da história de origem da Barbie e das falcatruas aliás que foram feitas para dar sucesso à esta boneca e ao filme. Então ao menos por isso já fico feliz, além é claro de contar com sua análise!
ExcluirObrigado sr Marcio, e tipo, pelo menos o filme rendeu pra algo rs.
ExcluirCoe, sacanagem, eu queria ir assistir o filme de terno rosa achando que ia ser mo top, mas é só um filme normalzinho, muita sacanagem mesmo
ResponderExcluirAinda da pra ir rs. Sem contar que tudo depende de opinião também, eu conheço pessoas que gostaram muito do filme.
ExcluirObrigado de mais por comentar, isso me estimula a continuar.
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